terça-feira, 23 de setembro de 2025

Paulinho diz que fala de Trump deveria fazer PL desistir de anistia e aceitar acordo para reduzir penas, FSP

 

Brasília

Relator do projeto de lei da redução de penas aos condenados pelos atos golpistas, o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP) afirmou à Folha que a fala do presidente Donald Trump sobre ter uma "excelente química" com o presidente Lula (PT) não muda seus planos, mas deveria mudar os do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, que conta com o apoio dos Estados Unidos para aprovar uma anistia ampla e irrestrita.

"Para mim não [muda]. Acho que muda para o PL", disse Paulinho, antes de chegar para reunião com a bancada do PL na Câmara. "[Eles] Têm que ficar preocupados", afirmou.

O deputado Paulinho da Força (SP), que é presidente do Solidariedade
O deputado Paulinho da Força (SP), que é presidente do Solidariedade - Mathilde Missioneiro - 28.ago.22/Folhapress

Trump fez afagos a Lula nesta terça (23), ao discursar na Assembleia-Geral das Nações Unidas e marcou uma reunião com o petista para a próxima semana. Eles se encontraram brevemente entre os discursos de ambos. "Eu só faço negócios com pessoas que eu gosto. E eu gostei dele, e ele de mim. Por pelo menos 30 segundos nós tivemos uma química excelente, isso é um bom sinal", disse o americano.

Bolsonaristas tentaram minimizar a declaração, dizendo que Trump fez críticas ao governo brasileiro antes de convocar a reunião, e que os elogios seriam protocolares. Eles contam com a pressão dos Estados Unidos sobre o Brasil para que seja aprovada uma anistia a Bolsonaro e outros condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, com novas sanções a autoridades brasileiras.

Para Paulinho, a fala pode diminuir a pressão do partido do ex-presidente para que seja aprovada uma anistia ampla a todos os condenados e fazer com que eles apoiem a iniciativa do centrão de reduzir as penas por golpe de Estado, mas sem um perdão. "Todo mundo tem que pensar. O Brasil tem que pensar, espero que eles pensem", disse o relator.

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Apesar dessa expectativa do parlamentar, ele foi informado por um grupo de deputados bolsonaristas com os quais almoçou que o partido insistirá na anistia. Ele se reuniu com os deputados Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), Nikolas Ferreira (PL-MG) e tenente-coronel Zucco (PL-RS).

Eles insistiram na estratégia de defender o perdão de Bolsonaro e dizem que inclusive podem apresentar emenda para que a questão seja decidida no voto pela Câmara, caso o relator insista em propor apenas a redução do tempo de prisão por esses crimes.


Lula faz críticas aos EUA na ONU: ‘atentados à soberania e sanções arbitrárias se tornaram regra’, OESP

 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira, 23, que “atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando regra” no mundo, uma crítica direta a ações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Em sua 10ª participação, Lula abriu a sessão de debate na Assembleia-Geral nas Nações Unidas. A cerimônia marca os 80 anos da ONU.

Na véspera, o governo Trump anunciou uma nova leva de sanções a autoridades do poder Executivo e do Judiciário brasileiro. Como o Estadão mostrou, Lula calibrou seu discurso para contestar as “agressões” americanas.

“Não há justificativa para as medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia”, disse Lula.

“Essa ingerência em assuntos internos conta com auxílio da extrema direita e de antigas hegemonias”, criticou o petista.

O presidente também mencionou a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e disse que houve um processo “minucioso”, com amplo direito de defesa que não existe nas ditaduras.

“O Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam”, disse o petista.

A dupla traição do bolsonarismo, Joel Pinheiro da Fonseca -FSP

 Bolsonaro se elegeu em 2018 num tsunami conservador e antissistema. Dentre outras bandeiras, trazia o amor à pátria contra a ordem globalista que violava a soberania nacional e a rejeição à velha política brasileira, vista como corrupta. Brasil acima de tudo e Sergio Moro ministro da Justiça. Parece que foi um milênio atrás.


Em sua cruzada anti-institucional, Bolsonaro tentou minar a Justiça eleitoral. Atacou a democracia brasileira, mas foi vencido. Judiciário, Congresso, Forças Armadas, imprensa; todos tiveram seu papel em limitá-lo. Foi derrotado nas urnas que tanto tentou deslegitimar e depois investigado, julgado e condenado pela trama para negar esse resultado.

A imagem mostra um grande grupo de pessoas reunidas em um ambiente que parece ser o Congresso Nacional do Brasil. Há muitos homens e mulheres, a maioria vestindo ternos e roupas formais, interagindo entre si. Algumas pessoas estão segurando celulares, tirando fotos ou gravando. O ambiente é bem iluminado e há uma sensação de agitação e atividade. Ao fundo, é possível ver uma escadaria e algumas bandeiras do Brasil.
Plenário da Câmara dos Deputados durante votação da PEC da Blindagem - Bruno Spada - 16.set.25/Divulgação Câmara dos Deputados


A partir daí, o bolsonarismo ficou com uma pauta única: impedir o julgamento e a condenação de seu líder. Nada pode estar acima disso. Nem mesmo o Brasil.

A partir do momento que a estratégia para livrar Bolsonaro da Justiça passou a ser provocar sanções americanas, qualquer verniz de defesa da soberania nacional foi abandonado. Não é à toa que, a partir desse momento, a bandeira americana tenha substituído a bandeira do Brasil na iconografia bolsonarista.

Ocorre que tarifas, sanções Magnitsky e suspensão de vistos se mostraram incapazes de dobrar nosso Judiciário e Legislativo. Nem o Supremo abriu mão de julgar Bolsonaro, nem o Congresso abraçou a anistia ampla, geral e irrestrita. Seria necessário compor com o centrão para levar a pauta adiante.

Aliar-se ao centrão não é novidade para Bolsonaro. Foi o que ele teve que fazer a partir de 2020 para garantir a sobrevivência de seu governo, no arranjo que deu origem ao chamado orçamento secreto. Desta vez, a aliança consistiu numa troca: o centrão apoia a anistia, o bolsonarismo apoia a PEC da Blindagem. E assim se enterrou qualquer ilusão de combate à corrupção, de nova política ou o que o valha. Longe, muito longe estão os dias de Sergio Moro ministro. Para salvar Bolsonaro, o bolsonarismo se tornou apoiador incondicional da agenda de defesa da impunidade.


Deputados bolsonaristas encamparam a pauta e fizeram inclusive sua defesa pública. No discurso bolsonarista, a PEC era necessária para impedir a chantagem do Supremo contra deputados e senadores que ousam contrariá-lo. Faltou dizer que, se esse era realmente o objetivo, bastava defender o fim do foro privilegiado, que tiraria os parlamentares das mãos do Supremo, mas não os blindaria contra processos criminais. Claro que a justificativa era falsa. Era apenas uma tentativa discursiva de emprestar aos interesses do centrão o manto da luta antissistema de enfrentamento ao Supremo.

Não funcionou. A opinião pública tratou de enterrar a PEC da Blindagem. Com ela, o PL da anistia —ou, ainda, da ideia mais modesta de reduzir penas— também se enfraqueceu. Não que isso importe para a bancada bolsonarista, que sonha com Bolsonaro livre e reeleito numa virada de mesa sob a égide de Trump. Neste delírio suicida enquanto parte para o tudo-ou-nada em defesa de seu líder máximo, o movimento que ele capitaneou sacrifica um a um todos os valores que o alçaram ao protagonismo da política nacional. Não seria hora de superá-lo?