terça-feira, 23 de setembro de 2025

A dupla traição do bolsonarismo, Joel Pinheiro da Fonseca -FSP

 Bolsonaro se elegeu em 2018 num tsunami conservador e antissistema. Dentre outras bandeiras, trazia o amor à pátria contra a ordem globalista que violava a soberania nacional e a rejeição à velha política brasileira, vista como corrupta. Brasil acima de tudo e Sergio Moro ministro da Justiça. Parece que foi um milênio atrás.


Em sua cruzada anti-institucional, Bolsonaro tentou minar a Justiça eleitoral. Atacou a democracia brasileira, mas foi vencido. Judiciário, Congresso, Forças Armadas, imprensa; todos tiveram seu papel em limitá-lo. Foi derrotado nas urnas que tanto tentou deslegitimar e depois investigado, julgado e condenado pela trama para negar esse resultado.

A imagem mostra um grande grupo de pessoas reunidas em um ambiente que parece ser o Congresso Nacional do Brasil. Há muitos homens e mulheres, a maioria vestindo ternos e roupas formais, interagindo entre si. Algumas pessoas estão segurando celulares, tirando fotos ou gravando. O ambiente é bem iluminado e há uma sensação de agitação e atividade. Ao fundo, é possível ver uma escadaria e algumas bandeiras do Brasil.
Plenário da Câmara dos Deputados durante votação da PEC da Blindagem - Bruno Spada - 16.set.25/Divulgação Câmara dos Deputados


A partir daí, o bolsonarismo ficou com uma pauta única: impedir o julgamento e a condenação de seu líder. Nada pode estar acima disso. Nem mesmo o Brasil.

A partir do momento que a estratégia para livrar Bolsonaro da Justiça passou a ser provocar sanções americanas, qualquer verniz de defesa da soberania nacional foi abandonado. Não é à toa que, a partir desse momento, a bandeira americana tenha substituído a bandeira do Brasil na iconografia bolsonarista.

Ocorre que tarifas, sanções Magnitsky e suspensão de vistos se mostraram incapazes de dobrar nosso Judiciário e Legislativo. Nem o Supremo abriu mão de julgar Bolsonaro, nem o Congresso abraçou a anistia ampla, geral e irrestrita. Seria necessário compor com o centrão para levar a pauta adiante.

Aliar-se ao centrão não é novidade para Bolsonaro. Foi o que ele teve que fazer a partir de 2020 para garantir a sobrevivência de seu governo, no arranjo que deu origem ao chamado orçamento secreto. Desta vez, a aliança consistiu numa troca: o centrão apoia a anistia, o bolsonarismo apoia a PEC da Blindagem. E assim se enterrou qualquer ilusão de combate à corrupção, de nova política ou o que o valha. Longe, muito longe estão os dias de Sergio Moro ministro. Para salvar Bolsonaro, o bolsonarismo se tornou apoiador incondicional da agenda de defesa da impunidade.


Deputados bolsonaristas encamparam a pauta e fizeram inclusive sua defesa pública. No discurso bolsonarista, a PEC era necessária para impedir a chantagem do Supremo contra deputados e senadores que ousam contrariá-lo. Faltou dizer que, se esse era realmente o objetivo, bastava defender o fim do foro privilegiado, que tiraria os parlamentares das mãos do Supremo, mas não os blindaria contra processos criminais. Claro que a justificativa era falsa. Era apenas uma tentativa discursiva de emprestar aos interesses do centrão o manto da luta antissistema de enfrentamento ao Supremo.

Não funcionou. A opinião pública tratou de enterrar a PEC da Blindagem. Com ela, o PL da anistia —ou, ainda, da ideia mais modesta de reduzir penas— também se enfraqueceu. Não que isso importe para a bancada bolsonarista, que sonha com Bolsonaro livre e reeleito numa virada de mesa sob a égide de Trump. Neste delírio suicida enquanto parte para o tudo-ou-nada em defesa de seu líder máximo, o movimento que ele capitaneou sacrifica um a um todos os valores que o alçaram ao protagonismo da política nacional. Não seria hora de superá-lo?


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