quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Polícia apura fraude de R$ 114 mil contra Uber com uso de inteligência artificial no Rio, FSP

 

Rio de Janeiro

A Polícia Civil do Rio de Janeiro realiza, nesta quarta-feira (13), uma operação contra uma quadrilha suspeita de explorar uma falha no sistema de pagamentos via Pix da Uber que teria causado prejuízo de R$ 114 mil à plataforma.

Segundo as investigações, os suspeitos criavam contas falsas, tanto de motoristas quanto de passageiros, e faziam pedidos de corridas com várias paradas, o que aumentava o valor final das viagens. No fim, a plataforma pagava o valor total ao falso motorista, mas o passageiro não pagava e abandonava a conta, que se tornava inativa.

Fotos encontradas na casa de suspeito de aplicar golpe na plataforma Uber - Divulgação/PCERJ

O grupo também burlava o sistema de verificação do aplicativo, ainda de acordo com a apuração. Os integrantes usavam inteligência artificial para alterar fotos digitalmente e colocavam imagens impressas com rostos de outras pessoas sobre suas próprias faces.

Em nota, a Uber afirmou que "os mecanismos antifraude da plataforma detectaram os casos relatados, o que fez com que a empresa realizasse a denúncia para as autoridades competentes. Desde então, a Uber vem colaborando de forma ativa com a polícia para a identificação dos suspeitos, sempre respeitando os termos da lei".

"Nossas equipes de detecção de fraudes usam análises manuais e sistemas automatizados de aprendizado que analisam mais de 600 tipos de sinais diferentes à procura de comportamentos fraudulentos", acrescentou.

PUBLICIDADE

Segundo a polícia, a empresa identificou mais de 2.000 corridas suspeitas. Os suspeitos abriram 480 contas falsas, sendo que 478 foram criadas do endereço de um dos investigados. Grande parte das contas bancárias cadastradas no aplicativo pertencia a outra suspeita de integrar a quadrilha.

Na operação desta quarta, os policiais cumpriram mandados de busca e apreensão em endereços no Alto da Boa Vista, Tijuca, Maracanã e Honório Gurgel, bairros da zona norte do Rio de Janeiro. Em um dos locais, encontraram várias fotos que seriam usadas para fraudar o sistema. As investigações continuam.

terça-feira, 12 de agosto de 2025

O ÚLTIMO DIA COMO PROFESSORA,

 O ÚLTIMO DIA COMO PROFESSORA

(vale ler, recebi, não sei a origem)

“Hoje, um menino de 7 anos me disse que eu não servia para nada.” Assim começou meu último dia como professora primária em uma escola pública.

Sem ironia. Sem raiva. Apenas uma voz indiferente, como se estivesse comentando sobre o tempo.

— Você não sabe fazer TikToks. Minha mãe diz que pessoas velhas como você já deveriam se aposentar.

Eu sorri. Aprendi a não levar para o lado pessoal.

Mas mesmo assim... algo dentro de mim quebrou um pouco mais.

Meu nome é professora Helena. Ensinei o 1º ano em uma cidadezinha nos arredores de Belo Horizonte por 36 anos. Hoje, arrumei minha sala pela última vez.

Quando comecei, no fim dos anos 80, ensinar era um chamado. Um laço sagrado. As pessoas confiavam em nós. Até nos admiravam.

Não ganhávamos muito, mas havia respeito. E isso valia mais do que qualquer salário.

Os pais levavam bolo de fubá nas reuniões. As crianças faziam cartões de aniversário cheios de erros de português e corações tortos. E quando alguém lia sua primeira frase em voz alta...

Era uma alegria que nenhum dinheiro podia pagar.

Mas alguma coisa mudou. Devagar. Silenciosamente. Ano após ano. Até que um dia, olhei para minha sala e não reconheci mais o trabalho que tanto amei.

Não é só por causa de tablets e lousas digitais – embora também seja. É o cansaço. A falta de respeito. A solidão.

Antes, eu passava as tardes recortando maçãs de papel para enfeitar as paredes. Agora, passo preenchendo relatórios em um aplicativo de comportamento, caso algum pai resolva me processar.

Já gritaram comigo na frente de toda a turma.

Não alunos — pais. Um deles me disse:

— A senhora não sabe lidar com criança. Vi um vídeo no celular do meu filho. Ele tinha me filmado enquanto eu tentava acalmar outro aluno em crise.

Ninguém perguntou como eu estava. Ninguém quis saber que eu estava funcionando à base de chiclete, café e pura força de vontade.

As crianças também mudaram. E a culpa não é delas.

Vivem num mundo acelerado, barulhento, desconectado.

Chegam à escola sem dormir, viciadas em telas e emocionalmente despreparadas. Alguns vêm com raiva. Outros, com medo.

Muitos não sabem segurar um lápis, esperar a vez ou dizer “por favor”.

E esperam que a gente dê conta de tudo.

Seis horas por dia. Sem assistentes. Com 28 alunos. E um orçamento que não dá nem pra bolo de aniversário.

Lembro de quando minha sala era um abrigo. Tínhamos um cantinho da leitura com almofadas coloridas. Cantávamos toda manhã. Aprendíamos a ser gentis antes de aprender a somar.

E agora? Agora me pedem para focar em “metas de aprendizagem”, “métricas”, “resultados mensuráveis”.

Meu valor se mede pela forma como uma criança de 6 anos preenche bolinhas em uma prova padronizada de março.

Uma vez, um supervisor me disse:

— Você é muito “afetiva”. Nosso município quer resultados.

Como se conectar com crianças fosse um defeito.

Mas eu continuei. Porque sempre existiram momentos. Pequenos. Sagrados.

Uma criança que cochichou pra mim:

— Você parece minha vó. Queria morar com você.

Outra que deixou um bilhete na minha mesa:

— Aqui me sinto seguro.

Ou aquele menino tímido que finalmente me olhou nos olhos e disse:

— Li sozinho.

Agarrei esses momentos como se fossem boias salva-vidas.

Porque eles me lembravam que, mesmo quando o mundo gritava o contrário, eu ainda estava fazendo algo que importava.

Mas este último ano... me quebrou.

A violência aumentou. Um aluno jogou uma cadeira pela sala. Outro me ameaçou:

— Vou levar uma coisa de casa amanhã.

E tudo porque pedi para ele sentar.

O telefone da escola virou linha direta de emergência.

A coordenadora pediu demissão em outubro.

Em novembro, não havia mais professores substitutos.

A exaustão virou uma névoa densa e constante.

E eu? Comecei a me sentir invisível. Substituível.

Como uma máquina velha em um mundo digital que já não acredita no toque humano.

Arrumei minha sala hoje. Arranquei desenhos desbotados das paredes – alguns de décadas atrás. Encontrei uma caixa de cartinhas de uma turma de 1995. Uma delas dizia: — Obrigado por gostar de mim mesmo quando fui bagunceiro.

Chorei ao ler. Porque, naquela época, ser professora significava alguma coisa. Hoje, parece uma profissão pela qual a gente precisa pedir desculpa.

Não houve festa. Nem discurso. Só um aperto de mão do novo diretor, que me chamou de “senhora” e checou o celular no meio da despedida.

Esqueci minha caixa de adesivos. Minha cadeira de balanço. Minha paciência.

Mas levei comigo a lembrança de cada criança que um dia me olhou com encanto, com confiança ou com alívio. Isso é meu. Ninguém pode me tirar.

Não sei o que vem agora. Talvez eu seja voluntária na biblioteca da cidade. Talvez eu aprenda a fazer pão caseiro. Ou talvez eu apenas me sente na varanda com um chá quente, lembrando de um tempo que era mais gentil.

Porque sinto falta. Sinto falta de quando ser professora era ser aliada, não alvo. Quando escola e família caminhavam juntas.

Quando educar era cultivar, não apenas medir desempenho.

Se você já foi professor ou professora, você entende. A gente não fez isso pelas férias. Fizemos pelo menino que aprendeu a amarrar os cadarços. Pela menina que finalmente sorriu depois de semanas em silêncio. Pelos que precisavam de nós de um jeito que nenhuma prova consegue mensurar.

Fizemos por amor. Por esperança. Por acreditar que ainda dava para mudar o mundo.

Então, se um dia você encontrar uma professora – de ontem ou de hoje – agradeça. Não com uma xícara. Nem com uma maçã.

Com sua voz. Seus olhos. Seu respeito.

Porque num mundo que corre depressa demais, elas ficaram.

Num sistema que desmoronou, elas resistiram. E numa sociedade que as esqueceu, elas se lembraram de cada criança.

 

Brasília

conversa telefônica que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve com o líder Xi Jinping incluiu uma pauta cara ao setor do agronegócio: a retomada da exportação de carne de frango e, mais detalhadamente, do corte específico de pés da ave.

Desde 17 de maio, as exportações brasileiras de frango estão impedidas de entrar em solo chinês, por causa do surto de gripe aviária no Brasil. Embora o país já tenha oficializado que está livre da gripe, cabe a cada país decidir quando e como pôr fim ao embargo. A China, que consome cerca de 11% do frango exportado pelo Brasil, ainda mantém veto nacional ao Brasil.

A imagem mostra várias galinhas dentro de uma gaiola de metal. As galinhas têm penas de diferentes cores, incluindo marrom e preto. A gaiola é feita de arame e está em um ambiente que parece ser um mercado ou uma feira. Ao fundo, é possível ver outros animais e objetos, mas a imagem foca nas galinhas.
Em três meses, exportadores brasileiros deixaram de vender cerca de R$ 790 milhões em pés de frango para a China - Bazuki Muhammad - 24.nov.2010/Reuters

Tudo isso mexeu com o mercado milionário dos pés de frango, que é, na realidade, o principal corte comprado pelo gigante asiático. Os chineses, diferentemente do que ocorre no Brasil, são fãs inveterados de pé de frango, um item que é tratado como iguaria na culinária chinesa. Os números das exportações confirmam essa preferência.

Os dados do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio) mostram que os chineses vinham comprando entre 46 mil e 52 mil toneladas de cortes de frango em geral do Brasil, por mês, movimentando uma receita de aproximadamente US$ 120 milhões, mensalmente.

Os pés de frango, porém, representaram cerca de um terço desse volume mensal, com cerca de 17 toneladas por mês. O preço do corte tem um impacto ainda maior nas vendas brasileiras, chegando a responder por até 38% da receita total de exportação de frango. Em abril, antes de eclodir a crise da gripe, os chineses gastaram US$ 48,9 milhões com pé de frango, o equivalente a mais de R$ 263 milhões.

Se for considerado que este mercado está paralisado há três meses, chega-se a um valor de R$ 790 milhões em receitas com pé de frango para a China que deixaram de ocorrer.

Esse cenário é resultado direto do preço que o importador chinês está disposto a pagar pelo pé de frango. Se China paga cerca de US$ 1,27 por quilo de coxa ou sobrecoxa, no caso do pé de frango esse valor mais do que dobra, saltando para US$ 2,85 o quilo, o que faz do corte o mais rentável nas exportações da proteína.

Com o colapso total das exportações desde junho, boa parte da produção brasileira de pés de frango passou a ser direcionada para produção de ração animal.

Na semana passada, Lula disse que iria telefonar para a China, para pedir que o país compre US$ 1 bilhão em pés de frango. "Só para ter ideia. Essa semana que vem, sabe qual é a minha tarefa, governador? Ligar para a China e pedir para a China comprar US$ 1 bilhão de pé de frango, que está parado por causa da crise da gripe aviária", disse Lula, durante evento realizado no Acre.

A China está entre os países que, até o momento, mantêm embargo nacional ao frango brasileiro. Essa lista também inclui os 17 países da União Europeia, além de nações como Canadá, Coreia do Sul e Malásia, segundo informações do Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária).

Segundo o relato chinês da conversa telefônica que mantiveram na manhã de terça-feira (12), horário de Pequim, o líder Xi Jinping falou ao presidente Lula que "a China está pronta para trabalhar com o Brasil para estabelecer um exemplo de unidade e autossuficiência entre os principais países do Sul Global". Segundo o comunicado brasileiro, eles falaram sobre Brics e oportunidades de negócios.

Xi acrescentou que "a China apoia o povo brasileiro na defesa de sua soberania nacional e apoia o Brasil na salvaguarda de seus direitos e interesses legítimos, exortando todos os países a se unirem na luta decidida contra o unilateralismo e o protecionismo".

Os primeiros relatos oficiais da conversa não diziam se a escalada tarifária americana, que vem se concentrando nos países do grupo Brics, havia sido tratada diretamente. Pequim divulgou depois uma versão ampliada, dizendo que Lula "informou Xi sobre a recente situação das relações do Brasil com os EUA, bem como a posição firme e inabalável do Brasil em defender sua própria soberania".

O foco de influenza aviária de alta patogenicidade (H5N1) foi detectado em 15 de maio, em uma granja de aves comerciais em Montenegro (RS). Após a confirmação laboratorial, foram sacrificadas 1.363 aves remanescentes, com descarte seguro de carcaças e materiais contaminados.

O Mapa estabeleceu uma zona de emergência de 10 km (3 km de perifoco e 7 km de vigilância) com 538 propriedades, sendo 284 com aves (268.998 no total, majoritariamente de subsistência). Houve vistoria de 100% das propriedades com aves.

O foco foi oficialmente encerrado em 18 de junho de 2025, com notificação à OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal) e publicação de autodeclaração pela instituição.