A conversa telefônica que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve com o líder Xi Jinping incluiu uma pauta cara ao setor do agronegócio: a retomada da exportação de carne de frango e, mais detalhadamente, do corte específico de pés da ave.
Desde 17 de maio, as exportações brasileiras de frango estão impedidas de entrar em solo chinês, por causa do surto de gripe aviária no Brasil. Embora o país já tenha oficializado que está livre da gripe, cabe a cada país decidir quando e como pôr fim ao embargo. A China, que consome cerca de 11% do frango exportado pelo Brasil, ainda mantém veto nacional ao Brasil.
Tudo isso mexeu com o mercado milionário dos pés de frango, que é, na realidade, o principal corte comprado pelo gigante asiático. Os chineses, diferentemente do que ocorre no Brasil, são fãs inveterados de pé de frango, um item que é tratado como iguaria na culinária chinesa. Os números das exportações confirmam essa preferência.
Os dados do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio) mostram que os chineses vinham comprando entre 46 mil e 52 mil toneladas de cortes de frango em geral do Brasil, por mês, movimentando uma receita de aproximadamente US$ 120 milhões, mensalmente.
Os pés de frango, porém, representaram cerca de um terço desse volume mensal, com cerca de 17 toneladas por mês. O preço do corte tem um impacto ainda maior nas vendas brasileiras, chegando a responder por até 38% da receita total de exportação de frango. Em abril, antes de eclodir a crise da gripe, os chineses gastaram US$ 48,9 milhões com pé de frango, o equivalente a mais de R$ 263 milhões.
Se for considerado que este mercado está paralisado há três meses, chega-se a um valor de R$ 790 milhões em receitas com pé de frango para a China que deixaram de ocorrer.
Esse cenário é resultado direto do preço que o importador chinês está disposto a pagar pelo pé de frango. Se China paga cerca de US$ 1,27 por quilo de coxa ou sobrecoxa, no caso do pé de frango esse valor mais do que dobra, saltando para US$ 2,85 o quilo, o que faz do corte o mais rentável nas exportações da proteína.
Com o colapso total das exportações desde junho, boa parte da produção brasileira de pés de frango passou a ser direcionada para produção de ração animal.
Na semana passada, Lula disse que iria telefonar para a China, para pedir que o país compre US$ 1 bilhão em pés de frango. "Só para ter ideia. Essa semana que vem, sabe qual é a minha tarefa, governador? Ligar para a China e pedir para a China comprar US$ 1 bilhão de pé de frango, que está parado por causa da crise da gripe aviária", disse Lula, durante evento realizado no Acre.
A China está entre os países que, até o momento, mantêm embargo nacional ao frango brasileiro. Essa lista também inclui os 17 países da União Europeia, além de nações como Canadá, Coreia do Sul e Malásia, segundo informações do Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária).
Segundo o relato chinês da conversa telefônica que mantiveram na manhã de terça-feira (12), horário de Pequim, o líder Xi Jinping falou ao presidente Lula que "a China está pronta para trabalhar com o Brasil para estabelecer um exemplo de unidade e autossuficiência entre os principais países do Sul Global". Segundo o comunicado brasileiro, eles falaram sobre Brics e oportunidades de negócios.
Xi acrescentou que "a China apoia o povo brasileiro na defesa de sua soberania nacional e apoia o Brasil na salvaguarda de seus direitos e interesses legítimos, exortando todos os países a se unirem na luta decidida contra o unilateralismo e o protecionismo".
Os primeiros relatos oficiais da conversa não diziam se a escalada tarifária americana, que vem se concentrando nos países do grupo Brics, havia sido tratada diretamente. Pequim divulgou depois uma versão ampliada, dizendo que Lula "informou Xi sobre a recente situação das relações do Brasil com os EUA, bem como a posição firme e inabalável do Brasil em defender sua própria soberania".
O foco de influenza aviária de alta patogenicidade (H5N1) foi detectado em 15 de maio, em uma granja de aves comerciais em Montenegro (RS). Após a confirmação laboratorial, foram sacrificadas 1.363 aves remanescentes, com descarte seguro de carcaças e materiais contaminados.
O Mapa estabeleceu uma zona de emergência de 10 km (3 km de perifoco e 7 km de vigilância) com 538 propriedades, sendo 284 com aves (268.998 no total, majoritariamente de subsistência). Houve vistoria de 100% das propriedades com aves.
O foco foi oficialmente encerrado em 18 de junho de 2025, com notificação à OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal) e publicação de autodeclaração pela instituição.

Nenhum comentário:
Postar um comentário