terça-feira, 12 de agosto de 2025

Jennifer Castro do avião, lembra dela?, e a decadência inevitável da fama viral, Rosana Hermann, FSP

 

A imagem mostra uma mulher sentada em um sofá, vestindo um blazer preto e uma blusa branca. Ela tem cabelos longos e lisos, e está segurando uma almofada colorida com um design gráfico. O fundo é de uma parede com uma textura suave e uma iluminação amarelada, criando um ambiente acolhedor.
Jennifer Castro ficou conhecida após negar trocar de assento com uma criança - Reprodução/Instagram

No mundo analógico da década de 70, muitos brasileiros compartilhavam do mesmo sonho de Roberto Carlos: o de ter "um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar". Hoje, com as redes sociais, o Brasil continua sonhando em ter um milhão de amigos —ou melhor, de seguidores— não para cantar, mas para monetizar o sucesso e ficar rico.

O caminho para ganhar nessa loteria da fama não é nem fácil nem provável, mas certamente é possível. E uma das formas de alcançar essa meta é viralizar, seja por insistência ou por mera coincidência.

Essa última foi o que catapultou a bancária Jennifer Castro do anonimato à fama, ao ser inadvertidamente exposta nas redes sociais depois de se recusar a ceder a poltrona que lhe era de direito a uma criança durante um voo.

Jennifer do avião, como ficou conhecida, foi de algumas dúzias a mais de dois milhões de seguidores. O pós-viral seguiu o roteiro clássico: saiu do emprego, mudou de vida, deu uma repaginada no visual, muitas entrevistas nas mídias, ganhou recebidinhos, fez alguns publis e assumiu-se como "influenciadora de moda, lifestyle e viagens".

Visitei seu perfil e achei que ela está muito bem assessorada. Está muito gata, o visual da página é elegante e tudo parece bonito de olhar. O problema é o que a gente não vê: os seguidores não param de cair. E não é culpa de Jennifer.

O que está acontecendo é o previsto na curva de viralização padrão. A pessoa desponta subitamente, chama atenção, vira o assunto do momento e começa a aumentar sua base de seguidores. A curva de adesão chega a um pico, onde fica por algumas semanas. Os meses passam, a curva cai de forma mais lenta, deixando uma cauda longa que tende a zero.

O episódio do avião aconteceu no começo de dezembro de 2024, há cerca de oito meses. O hype passou e, não havendo nenhum outro grande acontecimento, não há motivos para novas adesões. Esta semana, Jennifer comentou que muitos famosos estão dando unfollow, que ela costuma retribuir de forma recíproca.

Jennifer ainda tem um milhão e duzentos mil seguidores, mas a tendência é de queda. Segundo o Social Blade, nos últimos 30 dias, ela perdeu mais de 30 mil seguidores. Assim, se você também pensa em viralizar e resolver a vida, inclua nos seus desejos um convite para um reality show —um bom caminho para realizar o sonho de milhões: o de ser pago apenas por existir.

STF atrasa solução das fraudes do INSS, Rômulo Saraiva - FSP

 a mesma forma que os bolsonaristas reclamam que o ministro Alexandre de Moraes tem concentrado e julgado temas importantes da direita, o ministro Dias Toffoli tem funcionado como um imã para as questões das fraudes do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). O seu magnetismo tem atraído desde o acordo do governo com os aposentados, processos judiciais em curso, autorização de dotação orçamentária sem limite fiscal e tramitação de inquéritos policiais.

Considerando que nosso Poder Judiciário é estruturado por instâncias revisoras, o ponto de partida de um problema de qualquer cidadão começa pela avaliação de um juiz. Com um punhado de recursos, se acessa a segunda opinião de desembargadores e, mais raramente, de ministros. É uma via crucis processual chegar até o STF (Supremo Tribunal Federal). Conforme o relatório "Justiça em Números 2024" do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), dos 83,8 milhões de processos pendentes no país, somente 2% desse total chega aos corredores do Supremo.

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O ministro Dias Toffoli. Sessão Plenária do STF, sob a presidência do ministro Luis Roberto Barroso. - Pedro Ladeira/Folhapress

No caso das fraudes do INSS, as principais providências caíram de paraquedas na praça dos Três Poderes. Mais especificamente no gabinete de Toffoli.

Uma vez homologado o acordo que autorizou o governo reparar parcialmente quem foi prejudicado com a roubalheira de associações previdenciárias e de sindicatos, o ministro continua suspendendo as ações judiciais e os efeitos de decisões que tratam da responsabilidade da União e o INSS pelos descontos associativos indevidos realizados entre março de 2020 e março de 2025.

O acordo é uma iniciativa espontânea de o governo reconhecer parte do seu erro. Mas isso não exclui nem impede de o aposentado, buscando uma indenização de dano moral e devolução em dobro dos valores descontados, procure o Poder Judiciário. São situações independentes e autônomas. Mas estranhamente Toffoli continua travando a tramitação de processos judiciais daqueles que querem ser reparados por valor maior daquilo que oferece o INSS.

Indiretamente, essa providência é uma forma indireta de persuadir aposentados que precisam de agilidade na reparação de verba alimentar. É como se transmitisse a seguinte mensagem subliminar: "Assine logo o acordo proposto pelo INSS, pois judicialmente vamos atrasar a tramitação indefinidamente".

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Não há razão plausível para suspender as ações judiciais. O acesso ao Judiciário é um direito constitucional, que não deve ser ofuscado pela simples razão de o governo resolver ofertar acordo aquém do padrão indenizatório.

Conforme matéria da revista Piauí, além da suspensão nacional, Toffoli determinou que "todos os respectivos procedimentos de inquéritos, anexos e expedientes correlatos, no referido despacho anteriormente realizado, doravante sejam encaminhados a esta Suprema Corte por prevenção a este gabinete, sem prejuízo das diligências e cumprimento de decisões anteriormente proferidas pelos juízos em que hajam se iniciado as apurações, para oportuna análise e eventual ratificação".

Os inquéritos policiais vão sofrer espécie de convalidação, o que potencialmente atrasará também o trabalho da polícia. Até agora não se tem notícia de única prisão de integrante do vasto esquema de corrupção que atingiu o INSS. Quanto mais se demora a incriminar os responsáveis, maior a chance de impunidade.