terça-feira, 3 de junho de 2025

Saiba se a graduação interdisciplinar é a melhor escolha para você, FSP

 

São Paulo

A cena se repete todos os anos: estudantes prestes a concluir o ensino médio enfrentam a difícil missão de escolher um curso de graduação. Para quem ainda não tem certeza sobre o futuro profissional, a decisão pode parecer definitiva demais.

Uma alternativa cada vez mais presente no Brasil é o modelo de formação interdisciplinar. Nele, o aluno ingressa na universidade sem precisar escolher de imediato uma carreira específica

Muito parecido com o sistema universitário dos Estados Unidos —onde estudantes começam com um currículo mais amplo antes de se especializar—, o formato já é adotado por instituições públicas e particulares brasileiras.

Um jovem sentado em uma escada em um ambiente interno, possivelmente uma biblioteca ou espaço de estudo. Ele usa uma camiseta preta e calças claras, e está cercado por estantes de livros ao fundo. Ao seu lado, há alguns livros empilhados. O ambiente é bem iluminado, com prateleiras visíveis ao fundo.
Gabriel Souza, 27, estudante da UFABC; ele pensava em fazer engenharia, mas durante o curso gostou de ciências biológicas - Lucas Seixas/Folhapress

Mas será que esse caminho serve para todo mundo? A Folha ouviu especialistas e estudantes que passaram por essa escolha para explicar como funciona esse ciclo, para quem ele faz sentido e que cuidados ter antes de embarcar nessa jornada.

O que é o curso interdisciplinar?

Em vez de ingressar diretamente em um curso tradicional, como engenharia civil ou biomedicina, o estudante entra em um programa interdisciplinar. De um a três anos, cursa disciplinas de diversas áreas, que podem incluir cálculo, programação, sociologia e história.

Após essa etapa, dependendo do modelo da universidade, o estudante pode optar por permanecer com o diploma do ciclo básico —que já é uma graduação completa— ou seguir para uma formação específica, como engenharia, economia, matemática ou políticas públicas.

Em algumas universidades, o modelo permite mais de um diploma (o da formação básica e do da especialização). É bem comum, devido ao abatimento de matérias, alunos tentarem um terceiro diploma de uma outra área que lhe interessou.

Para quem esse modelo é ideal?

Segundo a pró-reitora de Graduação da UFABC, Fernanda Cardoso , o modelo é especialmente indicado para estudantes que:

  • ainda não têm certeza sobre qual profissão seguir;

  • gostariam de conhecer várias áreas antes de escolher;

  • querem construir uma formação mais personalizada, combinando disciplinas de diferentes campos;

  • pretendem seguir carreira acadêmica ou pesquisa, já que o ciclo permite uma trajetória mais rápida rumo ao mestrado.

Porém, estudantes ouvidos pela Folha que cursam esse formato avisam: não é um modelo para todos.

"É o ideal para quem ainda está indeciso no ensino médio ou não faz ideia do que quer fazer", diz Enrico Garcia, que estuda no programa de Open Academy da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná). "Mas é diferente. O aluno precisa assumir o protagonismo na construção da própria trajetória e lidar com a liberdade de escolha."

Como funciona o modelo nos EUA?

Tradicional em universidades americanas, o formato de liberal arts inspira iniciativas como o American Academy, da PUCPR, desenvolvido em parceria com a Kent State University (EUA). Nele, o estudante faz o ciclo básico no Brasil com currículo norte-americano e depois pode concluir a graduação nos Estados Unidos.

Durante o ciclo, os alunos cursam matérias de áreas variadas —de política global e macroeconomia a saúde, gestão de conflitos e empreendedorismo.

Ana Clara Pelézia, 20, de Sorocaba (SP), hoje aluna da Kent State, conta que a diversidade de disciplinas a surpreendeu.

"Eu tive aulas de filosofia, empreendedorismo, arquitetura, biologia, química, geografia e física, coisas que nunca imaginei estudar. Apesar por seguir em relações internacionais, as aulas das outras áreas me ajudaram a me conhecer melhor", diz.

Como saber se o interdisciplinar é para você?

Veja abaixo alguns sinais de que esse modelo pode s er o ideal —e também os cuidados que você deve ter antes de decidir:

É para você se...

  • Tem interesse por várias áreas e gostaria de explorá-las antes de se comprometer com uma.

  • Valoriza a flexibilidade curricular e quer construir um percurso próprio.

  • Gosta da ideia de uma formação ampla, que permite mudar de direção ao longo do caminho.

  • Está disposto a pesquisar e planejar sua trajetória com autonomia.

Mas preste atenção...

  • A falta de uma estrutura engessada exige mais responsabilidade do aluno.

  • Algumas carreiras com regulamentações rígidas (como medicina, por exemplo) não são compatíveis com esse modelo.

  • Nem todo curso interdisciplinar garante mais de um diploma.

Dicas para escolher o seu curso

Apesar de ser uma escolha complicada, especialistas dão algumas dicas para ajudar o vestibulando a decidir o curso:

  1. Explore opções durante o ensino médio: participe de feiras de profissões, eventos de universidades e cursos de curta duração.

  2. Converse com profissionais da área: entender a rotina real da profissão pode evitar frustrações futuras.

  3. Converse com orientadores podem ajudar.

  4. Considere o ciclo básico: se você sente que precisa de mais tempo para escolher, o modelo pode ser um bom caminho.

  5. Não tenha pressa: escolher uma carreira é uma decisão importante, mas ela pode ser construída aos poucos.

Uma das armadilhas mais comuns para quem entra em um modelo flexível é tentar forçar uma escolha já feita, mesmo quando ela começa a perder o sentido.

O estudante Gabriel Souza, 27, que passou pelo bacharelado interdisciplinar da UFABC, viveu exatamente isso. "Eu sabia que queria engenharia, e quando comecei a me interessar por biologia, negava aquilo. Forçava o interesse nas matérias de engenharia", conta.

A virada veio quando ele permitiu que a razão e a emoção se equilibrassem. "Tem que escutar o que você realmente gosta."

Relator no CNJ defende aposentadoria compulsória para juiz Marcelo Bretas, FSP

 Italo Nogueira

Rio de Janeiro

O conselheiro José Rontondano, do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), defendeu na manhã desta terça-feira (3) a aplicação da pena de aposentadoria compulsória para o juiz federal Marcelo Bretas por sua condução da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro.

O CNJ analisa os três PADs (processos administrativos disciplinares) que levaram ao afastamento temporário do magistrado em fevereiro de 2023. Rontondano leu apenas o sumário de seu voto, sem expor as razões da pena, que serão expostos após as sustentações orais de acusação e defesa.

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O juiz Marcelo Bretas durante evento sobre combate à corrupção na FGV, no Rio de Janeiro, em 2018 - Ricardo Borges - 23.nov.18/Folhapress

Uma das investigações foi aberta para apurar informações do acordo de delação premiada do advogado Nythalmar Dias Ferreira Filho, que relatou supostos acordos feitos com o juiz antes do proferimento de sentenças com o envolvimento de procuradores. O início da atuação dele na vara de Bretas foi revelada pela Folha, em maio de 2018.

Um dos casos se refere à suposta negociação com Bretas e um procurador da força-tarefa fluminense sobre como a confissão do empresário Fernando Cavendish num interrogatório afetaria o acordo de delação ainda em debate.

Nythalmar procurou a PGR para firmar o acordo após ser alvo de busca e apreensão numa investigação do Ministério Público Federal sob suspeita de tráfico de influência e venda de prestígio na captação de clientes.

O acordo, porém, acabou arquivado por falta de provas após decisões do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e do TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região). A ausência da homologação não interfere diretamente nos processos contra Bretas no CNJ. O órgão analisa os relatos de Nythalmar para identificar eventuais infrações disciplinares, enquanto a colaboração precisa indicar supostos crimes.

O colegiado também avalia uma suposta ingerência do magistrado no setor de perícias da Polícia Federal. Será analisado ainda um suposto abuso na realização de buscas e apreensões em escritórios de advocacia.

Outro processo foi aberto após representação de Eduardo Paes (PSD), sob alegação de atuação político-partidária do magistrado durante as eleições de 2018, quando o atual prefeito do Rio de Janeiro concorreu a governador contra o ex-juiz federal Wilson Witzel, amigo de Bretas.

Paes questiona o fato de o magistrado ter marcado de forma seguida, durante a campanha eleitoral de 2018, interrogatórios de seu ex-secretário de Obras Alexandre Pinto, à época réu confesso da acusação de recebimento de propina.

A quarta e última audiência foi realizada três dias antes do primeiro turno. Após três interrogatórios sem envolver Paes nos atos de corrupção, Pinto afirmou pela primeira vez que soube de acerto de propina por parte do prefeito, que nega a acusação.

Bretas se tornou responsável pela Lava Jato fluminense na primeira instância em 2015, atuando em processos envolvendo corrupção na Eletrobras.

Também assumiu as ações penais sobre o esquema de corrupção do ex-governador Sérgio Cabral, a quem mandou prender e condenou a mais de 400 anos de prisão em mais de 30 ações penais. Os desdobramentos da investigação levaram à prisão de uma série de empresários, como Eike Batista, e uma rede de mais de 50 doleiros.

Dentro da investigação sobre a estatal Eletronuclear, o magistrado também expediu em 2019 ordem determinando a prisão do ex-presidente Michel Temer (MDB), o que foi revertido posteriormente no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

O juiz vem desde 2021 tendo sua atuação questionada em tribunais superiores. Diversos processos foram retirados de suas mãos por decisões do STF (Supremo Tribunal Federal) com o entendimento de que a conexão entre eles não é suficiente para mantê-los obrigatoriamente sob responsabilidade do magistrado.