sexta-feira, 30 de maio de 2025

Corpo de Sebastião Salgado é cremado no cemitério Père-Lachaise, em Paris, FSP

 André Fontenelle

Paris

O corpo do fotógrafo Sebastião Salgado foi cremado na manhã desta sexta-feira (30), em uma cerimônia acompanhada por cerca de 250 parentes e amigos, no cemitério Père-Lachaise, em Paris.

Um homem idoso está posando para a foto, com uma expressão séria. Ele usa um chapéu cinza e uma jaqueta de couro preta. O fundo é escuro, o que destaca sua figura. Seus braços estão cruzados sobre o peito, e ele olha diretamente para a câmera.
O fotógrafo Sebastião Salgado, em retrato de 2021, em Paris - Joel Saget/AFP

Salgado morreu aos 81 anos no último dia 23, em Paris, de uma leucemia provocada por malária contraída em uma viagem à Ásia, 15 anos atrás.

No final da homenagem que antecedeu a cremação, a viúva, Lélia, e os filhos, Juliano e Rodrigo, colocaram rosas brancas sobre o caixão fechado de Salgado.

Os elogios fúnebres foram feitos pelo jornalista francês Alain Genestar, pelo fotógrafo francês Yann Arthus-Bertrand, amigos da família, e pelo cineasta Juliano Salgado, um dos filhos do fotógrafo.

Quatro pessoas estão posando para a foto em frente a uma parede colorida com a palavra 'RODRIGO' e a frase 'une Vie d'artiste'. Uma das pessoas, um jovem em uma cadeira de rodas, está segurando um objeto colorido. As outras três pessoas estão em pé ao redor dele, sorrindo. O ambiente parece ser um espaço de exposição de arte, com luz natural entrando pelas janelas.
De pé, da esq. para a dir., Lélia, viúva de Sebastião Salgado, o neto Flávio e o filho Juliano Salgado, durante a inauguração da exposição de desenhos e vitrais do filho Rodrigo, na cadeira de rodas, um dia após a morte do fotógrafo - André Fontenelle - 24.mai.25/Folhapress

"Se há algo a guardar de toda a história de Lélia e Sebastião, é esse engajamento, essa capacidade que eles encontraram, dois imigrantes brasileiros, de influenciar o máximo que puderam o curso das coisas, neste momento em que o espectro da barbárie volta e as mudanças climáticas ameaçam", disse Juliano.

Arthus-Bertrand lembrou a importância do trabalho de Lélia ao lado do marido, bastante afetado pelas tragédias humanas que fotografou. "Como você dizia, Sebastião: 'Eu colocava meu aparelho no chão para chorar'. E foi Lélia que o salvou, propondo plantar árvores." Era uma referência ao trabalho de reflorestamento realizado pelo Instituto Terra, mantido pelo casal Salgado, em Aimorés, Minas Gerais.

As cinzas de Salgado serão espalhadas na propriedade onde atua o instituto.

Entre outras autoridades, estavam presentes o embaixador do Brasil na França, Ricardo Neiva Tavares; o ex-governador do Acre Jorge Viana, que conheceu Salgado em viagens do fotógrafo à Amazônia; o ex-senador Aloysio Nunes Ferreira; e o ministro do Supremo Tribunal Federal José Antonio Dias Toffoli.

Por que a gente precisa de escolas e universidades?, Suzana Herculano-Houzel, FSP (definitivo)

 Meus 20 anos de pesquisa sobre o que nos torna humanos contradizem meus colegas. Eles, munidos de milhões de dólares investidos em seus laboratórios bem-equipados, insistem em buscar genes e moléculas e sequências que devem ter evoluído de maneira diferente exclusivamente em nossa espécie. Eu, munida de uns poucos milhares providos primeiro pela Faperj, depois pelo CNPq, e mais recentemente pela Universidade Vanderbilt, onde trabalho, insisto que não somos especiais.

Mostrei que não somos ponto fora da curva. Meus dados deixam claro que não temos um cérebro aberrantemente maior, não temos mais neurônios do que deveríamos, não vivemos mais do que o esperado para um primata com o nosso número de neurônios corticais. Destes nós temos, sim, mais do que qualquer outro animal, e com mais neurônios corticais, como mostrei em 2019, ganhamos o que realmente nos torna humanos: tempo.

Sala de aula de prédio da Politécnica da USP vazio - Danilo Verpa - 26.set.2023 /Folhapress

Temos uma combinação de muitos neurônios corticais e tempo de vida que nenhuma outra espécie tem, porque com mais neurônios corticais a vida fica mais lenta e mais longa (tartarugas, tubarões, morcegos e baleias "roubam" tempo funcionando em temperaturas mais baixas, mas isso é outra história). Com tantos neurônios, nós humanos levamos mais de uma década como crianças, livres para explorar o mundo e aprender com adultos, com crianças mais velhas, com avós e até bisavós —porque humanos, cheios de neurônios corticais, ultrapassam as dez décadas de vida. Camundongos, em comparação, têm apenas dois meses para aprender a ser adultos, e só dois anos para passar adiante o que aprenderam.

É essa sobreposição de gerações, resultado do maior tempo de vida que vem com ser primata da espécie humana, que nos torna mais do que nossa biologia. Só com ela, somos o Homo sapiens da idade da pedra. Mas com a sobreposição de gerações, as descobertas e invenções de cada leva de adultos são passadas adiante para a geração seguinte, que assim não começa a vida do zero. Com a sobreposição de gerações, e somente com ela, é que a transferência e sobrevivência do conhecimento construído por cada humano se torna possível.

A sobreposição geracional começa na família, mas é aumentada exponencialmente graças a uma dessas invenções humanas: a escola. O que acontece de tão transformador na escola é que projetos de humanos têm tempo protegido para interagir com humanos adultos e aprender com eles, de forma sistematizada e eficiente, todo o conhecimento que a humanidade já construiu de mais importante para funcionarmos no planeta.

A universidade, neste sentido, é apenas a continuação da escola, cada vez mais imprescindível conforme não para de aumentar o corpo de conhecimento necessário para ser um ser humano funcional numa sociedade que tornamos cada vez mais complexa. E na universidade a sobreposição se estende por três gerações: os alunos, seus professores, e os professores destes.

Escolas e universidades são, portanto, os centros de sobreposição geracional onde os membros da espécie têm a oportunidade de aprender a ser humanos modernos. E nas universidades onde jovens adultos têm tempo protegido para fazer pesquisa e construir conhecimento novo eles empurram as fronteiras do que é ser humano —e passam isso adiante.

Não deveria haver nada mais precioso para a continuidade e o progresso de um país, portanto, do que garantir acesso livre e universal de seus cidadãos a escolas e universidades. Simples assim.

Referências

TEDxNashville 2018: Why do we have to go to school, really?

Herculano-Houzel S (2019), Life history changes accompany increased numbers of cortical neurons: a new framework for understanding human brain evolution. Prog Brain Res 250, 179-216.


São Paulo limita preço de imóveis populares a R$ 518 mil após fraudes, UOL

 Após denúncias de fraudes na venda de imóveis populares em São Paulo, a prefeitura limitou o preço máximo das unidades habitacionais em R$ 518 mil.


O decreto, assinado pelo prefeito Ricardo Nunes nesta quinta (29), estipula o valor máximo que as empreiteiras podem cobrar em cada categoria de imóvel social.

As habitações destinadas às famílias que ganham até três salários mínimos devem custar, no máximo, R$ 266 mil. Já as moradias para quem ganha de três a seis salários, não poderão ultrapassar R$ 369 mil. Por fim, a população com renda entre seis e dez salários mínimos, deve desembolsar até R$ 518 mil por apartamento.

Mais de 11 empreiteiras já foram notificadas pela prefeitura de São Paulo por fraude na venda de imóveis populares. Apartamentos com metragem quadrada acima da média e custando até R$ 1,5 milhão também levantaram suspeitas do MPSP.

Investigações sobre supostas fraudes são feitas desde 2022. Ao alegar que fazem as construções voltadas ao público de baixa renda, as empresas privadas ganham isenções, conseguindo aumentar a rentabilidade da construção e "nem sempre alcançando o objetivo da norma, que é o de aumentar a oferta de moradias a preços condizentes aos destinatários do citado programa social", segundo o MPSP.

Metro quadrado custando R$ 20 mil. Em alguns dos casos analisados pela promotoria, "studios" com metragem entre 24 e 32 metros quadrados tinham preços que ultrapassavam os R$ 480 mil. O MP alegou que apartamentos do tipo são incompatíveis com as rendas mínimas previstas pelo Plano Diretor da cidade.