quarta-feira, 28 de maio de 2025

Confiança dos americanos na economia e em Trump aumenta, VTF, FSP

 A confiança do consumidor americano deu um salto grande, depois de cinco tombos. De abril para maio, passou de 85,7 para 98 pontos, segundo a pesquisa do Conference Board. Está entre os níveis mais baixos desde 2022. As expectativas ainda estão em um nível que, se estima, indicaria recessão adiante. Ainda assim, a alta é um espanto.

A redução do fragor da guerra comercial e a recuperação do preço médio das ações deve tem ajudado. Uns 60% das famílias têm investimento em ações.

E daí?

Um homem de cabelo loiro e terno azul está posicionado à direita de uma grande bandeira dos Estados Unidos, que tem listras vermelhas e brancas e um canto azul com estrelas brancas. O homem está sorrindo levemente e parece estar em um evento formal.
O presidente dos EUA, Donald Trump, sorri em evento na Virgínia, no Memorial Day - 26.mai.25 - Saul Loeb/AFP

Uma esperança de que Donald Trump cause menos mal ao mundo e, talvez, à democracia se baseia no possível efeito político do dano que o Huno Laranja causar à economia. É a esperança da sabedoria convencional, que não tem se mostrado muito sábia nesta era de extremos bárbaros e redes insociáveis. A ideia, óbvia, é que o desprestígio de Trump o obrigasse a recuos políticos e, quem sabe, o derrotasse na eleição parlamentar de 2026.

O assunto nos interessa, se ainda é preciso explicar. Trump é uma ameaça para o Brasil, por ser um exemplo e pelo risco de intervenção direta. Entre meados de 2021 e meados de 2022, o governo Joe Biden mandou recados para o governo de Jair Bolsonaro e para representantes de elites políticas e econômicas: não aceitaremos golpe. Sob Trump, já ameaçam Xandão Moraes e cia.

O que se quer dizer com "recuo" de Trump? As medidas econômicas podem vir a ser menos lunáticas —a finança e a grande empresa contiveram o pior, no início de abril. Mas podem restar ataques ao Judiciário, politização da máquina policial e investigativa, destruição do serviço público profissional, controle de universidades e de instituições estatais de pesquisa científica, desproteção maior de direitos de minorias etc.

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Trump está em guerra com universidades, Harvard em particular. Seu governo vai escarafunchar as opiniões de estrangeiros que querem vistos para estudar ou pesquisar nos EUA. Manda imigrantes para campos de concentração em Guantánamo ou El Salvador.

A ligeira recuperação dos índices de confiança econômica e de popularidade de Trump deveria inquietar os esperançosos: 46% do eleitorado o aprova. Quão grande precisa ser o problema econômico para que menos de 46% aprovem o programa tirânico? O Partido Democrata é um zumbi e não há movimento social organizado de protesto.

Sim, o governo tem apenas quatro meses. Não há ainda medida do efeito real do aumento de tarifas em preços, emprego ou investimento. Mesmo que o imposto de importação geral extra ficasse nos 10% deste período de trégua, não há ideia precisa ou consensual do seu efeito econômico, depreende-se da leitura de pilhas de relatórios de bancões ou "think tanks" e de declarações do Fed. De resto, se vier aumento de preço ou desabastecimento, o problema apareceria apenas a partir de junho.

Não há medida ainda da redução da oferta de trabalho de imigrantes nem gritaria relevante de empresas. O orçamento do governo vai resultar em aumento do déficit já enorme, embora os efeitos práticos disso na vida do cidadão possam não aparecer por muito tempo (década?). De resto, o déficit aumentará também por causa de corte de imposto que beneficiará muita gente. Haverá menos dinheiro para saúde, comida e assistência social, mas os pobres são minoritários nos EUA.

Há aceitação da barbárie. Principalmente falta oposição organizada e eficaz à barbárie –lá e aqui.

Ruy Castro - Hoje e então; como era e como é, FSP

 Carmen Veronica, fabulosa vedete do teatro rebolado dos anos 1960, disse tudo: "Naquele tempo se enfiava a bunda dentro do biquíni. Hoje se enfia o biquíni dentro da bunda". A atriz Camila Amado resumiu a nova e difícil situação em sua profissão: "Quando jovem, eu fazia teatro para ganhar dinheiro. Hoje, preciso ganhar dinheiro para fazer teatro". E Tom Jobim assim definiu a diferença entre o Brasil e o Japão: "O Japão é um país paupérrimo com vocação para a riqueza. O Brasil é um país riquíssimo com vocação para a pobreza".

Em Portugal, quando nos pedem alguma coisa, nosso gentil e obsequioso "Pois não" significa um peremptório "Não". Já, ao ouvir algo de que duvidamos, nosso irônico "Pois sim..." significa um afirmativo "Sim". Lá, as calcinhas femininas são cuecas. As cuecas masculinas também. Por essas e outras se acredita que somos dois países separados pela mesma língua. E o dramaturgo Oscar Wilde dizia de seu colega George Bernard Shaw: "Shaw não tem um inimigo no mundo. Em compensação, nenhum de seus amigos gosta dele".

Ficou famosa a frase de Jean-Luc Godard: "A fotografia é a verdade, e o cinema é a verdade 24 vezes por segundo". Mas Godard não contava com a inteligência artificial, que tornou o cinema a mentira 24 vezes por segundo. E alguém falou outro dia do problema da segurança em São Paulo: "Latrocínio era roubo seguido de morte. Agora é morte seguida de roubo".

Um ecologista perguntou: "Pode-se acreditar que, um dia, o ar já foi limpo e o sexo, sujo?". Claudio Manoel, cardeal do ex-grupo Casseta&Planeta, definiu a nossa nova situação institucional: "Antes, os políticos eram eleitos por votos. Hoje, por devotos".

E quem não se lembra da cantilena de Bolsonaro, "Brasil acima de tudo e Deus acima de todos"? Conversa para trouxas. Com sua campanha para reduzir o Brasil a um puxadinho dos EUA com Donald Trump como síndico, Bolsonaro não demora a arrancar sua máscara de religioso e, no desespero, acusar Deus de conluio com Alexandre de Moraes.

A atriz de rebolado dos anos 60 Carmen Veronica
A atriz de rebolado dos anos 60 Carmen Veronica - Reprodução

A balada que uniu Gugu Liberato e Miguel Falabella, FSP

 Vicente Vilardaga

São Paulo

O prédio de 1910 continua imponente, mas hoje, embora tombado pelo Condephaat, está em situação de total abandono, ocupado por uma população de cerca de 300 sem-teto, incluindo muitos estrangeiros. Fica localizado na Mooca, entre a avenida Alcântara Machado e as ruas da Mooca e Barão de Jaguara.

Nesse lugar, outrora endereço da Tecelagem Labor e da Lenços Presidente, funcionou um dos mais nababescos complexos de entretenimento já vistos na cidade. Era a Fabbrica 5, inaugurada com pompa há exatos 25 anos. Impressionava pelo gigantismo e pelas opções de divertimento. Tinha 12 ambientes distribuídos em uma área construída de 3.500 m².

A imagem mostra três homens em uma conferência de imprensa. O homem à esquerda está sorrindo, enquanto os outros dois estão falando. Todos estão usando jaquetas de couro pretas. Há garrafas de água e microfones na mesa à frente deles. O fundo é escuro, sugerindo um ambiente de evento formal.
O apresentador Gugu Liberato e o ator Miguel Falabella no lançamento da casa noturna Fabbrica 5 - Anchieta/Folhapress

Foi algo impressionante na época pela escala e por reunir várias atividades no mesmo lugar. Era uma espécie de parque de diversões para adultos, que incluía karaokê, pizzaria, salão de beleza, lan house com dez computadores, espaço de exposições e performances e um aquário humano com mulheres vestidas de sereia e nadadores com vista por dentro e por fora da boate. O karaokê ocupava o espaço de uma antiga igreja e a pizzaria ficava entre duas chaminés de 17 metros de altura.

Havia uma pista de dança para os apreciadores de música eletrônica com capacidade para seis mil pessoas. Quem preferisse o som dos anos 70 contava com outra pista para duas mil pessoas. Se o frequentador quisesse relaxar podia se dirigir para um ambiente zen com um jardim japonês, massagistas orientais e um sushi bar. A proposta da casa noturna era reunir todas as tribos.

Fabbrica 5
Uma das entradas da antiga boate na rua da Mooca: local está abandonado e virou uma ocupação - Vicente Vilardaga

Os donos da Fabbrica 5 eram o apresentador Gugu Liberato, o ator Miguel Falabella e o empresário e promoter Klaus Ebone, que estavam diversificando seus negócios. A estratégia de marketing do trio, levada adiante, era reunir várias atividades em um mesmo lugar e criar um programa de TV especialmente para promover a casa. Ebone era o apresentador porque Gugu trabalhava no SBT e Falabella, na Globo. "Nós somos apenas proprietários da casa", diziam.

Enquanto Falabella cuidava da programação da Fabbrica 5, Gugu produzia o programa, que se chamava "Klaus, o Kamaleão". Era um programa de entrevistas com frequentadores famosos e anônimos da boate e também uma revista eletrônica, que falava de outros locais e eventos da cidade. Ia ao ar toda sexta-feira, entre meia-noite e 2 horas, na TV Gazeta.

Tecelagem Labor
Tecelagem Labor: prédio de 1910 é tombado e remonta ao início da industrialização em São Paulo - Vicente Vilardaga

Na Fabbrica 5 aconteceu o primeiro baile funk em São Paulo, em 2001. Foi realizado pela equipe Furacão 2000 e contou com os integrantes do Bonde do Tigrão e com dançarinas de funk do Rio de Janeiro. A boate funcionava de quarta-feira a domingo, a partir das 22h. Aos domingos havia uma matinê das 17h às 21h. A balada da Mooca durou até 2006, quando os sócios decidiram encerrar o negócio. Nos anos seguintes o prédio foi ocupado.

Hoje o imóvel está hoje completamente descaracterizado. Segundo o Condephaat, que o tombou em 2014, "os galpões, chaminés e demais remanescentes documentam o início da industrialização paulista, bem como grande parte transformações vivenciadas pelo setor têxtil ao longo do século 20". Suas fachadas, porém, foram totalmente modificadas, com exceção da rua da Mooca. A Tecelagem Labor funcionou até 1987. A marca Lenços Presidente ainda está no mercado. E a Fabbrica 5 resiste na memória de milhares de baladeiros.