terça-feira, 27 de maio de 2025

Marketing de produtos nocivos ameaça saúde infantil, Bruno Gualano FSP

 Alimentos ultraprocessados, bebidas alcoólicas, produtos do tabaco e jogos de aposta estão entre os principais vetores de doenças evitáveis no mundo. Apesar disso, esses itens continuam sendo promovidos com estratégias publicitárias altamente eficazes —às quais as crianças estão cada vez mais expostas. Incapazes de discernir plenamente a intenção persuasiva da propaganda, elas se tornam alvos fáceis de um marketing que afronta a saúde pública.

Embora estudos mostrem que o marketing aumenta o desejo, estimula a experimentação precoce e impulsiona o consumo de produtos nocivos à saúde —além de naturalizar sua presença no cotidiano—, ainda se sabe pouco sobre o real grau de exposição das crianças aos apelos publicitários.

Um estudo neozelandês trouxe avanços. No país Māori, a regulação estatutária é rígida apenas para o tabaco. A publicidade de alimentos, álcool e jogos de aposta é, predominantemente, autorregulada pela própria indústria.

A imagem mostra um grupo de cinco jovens em pé, alinhados contra uma parede de tijolos. Todos estão olhando para seus smartphones. A jovem no centro tem cabelo longo e liso, vestindo um moletom cinza e calças escuras. Os outros jovens estão usando diferentes estilos de roupas casuais e também seguram seus celulares. O ambiente parece ser interno, com uma iluminação suave.
Pesquisa mostrou que crianças com acesso à internet são expostas a propagandas de alimentos não saudáveis como refrigerantes, fast food e doces com alto teor de açúcar ou gordura - Drazen Zigic/Adobe Stock

Os pesquisadores analisaram a natureza e a extensão da exposição em tempo real ao marketing de produtos não saudáveis em 90 crianças, com idades de 11 a 13 anos, vestidas com câmeras capazes de capturar imagens automaticamente por 2 dias.

As crianças foram expostas a uma média de 76 interações diárias com marketing de produtos nocivos —quase 2,5 vezes mais que o marketing de alimentos saudáveis e mensagens educativas de saúde pública (32,3 vezes/dia).

Nada menos que 94% da exposição a esses produtos veio de alimentos não saudáveis, que incluíam refrigerantes, fast food e doces com alto teor de açúcar ou gordura.

A promoção de alimentos saudáveis, como frutas e vegetais, representou apenas 6,8% das interações observadas. Cerca de 7% da exposição total foi relacionada a álcool. Já a exposição ao marketing de tabaco foi praticamente nula, refletindo o sucesso das restrições legais nesse setor.

A embalagem dos produtos foi a forma mais frequente de marketing, seguida por sinalização em pontos de venda —como lojas e supermercados—, cartazes em vias públicas e vitrines. Embora tenha registrado menor nível de exposição, a escola não foi um ambiente livre de publicidade.

Mais da metade do marketing dos produtos nocivos foi realizada por gigantes multinacionais: Coca-Cola, McDonald’s, KFC, Nestlé, Heineken etc. E as crianças mais expostas a essa publicidade foram as mais socialmente vulneráveis.

A experiência da Nova Zelândia reforça a tese de que a autorregulação da indústria falha sistematicamente em proteger as crianças —e, por extensão, a saúde pública.

Daí o Brasil pode tirar lições valiosas. É fundamental investir em educação, comunicação de risco e estratégias de contra-marketing voltadas às crianças e suas famílias; avançar na regulação da publicidade de alimentos ultraprocessados, especialmente nas escolas e no ambiente digital; e garantir a atuação firme do Estado contra o lobby das indústrias de alimentos, bebidas e apostas, evitando retrocessos no arcabouço legal de proteção infantil, estabelecido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Não é moralmente aceitável que a liberdade econômica se sobreponha ao direito das crianças à saúde.

Índia ultrapassa o Japão e se torna a 4ª maior economia do mundo, The News

 

Índia ultrapassa o Japão e se torna a 4ª maior economia do mundo

A Índia alcançou um novo patamar na economia global: agora, o país é oficialmente a 4ª maior economia do mundo , ultrapassando o Japão. Veja o TOP-10 das grandes potências globais:

O marco é mais do que simbólico. Há apenas 10 anos, a Índia ocupava o 10º lugar no ranking global . Desde que Narendra Modi assumiu o governo, em 2014, o país mais do que dobrou de tamanho econômico , graças a reformas estruturais, avanços em infraestrutura e apostas em tecnologia e fabricação.

📊 Alguns números comprovam o desenvolvimento tão acelerado.

  • Crescimento real do PIB de 8,2% em 2023/24, contra uma média global de 3,3% .

  • Lucros com exportações de bens mais do que dobraram entre 2009 e 2023.

  • A participação nas exportações globais de serviços subiu de 2,9% para 4,3% em 10 anos .

  • País que mais cresce economicamente no mundo , com taxas superiores a 7% ao ano.

Mesmo com a inovação ainda representando apenas 17,2% do PIB , há um esforço para aumentar sua relevância.

O país também se beneficia do cenário global, com tarifas mais altas sobre concorrentes asiáticos, o que pode favorecer sua inserção nas cadeias produtivas — um exemplo da própria Apple pretende mudar sua produção da China para lá.

Olhando para o futuro : Com uma população jovem, estabilidade política e ambição econômica, a Índia caminha para se tornar a 3ª maior economia mundial até 2030.

Plástico biodegradável feito de resíduos buscando ajudar a reduzir o impacto ambiental, Pesquisa Fapesp

 

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Startup apoiada pela FAPESP desenvolveu material alternativo ao convencional a partir de resíduos do processo de produção de cerveja e de óleo de cozinha usado (imagem: divulgação/Bioreset)

Plástico biodegradável feito de resíduos buscando ajudar a reduzir o impacto ambiental

27 de maio de 2025

Roseli Andrion | Pesquisa para Inovação – Um dos materiais mais usados no mundo está entre os que mais demoram para se decompor na natureza: é o plástico convencional, que leva até 450 anos para se desintegrar. Como solução para isso, a startup brasileira Bioreset desenvolveu uma alternativa sustentável: um bioplástico 100% biodegradável, produzido a partir de resíduos agropecuários.

Com propriedades plásticas idênticas ao polipropileno (PP) – um dos plásticos derivados de petróleo mais utilizados no mundo –, a criação da Bioreset tem uma diferença crucial: é totalmente biodegradável. “Ele desapareceu completamente em apenas seis meses”, diz Carlos Sassano , engenheiro de alimentos e pesquisador responsável pelo projeto. Enquanto isso, produtos plásticos convencionais, como os feitos de polipropileno, permanecem intactos por séculos. "Quando falamos que dura 450 anos é porque não deixei mais tempo para testar. Pode ser que dure ainda mais."

Ele explica que o material, denominado polihidroxialcanoato (PHA), é produzido a partir de um processo fermentativo que utiliza microrganismos. "Damos todas as condições para esse microrganismo crescer e acumular o PHA dentro da célula. Depois, rompemos a célula, secamos o material e eles ficam em pellets para serem utilizados em diversas aplicações", descreve.

Outra inovação da startup é o uso de resíduos como matéria-prima para a fermentação, principalmente de cerveja e de óleo de cozinha usado. “Essa abordagem reduz o custo de produção, o que torna o produto mais competitivo, e ainda resolve dois problemas ambientais: o descarte inadequado desses rejeitos e do plástico convencional”, revela.

Sassano destaca que esses resíduos são submetidos a protocolos que são próprios para uso humano sem provocar riscos à saúde. E boa parte dessa matéria-prima chega à startup sem custos. "Muitas empresas pagavam para a gente pegar a destruição: mais da metade do PHA que produzimos foi com esse material. Isso barateou muito o custo final."

Principais características

Apesar de manter todas as características desejadas do plástico convencional durante sua vida útil, uma alternativa feita de PHA tem capacidade de biodegradação completa. "Ele é 100% biodegradável porque é orgânico. Por isso, ele pode ser descartado com resíduos orgânicos e se transformar em biocomposto, que pode ser utilizado como adubo", afirma Sassano.

O foco inicial da Bioreset são os plásticos de uso único, como canudos e mexedores de café, que têm vida útil curta e permanecem no ambiente por séculos. “Existem itens que vão ter de continuar a ser feitos de plástico, mas o plástico de uso único é um grande problema”, aponta. “Para esse tipo de aplicação, essa alternativa ajuda a evitar a contaminação do meio ambiente.”

Para comparação, enquanto um misturador de café convencional feito de polipropileno é utilizado por poucos minutos e depois permanece no ambiente por até 450 anos, o mesmo produto feito de PHA desaparece completamente em quatro a seis meses após o descarte. “O material só é biodegradável quando exposto a condições de biodegradabilidade, como umidade e microrganismos presentes no solo.”

Um dos problemas ambientais atuais relacionados aos plásticos maiores convencionais é a formação de microplásticos – fragmentos de menos de 5 milímetros (mm) derivados da eliminação de pedaços. “Eles contaminam a água, ou são sozinhos e podem ser ingeridos por animais e humanos”, lembra o pesquisador.

alternativas como os oxibiodegradáveis (plásticos com aditivos que aceleram o processo de manipulação, mas não se decompõem completamente em compostos orgânicos) ou os fotodegradáveis (que se decompõem mais rapidamente sob a luz solar, o que torna a manipulação mais rápida do que no plástico comum), que se fragmentam em microplásticos, o PHA se decompõe completamente diferente.

Segundo Sassano, pesquisas indicam que uma pessoa pode acumular cerca de 5 gramas de microplásticos no organismo por ano. “Em dez anos, você tem o equivalente a um cartão de crédito no corpo”, alerta. O plástico da Bioreset elimina esse risco ao se decompor completamente sem deixar resíduos no ambiente.

Pioneirismo brasileiro

Embora a tecnologia para a produção de PHA não seja nova – há cerca de 60 anos, a PHB Industrial SA (PHBisa) já trabalhou com esse material no Brasil –, a Bioreset inovou ao produzi-lo a partir de resíduos. "Há 60 anos, não havia tanto material plástico acumulado no ambiente. Por isso, não havia maturidade de mercado para a proposta da PHBisa."

O protocolo para utilização de rejeitos como substrato foi desenvolvido pela própria empresa, o que se torna pioneira no Brasil e uma das primeiras no mundo a usar essa abordagem. A empresa já fez testes bem-sucedidos de injeção de material em equipamentos ecológicos. "Não precisamos mudar os equipamentos: fazemos exatamente como se faz com o plástico de petróleo. Isso é uma grande vantagem", comenta. O projeto da Bioreset tem apoio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE ), da FAPESP.

A startup pretende, agora, adquirir um fermentador de 200 litros. "Hoje temos um de 7,5 litros. Com um equipamento maior, poderemos começar a atender o mercado em apenas dois meses e meio", estima. Segundo ele, a Bioreset é a primeira empresa brasileira a produzir PHA a partir de resíduos em escala comercial.

Futuro e desafios

A opção da startup já conquistou o interesse de grandes empresas, como Ambev e Suzano, que não veem no bioplástico uma solução para reduzir seu impacto ambiental. O desafio agora é aumentar a produção para atender à demanda. "Nossos protocolos já estão todos prontos. Agora, precisamos de investimento para aumentar a capacidade produtiva."

Além dos resíduos de cerveja e óleo de cozinha, a empresa tem protocolos para utilização de outros resíduos agroindustriais — como as fibras vegetais. Isso vai ampliar as possibilidades de aproveitamento de materiais que seriam descartados. A empresa tem pelo menos cinco protocolos diferentes com peças distintas, o que demonstra as peculiaridades do processo.

Embora o foco principal do PHA da Bioreset seja sua biodegradabilidade, o material também é reciclável, assim como os plásticos convencionais. "A propriedade mais importante é a biodegradabilidade, mas também é reciclável. Isso fecha um círculo completo de sustentabilidade", destaca Sassano.

Com essa tecnologia, a Bioreset espera contribuir significativamente para a redução do impacto ambiental dos plásticos ao oferecer uma alternativa que, como sugere o nome da empresa, permite um “reset” completo do ciclo dos materiais plásticos na natureza — após o uso, o material retorna à natureza sem deixar rastros. “É um produto que representa um avanço importante para a economia circular e a preservação do meio ambiente.”

Palavras-chave: bioplástico, biotecnologia, sustentabilidade