segunda-feira, 26 de maio de 2025

É preciso acelerar negócios para frear a crise climática, FSP

 Elenita Sales

Fundadora da Preta no Verde, especialista em mudanças climáticas e analista de comunidades do Impact Hub São Paulo

Kaísa Martins

Jornalista especialista em comunicação empresarial, atuando na área de impacto socioambiental

crise climática é uma realidade incontornável. Temperaturas recordes, eventos extremos e perdas de biodiversidade já afetam nossa qualidade de vida e comprometem o futuro das próximas gerações.

Políticas públicas e acordos internacionais são essenciais, mas não podemos ignorar o poder transformador da inovação. Cada vez mais, empreendedores estão colocando a criatividade a serviço do planeta, desenvolvendo soluções que enfrentam os efeitos das mudanças climáticas e, principalmente, suas causas.

São tecnologias para eficiência energética, sistemas agroflorestais, modelos de negócio baseados em economia circular e soluções de adaptação que auxiliam na proteção de comunidades vulneráveis.

A imagem mostra três pessoas trabalhando em um viveiro de plantas. Elas estão vestidas com camisetas de manga longa e bonés azuis, e estão cercadas por plantas verdes. O ambiente é coberto por uma rede de sombreamento, e ao fundo, há árvores e um céu nublado.
Agricultores e funcionários da Belterra Agroflorestas, startup que planta agroflorestas em áreas degradadas - Renato Stockler

A diversidade dessas iniciativas, em conjunto com saberes tradicionais e ancestrais de quem é linha de frente da mudança do clima, torna possível a transformação para um ecossistema mais justo e sustentável —e esse é o caminho que deve ser trilhado.

"Um rio não deixa de ser um rio quando ele conflui com outro rio. Ele continua em sua essência. Essa é a grandeza da confluência", diz Nêgo Bispo, pensador quilombola, sobre as dinâmicas sociais de convivência.

No entanto, transformar uma boa ideia em impacto real requer mais do que vontade ou propósito. Negócios que nascem com foco em soluções ambientais e climáticas enfrentam uma jornada cheia de obstáculos: acesso limitado a capital, baixa inserção em redes de inovação e, muitas vezes, desconhecimento técnico para estruturar o crescimento.

PUBLICIDADE

É por isso que iniciativas de aceleração têm se mostrado tão fundamentais nesse contexto. Programas de aceleração oferecem capacitação, mentoria, apoio técnico e, principalmente, conexões. Eles funcionam como pontes entre o potencial de uma solução e sua real capacidade de escala e impacto.

Quando olhamos para os desafios climáticos com a lente da inovação, percebemos que acelerar negócios com propósito ambiental não é apenas desejável, é estratégico.

É esse o foco do Hub de Inovação Climática, uma iniciativa que reúne diversos parceiros, entre eles o Impact Hub São Paulo, com o objetivo de fortalecer o ecossistema de negócios voltados à sustentabilidade ambiental e à justiça climática.

Na primeira etapa do programa, foram inscritas mais de cem iniciativas, das quais 15 foram selecionadas para participar de uma jornada intensiva de aceleração. O programa prioriza soluções inovadoras que tenham potencial de impacto, viabilidade econômica e compromisso com a regeneração dos territórios onde atuam.

Um dos exemplos potentes é o de um empreendimento que atua no Pará com ingredientes naturais e funcionais da biodiversidade amazônica, cultivados por meio de agricultura regenerativa e sintrópica. O impacto ambiental e social é notável, com 287 toneladas de gás carbônico sequestradas e parcerias com comunidades locais.

A aceleração é apenas uma etapa, mas uma das mais decisivas. Ao apoiar esses empreendedores com acesso a conhecimento, redes e capital, estamos fortalecendo soluções reais, escaláveis e comprometidas com o futuro.

E mais: estamos garantindo que a inovação seja acessível a diversos perfis de empreendedores, inclusive aqueles que atuam em contextos de maior vulnerabilidade.

Para que esse ecossistema se mantenha vivo e potente, é preciso ir além da mobilização de incubadoras e organizações da sociedade civil. É fundamental que grandes empresas, investidores e o setor público também assumam esse compromisso —seja apoiando programas, comprando de startups verdes ou investindo diretamente em soluções climáticas.

A crise climática exige respostas à altura da sua complexidade. E isso inclui criar ambientes favoráveis para que ideias transformadoras floresçam e ganhem o mundo. Acelerar negócios de impacto ambiental é uma das formas mais concretas de fazer isso acontecer. Ainda temos tempo, mas o momento de agir é agora e juntos.

Petrolíferas estão em 'alerta máximo' com queda de preço e questionam projeção de Trump, FT FSP

 Kristina Shevory

Jamie Smyth
Nova York e Austin (EUA) | Financial Times

As petrolíferas dos EUA cortaram gastos e paralisaram as plataformas de perfuração, à medida que as tarifas do presidente Donald Trump elevam os custos e a queda nos preços do petróleo reduz os lucros, levando executivos a alertar que o boom de xisto de uma década está chegando ao fim.

Decisões surpreendentes do cartel da Opep+ para bombear mais petróleo agravaram o clima sombrio no setor petrolífero dos EUA, despertando temores de uma nova guerra de preços e levando analistas a reduzir as previsões de produção.

"Estamos em alerta máximo neste momento", comentou Clay Gaspar, diretor executivo da Devon Energy, aos investidores neste mês. "Todas as opções estão na mesa enquanto entramos em um ambiente mais difícil."

A imagem mostra uma plataforma de perfuração de petróleo em um campo aberto. Há duas pessoas próximas à plataforma, que está em funcionamento. O céu está limpo e azul, e ao fundo é possível ver mais plataformas de perfuração e postes de energia. A vegetação é escassa, com algumas plantas secas visíveis no solo.
Preço do petróleo próximo de US$ 60 o barril causa preocupação em empresas do setor - Frederic J. Brown/AFP

A produção de petróleo cairá 1,1% no próximo ano para 13,3 milhões de barris por dia, de acordo com a S&P Global Commodity Insights, enquanto os produtores prolíficos de xisto que tornaram os EUA o maior produtor mundial paralisam plataformas diante de preços reduzidos por temores de excesso de oferta e a guerra comercial de Trump.

Isso marcaria o primeiro declínio anual em uma década, excluindo a pandemia de 2020, quando o colapso da demanda levou os preços do petróleo para abaixo de zero e desencadeou falências generalizadas em estados como Texas e Dakota do Norte, ambos nos EUA.

Os preços do petróleo no país fechou em baixa novamente na sexta-feira (23), terminando a semana em US$ 61,53 (R$ 347,48) por barril, cerca de 23% abaixo do ponto mais alto deste ano. Os produtores de xisto precisam de um preço de petróleo de US$ 65 por barril para ter o ponto de equilíbrio, de acordo com a pesquisa trimestral de energia do Federal Reserve Bank of Dallas.

"A palavra de ordem agora é aguentar firme", afirmou Herbert Vogel, diretor executivo da SM Energy, durante a conferência Super DUG em Fort Worth.

Uma queda na produção encerraria uma impressionante trajetória no setor energético dos EUA, onde a revolução do xisto entregou volumes cada vez maiores de petróleo e gás baratos para abastecer a economia, um impulso ao PIB (Produto Interno Bruto) e aos mercados de trabalho, e um aumento nas exportações que melhorou a balança comercial do país.

A crescente produção de xisto também acabou com a dependência dos EUA de fornecedores estrangeiros como a Arábia Saudita e outros membros do cartel da Opep, ao mesmo tempo em que liberou a Casa Branca para atingir exportadores como Irã, Rússia e Venezuela com sanções.

Trump prometeu "liberar" mais perfuração e produção em uma tentativa de garantir a "dominância energética" dos EUA. Mas a produção, que atingiu um recorde histórico sob seu antecessor Joe Biden, pode despencar mais se os preços continuarem caindo.

Scott Sheffield, ex-diretor da empresa de perfuração de xisto Pioneer Natural Resources, afirmou ao Financial Times que se o petróleo cair para US$ 50 (R$ 282,36) por barril, a produção dos EUA provavelmente perderia até 300 mil barris por dia —mais do que a produção total de alguns membros menores da Opep.

A decisão de Riad de bombear mais petróleo nos últimos meses seria uma ameaça direta à participação dos produtores norte-americanos no mercado global, analisou Sheffield.

"A Arábia Saudita está tentando recuperar participação de mercado e provavelmente conseguirá nos próximos cinco anos", comentou o especialista.

A contagem de plataformas de petróleo em terra nos EUA, um termômetro da atividade de perfuração, era de 553 na semana passada, 10 a menos que na semana anterior e 26 a menos que há um ano, de acordo com a empresa de serviços petrolíferos Baker Hughes.

Alguns grandes produtores já estão cortando empregos. Chevron e BP anunciaram juntas 15 mil demissões em todo o mundo, embora nos EUA até agora o emprego no setor tenha permanecido relativamente estável este ano, segundo o órgão de estatísticas oficiais dos EUA.

Os 20 principais produtores de xisto dos EUA, exceto ExxonMobil e Chevron, reduziram seus orçamentos de despesas de capital para 2025 em cerca de US$ 1,8 bilhão (R$ 10,16 bilhões), ou 3%, de acordo com a Enverus, uma empresa de pesquisa em energia.

"Como operadores, não podemos controlar o macro, mas podemos controlar como respondemos", disse Vicki Hollub, diretora executiva da Occidental Petroleum, que reduziu o número de plataformas em duas no primeiro trimestre.

Muitas empresas cortarão mais se os preços atingirem US$ 50 por barril —o preço que funcionários de Trump indicaram que ajudaria a conter a inflação.

"Neste ambiente, abandonamos as plataformas e recompramos ações", indicou Travis Stice, presidente e diretor executivo da Diamondback Energy, que recentemente alertou os investidores que a produção de petróleo dos EUA provavelmente atingiu o pico. "Cada conversa que tive indica que este preço do petróleo não funcionará."

Mas as outras políticas do presidente também estão abalando o setor. As tarifas elevaram os preços do aço e do alumínio —insumos cruciais no setor petrolífero. O preço do revestimento, o metal usado para revestir poços e a maior despesa para perfurar um poço, aumentou 10% apenas no último trimestre.

"A economia será desafiada. Veremos mais retração de capital à medida que os trimestres avançam", avaliou Doug Lawlor, diretor executivo da Continental Resources, uma das maiores empresas de energia de capital fechado do país.

Isso forçará as empresas a se protegerem ainda mais enquanto tentam manter os investidores de Wall Street satisfeitos, protegendo o fluxo de caixa livre para pagar dividendos e quitar dívidas.

"Você precisa se concentrar nos dividendos, eles são sagrados neste ambiente", disse Jim Rogers, sócio da empresa de investimentos Petrie Partners.