segunda-feira, 19 de maio de 2025

Energia usada para IA gerar uma imagem poderia alimentar 240 lâmpadas por uma hora, FSP

 

Giovana KebianPedro S. Teixeira
São Paulo

Usar a inteligência artificial (IA) para escrever um email com cerca de cem palavras gasta a mesma energia do que deixar quatro lâmpadas de LED acesas por uma hora. Para gerar uma imagem, o consumo é cerca de 60 vezes maior, ou 240 lâmpadas ligadas pelo mesmo período.

Esses modos de uso se repetem à exaustão no Brasil e no mundo desde a popularização do ChatGPT no fim de 2022. O consumo acumulado no país durante um ano só com uma hipotética geração semanal de emails seria comparável à demanda anual por eletricidade de uma cidade de 82 mil habitantes.

Folha estimou esse cenário usando uma metodologia criada por pesquisadores da plataforma Hugging Face (que funciona como uma coleção de IAs) e com base nos relatos de programadores que usam o modelo de IA da Meta Llama 3.1 405 b no próprio computador, o que lhes dá acesso às informações de consumo.

Tabelas de preços de provedores de nuvem permitem inferir que o modelo da Meta tem uma demanda computacional parecida com a do GPT-4o, que equipa o ChatGPT, uma vez que o custo de usar as duas tecnologias é parecido.

Entre os principais desenvolvedores de IA, apenas Meta e Deepseek divulgam dados sobre o consumo de eletricidade de suas tecnologias. Por isso, cientistas desenvolveram medições indiretas da pegada energética —e também de água e carbono— de ChatGPT (OpenAI), Gemini (do Google) e Claude (Anthropic).

Procuradas, as empresas não responderam às questões da reportagem.

A imagem mostra uma subestação elétrica ao entardecer, com silhuetas de torres e equipamentos elétricos. O céu apresenta um gradiente de cores que vai do azul ao laranja, indicando que o sol está se pondo. Fios de alta tensão estão visíveis, cruzando a imagem.
Subestação de distribuição de energia elétrica da CPFL Paulista (Companhia Paulista de Força e Luz) no município de Marília, região centro-oeste do estado de São Paulo - Alf Ribeiro/Folhapress

Cada comando solicitado a um modelo de IA exige que computadores especializados façam trilhões de cálculos para determinar as melhores palavras para cada resposta —essas máquinas ficam nos chamados data centers, que o governo Lula planeja isentar de impostos para atrair investimentos. Isso fez a demanda por eletricidade destinada ao processamento de dados explodir.

Quanto mais elaborada a tarefa solicitada à IA, maior o consumo energético dos modelos de inteligência artificial. Uma pesquisa da Universidade de Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, estima que usar IA para criar imagens consome, em média, 60 vezes mais energia do que geração de texto.

"No caso da geração de texto, há uma exigência menor em termos computacionais para manipulação da sequência de caracteres, em comparação à geração de imagem. A diferença basicamente está na carga de trabalho", explica André Micelli, CEO da MIT Technology Review Brasil.

Outro fator relevante para o gasto de energia é o tempo de processamento. Enquanto gerar um texto de cem palavras ocupa poucos segundos do ChatGPT, criar uma imagem pode tomar até um minuto do modelo, de acordo com a sua desenvolvedora, OpenAI.

Dados da startup ainda mostram que gerar uma imagem de qualidade média custa para programadores a mesma quantia em dinheiro do que o cobrado em 42 emails de cem palavras.

Mas é justamente o primeiro recurso que tem tido maior procura. Uma série de tendências virais, como filtros de fotografia baseados na estética do Studio Ghibli (produtora japonesa do filme "A Viagem de Chihiro") e da Turma da Mônica, fizeram disparar o uso da plataforma da OpenAI.

Modelos mais complexos, como o o1 da OpenAI (que divide a realização do comando em passos) e o mais recente GPT-4.5, também gastam mais. Ao passo que o GPT4o custa US$ 10 por pacote de palavras, o o1 cobra US$ 60, o o3, US$ 40, e o GPT-4.5, US$ 150 —os preços sofrem influência direta da demanda de eletricidade.

Ao mesmo tempo, as inteligências artificiais ganharam eficiência nos últimos anos. O GPT-4, que precedeu o GPT-4o e tinha performance similar, consumia o equivalente ao gasto de 14 lâmpadas de LED por uma hora, de acordo com cálculo do professor de engenharia da computação Shaolei Ren, da Universidade da Califórnia. Os dados foram revisados por pares e publicados em uma revista acadêmica.

Ren afirma à reportagem que o uso de inteligência artificial ainda impacta as reservas hídricas, já que os supercomputadores mais modernos requerem refrigeração líquida, que tem maior eficiência do que ar-condicionado. O professor estimou que o GPT-4 gastava uma garrafa de água para gerar um texto de cem palavras.

Projeções da Agência Internacional de Energia divulgadas na última quarta-feira (9) indicam que o gasto de água com inteligência artificial deve subir 80% entre 2023 e 2030.

O mesmo levantamento indica que o consumo de energia em data centers, onde rodam os modelos de IA, deve saltar de 415 TWh (terawatt hora) por ano em 2024 para 945 TWh em 2030 —quase o dobro do que o Brasil gastou em 2024 (532 TWh). Os Estados Unidos, onde 60% da matriz elétrica é de combustíveis fósseis, devem concentrar 45% desse gasto em 2030 —China (25%) e Europa (15%) vêm na sequência.

"O consumo absoluto tende a crescer por um bom tempo devido ao crescimento da demanda. Mas novas tecnologias vão tornar esse consumo relativamente menor devido ao aumento de eficiência dos algoritmos", explica Hudson Mendonça, CEO do Energy Summit.

O lançamento da Deepseek, por exemplo, introduziu no mercado uma técnica chamada destilação que reduz a quantidade de energia gasta durante o desenvolvimento da tecnologia.

Antes de uma IA ser lançada no mercado, os modelos precisam ser testados e treinados para gerar as respostas corretas de forma rápida. Na destilação, o modelo de IA chamado de "cru" é orientado por outro já calibrado.

Aplicando essa estratégia, a Meta conseguiu reduzir a um quinto o consumo de energia do treinamento do Llama 4, em relação ao Llama 3.1. Este foi desenvolvido sem destilação.

De acordo com a pesquisadora do Hugging Face Sasha Luccioni, o treinamento tem mais impacto em termos de energia e carbono do que o funcionamento cotidiano. "No entanto, esse gasto pode ser alcançado rapidamente no caso de um modelo popular usado por milhões de usuários, como o ChatGPT.

COMO A FOLHA FEZ

Como as principais empresas de IA não divulgam o consumo elétrico de seus modelos, a reportagem recorreu à técnica de Luccioni, que comparou o consumo do GPT-3 ao de uma IA de código aberto de mesmo tamanho, com 175 bilhões de parâmetros.

Folha escolheu o Llama 3.1 405b com base no custo cobrado por provedores de nuvem para usá-lo —é similar ao de GPT-4o e Claude 3.5 Sonnet.

Além disso, há, na internet, relatos e vídeos de pessoas que conseguem rodar o modelo da Meta nos próprios supercomputadores, contendo informações como a potência das máquinas e a performance do modelo de IA.

Com esses dados, é possível estimar o gasto de energia para realizar uma tarefa. A metodologia foi revisada pelo professor Shaolei Ren, da Universidade da Califórnia.

A Meta informou que tem dados oficiais de consumo energético apenas da fase de treinamento da IA.

Espanha exige remoção de 65 mil anúncios de aluguel do Airbnb, FSP

 Inti Landauro

São Paulo | Reuters

Espanha ordenou que o Airbnb retire mais de 65 mil anúncios de alojamentos por temporada que, segundo o governo, violam as regras existentes na plataforma, como parte de uma repressão geral a um negócio acusado de contribuir para a crise habitacional no país.

A maioria dos anúncios do Airbnb a serem bloqueados não inclui o número de licença, enquanto outros não especificam se o proprietário é um indivíduo ou uma empresa, informou o Ministério dos Direitos do Consumidor em comunicado nesta segunda-feira (19).

A imagem mostra um aviso colado em uma parede, com um símbolo de alerta em vermelho e o logotipo do Airbnb. O texto do aviso diz: "¡PELIGRO! PERJUDICA GRAVEMENTE AL VENCINDARIO". Ao fundo, uma pessoa com óculos está parcialmente visível, mas seu rosto não é claramente reconhecível.
Um homem lê um adesivo na parede com os dizeres "Perigo! O Airbnb prejudica seriamente a vizinhança", em Barcelona - Pau Barrena - 02.nov.2018/AFP

O Ministro dos Direitos do Consumidor, Pablo Bustinduy, afirmou que seu objetivo é acabar com a "falta de controle" geral e a "ilegalidade" no negócio de aluguel por temporada.

"Chega de desculpas. Basta de proteger aqueles que fazem negócios com o direito à habitação em nosso país", disse ele aos jornalistas.

Bustinduy afirmou que o tribunal superior de Madri está apoiando o pedido para retirar até 5.800 anúncios.

O Airbnb irá recorrer da decisão, disse um porta-voz também na segunda. A empresa acredita que o ministério não tem autoridade para tomar decisões sobre aluguéis de curta duração e não forneceu uma lista baseada em evidências de acomodações não conformes. Alguns dos anúncios incriminados são aluguéis sazonais não turísticos, disse o porta-voz.

O governo espanhol, bem como os conselhos municipais e autoridades regionais, lançaram uma repressão geral aos aluguéis turísticos por meio de sites como Airbnb e Booking.com, que muitos espanhóis dizem estar criando excesso de turismo, reduzindo a oferta de habitação e tornando o aluguel inacessível para muitos moradores locais.

BOLHA IMOBILIÁRIA

A habitação tornou-se uma questão importante na Espanha, já que a construção não conseguiu acompanhar a demanda desde que uma bolha imobiliária estourou há mais de 15 anos.

De acordo com dados oficiais, havia cerca de 321 mil casas com licenças de aluguel para férias na Espanha até novembro do ano passado, 15% a mais do que em 2020. Muitas mais operam sem licenças oficiais.

O Ministério dos Direitos do Consumidor abriu uma investigação sobre o Airbnb em dezembro e, em janeiro, o primeiro-ministro Pedro Sánchez revelou um plano para aumentar os impostos sobre a renda proveniente de aluguéis de curta temporada por meio de plataformas.

O prefeito de Barcelona, Jaume Collboni, tomou a medida mais dura da Espanha até agora em junho do ano passado, quando ordenou a proibição total de aluguéis turísticos até 2028.

Outros países europeus, como Croácia e Itália, também agiram para desacelerar o negócio de aluguel para férias.

sexta-feira, 16 de maio de 2025

No Brasil petroleiro e do agro, preços menores aumentam desconforto econômico de 2025, FSP

 Donald Trump disse que um acordo com o Irã está próximo. O que Trump diz se escreve na areia. É lavado e apagado quase a cada maré. Ainda assim, a possibilidade de que o Irã possa voltar oficialmente ao mercado de petróleo e exportar mais deu uma derrubada no preço do barril. Esse tipo de notícia interessa mais e mais à economia brasileira.

Opep voltou a aumentar oficialmente sua produção, além até do previsto (a ênfase no "oficialmente" se deve ao fato de que uma quantidade relevante de petróleo é vendida atrás dos panos). Prevê-se desaceleração grande da economia mundial neste ano.

Assim, o preço do barril do Brent veio caindo do breve voo nos US$ 80 no início do ano para algo entre US$ 60 e US$ 65. Entendidos dizem que a queda do preço tira produtores americanos do mercado, diminui a oferta, o que talvez sustente os preços por volta de US$ 60. Note-se que os chutes sobre a cotação do barril costumam ser quase tão ruins quanto estimativas de taxa de câmbio.

A imagem mostra uma bomba de combustível de um posto da Petrobras, com mangueiras de abastecimento visíveis. Ao fundo, há um carro sendo abastecido e a estrutura do posto é iluminada. O logotipo da Petrobras é claramente visível na bomba, destacando-se em verde e amarelo.
Logo da Petrobras em posto de combustível em São Paulo - Alexandre Meneghini - 25.abr.2025/Reuters

O Brasil passou a ser também um país petroleiro, embora o tamanho e a relevância da produção estejam bem longe do peso que a commodity tem nas economias de países árabes ou na Rússia.

No ano passado, o valor da exportação de petróleo passou a da soja e foi o maior da lista de vendas do país para o exterior, com mais de 13% do total (deve voltar ao segundo lugar neste ano, mas disputa a ponta).

O preço do petróleo e das demais commodities sustentam as contas externas, parte da renda e dos impostos, além de incentivar investimentos. É bem relevante.

Apenas os dividendos da Petrobras e outras receitas com a exploração de recursos naturais (na maior parte petróleo) foram 5,6% da receita total anual do governo federal. Não entram nessa conta impostos com petróleo, minérios e outras commodities, para os quais não temos dados públicos mensais detalhados.

Em 2022, por exemplo, ano de recorde, quase 10% da receita do governo federal veio apenas da Petrobras (contados dividendos, royalties, participações, impostos). É enorme.

A queda do preço das commodities foi um dos grandes problemas que causaram o desastre da Grande Recessão (2014-2016). Essa tragédia decorreu principalmente do estouro do problema fiscal, da alta da taxa de juros, do fim de tabelamentos de preços de energia e ainda do grande tumulto político (deposição de Dilma Rousseff) e de secas terríveis.

Estamos longe dessa conjunção dos infernos, mas temos adiante motivos de aumento relevante de desconforto, digamos, de resto com o pavio aceso de bombas fiscais, que devem estourar a partir de 2027.

A receita com Petrobras e recursos naturais está praticamente estável faz um ano (antes, levou um tombo também porque a petroleira deixou de pagar dividendos em ritmo de liquidação da companhia, como se fazia sob Jair Bolsonaro).

O índice de preço de commodities (em dólar) em janeiro estava no nível mais alto desde fins de 2022. Começou a cair um tanto desde então. Deve cair mais. A receita do governo e a renda do país devem cair um tanto, pois. O efeito positivo na inflação não vai bastar para redução relevante da taxa de juros, alta a perder de vista.

Prevê-se que o ritmo de crescimento deve cair a zero a partir de meados do ano, o que também deve prejudicar a arrecadação. Não é uma conjunção confortável.