sexta-feira, 16 de maio de 2025

Decisão sobre contrato da ferrovia Rumo Malha Oeste causa atrito na cúpula do TCU, FSP

 André Borges

Brasília

O destino da ferrovia RMO (Rumo Malha Oeste), malha de 1.973 km que atravessa os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, sofreu uma guinada no TCU (Tribunal de Contas da União), expondo atritos na cúpula da corte.

Na semana passada, o ministro Aroldo Cedraz decidiu contrariar o entendimento do presidente do TCU, Vital do Rêgo, e da Secex Consenso (Secretaria de Controle Externo de Solução Consensual e Prevenção de Conflitos), determinando a realização de uma nova licitação para a ferrovia.

0
Com decisão do TCU, Malha Oeste será oferecida em novo leilão, previsto para ocorrer em maio de 2026; Rumo, que é atual concessionária, terá de disputar o trecho, se quiser se manter no traçado - Eduardo Anizelli 13.mai.2021/Folhapress

Com a decisão, um possível acordo entre o governo e a concessionária Rumo nem sequer será avaliado, ou seja, o único caminho agora é seguir até o fim do contrato atual, que se encerra em junho de 2026, e fazer um novo leilão da ferrovia.

A rejeição unilateral feita por Cedraz veio acompanhada de ataques diretos aos propósitos da negociação que tinha sido aprovada por Vital e a Secretaria de Consenso. "Na verdade, não se trata da resolução de solução conflituosa", afirmou Cedraz, "mas sim de burla à licitação de um novo projeto de infraestrutura ferroviária, em clara afronta à Constituição".

Na análise de Cedraz, a proposta de solução consensual "permitiria a manutenção da mesma concessionária, que atualmente não preenche os requisitos para prorrogar o contrato, por outros 30 anos, em detrimento da possibilidade de participação de novos interessados na exploração da malha ferroviária".

A decisão emparedou o Ministérios dos Transportes, que agora precisa correr para atualizar os estudos da RMO, publicar seu edital e marcar o leilão do trecho. A previsão é que a licitação ocorra até maio do ano que vem, ou seja, apenas dois meses antes do fim do contrato com a Rumo.

PUBLICIDADE

O caso é, especialmente, importante, dado que o governo ainda tem vários projetos ferroviários de repactuação para encaminhar para a corte, como a FCA, maior concessão do setor em todo o país.

Folha questionou Vital do Rêgo sobre o assunto. Por meio da assessoria do TCU, ele declarou que não vai se pronunciar. Cedraz afirmou que o que tinha para dizer está registrado em seu despacho sobre o caso. A Rumo declarou que "mantém o canal aberto com o poder concedente para otimização da malha, por meio do grupo técnico liderado pelo Ministério dos Transportes e pelo órgão regulador, ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres)".

No plano original, a Rumo pretendia entregar o trecho de volta à União. Em 2020, a concessionária chegou a assinar um aditivo contratual para fazer a devolução amigável da concessão, abrindo caminho para uma licitação. Atualmente, cerca de 600 km de trechos da RMO estão totalmente sem tráfego. Outros 1.300 km têm baixíssimo uso, com menos de um par de trem passando pelo traçado por dia, conforme auditoria do TCU concluída no ano passado.

O acordo de devolução previa o prazo máximo de 19 de fevereiro de 2025 para que o governo concluísse a nova licitação. Nos últimos quatro anos, o processo caminhou sem uma definição concreta, até que, em dezembro do ano passado, a ANTT, o ministério e a empresa formularam um pedido para repactuar os termos do contrato, em vez da devolução. Vital do Rêgo e a Secretaria de Consenso acataram o pedido, entendendo que havia legitimidade para justificar a mediação, com a suspensão dos prazos para garantir a negociação.

Essa nova investida não agradou ao ministro Aroldo Cedraz, que já era o relator do processo de entrega da RMO. Sobre a eventual possibilidade de o caso ir ao plenário da corte para uma nova decisão, o TCU informou que se trata de um caso resolvido. Agora, o que resta é fazer um novo leilão.

Não foi a primeira vez que Cedraz se colocou contra os acordos entre União e concessionárias. No fim do ano passado, o ministro do TCU atacou a repactuação com a concessionária MSVia, que administra desde 2014, a BR-163, um trecho de 847 km, entre a divisa de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, até chegar ao Paraná.

A solução consensual de ser "irremediavelmente ilegal, vez que inconciliável não apenas com a letra da lei, mas também com todo o ordenamento jurídico". Neste caso, porém, o acordo foi aprovado pelo plenário.

Dentro do Ministério dos Transportes, equipes técnicas trabalham na adaptação do edital da Malha Oeste. O governo vai oferecer a Malha Oeste como uma única concessão, em vez de dividir seu traçado em lotes. Os investimentos estruturais previstos para o traçado são da ordem de R$ 18,95 bilhões ao longo dos 30 anos de concessão, mas podem ter alteração conforme novas mudanças.

O edital vai prever a construção de um novo ramal, do zero, de 97 km de extensão, que pretende conectar a Malha Oeste à Malha Paulista (Ferronorte), passando pelas cidades de Três Lagoas (MS), que é um polo industrial de celulose, até Aparecida do Taboado (MS), na divisa com São Paulo.

Outra decisão que terá impacto direto no novo leilão é a construção de um novo eixo de bitola dos trilhos da Malha Oeste. Hoje, a maior parte do traçado é de bitola estreita, ou métrica, de um metro de distância entre os trilhos. O plano é adaptar a malha para a bitola larga, de 1,60 metro. Isso amplia a capacidade de carga e a velocidade, porque permite maior estabilidade e segurança.

Virginia Fonseca e a arte de chupar microfone na CPI, Alvaro Costa e Silva - FSP

 

Foi-se o tempo em que tudo acabava em pizza. Hoje acaba em CPI, que perdeu a função fiscalizadora para se tornar um espetáculo circense feito sob encomenda para as redes sociais.

Na terça (13), ao chegar para depor na CPI que investiga a promoção de jogos de azar por influenciadores digitais, Virginia Fonseca tomou conta do picadeiro: "Que Deus abençoe nossa audiência e bora pra cima". De audiência Virginia entende: tem 53 milhões de seguidores só no Instagram —e uma fortuna em reais oito vezes maior. Era palpável entre os senadores o sentimento de inveja.

Acusada de ter assinado com as bets a chamada "cláusula da desgraça alheia" —pagamento de 30% sobre as perdas de apostadores—, Virginia exibiu mais que o look de garotinha recém-desperta de sonhos sem culpa: o permanente sorriso de impunidade no rosto. No melhor momento da performance, ela chupou o microfone.

Tudo a ver: mamar é uma especialidade dos chupins da República que costumam frequentar as arguições no Congresso. No mesmo dia em que a oposição protocolou um pedido de CPMI para apurar os descontos ilegais em aposentadorias e pensões, a Polícia Federal revelou que pelo menos dois alvos da CPI da Covid, envolvidos na compra de vacinas superfaturadas, também são investigados no escândalo do INSS.

O relatório final sobre as omissões e irregularidades durante a pandemia, entregue em 2021, recomendou o indiciamento de dezenas de pessoas —o mínimo que se apurou sobre Bolsonaro é que ele agiu como charlatão. Ninguém foi preso.

Se vingar, a nova CPMI será uma rinha de galos, num canto bolsonaristas e no outro petistas, para descobrir quem tem menos razão. O ex-presidente sancionou sem vetos o fim do controle de descontos no INSS, deixando o caminho livre para os laranjas. O atual abandonou a instituição.

Na guerra de narrativas travada nas redes, Lula está levando uma surra. A saída é contratar a bela e rica Virginia para tentar virar o jogo. Depois do show na CPI, ela perdeu milhares de seguidores. Mas logo os recupera.

Virginia Fonseca é uma gênia, Mariliz Pereira Jorge, FSP

 Virginia Fonseca é uma gênia. Quando a influenciadora mandou um animado "bora pra cima" logo no início de seu depoimento na CPI das Bets, metade de mim se espantou com o deboche —a outra reconheceu o talento. Não pelo conteúdo, mas pela leitura precisa de cena. Com moletom fofo, estampado com o rosto de uma das filhas, e óculos para compor o visual de adolescente nerd, ela entendeu melhor do que qualquer assessor parlamentar o roteiro daquela audiência.

Virginia não desrespeitou a instituição —apenas traduziu, com perfeição, o papel que ela vem escolhendo representar. A sessão já nasceu com cara de meme, mas conseguiu cair ainda mais no ridículo. O senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) interrompeu a audiência para gravar um vídeo com a investigada. "É pra minha mulher e minha filha", justificou, como se estivesse em um camarim e não em uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Soraya Thronicke (Podemos-MS) prometeu seguir Virginia nas redes, o que soou menos como ameaça e mais como agrado ao fã-clube da influenciadora.

Uma mulher com cabelo longo e liso, usando óculos e uma blusa preta, está sorrindo e fazendo um sinal de positivo com a mão. Ela está sentada em uma mesa com um copo de água e um microfone à sua frente. O fundo apresenta um padrão geométrico em tons de cinza.
A influencer Vigínia Fonseca depõe na CPI das Bets no Senado Federal - Gabriela Biló/Folhapress

Pausa para o story. Play na vergonha. Não era um podcast. Não era uma coletiva. Era o Congresso Nacional que dizia estar ali para investigar o impacto dos jogos em cidadãos viciados, famílias endividadas. Mas, diante da câmera e da loira com aparência infantilizada, o Senado virou plateia. O problema não está só na convocada, com ar blasé, que manipula sua audiência —mas nos parlamentares que tratam uma tragédia social com displicência.

Da sessão, não saiu nenhum dado relevante, nenhuma cobrança firme, nenhum constrangimento real a uma pessoa que vende ilusão em troca de milhões. Apenas a confirmação de que o Congresso virou um palco —e, seus membros, coadjuvantes de um espetáculo inútil.

A CPI das Bets parece não buscar respostas, mas audiência. No final, é possível que não produza o relatório robusto que se espera. E, se produzir, talvez ninguém mais leve a sério. Quanto à Virginia, é uma gênia: fez o que já faz todo dia: vender a si mesma. E, dessa vez, com plateia oficial.