quinta-feira, 15 de maio de 2025

Fraude do INSS: investigação liga associação que fazia desconto irregular a empresário da saúde, OESP

 

Terceira entidade que mais descontou valores dos beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em 2024, a Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec) é investigada por ser supostamente controlada por “laranjas” ligados ao empresário do setor de saúde Mauricio Camisotti.

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A denúncia consta no inquérito que motivou a Operação Sem Desconto, deflagrada no fim de abril pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU). A associação afirma, em nota, que não realizou a captação de associados e que, se houve fraude, também foi vítima, assim como os próprios beneficiários. Procurado por meio das empresas do grupo THG, Camisotti não se pronunciou.

A operação da PF e da CGU buscou combater um esquema criminoso que promoveu desvios bilionários de proventos de aposentados e pensionistas do INSS. Desde 2016, cerca de R$ 7,99 bilhões em recursos foram descontados em folha de aposentados e pensionistas, e as suspeitas são de que quase a totalidade desse valor tenha sido descontado sem autorização.

A Ambec foi fundada em 2006, e está sediada no bairro Vila Olímpia, em São Paulo. Até fevereiro do ano passado, quando denúncias sobre descontos ilegais feitas pela associação foram publicadas no portal de notícias Metrópoles, ela era presidida por Maria Inês Batista de Almeida, ex-auxiliar de dentista que trabalhou nas empresas Brazil Dental e Prevident, ambas do grupo THG (Total Health Group), de Camisotti. Ela é moradora do Jardim Robru, no extremo leste de São Paulo, segundo o inquérito.

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Em 2024, a Ambec realizou descontos estimados de R$ 231,3 milhões, o equivalente a 8,8% do total feito por todas as associações. Os descontos começaram em 2022, com R$ 25 milhões, e cresceram para R$ 91,4 milhões em 2023.

Em dezembro de 2021, a Ambec tinha apenas três associados, mas saltou para mais de 600 mil em dezembro de 2023.

Segundo o inquérito da PF, o grupo THG comandaria outras duas associações: a União dos Servidores Públicos do Brasil (Unsbras) e o Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap).

As três associações juntas respondem por 17,3% de participação nos descontos estimados de 2024, somando R$ 456,5 milhões e superando, em conjunto, a campeã em descontos, a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), com R$ 435 milhões descontados no ano passado.

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As associações e as empresas do THG estão todas sediadas em São Paulo em endereços próximos, na região da Vila Olímpia e da Marginal Pinheiros.

Outras ligações

O inquérito da PF cita outros ex-presidentes da Ambec com ligações a Camisotti. Um deles é o empresário José Hermicesar Brilhante Palmeira, que seria “braço direito de Camisotti” e também sócio da Prevident, empresa especializada em planos odontológicos para servidores públicos. Outros ex-presidentes da associação foram Ademir Fratic Bacic, sobrinho de Camisotti, e o seu pai, Antonio Fratic Bacic.

O inquérito também cita que Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o “Careca do INSS”, seria procurador legal da associação. A PF caracteriza Antunes como figura central no esquema investigado, como um lobista que representava as associações junto ao INSS, cooptando funcionários públicos para liberar os descontos milionários.

A defesa de Antunes afirma que não comenta processos em andamento, em especial os que tramitam em segredo de Justiça.

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Prédio na Rua da Consolação onde fica a sede da Benfix, corretora de Seguros e administradora de benefícios do grupo THG
Prédio na Rua da Consolação onde fica a sede da Benfix, corretora de Seguros e administradora de benefícios do grupo THG Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Por meio dos seus advogados Daniel Bialski e Bruno Borragine, a Ambec enviou nota ao Estadão afirmando que as reclamações são fruto de possíveis erros ocorridos “no momento da afiliação de novos associados”. Em todos os casos analisados pela Ambec, a afiliação não teria se dado diretamente por colaboradores da associação, mas “por empresas privadas que praticam essa atividade de afiliação”.

A Ambec afirma que, em caso de reclamação, determina o imediato ressarcimento em dobro do valor indevidamente descontado (ler mais abaixo). “Mais do que isso, visando a adotar o novo regramento do Dataprev e INSS para afiliação por meio de biometria, a Ambec, desde abril de 2024, vedou qualquer nova afiliação até que seu compliance esteja em conformidade com as regras para daí evitar ao máximo qualquer alegação de vício de consentimento nas afiliações.”

Transações

O inquérito da Operação Sem Desconto aponta uma série de transações financeiras suspeitas que reforça a relação entre a Ambec, outras associações supostamente controladas por Mauricio Camisotti, e fraudes contra beneficiários do INSS.

Um dos exemplos citados é a empresa Prevident, integrante do grupo THG e registrada em nome de Brilhante Palmeira. Entre agosto de 2023 e abril de 2024, a Ambec transferiu R$ 16,3 milhões para a Prevident.

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Segundo o inquérito, esse valor corresponde apenas a operações atípicas identificadas. Ainda segundo a investigação, Palmeira recebeu R$ 26,4 milhões de Camisotti.

Após receber os recursos da Ambec, a Prevident repassou parte do montante à empresa Brasília Consultoria Empresarial, ligada a Antunes (o “Careca do INSS”) e ao filho dele, seu sócio. A consultoria recebeu R$ 4 milhões. Além disso, a Ambec enviou quase R$ 12 milhões para a Prospect, também pertencente a Antunes.

O ex-presidente da Ambec e sobrinho de Camisotti, Ademir Fratic Bacic, recebeu mais de R$ 800 mil da associação.

Outra empresa ligada a Camisotti, a Benfix, especializada em gestão de benefícios, também está no centro das investigações. Segundo o inquérito, ela recebeu e transferiu recursos diretamente entre as associações investigadas, o que “sinaliza uma prática comum de lavagem de dinheiro para ocultar a origem dos recursos”.

Novo livro sobre Biden expõe conflito entre jornalismo e marketing editorial, FSP

 Uma tradição lamentável do jornalismo americano volta a explodir nas manchetes políticas da semana, com mais um livro sobre o declínio de Joe Biden no período final do seu mandato. O livro já é o terceiro lançado desde março com revelações sobre os bastidores da campanha presidencial democrata derrotada em novembro.

A imagem mostra duas figuras em um ambiente formal, possivelmente uma cerimônia oficial. À esquerda, um homem de cabelo grisalho, vestindo um terno escuro e uma gravata azul, está ao lado de uma mulher com cabelo castanho, usando uma jaqueta preta. Ao fundo, há guardas em uniforme, e a iluminação é suave, com lustres visíveis no teto. O ambiente é decorado com colunas e cortinas azuis.
O ex-presidente dos EUA, Joe Biden, e a ex-vice-presidente Kamala Harris na posse de Donald Trump, em janeiro de 2025 no Capitólio dos EUA em Washington - Melina Mara/AFP

O pior exemplo recente de jornalista guardando furo de interesse público foi Bob Woodward, veterano do escândalo Watergate. Em setembro de 2020, Woodward lançou "Raiva", o best-seller em que confessou ter ouvido do então e atual presidente Donald Trump, em fevereiro daquele ano, a previsão de que o coronavírus seria muito mais letal do que o vírus anual da gripe. A quarentena da pandemia só começaria na segunda semana de março, e 190 mil americanos morreram até Woodward divulgar o livro que vendeu 600 mil exemplares em uma semana.

Digamos que eu descobrisse que um candidato brasileiro à Presidência recebeu diagnóstico de uma forma de demência, omitisse a informação dos editores desta Folha e assinasse contrato para publicar meu potencial bestseller seis meses depois. Mais do que trair a confiança do jornal, estaria cometendo negligência profissional com o público.

A glamurosa campanha publicitária do novo livro de Jake Tapper, âncora da CNN, e de Alex Thompson, repórter do site político Axios, ia ser aberta com um artigo dos autores na revista New Yorker, mas foi antes sacudida pelo correspondente do jornal britânico The Guardian.

David Smith obteve uma cópia antecipada do livro e deu um furo nos dois supressores de furos, publicando as revelações na véspera e mostrando que informação relevante para o país não é música nova que a Taylor Swift guarda para ir lançando na turnê.

Os marqueteiros editoriais reagiram colocando Tapper no ar várias vezes nas últimas 24 horas, na rede que o emprega. A mesma rede na qual ele encarava seus espectadores todas as tardes, omitindo segredos sobre a desonestidade no entorno de Biden para evitar que o eleitor americano soubesse que sua saúde física e capacidade cognitiva, aos 81 anos, não era compatível com mais quatro anos de mandato.

Tapper que, como já expliquei em outra coluna, posa de nobre defensor da integridade da sua profissão, é o mesmo que se recusou a desmentir as inverdades proferidas pelo candidato republicano durante o debate desastroso com Biden em junho passado, facilitando o contraste entre o confuso presidente e seu adversário. A debacle daquela noite levou o ator George Clooney a escrever no jornal The New York Times o artigo de opinião que ajudou a selar a saída do presidente da campanha.

O novo livro não revela informações para mudar a narrativa já aceita, de que Biden não deveria ter paralisado seu partido com a candidatura. Mas a obra contém intrigas como a discussão sobre Biden usar cadeira de rodas devido a problemas graves na coluna. Fofocas como o médico do presidente comentando que tentava mantê-lo vivo, enquanto os assessores estavam tentando matá-lo.

Nas entrevistas com ar de indignação de uma inquieta heroína de Tennessee Williams se abanando, Tapper destaca como escândalo o fato de Biden não ter reconhecido Clooney, ao reencontrá-lo numa noite de arrecadação de fundos promovida pelo ator. Ah, se a imprensa colada nos presidentes americanos contasse o que testemunha de fato...