segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Embrapa aponta renda econômica e ganho ambiental com 3ª safra anual, FSP

 O que já se esperava a Embrapa acaba de confirmar com pesquisas e resultados. Após vários anos de experimentos, a empresa constatou a viabilidade da terceira safra anual de grãos no Paraná.

Estudos que vêm sendo desenvolvidos há cinco safras por pesquisadores da entidade apontam que a terceira safra no sequeiro (não irrigada), além de movimentar economicamente toda a cadeia produtiva do setor, traz sustentabilidade ambiental em um período em que o clima fica cada vez mais adverso e incerto.

O estudo começou com a preocupação dos pesquisadores da Embrapa Soja com a sequência quase contínua da dobradinha soja e milho pelos produtores paranaenses. São produtos importantes para a região, principalmente pela necessidade deles no Paraná, um dos principais produtores de proteína animal do país.

Essa continuidade, porém, traz problemas para a própria agricultura. Ao longo dos anos, a dobradinha foi gerando uma compactação do solo que reduz a infiltração de água, dificulta o aprofundamento das raízes e facilita a erosão.

O resultado é um aumento de custo para o produtor, perda de produtividade, proliferação de plantas daninhas e efeitos sobre o meio ambiente, diz o pesquisador Henrique Debiasi, da Embrapa Soja, um dos participantes da pesquisa.

Colheita de soja em Sarandi (RS) - Diego Vara - 2.abr.24/Reuters

Os estudos buscam aumentar a diversificação e a intensificação de modelo de produção e gerar mais renda para o produtor. Renda, no entanto, passa também pela qualidade do solo, diz Alvadi Balbinot, pesquisador da Embrapa Trigo, que também participou da pesquisa.

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Os pesquisadores vêm estudando uma maneira de fechar a janela de tempo que os produtores deixam após a colheita do milho safrinha e o plantio de soja, um período sem culturas e prejudicial para o solo. Estudaram modelos para um aproveitamento da terra durante os 365 dias do ano.

Com esse modelo, não fica janela nenhuma sem plantio durante o ano. E Debiasi alerta: erra quem pensa que a ocupação contínua da terra prejudica o solo. Se ela ficar parada, é passível de erosão e, sem plantas vivas, interrompe-se um ciclo de penetração das raízes levando água para o solo.

A melhoria da estrutura do solo proporciona maior taxa de infiltração e armazenamento de água disponível para as plantas, diz o pesquisador Júlio Franchini, da Embrapa Soja, outro pesquisador envolvido nesse estudo.

Avaliando essas necessidades de ocupação de área e de conservação de solo, os pesquisadores observaram uma viabilidade não só de aumento de renda para o produtor como também um aumento do volume da palha no solo com essas culturas.

A pesquisa, feita em parceria com a Copacol, cooperativa do oeste do Paraná, apontou que essa terceira safra de sequeiro não é possível no estado todo, mas apenas nas regiões centro-oeste e oeste, onde as chuvas são mais regulares durante o ano. O Paraná teria próximo de 1,5 milhão de hectares que poderiam ser utilizados com esse modelo.

Na conta dos pesquisadores, o calendário ideal de plantio, em um ano regular de chuvas, seria 20 de setembro para soja, com colheita 120 dias depois. O plantio do milho viria a seguir, no final de janeiro, com colheita desse cereal no início de junho. Na sequência, viriam o trigo ou aveia, que seriam colhidos antes do novo plantio da soja.

Se o produtor optar por três safras em um ano, não terá calendário ideal para mais três no seguinte. Nesse caso, os pesquisadores recomendam, após a colheita da soja, o plantio consorciado de milho com o capim da espécie Brachiaria ruziziensis, a braquiária.

Os pesquisadores destacam os ganhos econômicos e de produtividade, mas um dos pontos básicos é a eficiência a longo prazo que esse sistema vai dar ao solo.

Essa diversificação de cultura eleva, em média, em 11% a rentabilidade do produtor, mostraram os estudos da Embrapa. No consórcio milho e braquiária, vindo após a colheita de soja, a produtividade da oleaginosa cresce 11% na safra seguinte. Os ganhos com a terceira safra de aveia como cobertura são de 10%. Se a opção da terceira safra for para o trigo, a rentabilidade no sistema produtivo é 6,6% superior à tradicional dobradinha soja com o milho.

Preparo da terra para plantio de milho logo após a colheita de soja no norte do Paraná - Mauro Zafalon/Folhapres

Deve ser levada em consideração, além dos rendimentos econômicos, a recomposição do solo. A palhada do milho safrinha é pesada, mas não cobre adequadamente o solo no sistema de plantio direto. Seriam necessárias de 7 a 8 toneladas por hectare, e a cultura não rende isso. O peso está basicamente concentrado no caule.

Já o trigo cobre a área com três toneladas de palha, e a braquiária, quando consorciada com o milho, acrescenta de 2 a 3 toneladas. Seriam necessárias quatro. Se ela é utilizada para pastagens, o esterco do gado traz novos nutrientes, ativando a biologia do solo.

"Já provamos a viabilidade econômica desse sistema. Agora vêm novas etapas na busca das melhores cultivares, densidade das plantas, quantidade de fertilizante e um desenho melhor para a cultura do trigo", diz Balbinot.

Segundo o pesquisador, por ser uma janela de ocupação de área que estava vazia, não se busca para o trigo uma alta produtividade no período, mas a obtenção de uma produção média de três toneladas por hectare e a recomposição do solo com palhada.

É um modelo intensivo com diversificação, que vai movimentar toda a cadeia do setor, diz Balbinot. O produtor vai dar novos usos para suas máquinas, obtendo uma renda maior por hectare, enquanto as cooperativas vão movimentar mais insumos e adquirir mais grãos, afirma.

O pesquisador da Embrapa Trigo diz que o desenvolvimento desse modelo no centro-oeste e no oeste do Paraná é importante porque as propriedades são pequenas e médias, permitindo um aumento de renda.

Além do suporte econômico, os pesquisadores destacam a sustentabilidade ambiental. A melhoria da qualidade física e biológica do solo permite uma manutenção maior da água, indispensável para esses períodos de incertezas climáticas.

Parte dessa palhada e as raízes vão virar carbono armazenado na terra, o que ajuda a mitigar as emissões de gases de efeito estufa, segundo Debiasi.


Juliano Spyer - O futuro da TV é Cazé?, FSP

 Durante as Olimpíadas de Paris, ocorreram duas competições simultâneas: uma entre os atletas em suas modalidades e outra entre a CazéTV e a Globo, disputando para ver qual faria a melhor cobertura e conquistaria mais audiência.

O assunto em debate não é o esporte, mas modelos de negócios e o futuro do veículo de comunicação que reina soberano no Brasil há 50 anos. Mas como determinar quem venceu essa batalha entre Davi e Golias?

A maneira mais óbvia de fazer isso é comparando os resultados de audiência. A Globo estimou que cerca de 140 milhões de pessoas assistiram aos Jogos por meio dela, enquanto a CazéTV reportou 41 milhões de dispositivos acessando seu conteúdo, gerando 5 bilhões de visualizações. São dados diferentes, não dá para comparar.

A Globo provavelmente levou vantagem entre espectadores mais velhos e aqueles que vivem em áreas sem acesso à banda larga.

A imagem mostra dois homens tirando uma selfie. O homem à esquerda tem cabelo encaracolado e uma barba espessa, vestindo uma camiseta preta com a palavra 'Gorilla' em amarelo. Ele faz uma expressão engraçada, mostrando a língua. O homem à direita usa óculos escuros e uma camiseta branca com um logotipo da Rip Curl. Ele sorri e segura uma medalha de bronze pendurada no pescoço. Ao fundo, há uma vista de uma cidade e uma estrutura de palha.
Diogo Defante, da CazéTV!, com o surfista Gabriel Medina - @diogodefante/no Instagram

Por outro lado, a CazéTV ofereceu vantagens para moradores de cidades, não apenas jovens. Por exemplo, disponibilizou o conteúdo no YouTube, um ponto de encontro popular e aberto. A Globo exige que sua audiência acesse o GloboPlay, o "cercadinho" da empresa na internet.

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O YouTube não é apenas um espaço com mais pessoas. Eventos com grande audiência ganham destaque na plataforma através de algoritmos de recomendação, gerando ainda mais audiência. E diferente da lógica da difusão, a transmissão na internet continua a atrair espectadores após o evento.

Globo e CazéTV também competiram no campo da estratégia e da linguagem. A Globo fez a cobertura das Olimpíadas como um exército bem treinado; tudo funciona conforme o manual e cada peça tem seu lugar. A CazéTV, por sua vez, adotou táticas de guerrilha. Trocou sofisticação e controle por uma abordagem descontraída, típica da internet, onde erro e improviso sinalizam autenticidade.

A imagem mostra duas mulheres sorrindo em uma selfie. A mulher à esquerda tem cabelo liso e loiro, vestindo uma camiseta preta com um desenho colorido. A mulher à direita tem cabelo preso e está segurando uma medalha de bronze, vestindo um casaco azul escuro com detalhes em amarelo. Ao fundo, é possível ver a Torre Eiffel iluminada à noite.
A jornalista Fernanda Gentil com a judoca Rafaela Silva - @gentilfernanda /no Instagram

No quesito polêmica, a CazéTV venceu por WO. Seus apresentadores discutiram fofocas sobre a seleção feminina de vôlei, além de afirmarem que atletas sem chances de medalhas vão para os jogos para "comer gente". E polêmica engaja.

O resultado das transmissões não mostra que a Globo tenha sido superada, mas que ela enfrenta dificuldades para se reinventar, apesar de seu tamanho e força. Neste momento, ela perde para si mesma.

A CazéTV evita o embate, se apresentando como um canal para jovens. Apesar do nome despretensioso, seu pacote mistura online e offline, conteúdo grátis e monetização, planejamento e experimentação. Mais do que vencer, eles mostram o que essa fórmula possibilita fazer. E indicam o rumo do futuro.

spyer@uol.com.br

Críticas e elogios de juízes, advogados e promotores a Salomão, Frederico Vasconcelos FSP

 As críticas de magistrados à atuação do ministro Luis Felipe Salomão na esfera disciplinar superam os elogios ao corregedor nacional. Consulta realizada pelo blog ouviu 30 operadores do direito, entre os quais 16 magistrados federais e estaduais de diferentes tribunais e instâncias.

Eis algumas avaliações de juízes, procuradores, promotores e advogados, na sequência de comentários publicados em post anterior.[veja aqui]

Ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Conselho Nacional de Justiça, e Luís Felipe Salomão, corregedor nacional de Justiça

Por opção dos consultados, vários nomes foram preservados.

"O papel da Corregedoria é, ou deve ser, de orientação e ajustes de atuação profissional. O que se viu foram decisões de mera intimidação e hostilidade ideológica, exageros e precipitações, abuso de autoridade e desrespeito à autonomia e liberdade jurisdicional. O afastamento de um magistrado tem que ser algo excepcional. Houve uma banalização desta medida." [Juiz Federal]

(...)

"O ministro e corregedor nacional teve um relacionamento muito republicano com o Ministério Público brasileiro, sempre aberto ao diálogo institucional.

O poder normativo do CNJ é muito grande e ágil, podendo ser contido apenas pelo STF, o que impõe comedimento nas suas deliberações, mas é preciso sempre avançar na normatização que aperfeiçoe a Justiça e facilite a vida do cidadão, o que causa desconforto em setores acomodados dentro do Poder Judiciário.

Sabemos que a realidade do Poder Judiciário impõe ao Corregedor Nacional muitas medidas difíceis e duras em razão das falibilidades humanas. São matérias afetas ao Poder Judiciário, que não nos dizem respeito, a priori.

[Jarbas Soares, procurador-geral de Justiça de Minas Gerais]

(...)

"O eminente corregedor não adotou nenhuma medida eficaz contra juízes de Varas de Falências que alimentam a máfia das recuperações judiciais, nomeando sempre os mesmos administradores judiciais e peritos, invariavelmente com milionária remuneração.

Nunca se opôs à aberração dos julgamentos virtuais sem publicação de pauta e sem a presença e sustentação oral de advogados.

Jogou para a sua plateia (governo, empresários e mídia), pois não esconde seu interesse em ser nomeado ministro do STF. [Airton Florentino de Barros, advogado, promotor aposentado]

(...)

"O ministro Luis Felipe Salomão levou para a Corregedoria do CNJ toda a sua experiência de extraordinário magistrado, pautando sua atuação por uma constante busca da efetividade da prestação jurisdicional". [Marcio Kayatt, juiz titular do TRE-SP]

(...)

"Foi profícua sua atuação. Teve inúmeras iniciativas altamente favoráveis. Teve ativa atuação na punição de magistrados que mais descumprem a honra das suas togas. Talvez uma das mais significativas medidas foi atuar junto com o Senado Federal na elaboração do projeto da reforma do Código Civil. São esses os grandes marcos desta gestão que ficará para a história do Poder Judiciário." [Maria Berenice Dias, Desembargadora aposentada do TJ-RS]

(…)

"Ele quer desesperadamente ser ministro do Supremo. Não tem maior preparo jurídico, chegou no STJ por mãos políticas." [Advogado].

(...)

"O uso excessivo das decisões monocráticas que afastaram de suas funções, preventivamente, juízes e desembargadores da Lava Jato me pareceu desmedido.

Achei assertiva e firme determinar inspeções contra desembargadores do TJ-SP, vários com extremo atraso no julgamento de seus recursos. Só que, em dois anos, delas não resultou punição.

Uma das posturas que mais critico foi fazer Termo de Ajustamento de Conduta com um juiz do Paraná [Eduardo Appio], deixando de puni-lo por fatos tão desabonadores, que descumprem preceitos da Loman. Foi um precedente gravíssimo na área administrativa e correicional." [Desembargadora]

(...)

"O ministro Salomão foi surpreendido pelo voto acachapante do presidente do CNJ no procedimento sobre a Lava Jato. Ficou visível o desconforto do corregedor com o desmonte de seu próprio voto." [Procuradora da República]

(...)

"A gestão do ministro infelizmente ficou marcada por levar para o âmbito disciplinar a análise do mérito de decisões jurisdicionais. Tal postura pode representar uma perigosa ameaça à imparcialidade e à independência dos magistrados." [Juíza]

(...)

"Penso que o balanço é positivo, apesar de algumas críticas à sua atuação. O ministro Salomão foi sempre firme e não tergiversou com posturas inadequadas de juízes federais e estaduais de todas as instâncias.

Se fez presente no viés de fiscalização e orientação institucionais por meio de correições ordinárias ou extraordinárias em todo o Brasil, inclusive nos tribunais federais e estaduais, algo pouco visto até então.

Procurou fomentar a adoção de novas ferramentas tecnológicas, além de incentivar a solução rápida dos conflitos". [Antônio Sérgio Tonet, ex-procurador geral de Justiça de Minas Gerais]

(...)

"Contribuiu, decisivamente, para afundar a independência da magistratura. Praticamente nada fez para priorizar o primeiro grau e reduzir a concentração estrutural no segundo grau. Deu apenas acenos a medidas lacradoras e inócuas. Sem dúvidas, foi o pior corregedor nacional da história." [Juiz estadual]

(...)

"Ficou conhecido por relatar e ter sido muito firme no caso da juíza Ludmila Lins Grilo, que demorou muito na corregedoria local [MG], sem solução. Teve papel importantíssimo em um momento em que o Poder Judiciário estava sendo corroído por dentro, mas ao abrir procedimento de ofício abriu um precedente perigoso." [Juíza estadual]

(...)

"Achei sua gestão positiva, corajosa. Ele tem um perfil muito aguerrido, não foge do embate, o que acho bom, apesar de discordar de alguns posicionamentos. A corregedoria não pode se curvar ao entendimento do presidente do CNJ.

O 'Registre-se!' foi um projeto importante para a população que vive em situação vulnerável. Tomou medidas para evitar a litigância predatória." [Juíza]

(…)

"O CNJ surgiu como instrumento de controle do Judiciário, mas agora parece dominado pelo Judiciário." [Juiz Federal]

(…)

"Salomão será o corregedor-geral da Justiça Federal. Continuará com o chicote na mão". [Juiz Federal]