quinta-feira, 25 de abril de 2024

A aliança que mudou as finanças do futebol BR, The News

 

Você faz aquela “fezinha”, seu clube agradece. É assim que tem funcionado a dinâmica dos sites de apostas esportivas com os times do futebol brasileiro desde que a prática foi permitida no país em 2018.

  • A questão é que, nesta temporada, os números arrecadados pelas equipes com patrocínios vindos dessas empresas simplesmente explodiram.

Presentes nas camisas de 18 dos 20 clubes da Série A do Brasileirão, o investimento anual das bets para essas equipes beira a casa dos R$ 550 milhões. Bets 🤝 Clubes.

(Imagem: Globo | Reprodução)

Comparando… Antes da pandemia, o principal parceiro dos clubes brasileiros era a Caixa Econômica Federal. Durante 7 anos, o Banco estatal aportou R$ 664 milhões nos clubes das Séries A e B.

Sendo assim… O patrocínio dos sites de apostas esportivas — em uma única temporada e apenas para clubes da elite — representa 80% do valor investido pela Caixa durante 7 anos.

Um grande exemplo dessa rápida mudança nas cifras de publicidade dos clubes pode ser percebida pelo Flamengo, que saltou de um acordo de 38,5 milhões de reais do banco BRB para 85 milhões com a Pixbet.

Mas isso não se restringe somente aos clubes. O naming rights do Brasileirão agora pertence a Betano, que deve pagar cerca de 80 milhões para ser a patrocinadora máster da competição.

  • Este valor é 60% maior que o arrecadado com a atacadista Assaí na temporada anterior.

Por que isso importa? As bets faturaram mais de R$ 50 bilhões por aqui de janeiro a novembro do ano passado. Para se ter uma ideia da proporção desse número, o valor é maior do que o Brasil ganhou com exportações de carne bovina no mesmo período.

PS: Se você AMA esportes, vai gostar disso aqui.


quarta-feira, 24 de abril de 2024

Elio Gaspari - A volta da tunga dos livreiros, FSP

 Reapareceu no Senado a velha ideia de tabelar os livros. Ela circula há mais de dez anos e, em 2018, esteve perto de sair, tramitando pelo escurinho de Brasília. É um caso especial de tabelamento, pois enquanto o costume é tabelar uma mercadoria para impedir que se cobre a mais, nessa girafa pretende-se impedir que o comerciante cobre menos.

Desta vez a tentativa de tabelamento parte do Senado. Lá, a senadora Teresa Leitão desarquivou um velho projeto, propondo que, ao lançar um livro, a editora estabeleça um preço. Nos primeiros 12 meses, as livrarias não podem oferecer descontos superiores a 10%. Vai-se além: numa segunda edição, o tabelamento vigoraria por outros seis meses.

Livraria em São Paulo - Bruno Santos - 6.mar.17/Folhapress

No século passado, um jovem chamado Jeff Bezos trabalhava no mercado financeiro e queria mudar de vida. Foi a uma série de palestras de editores e livreiros, surpreendeu-se com a imperfeição daquele mercado e teve um ideia: fundou a Amazon.

Começou num galpão em Seattle vendendo livros pela internet e deu no que deu. Bezos revolucionou o mercado de livros e o próprio varejo. Entrega rápido e dá descontos. Hoje a Amazon é a maior livraria do mundo. Estima-se que tenha conquistado metade do mercado de livros no Brasil. No seu rastro, editoras e outras empresas criaram serviços de vendas online. Algumas, como a rede varejista Americanas, deram com os burros nágua. Foi-se ver, e a rede havia sido saqueada.

Todo o comércio de varejo passa pelo processo de destruição criadora do capitalismo. Num primeiro momento, os supermercados tomaram uma fatia do comércio às lojinhas da rua. Depois, veio o comércio eletrônico redesenhando a venda de livros a xampus, mas só os livreiros querem tabelar seus produtos.

Os livreiros têm uma aura apostolar. Afinal, um livro não seria um sabonete. Ilusão. Livros, sabonetes e caminhões são mercadorias. Tanto é assim que, há muitos anos, quando era mais barato imprimir um livro na China, algumas editoras passaram a rodá-los em Xangai, trazendo os volumes para o Brasil. As duas maiores redes de livrarias nacionais quebraram, muito mais por causa de suas acrobacias financeiras do que pela concorrência. Quando as grandes redes afogavam as pequenas livrarias, ninguém falava em tabelamento.

Reclama-se que o freguês vai a uma livraria, consulta os volumes e, ao voltar para casa, encomenda-o eletronicamente. Os comerciantes que fazem essa reclamação fazem compras online e não pensam em tabelar os sanduíches. Ademais, todas as grandes editoras têm operações de venda eletrônica. Se cobram mais caro ou forçam a venda de livros físicos em detrimento dos e-books (mais baratos), o problema é delas.

O tabelamento de livros existe em outros países, como a França, Alemanha e Espanha. A ideia é ruim, mas deve-se admitir que essas nações funcionam direito. Valeria a pena copiar também seus sistemas de saúde e educação públicas. Copiando só o tabelamento dos livros, o Brasil correria atrás de uma jabuticaba passada. Replica-se o que há de pior, reprimindo-se o que há de novo.

Ação da Petrobras volta a valer mais do que no início da crise dos dividendos, VTF, FSP

 A ação da Petrobras está valendo mais do que em 7 de março, um dia antes do colapso do "dividends day", quando custava R$ 40,39 (ações preferenciais, PETR4). Na noite daquela quinta-feira, o público saberia que a petrolífera não distribuiria o lucro remanescente de 2023.

No 8 de março, o preço da ação baixaria a R$ 36,12. Na segunda-feira, 11 de março, a R$ 35,65. Na sexta-feira passada, 19 de abril, a PETR4 chegou a R$ 40,53. Tem flutuado na casa dos R$ 41 desde então.

Os motivos básicos da alta são óbvios. De mais importante, é provável que a assembleia-geral ordinária da empresa, nesta quinta (25), aprove a distribuição de 50% do lucro líquido remanescente (perto de R$ 22 bilhões). O preço do barril de petróleo Brent subiu um tanto (de US$ 82 para US$ 88). Diminuiu um pouco a especulação de que o governo interviria com mais força na empresa.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates - Mauro Pimentel/AFP

A baderna serviu apenas para mostrar que o governo muita vez toma decisões baseadas em voluntarismo, ignorância e politicalha.

No "dividends day", começaria um mês de salseiro no governo, tumulto que ficaria mais quente a partir de 3 de abril, quando o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, espezinhou Jean Paul Prates, presidente da Petrobras, em entrevista a esta Folha.

Nos dias seguintes de intriga vulgar, "bastidores", gente do governo vazava que Prates havia sido decapitado, que Aloizio Mercadante presidiria a empresa etc.; as turmas da briga vazavam podres sobre os adversários. Depois do leite derramado, tentaram passar um pano no chão.

Fernando Haddad procurou racionalizar a conversa, cavou uma vaga no conselho e sugeriu que a Petrobras distribuísse parte do lucro remanescente, se por mais não fosse porque precisa de uns dinheiros para cobrir o buraco do Tesouro.

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No dia 9 de abril, Silveira diria: "Tenho carinho e profundo respeito pelo ser humano que ele [Prates] é" (rir, rir, rir).

Ainda haveria fofoca e vazamento de informação sigilosa. Em reuniões ministeriais, com assessores, se discutia o pagamento dos dividendos.

A Comissão de Valores Mobiliários disse que investigaria isso que é um escândalo —não é assim que se lida com empresa aberta. Mas muito é possível no país das Americanas.

No 19 de abril, a Petrobras soltou nota dizendo que o pagamento "...não comprometeria a sustentabilidade financeira da companhia...". No governo, passou a aparecer a conversa de que petróleo e dólar mais caros melhorariam o caixa da empresa, por isso a decisão de pagar dividendos extraordinários (pfui).

Nesta semana, Lula, Silveira e Prates disseram que não houve crise na Petrobras. É. Pode ser. Pelo menos até fins de 2023, a empresa teve um resultado excelente. A crise é do governo.

Vem desde o início de 2023, com Silveira querendo mandar mais na Petrobras; com o desejo vago de Lula de fazer com que a empresa invista mais em refinaria, em compra de navio nacionalizado, em fertilizantes.

Silveira surfou na impaciência de Lula e fritou Prates. Os tiros de Silveira feriram, mas não mataram, e um até saiu pela culatra. Mas o ministro ainda canta vitória. Diz agora que "...estamos tendo uma correção de rumo fundamental para o desenvolvimento nacional...".

A dúvida que vem desde o início de Lula 3 permanece. Ainda não sabemos se a petrolífera colocará mais dinheiro em refinaria. Se vai satisfazer a vontade de Lula de estimular a indústria naval, o "PAC do Mar", exigindo mais nacionalização das duas centenas de embarcações que prevê comprar, sob o risco de pagar mais caro. Se vai investir em fábrica de fertilizante que dá prejuízo.

A direção da empresa não pode violar leis, estatuto e a saúde financeira da Petrobras, até porque corre risco de processo —em tese. O receio de crise futura continua.