domingo, 12 de novembro de 2023

Reforma Tributária será vitória histórica, Celso Rocha de Barros, FSP

 A aprovação da Reforma Tributária no Senado foi uma grande vitória do governo e do Brasil. Que bom que voltamos a ser um país em que, pelo menos às vezes, os dois vencem juntos.

Como escrevi na semana passada, as evidências sugerem que a reforma tornará os impostos brasileiros mais eficientes e mais justos. Aprová-la foi um sonho para o governo Fernando Henrique Cardoso, para o governo Lula, para o governo Dilma, para o governo Temer, e só não foi para o Jair porque Guedes preferia voltar com a CPMF.

Plenário do Senado durante votação da Reforma Tributária - Pedro Ladeira-8.nov.23/Folhapress

Bolsonaro, aliás, resolveu aparecer no Congresso Nacional para impedir a aprovação da Reforma Tributária. Tentou provar que, ao contrário de quem dependia dele para comprar vacina durante a pandemia, sua carreira política não morreu. No que já vem se tornando um hábito, Jair perdeu.

A reforma ainda precisa voltar a ser aprovada na Câmara dos Deputados, pois foi alterada no Senado. É preciso estar vigilante para que o espírito da reforma seja preservado nos próximos passos —que deve exigir também a aprovação de algumas leis complementares.

Mas a previsão geral é que a aprovação saia ainda este ano. Afinal, Arthur Lira também vê na Reforma Tributária o principal legado de sua presidência.

O ministro Fernando Haddad precisava muito dessa vitória histórica. Nas semanas anteriores, seu prestígio foi abalado pela confusão dentro do governo sobre a nova meta fiscal. Há ruídos entre a Fazenda e a Casa Civil, como, aliás, houve em todos os governos anteriores.

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O problema não é a meta ser zero ou 0,5%.A meta de déficit zero foi um jogo que Haddad propôs ao Congresso: "se vocês aprovarem o pacote antimutreta de rico que não quer pagar impostos, eu entrego o déficit zero". Se era necessário mudar essa oferta, o ministro é que deveria ter convidado o Congresso para outra dança.

O pacote de Haddad para corrigir distorções na arrecadação é bom. No caso da direita, opor-se a essas medidas é defender os velhos privilégios patrimoniais que sempre contaminaram o Estado brasileiro. No caso da esquerda, ser contra o pacote de Haddad é ser pelego: é desistir da luta difícil, da luta real, contra poderosos reais.

Também vale lembrar que a proposta do governo anterior para zerar o déficit público era vender todos os imóveis da União (incluindo quartéis do Exército, áreas de fronteira etc) ao mesmo tempo, no primeiro ano de governo. O Brasil estava mesmo muito bêbado.

De acordo com as projeções econômicas, o Brasil e o mundo devem crescer menos no ano que vem do que em 2023. Entendo perfeitamente que esses números levem gente no governo a temer uma meta fiscal muito rígida. Lula certamente conta com investimentos públicos para tentar reaquecer a economia.

Mas não é só isso que o governo pode fazer para melhorar nossas perspectivas econômicas. Se conseguir corrigir as distorções que impedem nosso crescimento, nossas perspectivas de longo prazo melhorarão, mesmo se o curto prazo for turbulento. Se os investidores concluírem que daqui a alguns anos o Brasil crescerá mais, e mais consistentemente, podem começar a investir agora.

A Reforma Tributária é um passo decisivo nessa direção, o maior que o Brasil deu em muitos anos. Na semana passada, o mundo viu o Brasil funcionando como havia muito tempo não funcionava. Temos mesmo que comemorar.


Palavras ao vento, José Henrique Mariante ,FSP

 A semana começa atrasada, confusa, sem energia, sem internet. A árvore da rua, mal podada, porque podar não é apenas liberar espaço para os fios, mas um exercício complexo de preservação e estética, devolve o descaso. O galho principal, fragilizado pelo corte burocrático, desaba em cima do poste ao lado, levando os cabos e a luz por quatro dias.

Entre velas e o modo "economia de energia" do celular, a notícia não chega. Quando enfim ela aparece, a discussão é como enterrar fios pela cidade de subterrâneo não menos caótico, como lidar com serviços públicos e monopólios privados, o oportunismo de legisladores bradando CPIs e o discurso vazio de governantes. O fato principal, no entanto, a razão de mais uma "tragédia natural", aspas obrigatórias, ainda é tratado como uma questão subsidiária.

Há uma novidade. A crise climática se impõe. Os recordes de chuva, calor e vento, ciclones, enchentes, deslizamentos de terra e secas, "o ano mais quente em 125 mil anos", tudo isso está posto. Nem o agronegócio, de olho nas quebras de safra e nos seguros pagos pelo governo ao qual faz oposição, consegue ignorar o problema. A fase da negação pura e simples parece superada.

O passo seguinte é mais largo. É encarar o gigantismo do problema e não se perder entre os inúmeros desafios imediatos, que se confundem com o despreparo cotidiano do país.

Na Folha, o título do editorial promete reflexão: "Apagão climático". O texto, porém, desfia as incompetências da prefeitura paulistana e da Enel, a criticada concessionária de energia da região metropolitana. A admissão de que "eventos climáticos extremos serão cada vez mais frequentes" está lá, mas apenas para justificar a cobrança do que já deveria estar sendo feito, podas, fios, fiscalização, não do que precisará ser pensado e realizado.

A silhueta de um homem sobe um teclado de computador, cujas teclas são como degraus. Alguns desses degraus parecem voar. O fundo é branco.
Folhapress

Na mesma terça-feira (7), o Jornal Nacional põe o assunto na escalada e na reportagem de abertura: São Paulo e grande parte do país precisam buscar a resiliência climática e "estão atrasados". Em poucas palavras, a discussão não é sobre mudar árvores ou postes de lugar, mas vias, bairros, populações inteiras e minimizar as próximas catástrofes.

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Imprensa e autoridades precisam de ambição, não por conveniência, mas por contingência do momento. A que demonstrou Michael Bloomberg, então prefeito de Nova York, logo após a passagem devastadora do furacão Sandy pela cidade, em outro início de novembro, há 11 anos.

Sem menosprezar os obstáculos de curto prazo no atendimento da enorme população afetada, não teve receio de apontar para o problema de verdade, a brutal mudança climática gestada neste antropoceno: "Podemos ver ou não outra tempestade como esta em nossas vidas, mas não acho justo deixar para nossos filhos a responsabilidade de terem que se preparar para isso".

Filhos? A conta já chegou.

COMENTÁRIOS AO VENTO

Leitores reclamam do sistema de comentários da Folha, queixa antiga e que já mereceu abordagem desta coluna.

Avolumam-se, no entanto, acusações de que o jornal estaria censurando manifestações relacionadas à guerra Israel-Hamas, notadamente as críticas à ofensiva israelense na faixa de Gaza e à violência contra a população palestina.

"Palavras como sionismo, antissionismo, semitismo, antissemitismo, genocídio, massacre, colonialismo, Netanyahu, por exemplo, são identificadas por um robô, e o texto é previamente censurado sem se analisar o contexto", escreve um assinante.

O robô também não é coisa nova. Identifica xingamentos, discursos de ódio e temas considerados sensíveis, desviando-os para um avaliador humano, o que amplia o prazo de análise e liberação.

Como em outros episódios divisivos recentes, a seção de comentários reflete a disputa de narrativas, perdoem o clichê, onde se misturam opiniões sobre os artigos comentados e seus objetos, críticas e elogios a posições do jornal e de quem o lê. Não sem confusão.

Em crítica interna, o ombudsman ponderou que parte da audiência estava considerando o serviço oferecido insatisfatório e que alguma medida de transparência seria oportuna. Motivado por isso ou por iniciativa própria, o jornal publicou reportagem em que a equipe responsável assume, em texto bem-humorado, a pecha de "censora da Folha". Vale a leitura.

Confrontada com as alegações, a Secretaria de Redação nega viés censório na ação de controle e considera que o tamanho do time de moderação está adequado ao volume de comentários. Antecipando uma provável réplica de alguns dos leitores queixosos, se não há censura, o processo todo demora demais, a ponto de ser percebido como tal.

Folha é uma feroz defensora do livre debate de ideias. A estrutura que oferece a seus leitores deve estar à altura.


Associação recomenda a Tribunais de Contas que simplifiquem linguagem de decisões, FSP

 A Atricon, associação que reúne os tribunais de contas do país, emitiu nota recomendando que haja um esforço por parte dos conselheiros destas cortes para adotarem linguagem simples e de fácil acesso aos cidadãos em suas decisões.

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Fachada do Tribunal de Contas da União - Gabriela Biló /Folhapress

"A compreensão de relatórios de auditoria, pareceres, decisões, atos administrativos e comunicações em geral é fundamental para que o cidadão entenda a essencialidade do serviço prestado pelos órgãos de controle, contribuindo para a garantia de legitimidade, bem como ao exercício do controle social", diz a nota assinada por Cezar Miola, presidente da associação.

Entre as recomendações aos membros de tribunais estão utilizarem linguagem simples e visual, além de instrumentos como QR Codes.

Também há uma orientação para que sejam confeccionados guias, cartilhas e glossários para facilitar o acesso do cidadão comum aos termos técnicos muitas vezes usados pelas cortes de contas.