quinta-feira, 18 de maio de 2023

'Aceite: no Rio de Janeiro as pessoas são mais felizes', diz autora de 'How to be a Carioca', F5 FSP

 Best-seller de Priscilla Ann Goslin ganha nova edição e estreia como série no streaming, com direção de Carlos Saldanha e Seu Jorge como protagonista

A escritora Priscilla Ann Goslin, de boné, curte a praia com amigos no Rio: 'Isso é que é vida' - Arquivo Pessoal
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RIO DE JANEIRO

Seja numa mesa de bar, num encontro de família ou onde quer que esteja, se o assunto em pauta for o Rio de Janeiro, não se atreva a apontar um defeito, a falar um "A" que não seja elogioso perto de Priscilla Ann Goslin, 74. Cidade violenta? "No mundo todo tem lugares assim", rebate.

Cheia de gente que não respeita horários e compromissos? "Pode até ser, mas eu até gosto. Não é legal tanto estresse", minimiza, com um leve sotaque americano, a autora do best-seller que traduz em pequenos textos toda a sua fascinação não só pelo Rio mas, principalmente, por seus habitantes.

Priscilla escreveu "How to be a Carioca", espécie de manual que, com dicas amorosamente bem-humoradas, ajuda o turista estrangeiro a desvendar certos códigos de comportamento que só costumam ser adotados no Rio, cidade em que mora, entre idas e vindas, há cerca de 50 anos.

O livro, com 300 mil exemplares vendidos, chegou agora à sua 9ª edição e serviu como base para uma série homônima, já gravada e que estreia ainda este ano, no Star+. Os seis episódios têm Seu Jorge como protagonista, Malu Mader e Douglas Silva no elenco, e direção de Carlos Saldanha, dos hollywoodianos "Rio" e "A Era do Gelo". Sinistro, como dizem os cariocas em reação positiva, de coisa extremamente boa, na mais intrigante de suas gírias para quem é de fora.

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A ideia de lançar "How to be a Carioca" surgiu no início dos anos 1990 quando, irritada com tantas perguntas de amigos e parentes sobre a onda de arrastões nas praias da cidade, Goslin resolveu mostrar, preto no branco, literalmente, que o bicho até poderia estar pegando em alguns domingos de sol escaldante na orla, mas, alto lá: o Rio é muito mais do que isso.

"Quem vai dizer que a cidade não é deslumbrante? Não tem como! E o carioca é encantador, apaixonante", diz ela ao F5, já lembrando, às gargalhadas, dos vendedores de loja que atendem os clientes cheios de intimidade chamando-os de "amor", dos taxistas (ela não gosta de Uber) que vão dirigindo e contando casos da família; do jeitinho de conquistar a simpatia de alguém ao chamá-lo de "querido" ("Meu marido passou a falar direto e ficou impressionado").

Dia desses, recebeu uma cantada mezzo cara de pau, mezzo canastrona, quando caminhava pelas areias da Praia de São Conrado, onde mora. "Um cara veio pegar a bola que caiu perto de mim e disse assim: ‘Não sou rei mas adoro uma coroa’, Hahahaha!", lembra, rindo com gosto. Há quem, em seu lugar, pudesse se ofender. Ou achar grosseiro.

Mas Priscilla, que nasceu nos cafundós dos Estados Unidos (numa cidadezinha de Minnesota) e atualmente se divide entre o Rio e o estado de Oregon, adorou. Viu ali um suprassumo da espontaneidade dos cariocas. Ela diz sentir falta desse, digamos, calor humano. "Eu amei, até o abracei. Tive que abraçar!".

A praia, aliás, merece alguns capítulos do livro. Entre comentários e sacações sobre o que considera uma joie de vivre que só os cariocas têm, ela dá dicas, muitas delas, para que turistas ajam como verdadeiros locais. Homens, por exemplo, aprendam: ao chegar na areia, tire a camisa imediatamente. "Quanto mais tempo você demorar para tirá-la, menos carioca vai parecer", escreveu.

Na hora de comer, ensina, não invente moda e vá de Biscoito Globo. Nem ela entende muito bem por que as rosquinhas de polvilho recheadas de vento fazem tanto sucesso nas areias do Rio. Mas fazem. Há décadas. "Não tem gosto de nada, mas é o maior orgulho dos cariocas, uma verdadeira instituição", afirma, categoricamente. Importante: Come-se acompanhado de mate (de galão) com limão.

Por limão, leia-se limonada, mas se pedir ao vendedor uma "limonada", babou: tá na cara que você não é do Rio. "Eu sempre tomo mate com limão e não fico pensando muito de onde vem aquela água, simplesmente bebo, como todo mundo na praia. É isso que as pessoas devem fazer: simplesmente relaxar e viver a vida nessas pequenas coisas boas. Parem de procurar problema em tudo!".

A folclórica impontualidade do carioca, claro, também é abordada no livro. "Se você chegar na hora marcada a um coquetel ou jantar, corre o risco de ficar conversando com as paredes ou com a dona da casa. E você pode ter certeza de que ela não estará constrangida com o atraso dos demais, e sim com a sua pontualidade", escreveu ela.

Este trecho consta igualzinho desde a primeira edição, de 1992, assim como quase todo o livro, que já passou por mais de 30 atualizações e oito edições anteriores. Mudaram detalhes mais técnicos, como a moeda corrente, as modernizações na forma de pagar a conta, novas tecnologias. "O livro é mais sobre o estilo de vida e o jeito fantástico como quem mora no Rio encara a vida. Isso não muda", diz Priscilla.

Ela já morou em Londres, Nova York e São Francisco, tem parentes em São Paulo, gosta de Salvador, mas não pensa em escrever um livro aos moldes de "How to be a Carioca" sobre qualquer outro lugar. "Nenhuma outra cidade renderia um livro como esse", declara. "Carioca é um bicho único e encantador".

Custo Brasil: gasto extra para produzir no País chega a R$ 1,7 trilhão por ano, OESP

 O gasto adicional que empresas brasileiras têm para produzir no País, em comparação com a despesa média para produzir nos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), chega a R$ 1,7 trilhão por ano. Esse é o valor atualizado para o chamado “Custo Brasil”. O dado será apresentado nesta quarta-feira, 17, em evento em Brasília, em uma parceria entre o Movimento Brasil Competitivo (MBC) e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

O número representa 19,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do País, o que o MBC considera como estabilidade desde 2019, quando o cálculo foi feito pela organização e pela Fundação Getúlio Vargas pela primeira vez. “À época, em 2019, o termo custo Brasil já existia, mas em estudos setoriais. O trabalho naquele momento foi criar uma linguagem comum entre diferentes estudos”, afirma Rogério Caiuby, conselheiro executivo do MBC.

Questões como mão de obra, tributos e burocracia deixam o Brasil menos competitivo, aponta estudo
Questões como mão de obra, tributos e burocracia deixam o Brasil menos competitivo, aponta estudo Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Em 2019, o custo calculado foi de R$ 1,5 trilhão, o que significava 22% do PIB. A atualização dos valores para o patamar atual foi novamente feito pela FGV em parceria com o MBC. “Ao longo desses anos tivemos inflação e outras variáveis que contribuíram para esse aumento nominal (do valor, de R$ 1,5 trilhão para R$ 1,7 trilhão). Também não é uma verdade falar que diminuiu ao passar de 22% para cerca de 20% de representatividade na economia, porque o PIB cresceu de forma mais rápida (nos últimos anos)”, diz o executivo. “Os indicadores-chave, em grande medida, andaram de lado. Os desafios se mantêm”, afirma Caiuby.

É um desafio enorme concorrer com empresas fora do País”

Rogério Caiuby, conselheiro executivo do MBC

O MBC, organização que une empresariado e outros representantes da sociedade civil, buscou a parceria com o governo para trabalhar sobre o tema. “A ideia é apresentar um plano mais estruturado de redução do custo Brasil. Será essa a atuação do ministério”, afirma a secretária de Competitividade e Política Regulatória do MDIC, Andrea Macera. O vice-presidente e ministro de Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, irá participar do evento para divulgar o valor atualizado do custo Brasil nesta manhã.

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“É um desafio enorme conseguir concorrer com empresas fora do País. Não se trata de atacar o custo Brasil para aumentar o lucro, mas para dar mais acesso a produtos e serviço para sociedade, fazer com que eles possam ser produzidos no Brasil, aumentando o setor produtivo, o que também vai gerar mais emprego para a população”, afirma Caiuby.

Soluções para o problema

As soluções para o problema, diz a secretária de Competitividade do MDIC, passam por três dimensões: diálogo com atores envolvidos no debate, disseminação da ferramenta chamada de “guilhotina regulatória” para eliminar regulamentações que geram aumento de custo e, por fim, estabelecimento de regras para racionalizar o custo regulatório. “Na Europa, eles têm trabalhado com o conceito ‘one in, one out’ (um dentro, um fora) - ou seja, para cada real de custo imposto em uma norma, é preciso que um real de custo seja eliminado em uma norma anterior. O grande desafio é medir o custo regulatório”, afirma.

A conta de R$ 1,7 trilhão considera todo o ciclo de vida de uma empresa no país, em 12 áreas vitais desde o surgimento das companhias brasileiras. Destes, seis representam mais de 80% do custo. São os indicadores: financiar um negócio, empregar capital humano, dispor de infraestrutura, ambiente jurídico regulatório, integração de cadeias produtivas globais e honrar tributos.

Entre os fatores destacados pelo MBC como críticos estão o emprego e a tributação. No primeiro caso, o maior peso vem da baixa qualificação de mão de obra, que representa 8% do custo total anual calculado. No caso dos tributos, o levantamento aponta que o Brasil manteve, de 2019 para cá, a alta complexidade do sistema tributário. Em média, o setor produtivo brasileiro gasta 62 dias ao ano para preparação de impostos. Já a média nos países de OCDE é de 6 dias.

O MDIC abriu uma consulta pública sobre o tema, que se encerraria amanhã, mas será prorrogada até 15 de junho. A ideia é contar com apoio do setor privado e sociedade civil para mapear atos normativos que geram custos excessivos para as empresas brasileiras, complementando o trabalho que é apresentado nesta quarta-feira. “Um dos objetivos é essa tomada de subsídios e o outro é comunicar para o setor produtivo a relevância da política regulatória, que pode trazer incentivos nem sempre justos ou adequados para os objetivos que se quer alcançar com as políticas públicas”, afirma a secretária Andrea Macera.

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MDIC e MBC lançarão, no segundo semestre, um observatório para monitorar os projetos e normas que podem gerar impacto no custo Brasil. “A ideia é que, junto com o governo, possamos definir qual a carteira de projetos que vamos apoiar, seu tempo de implementação e se ele está tendo o resultado pensado”, diz Caiuby.