terça-feira, 16 de maio de 2023

BERTHIER RIBEIRO-NETO - Sobre a credibilidade da busca no Google, FSP

  

Berthier Ribeiro-Neto

Diretor de engenharia do Google na América Latina, pesquisador e professor universitário

Quando comecei a trabalhar na área de tecnologia, há mais de 30 anos, tarefas como encontrar o endereço de um restaurante ou fazer uma pesquisa escolar eram muito diferentes. Era comum recorrer a uma lista telefônica ou consultar uma enciclopédia —algo difícil de imaginar para quem já nasceu na era digital.

Como primeiro engenheiro do Google no Brasil, vi de perto a transição para o mundo online e o papel essencial que a busca da plataforma assumiu na vida dos brasileiros. As pessoas confiam na ferramenta, pois sabem que encontrarão na lista de resultados informações úteis e relevantes para tomar decisões no dia a dia. Ser um anunciante não garante melhor classificação nos resultados orgânicos —os anúncios ficam separados do índice de pesquisa e são sinalizados como "patrocinados".

Sede do Google, na Califórnia - Paresh Dave - 8.mai.19/Reuters - REUTERS

A busca do Google organiza o conteúdo disponível na web aberta seguindo critérios públicos. Em uma fração de segundo, nossos sistemas avaliam centenas de fatores para produzir um resultado. E ideologia não é um deles. Além disso, os resultados de pesquisa são dinâmicos e mudam conforme novas informações são publicadas na web. O que aparece na busca em um dia indica apenas o que é relevante naquele momento e no local onde está aquele usuário. Todo esse processo ocorre de forma automatizada e não é possível definir manualmente a posição de um link na lista de resultados.

Por todas essas razões, causou preocupação reportagem desta Folha ("Google lança ofensiva contra PL das Fake News, mostram emails e relatório", 2/5) sobre um levantamento que, entre outros apontamentos, acusou o Google de manipular resultados da busca orgânica para promover seus pontos de vista sobre o projeto de lei 2.630. Aparentemente baseado em um conjunto mínimo de consultas para o termo "PL 2.630", feitas na última semana de abril, o relatório não detalha sua metodologia estatística e faz acusações sérias sobre a credibilidade da busca, que podem ser contestadas por fatos observáveis na própria web.

O levantamento questionou, principalmente, o fato de o blog do Google figurar na primeira página dos resultados orgânicos para a busca por "PL 2.630", como se isso representasse um favorecimento do nosso próprio conteúdo. Ora, consultas feitas em buscadores concorrentes também mostraram links para o nosso blog ao lado de sites institucionais que também usam a numeração oficial para se referir ao projeto. Já quando se busca pelo termo "PL das Fake News", por outro lado, predominam conteúdos jornalísticos, pois a imprensa denomina o projeto dessa forma.

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Em 2018, pesquisadores da Universidade Stanford analisaram mais de 4 milhões de links de resultados no Google sobre as eleições americanas ao longo de seis meses e concluíram não haver viés político na busca. Em outras palavras, utilizar a consulta por um único termo em poucos dias para supor que houve manipulação de resultados é simplista e ignora princípios básicos de funcionamento da busca.

O relatório também criticou uma associação supostamente indevida entre os termos "PL 2.630" e "PL da Censura". Essa conexão é feita pelos usuários, não pela busca, e existe na web pelo menos desde 2021.

Segundo dados públicos da plataforma Google Trends, entre 24 e 30 de abril os termos de maior interesse ao lado de "PL" no Brasil foram, nesta ordem, "PL 2.630", "PL da Censura" e "PL das Fake News". Defender que o Google ignore uma associação espontânea feita pelos usuários na internet significaria censurar resultados na busca.

Por fim, criticou-se o fato de o termo "PL da Censura" ter sido oferecido como opção a consultas sobre o projeto na seção "As pessoas também perguntam", que apresenta alternativas à pesquisa feita pelo usuário. Cada pergunta sugerida é baseada numa associação entre termos feita na web. Ou seja, é consequência do funcionamento natural da busca e reflete comportamento dos próprios usuários.

A confiança que as pessoas têm no Google é fruto de uma visão de longo prazo: sempre mostramos resultados gerados automaticamente por algoritmos, sujeitos a um processo rigoroso de qualidade e testados por avaliadores no mundo todo. Distorcer os resultados da busca para qualquer fim minaria essa confiança, prejudicaria nossos negócios e colocaria em dúvida nosso compromisso com as pessoas. Isso não aconteceu e jamais acontecerá.

Alvaro Costa e Silva Escândalo com jeitinho brasileiro no futebol, FSP

 Em fevereiro, ao comentar neste espaço o escândalo das apostas e manipulações no futebol, lembrei o tempo em que o goleiro Manga, após uma acusação sem provas do bicheiro Castor de Andrade, pulou o muro do Botafogo com João Saldanha atrás dele dando tiros para o alto. Uma cena de chanchada da Atlântida. Hoje vivemos um filme de gângsteres.

Apesar de aquela ser uma época ingênua —na qual nem se imaginava que seria possível planejar, em mensagens de zap, a cobrança de um pênalti para fora—, nas arquibancadas sempre existiu um clima de desconfiança. A cada lance duvidoso, as torcidas denunciavam a possibilidade da combinação aos gritos de "É marmelada!".

Os árbitros —que até o momento não foram flagrados em conluio com as quadrilhas de apostadores— eram o principal alvo das conjecturas. Protagonistas atuais, os jogadores eram mais ou menos poupados da suspeição, talvez por sua identificação com as cores do clube que defendiam ao longo de quase toda a carreira. Em campo, a malandragem era feita de lances inacreditáveis —o atacante Dé Aranha usando uma pedra de gelo para desviar a trajetória da bola e enganar o zagueiro.

É flagrante que, na medula do esquema, sobrevive o jeitinho, a lei de levar vantagem e dinheiro em tudo, a mania de não considerar grave o que seriam pequenas infrações. Nas mensagens não há ofertas categóricas de jogar para perder; "apenas" de forçar um cartão amarelo, ceder um escanteio, cometer um pênalti, como se isso não tivesse importância. A maneira fútil de aliciar mostra por que a fraude deu tão certo por aqui.

Além do jeitinho, houve o jeitão brasileiro. O cenário que põe em risco a credibilidade do futebol era previsível com a legalização dos sites de apostas no governo Temer e a multiplicação deles no de Bolsonaro. Um mercado que estranhamente se estabeleceu operando fora do país, sem regulamentação e sem pagamento de impostos.

Em meio a guerra fiscal, empresa de Michael Klein volta ao ABC paulista, FSP

 

BRASÍLIA

O empresário Michael Klein, filho do fundador da Casas Bahia e acionista da Via Varejo, fechou um acordo com o prefeito de São Caetano do Sul, José Auricchio Jr. (SPDB), e está transferindo a sede de sua empresa —o Grupo CB— de São Paulo para lá.

Especializado no ramo imobiliário, o Grupo CB conta com R$ 5 bilhões em imóveis, muitos deles alugados pela Casas Bahia. Também opera uma frota de jatinhos executivos pela Icon Aviation.

A Casas Bahia foi fundada pelo pai de Michael Klein, Samuel, no centro da cidade do ABC paulista.

O empresário Michael Klein posa para foto no hangar da Icon Aviation, em Brasília - 22.ago.2018-Pedro Ladeira/Folhapress

A volta ao lar ocorre no momento em que a Câmara de Vereadores de São Paulo discute um projeto de lei que pretende elevar a alíquota de ISS (Imposto Sobre Serviço) de 2% para 5%.

Embora o prefeito Ricardo Nunes já tenha sinalizado com o veto ao projeto, empresas instaladas na cidade de São Paulo deram início a uma debandada para municípios próximos que oferecem alíquotas menores.

O acordo com São Caetano do Sul foi fechado nesta terça (15) na sede do grupo CB, em São Paulo, para onde o grupo tinha mudado em 2018. O retorno para o ABC será efetivado no segundo semestre deste ano.

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A chegada de Klein vai estimular o Programa Novo Centro. Além da alíquota menor do ISS, há incentivos fiscais para empresas se instalarem no centro da cidade do ABC.

plano de Auricchio Júnior é revitalizar o centro da cidade alavancando negócios. Muitos dos imóveis na região já pertencem ao grupo CB.

"Os investidores sabem que fazemos tudo ao nosso alcance, desde que isso se reverta em benefícios para o município e a população", disse Auricchio Jr à coluna.