sábado, 29 de outubro de 2022

Estação histórica que se transformava em favela será revitalizada em Franca, Marcelo Toledo FSP

 Marcelo Toledo

Vidros quebrados, pichações, acúmulo de lixo e um avançado processo de favelização. Esse era o cenário da principal estação ferroviária de Franca (a 400 km de São Paulo), essencial para o desenvolvimento econômico da cidade paulista e que agora será revitalizada.

A cidade integrava a Linha do Rio Grande da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, que partia de Ribeirão Preto e prosseguia até Rifaina, já na divisa com Minas Gerais. Ela passava por cidades como Jardinópolis, BrodowskiBatataisRestinga, a própria Franca e Pedregulho e foi inaugurada em 1886, com visita de dom Pedro 2º.

Prédio da antiga estação da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro de Franca
Prédio da antiga estação da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro de Franca - Divulgação/Prefeitura de Franca

A ferrovia chegou a Franca em abril de 1887, mas o prédio atual data de 1939. Com o declínio das ferrovias, notadamente a partir da década de 1950, as estações ferroviárias espalhadas pelo interior paulista foram ganhando outros usos, sendo abandonadas —ou pior, demolidas.

A de Franca, uma das maiores da rota da Mogiana, chegou a ser utilizada como biblioteca e terminal de ônibus urbano, mas, ao mesmo tempo, vivia situação de abandono que culminou com seu estado atual.

Desde 1983 ela não funcionou mais como estação ferroviária. Moradores de rua tomaram conta de suas calçadas de forma gradativa, o que gerou acúmulo de lixo, pichações e danos estruturais num lugar que no passado era usado por passageiros para embarcar nos trens.

Estação ferroviária de Franca, construída em 1939 e que será revitalizada
Estação ferroviária de Franca, construída em 1939 e que será revitalizada - Fernandobrasilien/Wikimedia Commons

Nesta semana, a prefeitura anunciou a autorização para o início da revitalização do prédio, uma obra de R$ 2,96 milhões, num ato que contou com a presença do último chefe da estação Mogiana, José Antônio Bosco.

O local receberá um mercado popular, um centro cultural e um espaço gastronômico temático, de acordo com a prefeitura. O espaço, amplo, ainda deverá ter um boulevard. As obras devem durar 12 meses.

Para isso, as pessoas que ali moravam foram retiradas e encaminhadas aos serviços de assistência social da cidade e uma proteção metálica foi instalada no entorno do prédio.

"Queremos transformar esse prédio num local de cultura, de conhecimento, com a biblioteca, o Centro Cultural Salles Dounner. Um local para compras, onde as pessoas possam resgatar a história da nossa cidade. Para nós, este local tem uma simbologia muito forte", disse o prefeito de Franca, Alexandre Ferreira (MDB), no ato.

Ao todo, a Linha do Rio Grande entre Ribeirão Preto e Franca teve dez estações, algumas já demolidas, que desapareceram com o fim do ciclo cafeeiro e o abandono que tomou conta da maior parte dos trechos ferroviários.

A estação francana fica a 994 m acima do nível do mar, uma elevação de 114 m em relação à estação de Batatais, o que tornava a viagem mais lenta entre as duas cidades.

Com as inúmeras paradas e devido à velocidade do trem, de 28 quilômetros por hora, uma viagem de uma composição entre os dois municípios, distantes 56 quilômetros, era feita em pelo menos duas horas e dois minutos, fora os atrasos.

Pela rodovia Candido Portinari, duplicada, a mesma distância entre as cidades hoje é feita em pouco mais de 28 minutos.

Quando chegou a Franca, a Companhia Mogiana era muito aguardada, já que os trilhos também eram vistos como sinônimos de modernidade. E eram mesmo.

No dia da abertura da ferrovia, 5 de abril de 1887, o jornal Correio Paulistano escreveu: "A data de hoje assinala mais uma conquista da Província de São Paulo na senda do progresso e da civilização. Abre-se hoje ao tráfego mais um trecho da linha férrea da Mogiana, entre a cidade de Batatais e a cidade de Franca do Imperador. À patriótica e laboriosa população francana rasgam-se novos e mais largos horizontes. E a transformação industrial e agrícola por que, necessária e fatalmente, tem de passar aquele importantíssimo município, é o produto do futuro esplêndido a que está fadada aquela remota região. A Franca do Imperador é um dos núcleos mais notáveis da Província de São Paulo e ocupa o lugar proeminente na história da pátria paulista".


No mapa eleitoral de 2022, Lula repete Dilma e Bolsonaro replica Aécio em 2014, OESP

 


Luiz Inácio Lula da Silva não é Dilma Rousseff, Jair Bolsonaro não é Aécio Neves e os tempos são outros, mas há uma forte relação entre a eleição de 2022 e a de 2014, em que o tucano Aécio venceu no Sudeste, no Sul e no Centro-Oeste, mas perdeu a Presidência para a petista Dilma. O mapa de votos tende a reproduzir isso neste domingo, a favor do também petista Lula. Mesmo com o seu governo já fazendo marola e a economia morrendo na praia, Dilma surfou na onda do PT e de Lula. Venceu com enorme margem no Nordeste (que tem 27% dos votos nacionais), no Norte (8%) e… em Minas. O suficiente para subir novamente a rampa do Planalto.

O que fez a diferença foi Minas, estado natal de Aécio e Dilma. Ele venceu no Sudeste graças a São Paulo (maior colégio eleitoral), mas Dilma ficou na frente no Rio (terceiro colégio) e em Minas (segundo), a grande surpresa. Aécio perder ali?

O ex-presidente e candidato a eleição pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente Jair Bolsonaro, durante debate da Rede Globo nesta sexta-feira, 28, nos Estúdios Globo.
O ex-presidente e candidato a eleição pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente Jair Bolsonaro, durante debate da Rede Globo nesta sexta-feira, 28, nos Estúdios Globo. Foto: TV Globo

Segundo as pesquisas, Bolsonaro, como Aécio, tem Rio e São Paulo, não Minas. Vence no Sudeste, Sul e Centro-Oeste e empata com Lula no Norte. Pode, assim, repetir o êxito regional de 2018, quando ganhou em todas as regiões, exceto o Nordeste, o bolsão vermelho seja com Dilma, Haddad ou Lula.

O que ameaça a reeleição de Bolsonaro? O mesmo que tirou a vitória de Aécio há oito anos: não virar em Minas nem crescer no Sudeste o suficiente para neutralizar o Nordeste. Saiu do primeiro turno e chega ao segundo com praticamente os mesmos percentuais, apesar de tudo.

Bolsonaro deu de ombro para a lei eleitoral, jogou todo o peso do governo na sua reeleição, inventou até empréstimo consignado para quem precisa do auxílio Brasil para comer e foi quatro vezes a Minas, acionando seu exército no Estado: o general Braga Neto, Michelle, o governador reeleito Romeu Zema, o senador eleito Cleitinho e o deputado mais votado do País, Nikolas Ferreira. E daí? Daí, nada. Os números não saíram do lugar.

Lula fechou o cerco, por cima e por baixo, com uma palavra mágica, democracia, e um carimbo, inclusão social. Atraiu Geraldo Alckmin e o eleitorado pobre, o maior do País. Vieram junto tucanos, emedebistas, economistas, juristas, Simone Tebet e Marina Silva. Bolsonaro não teve para onde correr. Manteve o que já tinha, antipetismo radical e eleitorado evangélico, da bala e do boi. Dali, não saiu.

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Surpresas sempre podem acontecer, como a derrota de Aécio em Minas, que lhe custou a Presidência, mas, pelo andar da carruagem e das pesquisas, Lula está mais próximo da vitória, com o compromisso de união nacional, democracia, inclusão, reconstrução e transição. O fim de uma era. A eleição de 2026 terá ares e caras novas.