quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Presidente candidato pratica canibalismo político, Marcelo Leite, FSP

 Poucos livros marcaram tanto quanto o primeiro lido sobre yanomamis, "O Círculo dos Fogos", de Jacques Lizot (1988). Em especial, seu relato sobre a cerimônia fúnebre "reahu", em que um pouco de cinzas de gente valorosa falecida é ingerido com mingau de banana por parentes e aliados.

De pronto vem à mente um paralelo com o sacramento católico da comunhão, em que fiéis recebem a hóstia, corpo de Cristo transmutado em pão. Um mesmo princípio: interiorizar, simbolicamente, o que há de melhor no desaparecido.

Foi com desgosto que se viu o reahu levantar da tumba pela boca do hoje presidente da República, Jair Messias Bolsonaro (não se perca pelo nome do meio). Em 2016, o então deputado federal afirmou a Simon Romero, do New York Times, que já tivera oportunidade e disposição para comer gente —aqui, em sentido literal.

Presidente Jair Bolsonaro fala gesticulando as duas mãos
Com a péssima repercussão do caso das venezuelanas, Bolsonaro mais uma vez tentou escapar da responsabilidade ao se desculpar sem se desculpar, dizendo que suas palavras foram tiradas de contexto - Evaristo Sá - 17.out.22/AFP

Contou que a tentação teria ocorrido na comunidade de Surucucu (RR). "Morreu um índio e eles estão cozinhando. Eles cozinham o índio, é a cultura deles. Cozinha por dois, três dias e come com banana", diz o capitão no vídeo gravado pelo filho Carlos e divulgado pelos próprios cupinchas. Comeria sem problema.

O janonismo no entorno da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva ressuscitou o trecho para pregar em Bolsonaro a pecha de canibal. Uma reencarnação do espectro João Santana, marqueteiro de Dilma Rousseff que em 2014 crucificou Marina Silva e uma "banqueira", que iriam tirar comida do prato das crianças (e não foi capaz de repetir o sortilégio em 2022 com o fracassado Ciro Gomes).

Bolsonaro estava contando lorota. Pode ter ido a Surucucu, passe, mas jamais os yanomamis convidariam ou aceitariam um estranho, menos ainda um militar dado a desprezá-los, para participar de cerimônia tão importante.

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Ao usar o vídeo como munição, petistas acreditavam dar o troco ao candidato na mesma moeda usada por ele. Em verdade, ajudaram a pregar mais um cravo na dignidade dos yanomamis, ao indiretamente dar por fato sua condição de canibais, como se comessem a própria carne de parentes e guerreiros para se alimentar.

É Bolsonaro quem vive de dentadas na reputação dos outros, nutrindo com suas baixarias os piores instintos e emoções dos que nele votam. Foi assim com quilombolas, que igualmente odeia e desumaniza, ao se referir a peso em arrobas.

Foi assim com os moradores do Complexo do Alemão, que generalizou como bandidos e membros de facção criminosa. Isso porque Lula andou por lá e foi bem recebido, reunindo mais gente do que a extrema direita tem conseguido.

Foi assim com as meninas venezuelanas que se maquiavam num sábado à tarde no Distrito Federal. Em perversão digna de Damares Alves, concluiu que eram exploradas como prostitutas porque empobrecidas pela ditadura chavista.

Os janonistas erraram de novo o foco, colando-lhe o rótulo de pedófilo. Isso quando o real escândalo está na pressuposição de que enfeitar-se é coisa de garota de programa, quaisquer que fossem as idades das venezuelanas.

Há vídeos em circulação de pelo menos três ocasiões em que Bolsonaro conta a história, todos com conteúdo que não deixa margem a dúvida. Com a péssima repercussão, o candidato mais uma vez tentou escapar da responsabilidade ao se desculpar sem se desculpar, dizendo que suas palavras foram tiradas de contexto.

Não foram. As cenas de difamação estão aí para quem quiser ver e tirar suas conclusões. A censura imposta pelo TSE às palavras reais do candidato é não só incompreensível, juridicamente, como ineficaz na prática.

O problema maior é que meio Brasil acredita na versão de Bolsonaro, mesmo que absurda. Ou, quem sabe, precisamente por ser absurda. "Credo quia absurdum", diria o carola pensando repetir Santo Agostinho.

E ainda chamam os yanomamis de selvagens. Quem é o canibal nessa história?

Energia solar fotovoltaica ganha espaço no setor do frio - Revista do Frio

 São Paulo - O Brasil ultrapassou uma nova marca histórica, a de 17 GW de potência instalada da fonte solar fotovoltaica (equivalente a 8,4% da matriz elétrica do país), somando as usinas de grande porte (5,3 GW) e os sistemas de geração própria de energia elétrica em telhados, fachadas e pequenos terrenos (11,9 GW).


Desde 2012, quando a fonte solar ganhou mais impulso por aqui, até hoje, o Brasil já recebeu em torno de R$ 90,5 bilhões em novos investimentos, R$ 24,6 bilhões em arrecadação aos cofres públicos e gerou por volta de 514 mil empregos.

Atualmente, a fonte solar ocupa o terceiro lugar na matriz elétrica brasileira, à frente das termelétricas movidas a gás natural e biomassa. Em função disso, também evitou a emissão de 25,5 milhões de toneladas de CO2 na geração de eletricidade.

Segundo o CEO da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia, o avanço da energia solar no país, por meio de grandes usinas e da geração própria em residências, pequenos negócios, propriedades rurais e prédios públicos, é fundamental para o desenvolvimento econômico, social e ambiental do Brasil.

“A fonte ajuda a diversificar o suprimento de energia elétrica do país, reduzindo a pressão sobre os recursos hídricos e o risco de ainda mais aumentos na conta de luz da população”, afirma.

“As usinas solares de grande porte geram eletricidade a preços até dez vezes menores do que as termelétricas fósseis emergenciais ou a energia elétrica importada de países vizinhos, duas das principais responsáveis pelo aumento tarifário sobre os consumidores”, completa o executivo.

A transformação pela qual o mercado de energia solar fotovoltaica vem passando nos últimos anos também beneficiou diretamente o HVAC-R, uma vez que fabricantes, varejistas e transportadoras passaram a investir cada vez mais nesta tecnologia, enquanto técnicos estão buscando aperfeiçoar conhecimentos sobre o tema.

Datafolha: Maconha e aborto dividem jovens, que defendem saúde e educação pública, FSP

 Isabella Menon

SÃO PAULO

Entre os jovens brasileiros, alguns assuntos são quase unânimes. É o caso da saúde (99%) e da educação públicas —esta tanto no nível básico e médio (98%) quanto no superior (97%). Além disso, a adoção de crianças por casais homossexuais também tem alta aprovação (83%).

Ou seja, independente da idade, posição política e renda familiar, a vasta maioria concorda com estes temas.

Segundo o Atlas da Juventude, cerca de 50 milhões de pessoas no Brasil são jovens —parcela da população que tem de 15 a 29 anos.

Jovens se dividem em relação a descriminalização da maconha, aponta Datafolha
Jovens se dividem em relação a descriminalização da maconha, aponta Datafolha - Karime Xavier 16.jun.2022/Folhapress

A maioria concorda também em outras pautas, mas não com tanta adesão. É o caso, por exemplo, das cotas raciais, apoiadas por 69%. Já temas com como descriminalização da maconha, aborto e pena de morte dividem os jovens.

Os resultados são de uma pesquisa Datafolha, que realizou 1.000 entrevistas com jovens nos dias 20 e 21 de julho em 12 capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, Recife, Porto Alegre, Curitiba, Goiânia, Brasília, Manaus e Belém). A margem de erro é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.

Para Olavo Nogueira Filho, diretor-executivo da ONG Todos Pela Educação, a opinião dos jovens em relação à educação e saúde pública mostra que este não é um assunto que está em disputa na sociedade. Por outro lado, ele considera que o resultado da questão sobre cotas raciais mostra que este ainda é um tema envolto em discussões políticas e ideológicas.

A porcentagem dos jovens favoráveis às cotas ainda é superior quando comparada com toda a população do Brasil. Segundo pesquisa Datafolha divulgada em junho de 2022, 50% da população se declara a favor da ação.

Giovani Rocha, cofundador da Mahin Consultoria Antirracista, afirma que não se surpreende com os números. Para ele, a população vai começar a entender amplamente a importância das cotas quando negros passarem a ocupar determinados espaços e tiverem acesso a mais conhecimento sobre a verdadeira história do país.

As taxas de aprovação às cotas mudam de acordo com a preferência política dos jovem. Enquanto 53% dos eleitores de Jair Bolsonaro (PL) concordam com a ação, a porcentagem sobe para 77% entre quem vota em Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Acredito que os eleitores do Lula são os mais próximos das discussões sobre identidades e como diferentes pessoas são impactadas pela realidade em que vivemos. Ao estarem mais próximos, estão mais expostos ao conhecimento em relação às desigualdades do Brasil a partir da ótica racial", diz.

A pesquisa ainda aponta que o apoio às cotas aumenta conforme cresce a renda familiar. A cientista política Nailah Neves Veleci considera que "o acesso à informação e o tempo para realizar buscas acerca de um tema é um privilégio."

JOVENS DO BRASIL