terça-feira, 16 de agosto de 2022

Vaivém das Commodities - Safra de milho vem recorde, mas sem muito espaço para quedas nos preços, FSP

 O Brasil está prestes a colher uma safra recorde de milho. O ritmo do consumo interno e o das exportações nos anos recentes, porém, não dão margens a sobras. As demandas interna e externa vão manter os preços do cereal ajustados.

O desenvolvimento da cadeia nacional de proteínas, o aumento da produção de etanol de milho e a abertura maior do mercado externo têm absorvido um volume cada vez maior do produto.
Com isso, os preços do cereal e os dos derivados não têm muito espaço para quedas. A saca de milho, mesmo com a safra em andamento, está sendo negociada próxima de R$ 82 desde o final de junho, segundo o Cepea.

Para esta safra 2021/22, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima uma produção recorde de 115 milhões de toneladas, mas o consumo interno também sobe para um patamar recorde de 77 milhões, 7% acima do volume da safra anterior.

Colheita de milho realizada na Fazenda Recanto, no município de Mateiros, região do Jalapão (TO) - Lalo de Almeida/Folhapress

As exportações, após o baque do ano passado, devido a seca e geadas, voltam para um volume próximo ao de 2020. As estimativas vão de 37,5 milhões a 40 milhões de toneladas.

A produção de carnes no Brasil, um setor que utiliza muito milho na ração, teve evolução em todos os segmentos no segundo trimestre deste ano, em relação a igual período anterior, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Embora a demanda interna, devido à baixa renda dos consumidores, não favoreça a venda de carnes no mercado doméstico, o externo sustenta a produção.

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Nos meses de abril, maio e junho, o Brasil aumentou em 2,3% a produção de carne bovina; em 6% a suína; e em 1% a de frango. Boa parte dessa produção vai para o mercado externo.

O mercado de milho deverá continuar aquecido também porque dois dos principais exportadores mundiais reduzirão a presença no mercado externo, abrindo ainda mais espaço para o produto brasileiro.

A Ucrânia, que colocou 30 milhões de toneladas no exterior na safra 2018/19, deverá exportar apenas 12,5 milhões em 2022/23.

Apesar de baixo, esse volume é maior do que os 9,5 milhões estimados anteriormente pelo Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).

Os americanos, com produtividade menor na safra deste ano, devido ao clima seco e quente, também têm previsão de exportar menos. Serão 61,5 milhões de toneladas, bem abaixo dos 68,3 milhões de 2020/21.
União Europeia, afetada por seca, colocará apenas 2,7 milhões de toneladas no mercado externo nesta safra. Na anterior, foram 5,8 milhões.

Nos cálculos do Usda, que considera a safra comercial do início de outubro de um ano ao final de setembro do outro, Brasil e Argentina vão colocar 88 milhões de toneladas de milho no mercado externo. O volume brasileiro seria de 46,5 milhões.

A menor presença chinesa no mercado deverá aliviar as pressões. Após importar 23 milhões de toneladas nesta safra, os chineses vão comprar 18 milhões em 2022/23. Mesmo assim, o poder de interferência no mercado é grande. Há três safras, importavam apenas 4 milhões de toneladas por ano.

Os americanos já fizeram uma avaliação da safra 2022/23 de milho do Brasil e preveem 126 milhões de toneladas. Para a Argentina, esperam 55 milhões.

A Ucrânia, que antes da guerra chegou a produzir 42 milhões do cereal, colherá apenas 30 milhões. Os Estados Unidos, líderes na produção e na exportação mundiais têm recuo na produção para 365 milhões.
Na avaliação do Usda, a produção mundial de milho cai para 1,18 bilhão de toneladas. Safra menor e estoques finais com recuo de 2% no período farão com que o mundo tenha milho suficiente para 94 dias no final de 2022/23. Qualquer problema climático em um dos grandes produtores trará sérios problemas para o abastecimento mundial.

Com o aumento da safra brasileira, o VBP (Valor Bruto da Produção) do milho supera o da bovinocultura neste ano, informou o Ministério da Agricultura, nesta segunda-feira (15).

O giro de dinheiro com o cereal dentro da porteira sobe para R$ 158 bilhões, 17% acima do de 2021. Já as receitas com as vendas de bovinos nas fazendas ficam em R$ 152 bilhões, um recuo de 11% sobre 2021.


Presidente do Carrefour sobre Paulo Guedes: ‘Estamos aqui há 47 anos e uma frase não vai mudar tudo’


Prestes a completar um ano à frente do Carrefour Brasil, Stéphane Maquaire, CEO do grupo, disse ao Estadão que a companhia acredita na capacidade de crescer as atividades no Brasil e que “não é uma frase que vai mudar tudo”. O questionamento veio depois de o ministro da Economia, Paulo Guedes, ter afirmado, na semana passada a uma plateia de empresários em Brasília, que a França era irrelevante para o Brasil. O ministro disse, conforme mostrou reportagem do Estadão, que iria “ligar o f...-se” para o País.

“Com a relevância que temos, não podemos fazer qualquer coisa porque uma pessoa disse algo”, resumiu o executivo. Depois da compra do Grupo Big, em março de 2021, por R$ 7,5 bilhões, o Carrefour se tornou o maior empregador privado do País. Tem 150 mil funcionários, mais do que na França, quase um quarto do varejo nacional de alimentos e mais de mil pontos de venda.



O cenário turbulento por conta eleições de outubro também não afeta os planos da companhia francesa que está há 47 anos no País. “Vamos seguir atendendo os nossos clientes qualquer que seja a decisão do povo brasileiro”, disse o executivo. O plano é repetir em 2023 os investimentos de um pouco menos de R$ 2 bilhões e focar na abertura de 20 novas lojas de atacarejo da bandeira Atacadão e em lojas de vizinhança do Express, que ele não revela quantas serão.

Qual é o foco da sua gestão?

Fazer acontecer a integração com o Big, das pessoas, do mercado. Mas, ao mesmo tempo, temos de nos organizar para entregar o melhor atendimento aos clientes, com uma jornada muito mais acelerada para o digital. Quando falamos em integração, são 40 mil funcionários a mais dentro do Carrefour, o maior empregador privado do País, com 150 mil funcionários. Para isso, temos de ter organização clara, comunicação forte para criar uma nova cultura. Ao mesmo tempo, temos que integrar 374 lojas do Big. Lojas que vamos converter ou vender. Também temos de trabalhar as sinergias. Anunciamos ao mercado que temos ao menos R$ 2 bilhões de sinergias que queremos entregar até 2025. Queremos que a integração do Big não atrapalhe a aceleração digital.


Como está a integração do Big?

Está concluída em termos de liderança de organização. Apresentamos como queremos trabalhar. Agora estamos trabalhando em conversões de lojas e conversões de sinergias. Começamos em junho e temos 124 lojas para converter em vários formatos: hipermercado Big para Atacadão, para hipermercado Carrefour ou Sam’s Club. O novo formato para nós é o Sam’s Club. Já as lojas Maxxi serão convertidas em Atacadão. Isso leva tempo. Estamos trabalhando nas primeiras conversões e anunciamos 18 meses para fazer a conversão de 124 lojas. Começamos e estamos andando muito bem. Quando convertemos uma loja, precisamos de dois a três anos para atingir o patamar de vendas do novo formato.


Stéphane Maquaire, CEO do Grupo Carrefour, assumiu o comando da empresa em setembro do ano passado para fazer a integração com o Big e acelera a transformação digital

Stéphane Maquaire, CEO do Grupo Carrefour, assumiu o comando da empresa em setembro do ano passado para fazer a integração com o Big e acelera a transformação digital Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Como está a aceleração digital?


Do modelo clássico do CD (centro de distribuição) para entregar para os clientes, mudamos para ter a preparação dos pedidos dentro das lojas. Desde março, cem lojas de hipermercado e também de supermercado e algumas lojas do Express estão preparando os pedidos para os clientes. Com isso, conseguimos fazer as entregas no mesmo dia. Temos também a digitalização do Atacadão. Estamos crescendo.


Qual é a participação do e-commerce nas vendas?


Hoje é de 4%. A meta é atingir duplo dígito em 2026.


Estamos há 47 anos aqui e não é uma frase que vai mudar tudo. Acreditamos na capacidade de crescer as atividades no Brasil ontem, hoje e amanhã. Com a relevância que temos, não podemos fazer qualquer coisa porque uma pessoa disse algo.”

Stéphane Maquaire, sobre declaração de Paulo Guedes


Nos próximos meses, o Carrefour vai ter como prioridade qual formato de loja, diante do aumento da inflação?


Vamos manter o crescimento do Atacadão e também loja de vizinhança. 47 lojas Big vão virar hipermercados. Ainda estamos avaliando bem o potencial desse formato Sam’s Club, onde os clientes são sócios. Vamos converter sete lojas Big para esse formato. Vamos chegar a 54 e depois queremos crescer.


Como o Carrefour está lidando com a inflação?


Estamos puxando os nossos produtos marca própria, mostrando que há possibilidade para os nossos clientes comprarem mais barato em nossas lojas. Também estamos com produtos com embalagens menores para atender aos clientes que compram menos e mais frequentemente. Estamos negociando com fornecedores para controlar a inflação de suprimentos e atuando em todos os setores para termos um posicionamento de preço melhor. Quando divulgamos os resultados do primeiro trimestre, mostramos que baixamos a margem para acompanhar a curva de aumento da inflação. Implementamos desde novembro do ao passado até janeiro deste ano a estratégia de preços congelados da nossa marca própria.


Quanto representa a marca própria das vendas?


Representa 20%. São pequenas iniciativas para enfrentar essa situação de alta de preços no País.


Qual é o cenário para o segundo semestre?


O Auxílio Brasil dá a possibilidade para as pessoas comprarem alimentos. Temos a possibilidade de manter o crescimento registrado no primeiro semestre. Não posso dizer muito mais.


Ao mesmo tempo que tem um Auxílio Brasil maior, de R$ 600, a taxa de juros subiu muito...


Mas como há um banco dentro do Carrefour Brasil, temos a oportunidade de apoiar a venda financiada, parcelando em três vezes sem juros.


Como o Carrefour encara a afirmação do ministro da Economia, Paulo Guedes, feita na semana passada a uma plateia de empresários em Brasília, que a França é irrelevante para o Brasil?


Encara as condições positivas que o País tem. Vamos seguir investindo no País através da abertura de lojas, crescimento no digital. É tudo isso que o Carrefour França tem para o Brasil. As porteiras estão abertas.


Este ano vamos abrir 20 lojas do Atacadão, fora as conversões. Das 124 lojas a serem convertidas, 70 serão Atacadão. Vamos abrir 20 lojas Atacadão o ano que vem.”

Stéphane Maquaire, sobre planos para 2023


Essa afirmação muda o plano de investimentos?


Estamos há 47 anos aqui e não é uma frase que vai mudar tudo. Acreditamos na capacidade de crescer as atividades no Brasil ontem, hoje e amanhã. Com a relevância que temos, não podemos fazer qualquer coisa porque uma pessoa disse algo.


Quanto a empresa vai investir este ano e em 2023 e quantas lojas pretende abrir?


Este ano vamos abrir 20 lojas do Atacadão, fora as conversões. Das 124 lojas a serem convertidas, 70 serão Atacadão. Vamos abrir 20 lojas Atacadão o ano que vem. Dos R$ 2,1 bilhões nas conversões, provavelmente vamos manter o patamar de investimentos, não posso dizer quanto. Normalmente investimos um pouco menos de R$ 2 bilhões.


Como o sr. vê o cenário eleitoral?


Vamos seguir atendendo os nossos clientes, qualquer que seja a decisão do povo brasileiro. Seguimos o nosso caminho, aconteça o que acontecer, com objetivo de crescer.


Quando falamos em integração, são 40 mil funcionários a mais dentro do Carrefour, o maior empregador privado do País, com 150 mil funcionários. Para isso, temos de ter organização clara, comunicação forte para criar uma nova cultura.”

Stéphane Maquaire, sobre incorporação do grupo Big


Como a matriz olha o cenário eleitoral, as incertezas e os ataques à democracia?


Acho que o mundo está atravessando direções deste tipo. Na França, tivemos os jalecos amarelos (movimento que começou contra o aumento dos combustíveis e ampliou-se para insatisfação social mais ampla) e nos Estados Unidos tivemos o episódio em janeiro de 2021 (invasão do Capitólio).


 

Ciro inicia campanha e incomoda PT ao homenagear Suplicy em plano de governo, FSP

 

SÃO PAULO

A campanha do candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, tem causado incomodo no PT ao batizar de "Eduardo Suplicy" seu programa de transferência de renda que prevê complementar em até R$ 1.000 a renda de famílias abaixo da linha da pobreza.

O projeto foi citado durante o primeiro compromisso de campanha do candidato, uma caminhada por Guaianases, bairro no extremo leste de São Paulo, na manhã desta terça-feira (16).

"A homenagem que eu faço ao Eduardo Suplicy é uma questão simples, ele dedicou uma vida inteira a colocar esse assunto em pauta no Brasil e o PT sempre o levou ao deboche e ao ridículo. Eu não, eu sempre o levei a sério", disse.

Ciro Gomes acena para eleitores em Guaianases
Ciro Gomes (PDT) caminha por Guaianases, na zona leste de São Paulo, em primeiro dia da campanha presidencial - Zanone Fraissat/Folhapress

Pessoas próximas ao vereador, e um dos nomes mais conhecidos do PT em São Paulo, relatam receber críticas de diversas alas do partido pela proximidade com o candidato do PDT. Ciro tem atacado constantemente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato petista à Presidência.

"Eu ajudei o Lula a maior parte da minha vida pública e vi de perto o Lula se corromper", disse ao ser questionado sobre a oposição ao ex-presidente.

Ciro e Suplicy se reúnem para falar sobre programa de transferência de renda desde 1994, quando o pedetista era ministro da Fazenda no governo Itamar Franco e encomendou um estudo sobre o tema.

A aproximação se tornou mais constante a partir da campanha presidencial de Ciro em 2018, quando o projeto de transferência de renda passou a fazer parte de seu programa de governo. A leitura de Suplicy é que Ciro dá mais importância ao tema do que aliados que orbitam no entorno de Lula.

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"O que a gente quer do Ciro é o voto do eleitor dele que tem compromisso com o país", afirmou o advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas e próximo do ex-presidente Lula. "Precisamos reconstruir e reconciliar o país. Fazemos um desejo sincero que o Ciro tenha um momento de lucidez."

Um petista afirmou à reportagem, sob reserva, que a iniciativa é uma provocação de Ciro. Ele disse ainda que a campanha de Lula não irá polarizar com o pedetista, mas com o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Nesta segunda-feira (15), Suplicy recebeu Aloizio Mercadante, coordenador do programa de governo de Lula, para definir a proposta final do programa de transferência de renda a ser levada para aprovação de Lula, após uma série de reuniões.

Ciro anunciou seu programa na última quinta-feira (11), durante agenda em Salvador (BA).

O programa do PDT visa a reunir diversas iniciativas de seguridade social, como o Auxílio Brasil, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) —voltado aos idosos—, o seguro-desemprego e o vale-gás.

O candidato também afirmou que parte da iniciativa será custeada por meio de recursos do imposto sobre grandes fortunas, uma promessa de campanha.

Alíquotas de 0,5% a 1,5% irão incidir sobre patrimônios acima de R$ 20 milhões. O custo do programa será de R$ 172 bilhões por ano ou em torno de 6% do PIB (Produto Interno Bruto), segundo o pedetista.

Ciro também propõe que o programa de renda mínima seja previsto em uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC).

Durante caminhada pelas ruas de Guaianases, o candidato do PDT cumprimentou comerciantes ao lado de Antônio Neto, candidato a deputado federal, da vice, Ana Paula Matos, e do ex-ministro Aldo Rebelo, candidato do partido ao Senado.

Após a agenda na zona leste, Ciro iria falar com comerciantes no bairro do Jabaquara, na zona sul de São Paulo, mas adiou o compromisso para ir a Brasília acompanhar a posse do ministro Alexandre de Moraes como presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).