quarta-feira, 20 de julho de 2022

MARIA CAROLINA LOPES - O peso do TikTok nas eleições de 2022, FSP

 Uma pergunta ainda comum quando o assunto é política e redes sociais: por que tanta gente acredita em informações falsas? Com a proximidade das eleições, o Brasil volta a ser um laboratório de experiências sobre o assunto.

Neste momento, é importante observar o uso de ferramentas populares, como o Telegram e o TikTok, para evitar novas ondas de desinformação que podem ser danosas à democracia.

A popularização do smartphone colaborou para a criação de um ambiente que especialistas europeus chamam de "desordem informacional". Com tantas notícias e histórias circulando, nos sentimos incapazes de julgar o que é verdade, mentira ou manipulação.

Logo da plataforma TikTok - REUTERS

Um informe do Parlamento Britânico relata que a quantidade de agentes em disputa para formar a nossa opinião é tão grande que causa uma certa desestabilização na mente. Como consequência, muitos cidadãos deixam de crer na ciência e na imprensa formal e passam a se informar por pessoas mais próximas.

Cidadãos viraram produtores e disseminadores de conteúdo em massa —e podem não ser mais convencidos pela estética da propaganda política que vigorou até 2014. Fotos posadas, imagens tratadas feitas por fotógrafos badalados, vídeos roteirizados, gravados em estúdio em um cenário de superprodução, dão lugar a imagens de celular, cenários comuns do cotidiano das pessoas, multidões gritando e narrativas simples. Foi assim que Jair Bolsonaro ganhou as eleições de 2018 e conduziu sua comunicação nesses anos de mandato.

Agora, em 2022, o TikTok tem tudo a ver com isso. Já são 19 milhões de usuários no país, sendo que a base que mais cresce é a de pessoas a partir de 35 anos. A plataforma é uma verdadeira fábrica de memes em forma de vídeo.

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Sua infraestrutura permite que elementos digitais culturais sejam copiados com muita rapidez. Áudios, músicas ou vídeos produzidos de forma espontânea podem viralizar em poucos minutos. Quando analisamos o conteúdo que se sobressai na plataforma, percebemos que um dos segredos para isso é a espontaneidade.

 Perfil oficial de Bolsonaro no TikTok
Perfil oficial de Bolsonaro no TikTok - Reprodução

Mais uma vez, propagandas muito produzidas parecem servir menos ao TikTok do que produções comuns, feitas à mão. O estilo é bem Luva de Pedreiro, o baiano que ficou famoso na internet jogando futebol em um campo de terra, ou Isaías, o mineiro que imita o comportamento das jovens brasileiras.

Na política, sai na frente quem entende isso. É o caso da polarização Lula x Bolsonaro no TikTok.

Meu estudo sobre o conteúdo dos candidatos na plataforma mostra que Bolsonaro tinha em janeiro 92% das menções em hashtags de vídeos publicados, em comparação a Lula. As citações cresceram após novembro do ano passado, quando Bolsonaro abriu uma conta oficial no TikTok.

A nova rodada de coletas ainda está em curso, mas percebemos uma reação de Lula nos últimos três meses. Isso se dá principalmente pelo uso de músicas favoráveis ao presidenciável.

As coletas ainda não identificaram se a chegada de Lula ao TikTok, em 20 de junho, já contribuiu para aumentar a visibilidade do petista nesse ecossistema digital. O que se sabe é que, por sete meses, Bolsonaro dominou as buscas sobre política e eleições.

Perfil oficial de Lula no TikTok
Perfil oficial de Lula no TikTok - Reprodução

Para além dos perfis oficiais, a preocupação agora é com o material feito por apoiadores. Apesar de a plataforma ter uma política de retirar conteúdos do ar, ainda é necessário uma maior fiscalização social em relação a difamações postadas por pessoas anônimas.

A criação de ferramentas de accountability envolvendo partidos, Justiça e sociedade também pode entrar em debate. Um post com mentiras e difamações tem custo alto para a democracia.

Quando se trata de viralização e memetização em vídeo, esse impacto é ainda maior. O potencial do TikTok para as campanhas políticas é imenso, e seu uso no Brasil parece ser um caminho sem volta. Cabe a nós, sociedade, avaliar como lidar com isso.

Deirdre Nansen McCloskey - Uma universidade deve discutir todos os lados, FSP

 Em junho, dei aula de marxismo. A Universidade de Austin, Texas, existe há apenas um ano, não tem prédios e possui poucos docentes, embora muitos milhares de docentes e estudantes tenham se candidatado para se envolver. Mas, temporariamente em Dallas, Texas, demos duas semanas de "Cursos Proibidos". O grande historiador Niall Ferguson deu um curso na semana antes de mim. Niall é a favor do imperialismo dos EUA. Eu, não. Na semana em que ensinei aos estudantes, muito inteligentes, sobre Marx —de quem hoje discordo totalmente, apesar de já ter sido mais ou menos marxista no passado—, Kathleen Stock, que discorda fortemente de mim sobre questões ligadas a transgêneros, deu um curso sobre feminismo radical. No ano passado, Kathleen deixou seu cargo na Universidade de Sussex, na Inglaterra —foi forçada a sair por estudantes mais ou menos esquerdistas que se opunham violentamente às suas posições anti-trans.


Em outras palavras, professores com visões opostas estavam dando cursos que as ortodoxias de esquerda ou direita em muitas universidades gostariam de proibir. É isso que a Universidade de Austin pretende continuar a fazer. Algumas pessoas talvez suponham que é o que qualquer universidade deveria fazer, isto é se queremos pós-graduandos capazes de pensar por si próprios. Mas as ortodoxias dominam muitos espaços, tanto no Brasil quanto nos EUA, Reino Unido e França.

O economista britânico John Maynard Keynes (1883-1946) - ©PrismaArchivo/Leemage/AFP


No Brasil, imagine uma pensadora liberal como eu dando um curso na USP sobre como o mercado é ótimo. No Chile, imagine uma marxista como já fui no passando dando um curso na Universidade Adolfo Ibañez, em Santiago, exaltando a ditadura do proletariado (alerta ao consumidor: tenho um diploma honorário da UAI).


Reconheço que meu pequeno curso sobre marxismo também deu destaque ao outro lado, o lado liberal. Descobrimos uma verdade interessante da história ideológica. No início do século 20, a evolução pessoal mais comum era de liberal a marxista ou keynesiano. Veja o próprio John Maynard Keynes.

No final do século 20, a evolução mais comum parte da esquerda e transita para o liberal ou conservador. Veja os casos do filósofo polonês Leszek Kolakowski, que começou comunista mas, por volta de 1950, deixou esse pensamento para trás, ou do romancista judeu ucraniano Vasily Grossman, que seguiu a mesma trajetória. Ou de Robert Nozick, filósofo americano de Harvard que deixou seu socialismo para trás por volta de 1965, ou ainda, descendo alguns níveis intelectuais, da economista e historiadora americana Deirdre McCloskey, que fez o mesmo.

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Universidades deveriam contratar pensadores tolerantes e de campos opostos. Hoje elas não o fazem.


Mariliz Pereira Jorge - Cartas de repúdio são ridículas, FSP

 


A única pessoa apta a escrever uma carta de repúdio a Jair Bolsonaro é o cantor Roberto Carlos. "Cala a boca, porra!" É o português que o presidente entende, a grosseria. Em show recente, o Rei perdeu a paciência com um fã e, com semblante sisudo, meteu-lhe um passa-fora. Não deixou dúvida de que o fulano havia passado dos limites e de que não toleraria aquele comportamento.

O cantor Roberto Carlos, que em show mandou um espectador inconveniente calar a boca - Ricardo Borges - 5.fev.22/Folhapress


É o problema de nossas instituições em relação ao presidente golpista: não deixarem dúvida, darem alguma demonstração de que funcionam. Sabemos que não, são apenas figurantes do golpe em andamento. Posam de indignadas, soltam manifestos recheados de palavras musculosas e retornam aos seus postos de observadores da morte da democracia. Sistema eleitoral atacado, membros do Judiciário difamados, abuso de poder, crime de lesa pátria, ameaças ao Estado democrático de Direito. Palavras, palavras, palavras.

Bolsonaro não é um desavisado sobre o rosário de crimes que tem cometido nos últimos anos e muito menos sobre violações graves ditas a uma plateia internacional. Ele só o faz porque sabe que não sofrerá consequências, além da avalanche de cartas de repúdio. Não só as cartas de amor são ridículas, como dizia Fernando Pessoa, as de repúdio são muito mais.

O presidente tentou fingir alguma civilidade em frente aos embaixadores estrangeiros, mas escorregou ainda no "brieNfing". Não há dúvidas de que queira melar as eleições. Já deu no The New York Times que vai repetir o roteiro golpista de Donald Trump. O mundo todo sabe que nosso país é uma piada e nossos políticos são um bando de zé ruelas, pendurados no escroto estatal, parte do judiciário está acovardada, outra parte, vendida, assim como os militares e o Itamaraty.

Ou as instituições falam a língua do presidente ou será o fim delas. Passou da hora de mandar um "cala boca, porra". Claro, tudo dentro das "quatro linhas da Constituição".