A única pessoa apta a escrever uma carta de repúdio a Jair Bolsonaro é o cantor Roberto Carlos. "Cala a boca, porra!" É o português que o presidente entende, a grosseria. Em show recente, o Rei perdeu a paciência com um fã e, com semblante sisudo, meteu-lhe um passa-fora. Não deixou dúvida de que o fulano havia passado dos limites e de que não toleraria aquele comportamento.
É o problema de nossas instituições em relação ao presidente golpista: não deixarem dúvida, darem alguma demonstração de que funcionam. Sabemos que não, são apenas figurantes do golpe em andamento. Posam de indignadas, soltam manifestos recheados de palavras musculosas e retornam aos seus postos de observadores da morte da democracia. Sistema eleitoral atacado, membros do Judiciário difamados, abuso de poder, crime de lesa pátria, ameaças ao Estado democrático de Direito. Palavras, palavras, palavras.
Bolsonaro não é um desavisado sobre o rosário de crimes que tem cometido nos últimos anos e muito menos sobre violações graves ditas a uma plateia internacional. Ele só o faz porque sabe que não sofrerá consequências, além da avalanche de cartas de repúdio. Não só as cartas de amor são ridículas, como dizia Fernando Pessoa, as de repúdio são muito mais.
O presidente tentou fingir alguma civilidade em frente aos embaixadores estrangeiros, mas escorregou ainda no "brieNfing". Não há dúvidas de que queira melar as eleições. Já deu no The New York Times que vai repetir o roteiro golpista de Donald Trump. O mundo todo sabe que nosso país é uma piada e nossos políticos são um bando de zé ruelas, pendurados no escroto estatal, parte do judiciário está acovardada, outra parte, vendida, assim como os militares e o Itamaraty.
Ou as instituições falam a língua do presidente ou será o fim delas. Passou da hora de mandar um "cala boca, porra". Claro, tudo dentro das "quatro linhas da Constituição".
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