Em junho, dei aula de marxismo. A Universidade de Austin, Texas, existe há apenas um ano, não tem prédios e possui poucos docentes, embora muitos milhares de docentes e estudantes tenham se candidatado para se envolver. Mas, temporariamente em Dallas, Texas, demos duas semanas de "Cursos Proibidos". O grande historiador Niall Ferguson deu um curso na semana antes de mim. Niall é a favor do imperialismo dos EUA. Eu, não. Na semana em que ensinei aos estudantes, muito inteligentes, sobre Marx —de quem hoje discordo totalmente, apesar de já ter sido mais ou menos marxista no passado—, Kathleen Stock, que discorda fortemente de mim sobre questões ligadas a transgêneros, deu um curso sobre feminismo radical. No ano passado, Kathleen deixou seu cargo na Universidade de Sussex, na Inglaterra —foi forçada a sair por estudantes mais ou menos esquerdistas que se opunham violentamente às suas posições anti-trans.
Em outras palavras, professores com visões opostas estavam dando cursos que as ortodoxias de esquerda ou direita em muitas universidades gostariam de proibir. É isso que a Universidade de Austin pretende continuar a fazer. Algumas pessoas talvez suponham que é o que qualquer universidade deveria fazer, isto é se queremos pós-graduandos capazes de pensar por si próprios. Mas as ortodoxias dominam muitos espaços, tanto no Brasil quanto nos EUA, Reino Unido e França.
No Brasil, imagine uma pensadora liberal como eu dando um curso na USP sobre como o mercado é ótimo. No Chile, imagine uma marxista como já fui no passando dando um curso na Universidade Adolfo Ibañez, em Santiago, exaltando a ditadura do proletariado (alerta ao consumidor: tenho um diploma honorário da UAI).
Reconheço que meu pequeno curso sobre marxismo também deu destaque ao outro lado, o lado liberal. Descobrimos uma verdade interessante da história ideológica. No início do século 20, a evolução pessoal mais comum era de liberal a marxista ou keynesiano. Veja o próprio John Maynard Keynes.
No final do século 20, a evolução mais comum parte da esquerda e transita para o liberal ou conservador. Veja os casos do filósofo polonês Leszek Kolakowski, que começou comunista mas, por volta de 1950, deixou esse pensamento para trás, ou do romancista judeu ucraniano Vasily Grossman, que seguiu a mesma trajetória. Ou de Robert Nozick, filósofo americano de Harvard que deixou seu socialismo para trás por volta de 1965, ou ainda, descendo alguns níveis intelectuais, da economista e historiadora americana Deirdre McCloskey, que fez o mesmo.
Universidades deveriam contratar pensadores tolerantes e de campos opostos. Hoje elas não o fazem.
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