Você lembra que Hamilton Mourão era o Mozão? Foi no início do governo, quando ele, em público e sobretudo no trato com a imprensa, assumiu ares de homem cordial e ganhou o apelido que desfazia a imagem de general linha-dura. O candidato a vice-presidente —que antes falava em "autogolpe" para evitar a "anarquia generalizada"— passou a representar o poder moderador, a sombra de um estadista preocupado com os destinos do país, garantia de que a presença do Exército no Palácio do Planalto iria conter a natureza autoritária de Bolsonaro. Era uma farsa. Quem acreditou nela dorme todos os dias com a ameaça do golpe batendo à porta.
O que Mourão diz hoje, quando de novo é candidato (irá disputar uma vaga no Senado pelo Rio Grande do Sul), mostra quem é o verdadeiro Mozão. Só seus cabelos negros como a asa da graúna não mudaram.
Sua atuação era digna de aplausos. Se durante a pandemia, o presidente exibia a carantonha limpa, o vice cobria o rosto com a máscara do Flamengo, democrático, povão. O general se apresentava como alguém dotado de cérebro. Se Bolsonaro dizia que "o nazismo era um movimento de esquerda", ele rebatia: "De esquerda era o comunismo". Homem sem ódios ou ressentimentos, tirou uma foto sorrindo ao lado de FHC nos EUA, para provocar o atrito ensaiado com a chamada ala ideológica. O filho 02 disse que Mourão queria derrubar o pai, e o deputado Marco Feliciano chegou a entrar com pedido de impeachment contra ele.
São uns artistas. Quando presidia o Clube Militar e tramava com seus pares entrar para a política aproveitando a onda bolsonarista, Mourão já exaltava o Golpe de 64 e o coronel Brilhante Ustra. Não surpreende que faça piada com tortura.
"Eu não posso usar meu Viagra, pô?" Nem no Posto Seis de Copacabana, onde se reúnem os generais de pijama para jogar dama, a frase teria graça. Bolsonaro e Mourão governam o Brasil no modo esculacho.