Carlos Rocha
A Petrobras deve aproveitar a alta da demanda no mercado por energias renováveis para se transformar em uma empresa de energia do futuro, liderando o desenvolvimento do Brasil com crescimento sustentável e inclusivo. Ao priorizar a geração de energia limpa nos novos investimentos, a empresa se alinhará à transformação em curso nas políticas de baixo carbono e net zero (neutralidade de carbono) no mundo e retribuirá à sociedade o grande investimento feito na empresa pelos brasileiros.
Apesar das crescentes pressões pela redução da produção de combustíveis fósseis no planeta, o plano estratégico da Petrobras para os próximos cinco anos manteve a decisão de não investir em projetos de geração de energia renovável, ignorando a sinalização da COP26 (Conferência do Clima da ONU) para a indústria de óleo e gás.
O novo presidente da companhia, que vai conduzir uma das maiores empresas globais, deveria acompanhar os seus colegas europeus que já assumiram o compromisso com a transição para energias limpas. A demanda global por eletricidade deve aumentar mais rapidamente do que a de energia nos próximos anos. De acordo com o Cenário de Desenvolvimento Sustentável da Agência Internacional de Energia (IEA), as energias renováveis representarão mais de 35% da matriz energética mundial em 2040.
Grandes nomes do setor, como BP, Total, Eni, Equinor, Repsol e outros, estão evoluindo do perfil de grande empresa de petróleo e gás para o de empresa sustentável de energia, com investimentos crescentes na geração de fontes renováveis. Essas promessas ambiciosas de mudança devem reduzir os resultados gerados com petróleo para passar a ganhar dinheiro com sol, vento e hidrogênio verde. O valor de mercado de uma companhia sustentável será superior ao da empresa de óleo e gás do passado, gerando um retorno melhor aos acionistas e consumidores.
Recursos significativos vêm sendo dedicados a essa mudança estratégica em direção às energias renováveis. A BP vai desenvolver 20 GW de capacidade renovável até 2025 e 50 GW até 2030. A Total Energies quer atingir 100 GW de capacidade de geração de energia renovável até 2030, com energia solar e eólica em todo o mundo. A Eni planeja ter 25 GW em 2035 e superar 55 GW em 2050. A Equinor alcançará até 6 GW em 2026 e até 16 GW em 2035. Por fim, a Repsol tem como objetivo 7,5 GW até 2025 e 15 GW até 2030.
Durante a COP26, o governo brasileiro se comprometeu com a redução de 50% das emissões de gases associados ao efeito estufa até 2030 e a neutralização das emissões de carbono até 2050. As sociedades, os investidores e os governos estão, cada vez mais, preocupados com as mudanças climáticas e pedindo uma transformação total da economia global, que atualmente depende de combustíveis fósseis para 80% de sua energia. Tal transformação global causará estragos na lucratividade das empresas de petróleo que ignorarem a mudança.
Na contramão da evolução mundial e do compromisso do Brasil em se tornar um país net zero, o Plano Decenal de Energia 2031, aprovado pelo Ministério de Minas e Energia, mostra que a contratação obrigatória de 8 GW de geração termelétrica, definida pelo Congresso na lei de privatização da Eletrobras, vai prejudicar a expansão no país de fontes renováveis de energia, como eólica e solar, aumentar as emissões de carbono e elevar o custo da energia para consumidores e empresas.
De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), as políticas atuais levarão à "substituição de parte da expansão indicativa de eólicas e solares centralizadas por termelétricas com geração compulsória movidas a gás natural, carvão mineral e nuclear". O aumento dos investimentos em transmissão de energia elétrica poderá substituir a maior parte da geração termelétrica por energias renováveis.
A Petrobras deve retribuir ao país o grande investimento feito na empresa pelos brasileiros, que consomem combustíveis de origem fóssil todos os dias, e investir em energia limpa para construir um Brasil melhor para toda a sociedade.