terça-feira, 19 de janeiro de 2021

MARCO FELICIANO Eu sou você amanhã, FSP

 

Bolsonaro acerta ao liderar ampla coalizão de centro-direita no Congresso

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Marco Feliciano

Deputado federal (Republicanos-SP), vice-líder do governo no Congresso, presidente da Comissão de Desenvolvimento Urbano e pastor evangélico

Começo este artigo com algumas considerações. A primeira delas é sociológica. Sendo o maior objetivo de qualquer governo a estabilidade —razão da própria invenção do Estado—, bem certo é que a baderna só interessa à oposição.

A segunda meditação é filosófica: o valor do equilíbrio. Já dizia Aristóteles que a virtude está no centro. E o apóstolo Paulo, em sua segunda epístola a Timóteo, afirma àquele que estava ensinando a ser um dos governantes da igreja: “Seja moderado em tudo”.

A terceira premissa é jurídico-política: a democracia prescrita pela nossa Carta Magna é o regime das maiorias, da tripartição dos Poderes, dos freios e contrapesos, do “rule of law”. Dito isso, negociar para formar a maioria que não se tem é um fato que se impõe a um governo que pretenda implementar seu programa.

Por fim, o quarto postulado é de natureza histórica: a trajetória dos grandes líderes mundiais ensina que a forma de conquista do poder é diferente de como se o exercita. Explico. É natural que a postura do candidato em uma eleição seja incisiva e, dentro do contexto da administração, o já então governante seja mais tolerante. Principalmente no caso brasileiro, onde o presidente da República é, simultaneamente, o chefe do governo da maioria e o chefe de Estado de todos. É a “realpolitik”, que privilegia o pragmatismo em detrimento das exacerbações ideológicas.

Richard Nixon foi à China. Ronald Reagan financiou extremistas muçulmanos contra a União Soviética. João Paulo 2º, com o apoio de Margaret Thatcher, se uniu ao sindicalista Lech Walesa para rasgar a cortina de ferro. Se esses líderes conservadores seguissem a “cartilha” à risca, a Ásia e metade da Europa ainda estariam sob as garras do comunismo e o “império do mal” (como Reagan chamava a União Soviética) estaria de pé.

De fato, ideologias são excelentes para formar maiorias circunstanciais em eleições, construir plataformas de governo e dar um norte ao governante. Mas, muitas vezes, podem não ser as melhores conselheiras na hora de administrar o Estado e de executar tais programas.

Enfim, as evidências aqui referidas explicam a sensata atitude do presidente Jair Bolsonaro em liderar a formação de uma ampla coalização congressual de centro-direita, a fim de concretizar o programa liberal-conservador que o povo elegeu em 2018. E o tempo urge, pois nos últimos dez anos a única coisa que este país não teve foi estabilidade, essencial para o desenvolvimento.

Foi a década da montanha-russa: a roubalheira lulopetista; a administração ruinosa de Dilma Rousseff (PT), com queda de PIB acumulada maior do que na pandemia; e um procurador-geral da República com ares de Nero, que fez o Congresso votar duas denúncias contra um presidente em menos de 90 dias. E, se isso tudo fosse pouco, quando retomávamos o rumo do crescimento após realizarmos a maior reforma previdenciária do mundo (parceria do governo Bolsonaro com o Parlamento), veio o coronavírus.

Daí a responsabilidade do nosso governo de liderar as reformas estruturantes: administrativa, tributária, federativa, desvinculação das receitas, privatizações, autonomia do Banco Central etc. Em suma, destravar a agenda das reformas encapsulada pela ambição desmedida de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e de seu grupo —que, para se manterem no poder, fizeram acordos com uma oposição que é vanguarda do atraso e manifestamente contrária às reformas.

Bem sabemos que não existe almoço grátis. A fatura da esquerda vai chegar. Por isso, derrotar a candidatura inerentemente antirreformista de Baleia Rossi (MDB-SP) é uma prioridade nacional, pois só assim avançaremos nas reformas e impediremos o avanço da agenda de estatização e a perversão dos costumes exigida pela esquerda.

É por isso que relevo quando meus seguidores nas redes sociais acusam o governo de perder sua identidade. Tenho a ética da responsabilidade. Sei que estamos fazendo política para colocar o projeto em pé. E não temos o direito de errar, pois a volta da esquerda é sempre uma ameaça.

Vejam o exemplo da Argentina kirchnerista, que tomou o caminho estatizante da Venezuela e acaba de aprovar a legalização do aborto. Lembram-se do legendário “efeito Orloff”? Não quero nenhum liberal ou conservador argentino falando para 

Guilherme Boulos Doria estadista?, FSP

 

A aprovação das vacinas pela Anvisa foi uma vitória da ciência contra o atraso. Vitória coletiva das instituições públicas de pesquisa, representadas pelo Butantan e pela Fiocruz. Vitória do SUS, representado por 12 mil profissionais de saúde que participaram dos testes.

É verdade que tivemos um início tardio. A enfermeira Monica recebeu sua dose quando 35 milhões de pessoas já estavam imunizadas em 57 países. Numa situação única no mundo, o governo foi o principal adversário da vacinação. Bolsonaro se associou ao vírus em campanha pela morte. A única vacina contra o mal que ele causa é o impeachment. Foi tão longe que permitiu a João Doria vender uma imagem de governante sensato, quase um estadista.

A enfermeira Monica Calazans, primeira brasileira a ser vacinada pela Coronavac, no HC, em São Paulo - Eduardo Anizelli/Folhapress

Nunca tive problemas para reconhecer méritos em adversários políticos. Doria teve um papel importante na defesa da vacina, em contraponto ao negacionismo. Mas uma sociedade sem memória perde seus pontos de referência. Nunca é demais lembrar o verão passado. Aliás nem precisamos ir tão longe. Há três meses, em plena pandemia, ele propôs cortar 30% do orçamento da Fapesp, principal órgão estadual de fomento à pesquisa científica. Pouco antes, no PL 529, propôs o confisco do fundo de reserva das universidades públicas. Defesa da ciência?

O Doria que, no domingo, fez discurso emocionado em defesa da vida é o mesmo que na campanha de 2018 disse que "a polícia vai atirar para matar" e que, já como governador, parabenizou policiais por uma ação com 11 mortos em Guararema. O mesmo que vetou leis que previam uma política de combate à tortura e o funcionamento 24h das delegacias da mulher. Defesa da vida?

Se recuperarmos sua atuação na prefeitura, podemos lembrar da farinata, composto de alimentos próximos ao prazo de validade que ele quis distribuir na merenda escolar. Na época, Doria chamou a ração de "produto abençoado". Foi ainda na sua gestão que houve a acusação de que agentes municipais jogaram jatos de água em moradores de rua. Os mesmos sem-teto que ficaram à própria sorte em toda pandemia e não estão incluídos nas primeiras etapas do cronograma de vacinação estadual, apesar da completa vulnerabilidade ao vírus por não poderem "ficar em casa". Infelizmente, não existe vacina contra a desumanidade.

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Estamos todos aliviados com o início da vacinação, e não estou entre aqueles que acham que devemos escolher quem pode ou não estar junto na luta contra Bolsonaro. Mas reconhecer a curvatura da Terra não basta para tornar alguém um estadista nem apaga sua história. É essa miséria de perspectivas que nos ajudou a chegar até aqui. O Brasil pode muito mais.

Guilherme Boulos

Professor, militante do MTST e do PSOL. Foi candidato à Presidência da República e à Prefeitura de São Paulo.