sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Morre, aos 73 anos, o pediatra e toxicologista da USP Anthony Wong, OESP

 Redação, O Estado de S.Paulo

15 de janeiro de 2021 | 22h35

SÃO PAULO - O pediatra, toxicologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Anthony Wong morreu nesta sexta-feira, 15, em São Paulo, após sofrer uma parada cardiorrespiratória. 

Wong tinha 73 anos e estava internado no Hospital Sancta Maggiore desde dezembro. Em nota, a família informou que ele foi hospitalizado com queda de pressão e mal-estar e diagnosticado com úlcera gástrica e hemorragia digestiva. "Durante a internação, evoluiu com quadro de descompensação do padrão cardíaco e padrões de fibrilação atrial", diz a nota.

O médico pediatra e toxicologista Anthony Wong
O médico pediatra e toxicologista Anthony Wong Foto: Reprodução/ Trata Brasil

Especialista renomado, com quase 50 anos de carreira, Wong se envolveu em polêmicas durante a pandemia por defender o uso de hidroxicloroquina para covid - medicamento que já se mostrou ineficaz contra a doença - e criticar o isolamento social. Ele também propagou informações falsas sobre vacinas.

Formado pela Universidade de São Paulo em 1972, ele atuava desde 1976 como médico-chefe do Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) do Instituto da Criança e do Adolescente, vinculado ao Hospital das Clínicas da FMUSP.

O HC divulgou nota na noite desta sexta lamentando "profundamente" o falecimento e prestando solidariedade aos familiares e amigos do médico.

O que eleições têm a ver com desmatamento? Patricia Ruggiero, Nexo Políticas Públicas

 

O que eleições têm a ver com desmatamento?

Patricia Ruggiero
Estudo do Departamento de Ecologia da USP mostra que corte de florestas em municípios da Mata Atlântica foi maior em anos eleitorais. Mecanismos que ligam eventos são objetos de investigação

O avanço do desmatamento de florestas no Brasil e no mundo sempre foi associado a múltiplos fatores, principalmente econômicos, que, mesmo remotamente, afetam o aumento da extração de madeira, a expansão de fronteiras agrícolas e o crescimento da infraestrutura urbana e de transportes em áreas de florestas 1.

Evidentemente, a implementação de políticas relacionadas ao uso da terra e ao incentivo ou combate ao desmatamento podem influenciar diretamente a manutenção ou a supressão da vegetação nativa. No entanto, um fator que se mostra de extrema relevância foi deixado de lado pelos pesquisadores durante praticamente meio século de estudos.

Distante destes estudos sobre desmatamento, em uma área da ciência denominada economia política, pesquisadores debatem há várias décadas como políticos respondem aos estímulos que são criados pelos ciclos eleitorais nos países democráticos.

Quase sempre, ser eleito ou eleita é uma condição necessária na democracia para assumir o comando da gestão pública. Políticos precisam ganhar apoios diversos que possam se transformar em votos no dia da eleição e, nesse dia, o eleitor se recorda mais vivamente do que aconteceu recentemente e tende a se esquecer dos eventos mais distantes no tempo.

O amadurecimento dos processos democráticos e a oferta de dados acessíveis que tornam o eleitor mais informado são fatores que podem coibir esses comportamentos oportunistas e diminuir a amplitude desses ciclos eleitorais

Essa dinâmica cria um movimento cíclico no qual as medidas mais impopulares são adotadas no início dos mandatos, enquanto medidas que agradam tendem a aumentar conforme as eleições se aproximam, especialmente quando o gestor em ofício tenta a reeleição 2 . Há fartas evidências na literatura de que instrumentos de política econômica e social, como a política fiscal do governo, são intensamente manipulados em resposta aos estímulos criados nesses ciclos eleitorais 2 4.

Ao acessarmos uma base nacional de dados sobre uso da terra – o Projeto Mapbiomas 5, que mapeia a cobertura do solo em uma série temporal inédita de mais de 30 anos –, desconfiamos de um padrão cíclico de desmatamento e passamos a investigar 2.277 municípios da Mata Atlântica entre 1991 e 2014. Será que anos de eleição e desmatamento podem estar relacionados?

A resposta é sim. Observamos a existência de ciclos eleitorais de desmatamento na Mata Atlântica brasileira 6, apesar de esse bioma ter uma das legislações florestais mais rigorosas do mundo e governança florestal bem estruturada (isto é, órgãos e instrumentos de governo que decidem, monitoram e agem sobre o uso das florestas nos estados).

Os anos de eleições federais-estaduais e municipais mostraram um aumento significativo da perda de florestas, particularmente maior entre os municípios que estavam sob média ou grande pressão de desmatamento. Alguns desses locais chegaram a perder 0,25% a mais da sua área de floresta em anos de eleições federais-estaduais quando comparados com anos não eleitorais. Nos anos de eleições municipais, as proporções de florestas perdidas por município foram menores.

Os dados observados em hectares tampouco nos permitem ignorar eventos eleitorais municipais. Em hectares, entre 1991 e 2014, a região da Mata Atlântica sofreu maiores perdas de florestas durante eleições municipais: em média 4.438 hectares a mais de florestas perdidas, contra 3.605 hectares em ano de eleição federal-estadual. Seja em valores absolutos ou em frações remanescentes de vegetação, a cada dois anos, quando ocorreram eleições, a Mata Atlântica testemunhou uma perda significativa adicional de suas florestas.

Olhando para esse efeito, evidenciamos um fenômeno ainda mais novo: o alinhamento político entre diferentes níveis de governo intensifica a perda de florestas durante as eleições. Nesse caso, quando o partido que concorre à reeleição no plano estadual pertence à coligação que concorre à reeleição no plano federal, e quando o partido que concorre à reeleição no município pertence ao mesmo partido do governador do estado, o efeito das eleições sobre o desmatamento se acentua.

A ligação entre desmatamento e ciclos eleitorais também foi demonstrada na Indonésia, onde gestores locais permitiram mais desmatamento nos momentos que antecederam as eleições 7, e recentemente na Amazônia, onde o desmatamento subiu entre 8% e 10% nos municípios nos quais o prefeito concorreu à reeleição entre os anos de 2000 e 2012 8. Vale ressaltar que Indonésia e Brasil são os dois países que mais contribuíram para as emissões de CO2 provenientes de desmatamento, tendo sido responsáveis pela liberação de 55% do carbono proveniente das florestas tropicais entre 2000 e 2005 9.

Estamos reunindo claras evidências da relação entre ciclos eleitorais e desmatamento, mas os mecanismos que ligam esses dois eventos ainda são objeto de investigação. Algumas das hipóteses que podemos levantar para a relação incluem aumento de crédito em anos eleitorais para setores que desmatam, aumento de licenças para desmatamento, redução da fiscalização ou até mesmo a alteração da percepção, por parte de quem desmata, sobre a possibilidade de ser punido em época de eleições.

A boa notícia é que este fenômeno não é homogêneo ao longo do tempo, e eleições no passado causaram mais desmatamento do que eleições mais recentes. O amadurecimento dos processos democráticos e a oferta de dados acessíveis que tornam o eleitor mais informado são fatores que podem coibir esses comportamentos oportunistas e diminuir a amplitude desses ciclos eleitorais 3.

Mas vale lembrar que o período observado em nosso estudo considerou os ciclos eleitorais até 2014, e não sabemos quais são os resultados após essa data. Não há garantia de que a democracia caminhe sempre na mesma direção: pode haver idas e voltas. Retrocessos institucionais e nas vias democráticas seguramente podem alterar esse cenário e ampliar o efeito dos ciclos de eleições sobre as florestas. Como escreveu Carlos Drummond de Andrade, “uma eleição é feita para corrigir o erro da eleição anterior, mesmo que o agrave” 10.

Se, por um lado, existe um grande esforço e evidentes limitações para a implementação bem-sucedida de novos mecanismos de conservação das áreas de florestas, por outro lado é preocupante que esses ganhos possam ser anulados por perdas decorrentes de processos eleitorais, mesmo na vigência de uma das legislações mais rígidas sobre florestas tropicais do mundo. No fim das contas, não podemos esquecer o impacto que decisões políticas podem ter sobre os recursos naturais. Em ano de eleição, temos que abrir ainda mais os olhos.

BIBLIOGRAFIA

H. J. Geist, E. F. Lambin, Proximate Causes and Underlying Driving Forces of Tropical Deforestation. Bioscience. 52, 143–150 (2002).

W. D. Nordhaus, The political business cycle. Rev. Econ. Stud. 42, 169–190 (1975).

Patricia Ruggiero é bióloga, mestre e doutora em ecologia pelo Departamento de Ecologia da Universidade de São Paulo (IB/USP). Tem especialização em Política e Relações Internacionais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e foi pesquisadora visitante na Sanford School of Public Policy da Duke University, EUA. Entre o mestrado e o doutorado, trabalhou 14 anos na área ambiental, nos setores privado, governamental e no terceiro setor. Atualmente, é pesquisadora pós-doutoranda no Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (FEA/USP) investigando o efeito de políticas públicas e dos ciclos eleitorais sobre a vegetação nativa brasileira.

Algumas informações sobre o anúncio de fechamento da Ford , Boletim Dieese

 NOTA À IMPRENSA 

Algumas informações sobre  

o anúncio de fechamento da Ford 

A Ford iniciou suas atividades nos Estados Unidos, em 1903 e foi a primeira indústria  automobilística a instalar-se no Brasil, em 1919. Foram as seguintes as unidades nas quais a  empresa opera ou operou no país: 

Camaçari, BA (inaugurada em 2001)  

fábrica de veículos e motores (fechamento anunciado em janeiro de 2021) Centro de Desenvolvimento de Produtos (continua em funcionamento) 

Horizonte, CE (inaugurada em 1995; reinaugurada em 2014 e com fechamento previsto  para o terceiro trimestre de 2021): 

produção de veículos da Troller; 

Tatuí, SP (inaugurada em 1978) 

campo de provas (continua em funcionamento) 

Taubaté, SP (inaugurada em 1975):  

fábrica de motores e transmissão (fechamento anunciado em janeiro de 2021) São Bernardo do Campo, SP (inaugurada em 1968):  

fábrica de veículos (fechada em 2019); 

São Paulo, SP (inaugurada em 1953):  

sede administrativa e antiga fábrica de caminhões (fechada em 2000). 

Em 2020, a Ford licenciou 139.897 veículos (sendo 119.454 automóveis, 19.864 comerciais  leves e 579 caminhões), o que representou 6,8% do total de veículos licenciados no Brasil nesse ano.  Desse total, 84% foram produzidos no Brasil (consultoria Bright). Em 1998, a empresa detinha  7,9% da produção nacional.  

A Ford anunciou, em 11 de janeiro de 2021, que irá encerrar suas atividades produtivas no  Brasil, mantendo no país apenas a sede administrativa da América do Sul, o Centro de  Desenvolvimento de Produto e o Campo de Provas. Segundo a empresa, o cenário nacional, 

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incluindo a crise sanitária, e a necessidade de melhorar indicadores de balanço ligados à produção  são o que orientam essa decisão.  

A produção será encerrada imediatamente em Camaçari, onde será mantido apenas o Centro de  Desenvolvimento de Produtos, e em Taubaté, onde terá continuidade, por alguns meses, a  fabricação de peças para garantir a disponibilidade dos estoques de pós-venda. As vendas dos  automóveis da marca Ford no Brasil (EcoSport, Ka e T4) serão encerradas assim que terminarem os  estoques. A fábrica da Troller, em Horizonte (CE), continuará operando até o quarto trimestre de  2021.  

As operações de manufatura na Argentina e no Uruguai e as organizações de vendas em outros  mercados da América do Sul não serão impactadas, o que significa que o fornecimento de veículos  Ford para o Brasil será abastecido por meio de importação, especialmente da Argentina e Uruguai. 

Apesar de o comunicado oficial sobre o fechamento da empresa registrar que “a empresa irá  trabalhar imediatamente em estreita colaboração com os sindicatos e outros parceiros no  desenvolvimento de um plano justo e equilibrado para minimizar os impactos do encerramento da  produção” e “trabalharemos intensamente com os sindicatos, nossos funcionários e outros  parceiros para desenvolver medidas que ajudem a enfrentar o difícil impacto desse anúncio”, os  trabalhadores já foram comunicados que a partir de 12 de janeiro de 2021 estão dispensados do  trabalho, tendo, inclusive, sido suspensos os ônibus que os transportam para as unidades fabris. 

Essa notícia chega em um contexto de crise política e econômica, que se instalou no Brasil  desde 2014 e atingiu de forma dramática o mercado de trabalho, com a duplicação da taxa de  desemprego entre o final daquele ano e o início de 2017. Desde então, os níveis de desemprego  mantiveram-se em patamares bastante elevados e se agravaram em função da crise sanitária. Ao  longo do ano de 2020, a taxa de desemprego saltou de 11% para 14,3% (outubro/2020). São 14  milhões de desempregados que se somam a 34,4 milhões de trabalhadores sem carteira de trabalho  assinada e na informalidade.  

O setor automotivo chegou a ter, em outubro de 20131, 159.648 trabalhadores diretamente  vinculados à indústria automotiva, sendo 137.775 na produção de autoveículos e 21.873 em  máquinas agrícolas e material rodoviário. Em dezembro de 2020, foram registrados 120.538  trabalhadores diretos (104.428 na produção de autoveículos e 17.740 na produção de máquinas  agrícolas e material rodoviário), o que corresponde a uma queda de 24,5% no período. 

Em 1980, a Ford tinha 21.800 trabalhadores e uma produção nacional de 165.500 unidades/ano.  Em 1990, tinha 17.578 trabalhadores e, em 1999, 9.153. Atualmente, a Ford possui 4.604 mil  trabalhadores diretos na unidade de Camaçari (BA); 830, na unidade de Taubaté (SP) e 470, na  fábrica dos jipes Troller, em Horizonte (CE). O número total de trabalhadores diretos da empresa é  

  

1 Conforme informações disponibilizadas pela Anfavea, esse é o nível mais alto atingido desde janeiro de 1983.

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de 6.171, sendo que 5.000 serão demitidos. Além desse número, serão também impactados  trabalhadores das sistemistas, das terceirizadas e de toda a cadeia produtiva.  

As 5.000 demissões anunciadas pela Ford significam uma perda potencial de mais de  118.864 mil postos de trabalho, somando diretos, indiretos e induzidos. Essas demissões podem  resultar em perda potencial de massa salarial da ordem de R$ 2,5 bilhões/ano, considerando-se os  empregos diretos e indiretos. Além disso, haverá queda de arrecadação de tributos e contribuições  em torno de R$ 3 bilhões/ano. Cada R$ 1,00 gasto na indústria automobilística acrescenta R$ 1,40  no Valor Adicionado da economia (DIEESE2). 

Algumas considerações sobre o anúncio de fechamento da Ford 

As montadoras passam por uma reestruturação mundial orientada por alguns elementos: 1)  alterações regionais na demanda; 2) reorientação no padrão de consumo; e 3) mudanças no  paradigma tecnológico. Segundo o professor da Unicamp, Marco Rocha, a mudança no perfil da  demanda se configura a partir de um mercado europeu estagnado e do crescimento de mercados  emergentes, como Índia e China. Além disso, salienta que as montadoras precisaram reorientar suas  estratégias globais, a partir da perda de competitividade em mercados mais dinâmicos. Em um  contexto de reorganização produtiva, com maior foco em investimentos tecnológicos, a economia  brasileira torna-se pouco atrativa para as montadoras. Portanto, a crise industrial brasileira é  profunda e vai muito além da política macroeconômica.  

As demissões no segmento automotivo são anteriores à pandemia, como o caso emblemático  da planta da Ford em São Bernardo do Campo, ocorrido em março de 2019, dentre outros exemplos.  Porém, para além das estratégias globais das montadoras, é necessário compreender que o país  possuía, até 2017, um programa de fomento ao segmento automotivo, denominado Inovar-Auto,  cujos objetivos eram incentivar montadoras a investirem em pesquisa, engenharia e  desenvolvimento, bem como fortalecer os fornecedores, através de uma política de conteúdo local,  em que até 80% dos veículos fabricados pelas empresas habilitadas no programa deveriam realizar  uma série de etapas da atividade produtiva no Brasil.  

Também foram adotados, por muitos anos, incentivos fiscais para a indústria automobilística,  com créditos para financiar seus investimentos. A Ford, por exemplo, está entre as quatro  montadoras mais contempladas por recursos do BNDES em período recente. Entre 2002 e 2018, a  Ford teve acesso a R$ 5,5 bilhões de crédito. Entre 2016 e 2019, o setor automotivo como um todo  foi contemplado com incentivos tributários federais no montante de R$ 15,4 bilhões, além da  política de desoneração da folha de pagamentos. 

  

2 DIEESE, a partir da Matriz Insumo Produto, atualizada para o ano de 2017. 

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A Ford em Camaçari, BA, também foi beneficiada pelo programa instituído no estado para  atração do setor automobilístico, chamado Proauto-Bahia (1994-2004). Esse programa previa: 

Redução de 100% do imposto de importação sobre bens de capital, 90% sobre insumos  e até 50% sobre importação de veículos; 

Redução de 45% do IPI na aquisição de insumos; 

Isenção de frete para renovação da marinha mercante; 

Isenção de IOF nas operações de câmbio para pagamento de bens importados; 

Isenção de imposto de renda sobre os lucros, crédito presumido de IPI como o  ressarcimento de contribuições como o PIS e a COFINS. 

Ainda sobre as políticas de incentivo ao setor, segundo a Secretaria da Receita Federal, os  gastos tributários do setor automobilístico passaram de R$ 2,81 bilhões em 2011 para R$ 6,45  bilhões em 2020. As políticas de incentivo ao setor garantiram sua expansão, geração de emprego e  desenvolvimento, no entanto, a falta de regras mais claras relacionadas à possíveis contrapartidas  podem ser empecilhos nesse momento de negociação para manutenção da produção de empresas o  setor em território nacional.  

GRÁFICO 1 

Gastos tributários do setor automotivo 

Em R$ bilhões, a preço de dezembro de 2020 

Fonte: Secretaria da Receita Federal. Elaboração: Subseção DIEESE/SMABC, 2021

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As matrizes das montadoras têm indicado alterações profundas em seus modelos de negócios  ao longo dos anos e as decisões empresariais resultam da análise de uma série de fatores, sendo um  deles o ambiente econômico. Outro elemento fundamental para essa tomada de decisões é política  industrial para o setor automotivo, que, no caso do Brasil está totalmente ausente. O governo  brasileiro não apresentou qualquer ideia, proposta ou sinalização de interesse na transição das  montadoras para a economia de baixo carbono. Eletromobilidade entrou como apêndice no debate  do Rota 2030, por pressão dos sindicatos, mas não avançou pelo desinteresse das montadoras e do  governo federal. Com isso, o país vai perder a próxima onda de investimentos dessa transição  estrutural que vai atravessar as próximas duas décadas. 

A crise do setor automotivo está inserida na crise geral da indústria brasileira, que vem  perdendo posição em relação aos demais países centrais. Segundo dados da Unido, em 2018, o  Brasil ocupava a 9ª posição no valor adicionado da indústria de transformação (VAT) mundial e,  em 2018, caiu para a 16ª posição3. O fechamento de empresas no Brasil já vem ocorrendo, a  exemplo da Sony; da planta da Mercedes Benz em Iracemápolís/SP, com anúncio de encerramento  das atividades em 20204, assim como a abertura de plano de demissão voluntária da Volkswagen na  planta de Taubaté, divulgado nesta semana5. Portanto, a lógica de redução de custos do trabalho,  além de não gerar mais emprego, conforme o DIEESE já apontou em inúmeros estudos, não garante  mais investimentos e manutenção dessas empresas no país.  

Além disso, o compromisso do governo central, em momentos de crise, deve ser proteger  cidadãos, empresas e sua economia. Não é o que se vê desde a chegada da pandemia, quando se  aprofundou a crise econômica. O que se observa é o fechamento de empresas, aumento do  desemprego, queda da renda das pessoas, aumento da pobreza e da pobreza extrema, desigualdades,  fome, miséria e queda da arrecadação pública. O governo central possui mecanismos de política  econômica e social para atenuar crises, amparando a população que perde o emprego, seja através  do gasto direto de recursos com as pessoas (auxílio emergencial), seja dando suporte às empresas  através de empréstimos a juros baixos e prazos mais longos. A crise sanitária também não foi  controlada e, diferentemente de outros países, ainda não há um plano de vacinação detalhado, item  fundamental para retomada da economia e geração de empregos.  

Apesar das questões que envolvem esse anúncio não serem exclusivamente relacionadas à  crise econômica atual no Brasil, mas também relacionadas às mudanças que ocorrem nesse setor  mundialmente, o governo federal poderia atuar de modo mais contundente para preservar o setor  industrial e os empregos. O movimento sindical tem apresentado propostas para reindustrialização e  qualificação das cadeias produtivas, com sustentabilidade ambiental e desenvolvimento regional,  além de empregos de qualidade.  

  

3 https://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_1032.html 

4 https://noticias.r7.com/prisma/autos-carros/mercedes-benz-fecha-portas-da-fabrica-em-iracemapolis-17122020 5https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2021/01/11/volkswagen-abre-plano-de-demissao-voluntaria-na-fa brica-de-taubate-sp.ghtml

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