segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Pandemia turbina fuga das cidades e influencers vendem novo lifestyle rústico-chique. FSP

 Quando notou que gastava R$ 2.000 por ano em couve orgânica, Luísa Matsushita começou a repensar sua vida em São Paulo. Pouco tempo depois, em meados de 2017, a artista plástica e vocalista da banda Cansei de Ser Sexy vendeu seu apartamento de 98 metros quadrados em Higienópolis e se mudou para um pequeno barraco que ela mesmo construiu numa região cercada por ruas de terra em Garopaba, Santa Catarina.

“Um vizinho meu é um cavalo, e o outro são várias vacas, um cavalo e umas galinhas. Eu nunca imaginei que seria essa pessoa que acorda às 5h30 e vai surfar. Eu não era a sereia do mar que curtia praia. Eu sempre fui a criança que ficava dentro do quarto desenhando”, conta, numa ligação telefônica com sons de grilo e coaxar de sapos ao fundo.

Trocar o barulho dos carros da metrópole pelo zumbido dos insetos no meio do mato —ou da praia— é um sonho que passou a ser realizado por artistas e milionários de outras profissões nos últimos anos. Impulsionados pela pandemia e em busca de mais isolamento social em oposição à densidade das capitais, eles deram forma ao seu idílio no campo, seja em casas de 12 metros quadrados, como a de Matsushita, ou em mansões de quatro suítes e seis vagas na garagem que valem R$ 8 milhões em condomínios de luxo próximos a São Paulo.

“Com a pandemia, o papel da grande cidade foi ainda mais questionado”, afirma Stefano Arpassy, futurólogo da agência de tendências WGSN. Saturados da lógica da competitividade e da produtividade das metrópoles, que foi o que os atraiu num primeiro momento, devido às oportunidades de trabalho, essas pessoas agora vão em busca de uma vida mais saudável para a mente e o corpo e maior qualidade de vida, acrescenta o pesquisador.

Quem encara essa mudança são aqueles que podem exercer seus trabalhos de forma remota, como artistas e profissionais liberais, e que não dependem integralmente da dinâmica da vida na cidade grande, acrescenta Arpassy. Por não se tratar de um movimento de massas, no entanto, ele acha incorreto definir esse cenário como êxodo urbano.

Depois de oito meses de confinamento, o cantor e modelo Loïc Koutana, o L’hommestatue, alugou com o marido uma casa em Ubatuba, onde anda na orla e faz trilhas sem cruzar com nenhuma pessoa e nenhum carro. O sonho de Koutana era morar numa praia na Bahia, mas o aluguel acessível —R$ 800— e a praticidade de chegar a São Paulo por R$ 50 usando um aplicativo de caronas foram decisivos na escolha pela praia do litoral norte de São Paulo, ele conta.

“Várias pessoas falam que vão se aposentar e morar na praia, mas por que adiar os sonhos? A conexão com a natureza me fez entender que o Brasil não é só a urbanização, só a nossa bolha do centro”, afirma, acrescentando que o confinamento na cidade afetou sua arte. Desde que se mudou, em outubro, já filmou por lá dois clipes para faixas de seu primeiro disco solo, “Ser”, que será lançado neste ano, e chegou à marca de 900 mil seguidores no TikTok.

O arquiteto carioca Tiago Freire, que projetou a casa do músico Kassin e a livraria Leonardo Da Vinci, observa uma contradição neste movimento. Se muitas vezes há o romantismo de ir para o campo para desacelerar, por outro isso só é possível porque agora há mais tecnologia e as pessoas conseguem ficar mais online. Não se trata, em sua visão, de um público que quer se afastar da internet, do trabalho ou bucar um estilo de vida mais isolado.

Freire relata que a procura por casas na região serrana do Rio de Janeiro aumentou muito durante a quarentena, aquecendo o mercado, por causa da questão do espaço, de se ter uma área privada ao ar livre, do clima ameno e também pela proximidade da capital —cerca de uma hora de carro. Isso fez a segunda moradia de parte de seus clientes se tornar a principal, uma casa mais urbana, ele afirma, e o apartamento na cidade virou o lugar para onde se vai uma ou duas vezes por semana.

Esse novo morar vem acompanhado de algumas mudanças nos cômodos das casas, a exemplo da ampliação do home office, que chega a ocupar o andar inteiro de uma mansão em Campinas, no interior paulista, anunciada pela imobiliária de luxo Bossa Nova Sotheby’s.

“Costumo dizer que o escritório é onde as pessoas guardavam os livros e a bagunça das crianças. Os brinquedos foram doados, as estantes foram limpas e essas peças passaram a se tornar de fato escritórios ou o local onde as crianças vão ter as aulas pela manhã”, diz Marcello Romero, CEO da imobiliária.

A julgar pelas redes sociais desse público, é tentador pensar que a vida na fazenda é só poesia, como no caso do canal de YouTube da jovem chinesa Li Ziqi, em que ela aparece produzindo os próprios móveis com bambu e tingindo suas roupas com cascas de frutas, numa estética rústica-chique que exalta a vida campestre na província de Sichuan. Mas Matsushita, a artista plástica, conta que seu período de adaptação em Garopaba levou quase quatro anos, até que se sentisse feliz.

“A partir do momento em que a gente começa a materializar um sonho, ele acabou, né? A gente esquece o momento de adaptação. No primeiro ano fiquei muito deprimida, estava muito apática, e daí aquela pressão de ‘agora eu posso ser sustentável, construir minhas coisas’, só que eu não conhecia ninguém. Mudei sozinha, era eu e meu gato Fabinho, Fabinho e eu”, relata. Outro drama foi aprender a lidar com os mosquitos e pernilongos, ela relata, que pousam no seu cabelo e até na tinta fresca das telas que está pintando.

Segundo Ricardo Marques de Azevedo, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, a ideia romântica de uma vida bucólica no campo ainda existe, mas está enfraquecida, é algo do começo do século passado, sobretudo para os artistas na faixa entre os 25 e os 40 anos, que em geral precisam da conexão com a metrópole. “Como você vai fazer teatro, poesia, numa cidadezinha de 10 mil habitantes? Na grande cidade você vai encontrar a sua turma.”

Os criativos podem abandonar seus grupos e seus territórios urbanos por algum tempo, ele diz, mas a tendência é que voltem, devido ao magnetismo da metrópole, que funciona como ponto de encontro e de influência. Marques dá como exemplos de vivacidade a Paris do século 19 e a Nova York do pós-Primeira Guerra —“todo mundo estava lá, os artistas, as galerias, os museus, os críticos, os jornais”.

'No. 274, 21st July 2010', obra do artista britânico David Hockney, realizada em 2019
'No. 274, 21st July 2010', obra do artista britânico David Hockney, realizada em 2019 e publicada no livro 'My Window' - Reprodução

A ARTE E O MATO

  • Desde que foi morar em Manaus, há dois meses, o costureiro paulistano Alex Kazuo relata que o contato com as áreas verdes preservadas dentro da cidade, o pé de samaúma no seu quintal e as araras que vê passando estão influenciando seu trabalho. “Não dá para sair ao meio-dia aqui todo vestido de preto”, diz, acrescentando que a cor característica das roupas que desenha e costura não combina com o clima quente e úmido da cidade. Ele relata que seu bloqueio com tecidos coloridos e estampados está se desfazendo aos poucos, e que começou a costurar shorts e blusas de renda amarela sob encomenda
  • Em 2019, o artista plástico Thiago Rocha Pitta transformou os 13 mil metros quadrados de uma antiga propriedade de sua família, nos arredores de Petrópolis, no Rio de Janeiro, num espaço expositivo ao ar livre. Ali, instalou obras que mantêm relação com a natureza e os fenômenos climáticos, difíceis de serem absorvidas por coleções particulares, como uma plataforma de madeira sob um abismo de 800 metros de altura
  • O fetiche com a vida fora das cidades chegou também aos grandes museus. No ano passado, o Guggenheim de Nova York exibiu uma megamostra do arquiteto holandês Rem Koolhaas chamada “Countryside: The Future”, ou campo, o futuro. A ideia da exposição —que pôs um trator na porta do museu, em plena Quinta Avenida— era explorar os “98% do planeta ainda não ocupados por cidades”, tratando de temas como a migração de trabalhadores e a compra de terrenos para preservação ecológica

Decadência do centro do Rio fica maior na pandemia, OESP

 Marcio Dolzan, O Estado de S.Paulo

11 de janeiro de 2021 | 11h00

RIO - Desde que foi fundada, em 1894, a Chapelaria Alberto, no centro do Rio de Janeiro, foi bem frequentada. “Nessa cadeira em que você está já sentou muita gente importante”, disse, no fim de dezembro, o atual proprietário, Luís Eduardo Fadel, ao Estadão. Comentário semelhante ao feito por Rita Nava, que comanda a Casa Villarino, não muito longe dali. “Foi aqui que o Vinícius (de Moraes) encontrou o Tom (Jobim) pela primeira vez”, orgulhou-se. Talvez nem tenha percebido o trocadilho, possível desde a década de 1950, com os dois compositores celebrizados por “Garota de Ipanema”.

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Aberta há 126 anos, a Chapelaria Alberto, famosa pelos chapéus estilo Panamá, vai fechar definitivamente esta semana.  Foto: Wilton Junior/Estadão

Mas nenhum dos dois estabelecimentos - tanto a chapelaria que atravessou duas viradas de século como o bar que foi um dos berços da Bossa Nova - resistiu ao ano marcado pela pandemia de covid-19. Ambas encerraram as suas atividades. O mesmo aconteceu com dezenas de outros pequenos negócios no centro carioca, nos últimos meses. Em algumas ruas da região, como a Buenos Aires e a Alfândega - localizadas no núcleo histórico do Rio - é possível ver vários imóveis, um ao lado do outro, com portas de aço cerradas. Em algumas, há placas de “aluga-se”, outros nem isso.

“Eu não digo que é um fechamento. Por ora, é uma suspensão das atividades por seis meses”, comenta Rita, do Villarino. Fadel, que desde a década de 1980 cuida da chapelaria fundada pela família pouco após a Proclamação da República, parece mais cético. “O Rio de Janeiro viveu uma grande era como Cidade Maravilhosa, mas não é mais”, constata.

Fadel deu entrevista sentado em uma cadeira que, segundo afirmou, existe desde os primórdios da loja. Do período de glamour, resistiram apenas duas delas e uma mesa que exibe fotos antigas dos tempos do auge da chapelaria. Nas prateleiras, poucos e belos chapéus e algumas peças de vestuário masculino. As paredes externas da loja estão pichadas, e a região é dominada por camelôs. Vendem quinquilharias e fazem pequenos consertos, como a troca de baterias de relógios. Perto dali, fica o camelódromo da Uruguaiana - às vezes, alvo de batidas policiais, em busca de mercadorias ilegais.

Há algumas décadas, a Chapelaria também vivia da venda de roupas e pijamas, mas na última semana de atividades eles já eram bem poucos. Enquanto a equipe do Estadão estava no local, um homem bem trajado (e de chapéu) chegou procurando por um pijama de flanela. “Acabou o que tínhamos”, informou Fadel. Pouco depois, um cliente na casa dos 30 anos e de bermuda entrou para tentar comprar um chapéu panamá. “A fábrica não mandou mais”, informou, enquanto o potencial cliente provava um exemplar maior que a cabeça.

No Villarino, o aviso de suspensão das atividades foi colado junto à porta em novembro. A proprietária abriu o estabelecimento para conversar com o Estadão em um início de tarde pouco movimentado no centro. As mesas vazias e as poucas luzes acesas levaram um ar melancólico ao bar. O estabelecimento atravessou décadas em meio a comemorações e happy hours de artistas da música e do teatro, jornalistas, advogados, funcionários do consulado dos Estados Unidos, políticos importantes.

Antes mesmo da pandemia, Rita já buscava investidores para manter o bar, cuja clientela visivelmente diminuía. Os frequentadores também mudavam de perfil. Se antes o estabelecimento era conhecido pelo vinho e uísque, nas últimas décadas o que saía mesmo eram chope e cerveja.

A pandemia obrigou Rita a fechar - ou, como diz, “suspender” - a Casa Villarino. Todos os nove funcionários foram demitidos ("nós pagamos as verbas rescisórias tudo certinho", ressaltou). Receberam a promessa de que poderão ser recontratados caso surja um investidor ou a situação melhore.

“Temos que esperar a vacina, e que as pessoas sejam vacinadas”, ponderou Rita.

Fadel, da Chapelaria Alberto, também nutre um pouco de esperança de que apareça alguém disposto a preservar a história. Sabe, porém, que, no seu caso, a chance de reabrir a casa é mais difícil. Sabe que os hábitos mudaram, o centro carioca também.

"Antes o centro era realmente um centro. As pessoas vinham passear, tinha grandes lojas, cinemas, restaurantes. Final de semana aqui era efervescente", recorda. "Agora virou isso, mas não foi de uma hora pra outra", complementou.

O "isso" do comerciante se refere a ruas maltratadas e sujas, centenas de lojas fechadas, paredes pichadas e calçadas lotadas de ambulantes, a maioria deles irregulares. Houve também expansão dos moradores de rua. Alguns passaram a morar em paradas de ônibus, que ganham “paredes” improvisadas com caixotes e cobertores. Alguns cozinham ao ar livre.

A decadência do centro do Rio não é novidade, mas se agravou a partir de março de 2020. Foi quando a decretação do home office por empresas sediadas na região, por causa da pandemia, esvaziou rapidamente as ruas dali. Com o posterior afrouxamento, parte do movimento voltou. Algumas empresas, porém, adotaram definitivamente o trabalho em casa, mais barato e facilitado pela digitalização. Isso contribuiu para perenizar o esvaziamento do centro carioca, principalmente no eixo da Avenida Rio Branco e transversais.

Requalificação

A nova administração do prefeito Eduardo Paes (DEM) tenta buscar soluções para o problema. Dentre os mais de 70 decretos publicados no primeiro dia de governo, um deles criou o “Grupo de Trabalho de Requalificação do Centro do Rio de Janeiro”, com o prazo de 120 dias para apresentar um plano. O grupo envolve, ao todo, 18 secretarias de governo ou órgãos da administração.

Entre empresários, o comércio informal é visto como um dos grandes entraves à recuperação da região. Levantamento da Fecomércio-RJ aponta que dois terços deles veem esse ponto como principal obstáculo. Os vendedores ambulantes que tomaram a região não pagam impostos, não têm custos com  aluguéis e funcionários e vendem mercadorias a preços bem abaixo do mercado, o que sugeriria procedência duvidosa.

"Antes mesmo da pandemia, o centro do Rio já vinha se degradando por conta desse crescimento massivo e desordenado da informalidade", diz o diretor do Instituto Fecomércio de Pesquisas e Análises (IFec-RJ), João Gomes.

Dados do IFec-RJ mostram que, a partir de 2014, o Estado apresentou um crescimento acelerado de informais, sendo que o ano de 2017 foi especialmente atípico.

"Coincide com o fim dos grandes eventos esportivos na cidade, a crise dos royalties do petróleo, atrasos no pagamento de servidores e prisão de gestores públicos. A segurança desandou de vez, tanto que tivemos até uma intervenção federal", recordou Gomes.

Estimativas da Fecomércio-RJ também mostram que nos últimos tempos o total de consumidores que aderiram ou aumentaram o interesse pelo comércio ou serviços online cresceu entre 1,5 milhão e dois milhões de pessoas no Estado. A digitalização do comércio provavelmente também teve impacto no resultado financeiro de estabelecimentos tradicionais, que demoraram a migrar seus negócios para o mundo digital.

Internet

Fadel, porém, aponta a decadência do Rio – e não o comércio eletrônico, como creem alguns - como fundamental para as dificuldades que enfrentou nos últimos anos.

"A gente tem clientes fiéis, de décadas. Alguns vêm aqui porque aprenderam a vir com o avô. E comprar chapéu é igual comprar sapato: você olha, acha bonito, mas é só depois de provar que descobre se fica bem ou não", explicou. "Não dá para comprar isso pela internet."

A certeza de que a internet não é culpada pelo ocaso de uma loja com 126 anos de vida e que é patrimônio imaterial do Rio pode ser observada por sua presença (ou falta dela) na rede. O site da chapelaria é simples, e a página no Facebook só aparece em marcações de alguns clientes. Mas uma busca pela loja no Google é certeira do ponto de visita físico. "Normalmente não muito movimentado", diz o buscador sobre a loja.


Morre de covid-19 Raymundo Magliano Filho, ex-presidente da Bolsa que sonhou em popularizar mercado, OESP

 Fernanda Guimarães, O Estado de S.Paulo

11 de janeiro de 2021 | 09h33

O ex-presidente da Bolsa de Valores de São Paulo, Raymundo Magliano Filho, morreu nesta segunda-feira, 11, aos 78 anos, vítima da covid-19, contra a qual lutava desde novembro. Comandante da Bovespa entre 2001 e 2008, até a  fusão com a BM&F - que deu origem à BM&FBovespa (hoje B3, após fusão com a Cetip) -, "seu Magliano" sempre foi conhecido por sua batalha para o desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil, algo que há 20 anos era muito mais desafiador, dadas as elevadíssimas taxas de juros que afastavam os investidores do mercado de ações. 

Mesmo estando nos últimos anos afastado do dia a dia do mercado financeiro, Magliano não deixava por um dia sequer de saber como estava a Bolsa. Acompanhava de perto as notícias e não recusava uma conversa para contar sobre os dias em que o pregão da Bolsa paulista, no centro de São Paulo, estava cheio de operadores espremidos para fazerem seus negócios. Ou para mostrar uma coleção de fotos e notícias que narravam sua empreitada, guardada em seu escritório no bairro de Higienópolis, em São Paulo. 

Como presidente da Bolsa, ele foi conhecido por uma ampla campanha para popularização do investimento em ações. Criou o programa Bovespa vai até você, que levava equipes da Bolsa a diferentes cidades do País. 

Raymundo Magliano Filho
O ex-presidente da Bolsa Raymundo Magliano Filho. Foto: Robson Fernandjes/Estadão - 6/3/2007

Nesse programa, em 2001, foi montada uma tenda na comemoração do Dia do Trabalho, promovida pela Força Sindical em São Paulo. Na festa, mais de 30 mil pessoas passaram pela estrutura da Bolsa, tendo ali um dos seus primeiros contatos com o mercado de ações. 

Depois, lançou o  Bovmóvel, um furgão com o logotipo da Bovespa. Com ele, Magliano Filho visitou o litoral paulista para falar com investidores. O veículo também foi até Carajás, no Pará. Outra empreitada foi o Mulheres em Ação. Quando Magliano tomou posse, cerca de 75 mil pessoas físicas negociavam ações na Bolsa. Em 2008, quando deixou o cargo, esse número alcançava 536,5 mil. 

Magliano Filho era formado em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e seu contato com o mercado começou muito cedo. Seu pai, Raymundo Magliano, fundou em 1927 a corretora homônima, dona do título patrimonial número 1 da Bolsa. Neste ano, a corretora, que estava sob o comando de Raymundo Magliano Neto, já na terceira geração da família, foi vendia à corretora Neon, uma fintech.

Magliano Filho também se dedicou aos estudos de filosofia e nunca escondeu sua admiração pela obra de Norberto Bobbio, Hannah Arendt e Antonio Gramsci. Há alguns anos publicou o livro A força das ideias para um capitalismo sustentável

"Passei a acreditar que esses conceitos, quando devidamente aplicados, podem gerar uma mudança cultural profunda, capaz de resultar na ampliação de oportunidades, inclusão social e responsabilidade socioambiental. Dessa forma, com o pensamento e a ação conjugados para enfrentar os desafios, é possível, vivenciar de fato, a força das ideias, da cooperação interpessoal e do espírito cívico", escreveu. 

Bovespa vai até você
Posto da Bovespa na Riviera de São Lourenço, no litoral de São Paulo: campanha criada por Raymundo Magliano Filho levava equipes da Bolsa a diferentes cidades do País.  Foto: Eduardo Nicolau/Estadão - 9/1/2003

O antigo espaço do pregão da Bolsa, que com o fim do pregão viva voz passou a ser um espaço de eventos, além de marco turístico da capital paulista, teve por cerca de dez anos o nome de Magliano Filho estampado. Agora, a homenagem está indo para o Museu B3, onde serão contadas a história do mercado de capitais no Brasil e a trajetória da Bolsa, incluindo a de Magliano Filho.