quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

“Antes de achar trabalho, achei a epidemia”, FSP

 Hanna Manente Nunes

Nos primeiros dias de outubro de 1918, João Francisco Carreira, sua mulher e cinco filhos deixaram Socorro onde moravam com destino à capital do estado. Pedreiro de profissão, o objetivo de Carreira era tornar-se operário da emergente indústria paulistana. Por infortúnio do destino, junto com a família chegou a São Paulo a gripe espanhola.

Em carta enviada ao então prefeito Washington Luís (Arquivo Histórico Municipal de São Paulo, Fundo PAH, 384) Carreira narra suas tentativas frustradas de conseguir serviço. A epidemia, escreve, “frustrou a todos nós”. Na ausência de uma fonte de renda, as pequenas economias da família esgotaram-se em menos de um mês. Como último recurso, escrevia ao prefeito rogando colocação nos serviços municipais. “Senhor, tenho horror à miséria,” sentenciou ao fim da carta.

O pedido foi repassado para diversos serviços municipais, da polícia aos cemitérios, a fim de que o nome de Carreira fosse lembrado “quando haja necessidade ou falta de pedreiro”. Se ele foi de fato chamado, não sabemos, mas em algum momento entre o fim de 1918 e fevereiro de 1921 Carreira voltou a residir em Socorro. Sobreviveu à epidemia para, infelizmente, presenciar a morte de uma de suas filhas. Mariquinha e seu namorado recriaram, para tristeza dos familiares, a cena fatídica de Romeu e Julieta, trocando o veneno e o punhal por balas de revólver. As tragédias, tal como hoje, vêm de todos os lados.

Para quem quiser entender como a gripe espanhola afetou a milhares de outros Joãos, a leitura de “Influenza, a medicina enferma” de Liane Maria Bertucci (Editora Unicamp) é uma experiência que beira ao surrealismo. Das primeiras notícias que traziam depoimentos tranquilizantes sobre a não letalidade da doença a relatos sobre a proliferação de curas milagrosas, os paralelos com os dias atuais são desconcertantes. Da epidemia de 1918 sobraram, como abordamos recentemente, números ainda não bem esclarecidos e a impressão de que, guardados os anacronismos, a história é de fato cíclica.

Energia renovável em prédios públicos no Vale do Ribeira deve trazer economia de R$ 4,3 mi por ano, OESP

 Marina Aragão, O Estado de S.Paulo

05 de janeiro de 2021 | 17h29

Um total de 566 prédios públicos espalhados pelos 22 municípios do Vale do Ribeira, no sul do Estado de São Paulo, devem passar a ser autossuficientes em energia, o que vai garantir uma economia de R$ 4,3 milhões por ano ao Governo. A parceria entre a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado (Sima) e o Green Building Council Brasil (GBC) está baseada no projeto Energia Zero da organização e faz parte do plano da secretaria de tornar a região um novo polo de desenvolvimento no Estado, dentro do programa Vale do Futuro.

O acordo foi assinado no último dia 23 e, agora, “busca recursos junto a outros parceiros para financiar estas ações de eficiência energética e a implantação de geração solar fotovoltaica”, informou a secretaria em nota. As ações serão priorizadas nas unidades com maior consumo e, consequentemente, maior custo - mas ainda não há previsão para o início das obras. Unidades de saúde, delegacias, diretorias de ensino, tribunal de justiça, dentre outros órgãos, contarão com o projeto de eficiência energética elaborado pelo GBC, organização especializada em construção civil sustentável, que atua em todas as fases de elaboração de uma edificação.

Dentro da estruturação do plano de ação, fase atual da parceria, será essencial montar uma rede colaborativa para viabilizar os recursos financeiros e técnicos, disse o diretor-geral do GBC Brasil, Felipe Faria. Segundo ele, a Eletrobrás, por exemplo, já demonstrou interesse e pode ajudar “com as soluções técnicas para o projeto e a inteligência para encontrar recursos”. Sobre o retorno financeiro, Faria afirmou que isso depende não apenas do projeto que será aplicado nas edificações, mas também da modalidade de investimento e de quais instituições farão parte do programa. No entanto, a organização acredita que, em um prazo máximo de cinco anos, os retornos apareçam.

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Edificações que buscam autossuficiência precisam igualar a quantidade de energia que consomem com a que produzem, por meio de fontes renováveis, como os painéis fotovoltaicos. Foto: Divulgação/Green Building Council Brasil

Autossuficiência em energia

As edificações que buscam essa autossuficiência precisam igualar a quantidade de energia que consomem com a que produzem, por meio de fontes renováveis, durante 12 meses corridos. Em geral, essas fontes são painéis fotovoltaicos nas coberturas das edificações, produzindo energia solar, explica Faria. “Nós conseguimos a alta eficiência energética, combinada com a otimização da gestão da energia”, diz.

Segundo o diretor-geral da instituição, o projeto dos prédios deve focar na modernização dos sistemas de iluminação e ar-condicionado, com a substituição de equipamentos por outros com tecnologias mais avançadas e eficientes. Faria estima um custo em torno de R$ 25 milhões e um prazo de cerca de 12 meses para a execução da obra.

De acordo com a secretaria, o Estado de São Paulo gasta mais de R$ 600 milhões com o pagamento de faturas de energia elétrica, nos mais de 16 mil prédios próprios, de administração direta e indireta. “A parceria com a GBC Brasil contribuirá substancialmente” para o Estado alcançar a meta de reduzir em 30% as despesas com energia elétrica até 2022, o que equivale a uma economia de R$ 200 milhões por ano.

A secretaria tem a atribuição legal de desenvolver ações e projetos voltados à eficiência energética, conservação e uso racional de energia. Para isso, se comprometeu com metas de redução de emissões estabelecidas na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2015 (COP 21) e no Acordo de Paris. Durante a COP 21, um levantamento concluiu que acelerar o conceito de edificações autossuficientes em energia nas novas edificações até 2030 e em todas as edificações até 2050 seria suficiente para reduzir a emissão de CO₂ necessária para evitar o aquecimento global.

Ponto de partida no Vale do Ribeira

O Vale do Ribeira foi escolhido para iniciar o projeto de Eficiência Energética de edificações públicas por ser uma das regiões com maior índice de vulnerabilidade social e econômica do Estado de São Paulo. O dinheiro economizado com a redução no gasto com energia será direcionado para “áreas essenciais voltadas à população”, segundo a Secretaria de Meio Ambiente.

“É uma das vertentes do programa Vale do Futuro, criado em 2019 pelo governo, para implementar projetos de desenvolvimento sustentável e transformar a realidade da região a partir de parcerias, com foco nas ações sustentáveis, geração de emprego e renda, qualidade de vida e infraestrutura, envolvendo uma população de 340 mil habitantes”, explicou a Sima.

A expectativa é ampliar essa ação para todo o Estado, priorizando aquelas regiões com menores índices de desenvolvimento, “tão logo haja os primeiros resultados no Vale do Ribeira”, disse ainda a secretaria.

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'A Creche Hassis, em Florianópolis, atingiu o nível Zero Energia e foi certificada pelo GBC.' Foto: Divulgação/Green Building Council Brasil

Bons resultados no Paraná

Em setembro de 2019, o GBC Brasil assinou no Paraná, com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Obras Públicas, o Paranacidade, e a Agência Fomento Paraná, um memorando criando um programa de eficiência energética em sete municípios. No total, 245 edificações públicas foram modernizadas, sendo que 208 atingiram a autossuficiência e a certificação Energia Zero.

A elaboração dos projetos de diagnóstico, eficiência e geração renovável levaram 4 meses e envolveram mais de 20 engenheiros. Foram auditados mais de 111 mil equipamentos, entre luminárias, aparelhos de ar condicionado, eletrodomésticos e outros. Os projetos compreenderam a troca de equipamentos, sistema de gestão de energia e a geração de energia por sistema fotovoltaico. Mais de R$ 45 milhões foram investidos para uma redução de 52% no consumo de iluminação e 35% no de ar-condicionado.


Hotéis e serviços pedem extensão do benefício de redução de jornada, FSP

  EDIÇÃO IMPRESSA

SÃO PAULO

Setores econômicos que ainda não retomaram totalmente as atividades na pandemia pressionam o Ministério da Economia pela prorrogação do benefício de redução de jornada, encerrado pelo governo em dezembro. Representantes de turismo, segurança e restaurantes afirmam que o fim do programa, em que a União quitava parte dos salários a empregados com contratos suspensos ou cargas horárias reduzidas, vai gerar judicialização e uma leva inevitável de demissões.

Desde abril, o benefício foi pago a 9,8 milhões de trabalhadores. Em dezembro, mesmo com a flexibilização da atividade econômica, foram firmados 261 mil novos acordos, a maior parte (128 mil) de suspensão de contrato.

Orlando Souza, presidente do FOHB (fórum que reúne as redes hoteleiras), diz que é inviável retomar o pagamento integral de todos os funcionários, já que o que o faturamento do setor está 55% abaixo do registrado há um ano e que não há perspectiva de melhora sem vacinação.

Outra dificuldade, segundo José Jacobson Neto, da Fenavist (federação de segurança patrimonial), é que empresas beneficiadas com as medidas têm a obrigação de manter os funcionários por período equivalente ou indenizá-los. Isso deve levar a ações judiciais dada a dificuldade de realizar pagamentos.

João Diniz, presidente da Cebrasse (Central Brasileira do Setor de Serviços), diz preparar pedidos formais de reuniões com secretários para pleitear a ampliação da medida. Outra opção é buscar acordos sindicais para manter a diminuição das horas de trabalho e dos salários, sem a contrapartida do governo. O setor foi o que fechou mais acordos para reduzir salários.

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O Ministério da Economia afirma que não é possível estender o programa porque a lei que o criou depende da manutenção do estado de calamidade, que deixou de valer no final de 2020.