quinta-feira, 30 de julho de 2020

Ações da Natura disparam após polêmica sobre participação de Thammy em campanha do Dia dos Pais, OESP

Ana Luiza de Carvalho e Talita Nascimento, O Estado de S.Paulo

29 de julho de 2020 | 21h58
Atualizado 30 de julho de 2020 | 13h44

A grande repercussão da campanha de Dia dos Pais da Natura nas redes sociais, incluindo muitas críticas, não atrapalhou o entusiasmo do mercado em relação à companhia. Sem fato relevante divulgado pela empresa ao mercado ou notícias relacionadas diretamente a dados operacionais da companhia, analistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast apontam que os papéis foram impulsionados pela avaliação positiva do mercado em relação à nova estratégia de marketing da companhia, que incluiu um homem transexual em sua campanha de Dia dos Pais.

As ações ordinárias da fabricante de cosméticos operaram em alta durante toda a quarta-feira, 29, e terminaram o pregão com avanço de 6,73%, o maior do Ibovespa, enquanto o principal índice do mercado brasileiro subiu 1,44%.

O ator Thammy Miranda, que é pai do bebê Bento Ferreira de Miranda, de seis meses, foi convidado para participar da campanha com outras personalidades midiáticas, como o ex-BBB Babu Santana, o chef de cozinha Henrique Fogaça e o músico Lucas Silveira.

Thammy Miranda
Thammy Miranda e o filho, Bento, de 6 meses. Foto: Reprodução Instagram

Em nota enviada ao Estadão/Broadcast, a Natura afirma que a campanha de Dia dos Pais "mergulha na rotina desafiadora que todos estão vivendo durante a quarentena" e que a presença paterna é o maior presente. "A Natura celebra todas as maneiras de ser homem, livre de estereótipos e preconceitos, e acredita que essa masculinidade, quando encontra a paternidade, transforma relações", afirmou a companhia. A empresa disse ainda que "valoriza a diversidade" em sua trajetória de mais devinte anos.

O analista da Ativa Investimentos Ilan Arbetman aponta que o mercado recebeu bem a movimentação da Natura, pois a contratação de um homem transexual está em linha com suas práticas de ESG (Ambiental, Social e Governança, na sigla em inglês). "A campanha dialoga muito com a força da marca e mostra que ela pode ampliar sua base de consumidores, pois o nome tem um foco muito grande em governança", afirmou ao Estadão/Broadcast.

Essa também é a visão de Jorge Junqueira, sócio da Gauss Capital. O economista observa que há uma tendência de que o mercado invista em companhias que atuam de maneira mais forte junto à defesa de minorias."Esse comportamento pró-sociedade está sendo cada dia mais bem-visto e o investidor tem interiorizado isso de pagar mais por empresas que têm esse comportamento", observa.

Diversidade como geração de valor

Fábio Mariano Borges, professor do programa de Mestrado Profissional em Comportamento do Consumidor na ESPM, afirma que, para que as campanhas de marketing gerem impacto, é necessário que estejam alinhadas à missão e aos valores da empresa. Ele lembra que a Natura já encabeçou várias campanhas que incluem cenas como beijo lésbico, mesmo sendo ameaçada de boicote. "Essa é uma campanha que tem o DNA da Natura. Ações inclusivas geram valor, quando ligadas à biografia da empresa, não é tática ocasional", aponta.

O acadêmico afirma ainda que, além de todo o debate gerado na sociedade e a repercussão nas redes sociais, as campanhas ecoam no próprio futuro das empresas. "Políticas inclusivas têm impacto financeiro, principalmente quando falamos de investimentos estrangeiros. É uma característica que os investidores estão atentos, e uma empresa que se valoriza de forma pertinente ao século 21, vai atravessá-lo bem", afirma.

Natura
Analistas apontam que postura da Natura sempre foi inclusiva. Foto: Diogo Yanata/Natura

O analista de renda variável da Warren Igor Cavaca afirma que a busca por empresas com práticas sustentáveis vem especialmente de investidores mais jovens. "Essa geração mais nova tem essa preocupação. Eles têm menos acesso à renda variável, mas estão chegando, e cada vez mais prezam por identidade cultural", afirmou ao Estadão/Broadcast. 

Cavaca lembra que a B3 possui o Índice de Sustentabilidade e que a questão também está no radar das corretoras de investimentos. A Warren, por exemplo, criou em março o fundo Equals, com empresas que se destacam por políticas de equidade de gênero. Já o fundo Green, criado em outubro de 2019, é voltado à sustentabilidade e meio ambiente.

O analista explica que não se trata apenas de discurso e que, quando as companhias trabalham além de impactos diretos como lucratividade, dão sinais positivos ao mercado. "Empresas com boa governança têm menos exposição ao risco", afirma.

SP é uma das cidades que ficará por mais tempo sem aulas em todo o mundo por causa da Covid-19, FSP

A secretaria municipal de Educação fez um estudo comparativo que revela que a cidade de São Paulo é um dos locais que ficará por mais tempo sem aulas em todo o mundo por causa do novo coronavírus. Caso os alunos retornem às escolas em 8 de setembro, serão completados 172 dias com as portas fechadas.

CALENDÁRIO MUNDIAL

Poucos países ou metrópoles alcançaram a marca. A Itália chegou a 181 dias. Em Wuhan, na China, os estudantes pararam por 114 dias. Nova York, nos EUA, completará 169 dias, caso o retorno ocorra no dia 1º de setembro, como é esperado.

RANKING

O México, com volta prevista para agosto, completará 156 dias. Na Argentina, que reabre escolas no mesmo mês, serão 152 dias.

RANKING 2

Na França, a suspensão das classes chegou a 55 dias. Na Espanha, a 88 dias.

Apagão de comissões dá poder inédito a Maia e Alcolumbre, OESP

Camila Turtelli e Daniel Weterman, O Estado de S.Paulo

30 de julho de 2020 | 11h00

BRASÍLIA - Com o pretexto de que a pandemia do novo coronavírus inviabiliza o funcionamento das comissões temáticas do Congresso, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), concentraram um poder inédito desde que assumiram o comando das duas Casas. Há quatro meses, cabe exclusivamente a eles decidir o que vai ou não ser votado. Líderes ouvidos pelo Estadão/Broadcast relatam incômodo com a situação e cobram a instalação dos colegiados em que são discutidas com mais profundidade todas as propostas de emenda constitucional ou projetos de lei.

Ao todo, existem 19,5 mil projetos parados nas 25 comissões permanentes da Câmara. Destes, 1.092 estão prontos para serem votados, ou seja, já foram debatidos e os relatores já deram seus pareceres. No Senado, são outras 2.814 propostas - 628 aguardando apenas a fase de votação. Os colegiados reúnem grupos de até 66 parlamentares e, antes de votar os projetos, analisam minuciosamente o conteúdo, se é constitucional, além de ampliar o debate por meio de audiências públicas. A votação diretamente no plenário das duas Casas Legislativas pula essa etapa do debate.

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Maia e Alcolumbre
Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre  Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

Entre os temas à espera da volta das comissões está a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê a prisão após condenação em segunda instância, uma agenda da Lava Jato, além de reformas, como a tributária. O governo enviou sua proposta ao Congresso no último dia 21. Uma sessão (virtual) de debates com o ministro da Economia, Paulo Guedes, está marcada para o próximo dia 5, mas votação mesmo só quando as comissões forem instaladas.

Como revelou a Coluna do Estadão desta quinta-feira, 29, a paralisação das comissões também comprometeu a prerrogativa do Legislativo de fiscalizar o governo. Dos 87 requerimentos de convocação de autoridades do Executivo, apenas um foi aprovado pelo Senado neste ano - do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub. Na Câmara, são 66 pedidos para ouvir autoridades na gaveta.

No Senado, os presidentes das comissões têm mandato de dois anos. Na Câmara, de apenas um. Pela primeira vez, a Casa está há cinco meses sem sequer escolher quem vai comandar os colegiados - a eleição deveria ter ocorrido em fevereiro, antes mesmo de as sessões presenciais serem suspensas.

O sistema virtual criado para votações à distância durante a pandemia tem sido usado apenas no plenário e, tanto na Câmara quanto no Senado, virou uma referência para outros parlamentos no mundo. Os comandos das duas Casas dizem, porém, que não há condições técnicas para expandir seu funcionamento também para as comissões, sem dar detalhes sobre o motivo de o sistema funcionar bem para o plenário (que reúne os 513 deputados e 81 senadores) e não para os colegiados (que reúnem grupos menores de parlamentares). 

Congresso Nacional
Congresso Nacional Foto: Arquivo/Agência Brasil

"Além dos projetos já aptos para serem pautados, muitos relatores já estão com seus pareceres prontos e, como as comissões não estão funcionando, eles não podem protocolar no sistema", afirmou o deputado Felipe Francischini (PSL-PR), que até o ano passado presidiu a poderosa Comissão de Constituição e Justiça, ao engrossar o coro dos que defendem o trabalho das comissões. Chamada de CCJ, a comissão é a mais importante da Câmara porque todos os projetos precisam ser analisados por ela para que possam seguir tramitando. É o colegiado quem diz se uma proposição fere a Constituição, condição para que um projeto seja arquivado. Também é a principal comissão da Câmara quem delibera, por exemplo, sobre a abertura de processo de impeachment de presidente da República.

Em junho, o deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), presidente da Comissão do Meio Ambiente da Câmara até o ano passado, encaminhou um ofício a Maia pedindo a votação de uma lista de propostas, entre elas medidas para reduzir o desmatamento. "O ideal seria que as comissões pudessem voltar virtualmente, de forma gradativa, para que os trabalhos possam ter continuidade", afirmou Agostinho.

"Precisamos avançar em alguns temas importantes, que estão em comissões especiais, como segunda instância, reforma tributária, código brasileiro de energia elétrica, código de processo penal", emendou o líder do Novo, deputado Paulo Ganime (RJ). Para ele, a ausência dos colegiados gera uma concentração de poder excessivo nas mãos dos presidentes das Casas. "Não há espaço para as pautas que são terminativas em comissões (alguns projetos não precisam ser votados no plenário pelos 513 deputados e 81 senadores; basta deliberação nas comissões). A pauta do plenário sempre dependeu do presidente da Casa", afirmou.

O poder maior nas mãos de Maia e Alcolumbre também os favorece na sucessão no comando do Congresso. Enquanto o presidente da Câmara tenta fazer seu sucessor, seu colega no Senado ainda busca uma manobra que lhe permita disputar a reeleição. Para isso, precisará de apoio dos colegas para aprovar uma mudança na lei. E controlar a pauta é um instrumento importante de barganha na busca de votos.

Retorno

Ainda sem uma data para o retorno à "vida normal", Alcolumbre avalia reabrir o plenário do Senado em agosto, revezando com a participação virtual de senadores, a exemplo do que já ocorre atualmente na Câmara. Será um teste para o retorno dos trabalhos presenciais. Mas não há previsão para a retomada dos trabalhos nas comissões.

"O que vemos no plenário virtual é que, como estamos isolados e o projeto não passou pela comissão, você acaba tendo que quebrar as pedras dentro do plenário", disse a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), que engrossa o coro dos descontentes.

'Drive thru'

Sem sessões presenciais desde março, o Senado acumula 28 indicações de autoridades, entre embaixadores e dirigentes de agências reguladoras, paradas devido ao apagão das comissões. Para não paralisar os órgãos, uma lei aprovada em 2019 permite que o presidente da República nomeie substitutos temporários nos cargos vagos, sem precisar do aval dos senadores. Na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por exemplo, dos cinco diretores, três são substitutos.

Alcolumbre tem sido pressionado a apresentar uma solução e estuda uma espécie de "drive thru" para os senadores poderem votar nesses casos. Parlamentares alegam, porém, que o deslocamento dos Estados até Brasília os colocaria em risco de contaminação pela covid-19. E o comando do Senado responde que essas deliberações exigem voto secreto, portanto, não é possível que sejam remotas. Ou seja, o impasse prossegue.

Sessão virtual
Sessão virtual do Senado que aprovou o adiamento das eleições deste ano por causa da pandemia; PEC segue para a Câmara Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

Só de embaixadores, há 22 indicações enviadas pelo governo Jair Bolsonaro paradas na Comissão de Relações Exteriores, responsável por sabatinar os candidatos. "A pandemia não é um problema restrito ao Brasil, mas é preciso fazer isso andar e não ficar só olhando", afirmou o presidente da comissão, Nelsinho Trad (PSD-MS), que cobra Alcolumbre por uma solução. Os dois devem se reunir nesta quinta-feira, 30, para definir um encaminhamento.

Líder do PSD, o senador Otto Alencar (PSD-BA) sugere um decreto presidencial para autorizar que diplomatas de carreira assumam as representações provisoriamente até a aprovação. “Câmara e Senado já têm um regime altamente presidencialista, e agora ficou ultra presidencialista. O que ocorreu, porém, é que matérias importantes foram votadas”, afirmou Alencar.

Procurados, Maia e Alcolumbre não quiseram comentar sobre o assunto. Tanto a Mesa Diretora da Câmara quanto a do Senado foram questionadas sobre a paralisia das comissões e a possibilidade de adotar o sistema remoto nesses colegiados, mas também não responderam à reportagem.

Projetos parados em comissões

Na Câmara 

Parados: 19.531

Prontos para votação*: 1.092

No Senado

Parados: 2.814

Prontos para votação*: 628

*Quando já houve discussão e o relator entregou seu parecer sobre o projeto