segunda-feira, 27 de julho de 2020

Novo Fundeb vai tirar 46% das cidades de condição de subfinanciamento, FSP

BRASÍLIA

O novo Fundeb vai possibilitar uma expansão de recursos para a educação que tira ao menos 46% dos municípios brasileiros da condição de subfinanciamento.

O esforço fiscal não será trivial. O novo modelo exigirá da União mais do que o dobro de dinheiro hoje destinado pelo fundo ao financiamento da educação básica.

A PEC (proposta de emenda à Constituição) que torna o fundo permanente foi aprovada na Câmara na terça-feira (21). O texto ainda precisa passar pelo Senado.

O gasto por aluno no Brasil não chega à metade da média de países desenvolvidos, e isso será impactado. Porém, há discussões sobre a pertinência de se elevar esses gastos.

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Alunos participam de aula na Escola Municipal Olívia dos Santos, na zona rural de Monteiro Lobato (SP) ; embora receba poucos recursos do Fundeb , o município possui bons rendimentos em avaliações de ensino (16.08.2018) - Rafael Hupsel/Folhapress

Há especialistas que dizem que o país elevou recursos nas últimas décadas e não alcançou resultados a contento. Destacam ainda experiências exitosas com os orçamentos atuais, mesmo em cidade pobres. Isso reforçaria o argumento de que o problema é de gestão.

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O desafio do Brasil é a desigualdade. Desestruturadas, as escolas têm jornadas de aulas reduzidas e falta de professores. Há ainda mais de 7 milhões de crianças e jovens fora dos colégios.

Principal mecanismo de financiamento à educação básica, o Fundeb reúne parcela de impostos de estados e municípios e uma complementação da União para atender estados e respectivos municípios que não atingem um valor mínimo por aluno a cada ano.

As verbas são redistribuídas com base no número de estudantes e modalidade. Matrículas em creche e ensino integral têm valores maiores, por exemplo.

A complementação da União representa hoje 10% —R$ 16 bilhões. Com o novo texto, subirá a 23% até 2026 —nas condições atuais, o percentual resultaria em R$ 38 bilhões.

Parte dos recursos novos será distribuída com base na realidade dos municípios. Isso atinge cidades pobres hoje não contempladas.

Estima-se que o novo texto deva levar mais dinheiro a 2.750 municípios, de 25 estados, atingindo 17 milhões de alunos. Só esse volume de estudantes representa mais de três vezes a população da Finlândia e quase equivalente à do Chile, de 18,9 milhões.

No Brasil, nem 15% dos alunos brasileiros têm ao menos 7 horas de aulas diárias, jornada que praticamente é regra em países com bons resultados. A média no Brasil é de 4,5 horas.

Quatro em cada dez escolas de ensino fundamental não têm biblioteca. E 12% não têm banheiro no prédio. A média salarial do professor não chega à metade dos países da OCDE (grupo de países ricos).

Até no cenário da América Latina a situação do Brasil é desfavorável. Com baixos salários, a carreira docente atrai, em geral, os piores alunos da educação básica.

Um estudo do Movimento Todos Pela Educação calculou a correlação entre investimento por aluno e desempenho no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) nos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano).

Redes com um orçamento por aluno de até R$ 4.300 em valores de 2015 (equivalente a R$ 5.400 atualizados pela inflação) não têm condições de atingir resultados satisfatórios de aprendizagem. Os dados mostram que 46% das redes municipais do país estão abaixo desse patamar.

A análise leva em conta apenas as redes entre os 30% melhores Ideb, o que exclui prefeituras com falhas de gestão. A análise também pondera os efeitos do nível socioeconômico dos alunos, estatisticamente influente para o sucesso escolar.

​A expansão do Fundeb vai possibilitar uma alta de 55% no gasto mínimo por aluno no país, chegando a R$ 5.679,90.

Para ​Priscila Cruz, presidente do Todos pela Educação, o Fundeb é uma política redistributiva com alta eficiência alocativa. "A gente começa um novo capítulo com todos os municípios em um patamar de financiamento em que é possível ter resultados, uma política educacional", diz.

Segundo ela, não é coincidência que os resultados educacionais dos anos iniciais do ensino fundamental tenham tido avanços no Ideb em paralelo ao funcionamento do Fundeb, criado em 2007. A versão atual expira neste ano, daí a necessidade de renovação.

Segundo Daniel Cara, da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, não é possível exigir resultados sem melhorias no padrão de escolas, de salários e carreira docente, número adequado de alunos por sala e insumos mínimos.

"Esse conjunto de elementos tem de ser investido em nome de projeto pedagógico, sem isso não se consegue ter escala, porque o Brasil tem ilhas de excelência", afirma.

O Fundeb representa hoje R$ 4 de cada R$ 10 investidos na educação básica no país. Ele tem enorme importância para as redes, mas sozinho não é suficiente para a manutenção do sistema educacional público, que reúne 39 milhões de matrículas (81% dos estudantes do Brasil).

A complementação da União tem o objetivo de equalizar o esforço entre os entes. Atualmente, 80% dos recursos da educação básica saem dos cofres de estados e municípios.

Há especialistas, porém, que dizem que o problema não é dinheiro. É gestão.

O economista Marcos Mendes, professor do Insper, ressalta que o Brasil foi um dos países que mais investiram em educação nas últimas décadas, com percentuais do PIB (Produto Interno Bruto) similar a de países ricos. Contudo, segundo ele, não houve melhorias de resultados e priorização de gastos.

"Onde houve preocupação com qualidade, com currículo estruturado, condições de trabalho para o diretor de escola, organização de tamanhos das turmas, seleção de diretor, a coisa foi para frente. Há municípios com baixa receita com desempenho melhor do que aqueles que gastam muito", diz.

"A decisão de gastar foi tomada, agora tem de correr atrás da receita. Porque foi esse tipo de atitude que nos colocou na situação crítica que gerou recessão iniciada em 2014", afirma Mendes, que é colunista da Folha.

Estudo do economista Ricardo Paes de Barros, também professor do Insper, indica ineficiência do Brasil na relação entre gasto por aluno e desempenho em matemática no Pisa, a avaliação internacional feita com estudantes de 15 anos.

Países com menores dispêndios, como Indonésia, México, Colômbia, Turquia e Chile, conseguem resultados melhores. Na análise de Barros, nenhum país é mais ineficiente que o Brasil.

O Brasil fez esforços recentes de inclusão. Em 1985, por exemplo, 35% das crianças e jovens de 4 a 17 anos estavam fora da escola. O percentual caiu a 6% em 2016.

O percentual de investimento em educação no Brasil, em 1985, não chegava a 3% do PIB. Em 2018, foi de 5%, o que inclui também o ensino superior.

O país, contudo, ainda tem mais de 6 milhões de crianças de até 3 anos fora da creche. Entre jovens de 15 a 17 anos, idade para o ensino médio, a exclusão atinge 676.509 pessoas.

O professor Fernando Abrucio, da FGV (Fundação Getulio Vargas), diz que não há contradição entre aumentar gastos e melhorar gestão. Segundo ele, não colocar os desafios estruturais da área na conta é naturalizar a desigualdade no Brasil.

"O gasto per capita é baixo, o que já justificaria o aumento, e o recurso também é mal distribuído. Então não pode só distribuir a miséria, tem de aumentar para distribuir melhor", diz.

No Ceará, apontado como exemplo de eficiência porque municípios pobres conseguiram bons resultados com recursos limitados, o estado aprovou lei, em 2009, que alterou a distribuição do ICMS para municípios com base em resultados educacionais.

A PEC do Fundeb também prevê a medida e dá aos estados prazo de dois anos para a criação da legislação.

Em meio aos debates, Cara, da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, diz que mudanças não serão sentidas de um ano para o outro. “Educação é maratona, não é corrida de cem metros.”

CONHEÇA OS MÉTODOS DE HIGIENIZAÇÃO, FSP


De acordo com a Abralimp (Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional), o novo coronavírus tem baixa resistência: ele é envolto por uma camada de gordura que se rompe facilmente com o uso de detergentes comuns..
A principal vantagem dos métodos de sanitização é a capacidade de chegar a cantos e ranhuras que o esfregão não alcança.
Veja como atuam os métodos mais comuns

Sanitização química
Como funciona Produtos à base de quaternário de amônio são pulverizados no ambiente, eliminando micro-organismos
Vantagem O equipamento espalha microgotas do produto sanitizante, que se espalha por igual em todo o ambiente e atinge até mesmo os cantos escondidos
Desvantagens O processo só elimina os micro-organismos presentes no momento da aplicação e deve ser refeito com frequência; há risco de reações alérgicas
Quanto custa A partir de R$ 2 o metro quadrado

Sanitização química de ação prolongada
Como funciona Composto de quaternário de amônio e silano é pulverizado no ambiente, eliminando micro-organismos
Vantagem Além de se espalhar por igual por todo o espaço, continua em ação por 90 dias
Desvantagem Há risco de reações alérgicas
Quanto custa A partir de R$ 30 o metro quadrado

Luz ultravioleta
Como funciona Lâmpadas de alta potência emitem raios ultravioleta que eliminam os micro-organismos
Vantagem Não causa reações alérgicas
Desvantagem Só age nas superfícies planas e lisas que os raios alcançam
Quanto custa A partir de R$ 5 o metro quadrado

Gerador de ozônio
Como funciona Um aparelho suga o oxigênio, o transforma em ozônio e expele o gás no ambiente, matando micro-organismos
Vantagem É inodoro e não causa reações alérgicas
Desvantagens De acordo com a Sociedade Brasileira de Infectologia, não há qualquer evidência científica de que a ozonioterapia proteja contra o novo coronavírus
Quanto custa A partir de R$ 2 o metro quadrado

Marcia Dessen Dinheiro com propósito, FSP

Doar dinheiro não faz parte da cultura do brasileiro. Isso não é uma crítica, mas um fato. Até mesmo quando a doação representa um benefício fiscal, uma redução no valor do Imposto de Renda a pagar, é baixa a adesão.

Falta de recursos, falta de conhecimento ou de interesse limitam as ações de caridade observadas por aqui.

pandemia do coronavírus expôs, de forma contundente, nossas mazelas sociais. Milhões de pessoas invisíveis se apresentaram em busca do auxílio emergencial.

Escola de samba Imperador do Ipiranga distribui cerca de 200 refeições para moradores da favela de Heliópolis
Escola de samba Imperador do Ipiranga distribui cerca de 200 refeições para moradores da favela de Heliópolis - Rubens Cavallari/Folhapress

O sentimento de empatia e compaixão desperta a generosidade nos privilegiados, afortunados com saúde e dinheiro, com o propósito de ajudar os menos favorecidos, o cuidado com o outro, com o coletivo.

Gestos e atos de caridade e filantropia mobilizam a população, impossível ficar indiferente a tanta dor. Doações, a forma mais simples de transferir riqueza e reduzir a desigualdade social, surgiram por todos os cantos, de dinheiro, de produtos, de serviços, de apoio, de solidariedade.

Entretanto, essa onda de generosidade tende a ocorrer pontualmente, perante grandes tragédias, não acontece de forma contínua e organizada, como em alguns países. A prática da caridade, ou filantropia, disseminada em alguns países, faz parte até do planejamento da sucessão patrimonial de grandes fortunas.

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O gesto de doar, distribuir riqueza para causas humanitárias, científicas, sociais, pode ser entendido em razão dos valores pessoais dos que patrocinam essa ação generosa, no sentido de deixar um legado para a sociedade, mas também em razão de planejamento fiscal para evitar a incidência de impostos elevados sobre herança, praticada em alguns países.

O relatório de 2015 da Tax Foundation reporta os impostos sobre bens e heranças cobrados em alguns países do mundo. O Japão (55%), a Coreia do Sul (50%), a França (45%), o Reino Unido e os Estados Unidos (40%) aplicam alíquotas muito elevadas quando comparadas com a alíquota máxima de 8% (ainda) vigente no Brasil.

Em tese, o objetivo do imposto sobre herança é reduzir a desigualdade social, fazendo com que os mais ricos contribuam com uma fatia maior do seu patrimônio, permitindo que a arrecadação seja destinada à melhora dos serviços públicos, alcançando os menos favorecidos.

Alíquotas altas demais ganham aspectos confiscatórios e podem afastar os contribuintes que decidem migrar para países nos quais as alíquotas são menores ou inexistentes, deixando de produzir, gerar empregos e riqueza no país.

Enquanto alguns países mantêm altos impostos sobre a propriedade e herança, outros se movem no sentido contrário, eliminando esse imposto, diante da percepção de que o custo-benefício não compensa.

A experiência dos países que optaram por eliminar o tributo tem sido positiva. A Suécia é um exemplo; o fundador da Ikea, Ingvar Kamprad, retornou ao seu país natal, após 40 anos de vida no exterior por razões fiscais.

Posto que a caridade e a filantropia recebem uma pequena parcela dos recursos financeiros excedentes dos mais ricos, para onde vai o dinheiro? Para investimentos, normalmente especulativos, que ofereçam o maior retorno financeiro possível.

Mas será que não existe um meio-termo, uma forma de investir e praticar o bem, mesmo que indiretamente?

Há algumas décadas surgiram novos conceitos de investir, aliando lucro, responsabilidade e sustentabilidade, os investimentos em ESG (Environmental, Social & Governance), tema da próxima coluna.

Marcia Dessen

Planejadora financeira CFP (“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro”.