sábado, 21 de março de 2020

O QUE A FOLHA PENSA Solidários venceremos

Esta geração de brasileiros começa a atravessar um período de temor e privações para o qual não foi preparada pela vivência nem pelo treino. Milhões de famílias estarão progressivamente confinadas em suas residências nas próximas semanas. A liberdade de ir e vir, de sair para trabalhar ou estudar, de encontrar os amigos e de viajar será restringida severamente.
Uma vasta parcela dos concidadãos arcará com sacrifício duplo. Sua renda, pouca, depende da circulação de pessoas e mercadorias e desabará. As reservas, se é que existem, vão se esvair depressa, e os programas tradicionais de auxílio governamental passam ao largo de tais circunstâncias.
Outro contingente de compatriotas, também desprotegido, expõe-se a risco elevado com a chegada da epidemia do novo coronavírus. Idosos e indivíduos portadores de outras enfermidades sujeitam-se a sofrimento prolongado nas emergências e ao risco maior de morte se forem infectados.
É para resguardar os mais vulneráveis —seja da violência do patógeno, seja da depauperação— que toda a sociedade agora deveria se mobilizar.
Mudar os hábitos, delegar poderes limitada e temporariamente maiores às autoridades, entregar-se a jornadas extenuantes e arriscadas como têm feito os profissionais da saúde e reduzir a atividade produtiva resultará plenamente recompensador se, ao final dessa dolorosa estrada, muitos brasileiros houverem sido poupados da morte e da miséria.
Olhar para o outro que sofre e estender a mão é exercício que há de fazer bem à comunidade. Num país em que iniquidades abismais convivem desde sempre com a indiferença —quando não cumplicidade— das elites e dos governantes, um choque como esse poderá ter consequências duradouras.
Que se elevem recursos e esforços coletivos na emancipação de dezenas de milhões hoje condenados à ignorância e à baixa renda. Que cresça a intolerância a privilégios concedidos a poucos pelo Estado.
Que se cobrem dos políticos eficiência, respeito ao conhecimento científico e responsabilidade com o bem-estar desta e das futuras gerações de brasileiros.
A epidemia acaba, mas a solidariedade não vai embora e poderá transformar o Brasil.

O novo normal, Daniel Martins de Barros, O Estado de S.Paulo


20 de março de 2020 | 06h00


Sextou! Finalmente hoje é dia... de ficar em casa. Bem-vindos a março de 2020.
Sim, sempre haverá gente achando que ficar em casa é exagero, sempre haverá gente do contra. Em tempos de redes sociais tudo é motivo para polêmica. Mas em tempos de redes sociais não há mais como ficar indiferente aos exemplos ao redor do mundo. Como tem sido repetido, se fizermos tudo direito, as medidas parecerão exageradas. Melhor isso do que, no futuro, nos lamentarmos por não terem sido suficientes. A não ser para uma parcela pequena de mais teimosos, portanto, não há mais dúvida de que é preciso que fiquemos em casa. Até mesmo às sextas-feiras, sábados e domingos. Precisamos lidar com isso, não tem jeito. O que não nos impede de ficar estressados com a situação toda.
Nem todos sofrerão com a mesma intensidade, claro. Na diversidade de seres humanos que existe, alguns ficarão desesperados, enquanto outros ficarão é felizes. Pois, embora existam os extremos dos dois lados – gente que sempre foi reclusa e não aguenta uma festa, e gente extrovertida a ponto de se angustiar ao ficar cinco minutos consigo mesma –, a maioria de nós está em algum ponto intermediário. Consegue aproveitar um bom happy hour da mesma forma que sabe desfrutar de momentos sossegados em casa. Então, não é o sair ou ficar que mais nos aflige. É a sensação de que as coisas não estão normais. Que nossas opções foram reduzidas contra nossa vontade. E sair do modo automático. Seguir na inércia, fazendo todos os dias o que sempre fazemos é uma enorme economia de energia. Mudar é estressante. E custa esforço.
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No entanto, é possível pensar em algumas formas de reduzir esse estresse. Em primeiro lugar, aceitar os fatos. Uma grande fonte de desgaste emocional é a frustração de lutar inutilmente para escapar de uma situação sem saída. Já passamos por coisas assim: quando estamos presos em uma viagem que não gostaríamos de ter feito, por exemplo. É muito pior ficar lá reclamando e contando os dias para o fim do que entregar os pontos. “Se sou obrigado a estar aqui, paciência. Logo passa” – é uma postura que, quando conseguimos adotar, traz bem menos sofrimento. 
É como uma história atribuída aos filósofos estoicos, de um cachorro amarrado na carroça. Quando ela se dirige para um lado que o cão não gostaria de ir pouco adianta ele latir, morder, travar as patas. Isso só irá desgastá-lo sem impedir que, no final, ele acabe indo para aquela direção de qualquer jeito. Sábio seria o cachorro que compreendesse isso e fizesse sua vontade coincidir com as forças do destino.
Ou seja, se temos de ficar o fim de semana em casa, o pior que poderíamos fazer seria passar o tempo revoltados contra a situação. A irritação certamente iria contagiar as outras pessoas, os ânimos se acalorariam, a hostilidade cresceria. Daí para discussões é um pulo – o que só ajudaria a piorar o que não estava bom. A sabedoria dos estoicos vem bem a calhar nesses momentos.
Por um tempo, as coisas estarão diferentes. Em vez de buscar o roteiro de cinemas, revirar o catálogo das plataformas de streaming. No lugar de decidirmos onde ir comer, entrar em acordo sobre a refeição que vamos preparar. Se a ideia era assistir uma peça, talvez ler um romance. Pelo menos por enquanto, esse é o novo normal.
E essa palavra é uma chave fundamental para lidar com nossa ansiedade. As coisas estão diferentes, mas agora isso é normal. Pois quando nos convencemos que as coisas estão normais (ao menos por ora) ficamos mais tranquilos.

sexta-feira, 20 de março de 2020

'Não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar', diz Bolsonaro sobre coronavírus, FSP

BRASÍLIA
O presidente Jair Bolsonaro voltou a minimizar nesta sexta-feira (20) a gravidade do coronavírus e afirmou que só fará um novo exame para saber se foi contaminado caso haja recomendação do médico da Presidência da República.
Em entrevista à imprensa, na qual vestia uma máscara cirúrgica, o presidente lembrou que sobreviveu a uma facada na campanha eleitoral de 2018 e disse que não vai ser uma "gripezinha" que irá derrubá-lo.
"Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar, não. Se o médico ou o ministro me recomendar um novo exame, eu farei. Caso contrário, me comportarei como qualquer um de vocês aqui presentes", afirmou.
O presidente da República, Jair Bolsonaro
O presidente da República, Jair Bolsonaro - Isac Nóbrega/PR
Bolsonaro não divulgou até o momento a cópia dos dois exames clínicos que deram negativo para o novo coronavírus.
O presidente realizou dois testes, um no dia 12 e o outro no dia 17. Nas redes sociais, ele informou que ambos deram negativo, mas não mostrou documento formal das análises.
Folha solicitou à Secom (Secretaria Especial de Comunicação) da Presidência da República cópia do exame em duas oportunidades, mas não obteve resposta.
Até o momento, mais de 20 integrantes da comitiva presidencial que viajaram aos Estados Unidos no início deste mês foram diagnosticados com a doença.
Nesta sexta-feira (20), o presidente ressaltou que é uma pessoa especial pela função pública que ocupa e ressaltou que os exames de seus familiares também deram negativo.
"Eu sou uma pessoa especial pela função que eu ocupo, obviamente. Mas fiz dois exames, minha família fez também e deu negativo. Se o medico da Presidência da República e até o ministro da Saúde, a quem eu sou subordinado a essa questão, ach​ar que eu devo fazer um novo [exame], sem problema nenh​um", afirmou.
O ministro da Saúde, Luiz H​enrique Mandetta, também presente na entrevista, disse que o resultado de um exame médico é uma questão íntima e que interessa apenas ao paciente.
"Os exames do paciente são do paciente. O seu exame e o seu prontuário são da sua intimidade. A gente não faz divulgação do exame nem seu, nem meu, nem de ninguém", disse. "Se tiver positivo ou negativo, cabe a ele, presidente, ou ao seu medico comunicar", emendou.
Ele ressaltou que teve a informação de pessoas que tem invadido a rede de laboratórios que testam o coronavírus para tentar acessar o prontuário de autoridades e famosos. O ministro classificou a iniciativa como "meio mórbida".
"Tem gente procurando saber, parece uma coisa meio mórbida, entrando dentro de sistemas de computador de laboratórios para saber nomes de pessoas públicas que eventualmente tenham feito exames. Isso tem de ter limite", ressaltou. ​