segunda-feira, 16 de março de 2020

Janaina Paschoal defende afastamento de Bolsonaro e Mourão na Presidência, FSP

Deputada estadual responsabilizou presidente por apoio a manifestações no domingo (15)

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deputada Janaina Paschoal (PSL-SP) defendeu durante pequeno expediente na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) nesta segunda-feira (16) que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) seja afastado do cargo. Ela ainda afirmou ter se arrependido de seu voto nas eleições de 2018.
"Esse senhor tem que sair da Presidência da Republica, deixa o [vice-presidente Hamilton] Mourão que entende de defesa. Nosso país está entrando em uma guerra contra um inimigo invisível. Deixa o Mourão, que é treinado para defesa, conduzir a nação", defendeu Janaina.
"Não tem mais justificativa. Como um homem que está possivelmente infectado vai para o meio da multidão? Como um homem, que faz uma live na quinta e diz para não ter protestos, vai participar desses mesmos protestos e manda as deputadas que são paus-mandados dele chamar o povo pra rua?"
A deputada afirmou que Bolsonaro não só não está tomando medidas de contenção, como também estimula aglomerações em meio à crise do novo coronavírus "estando ele própprio de quarentena".
"Eu me arrependi do meu voto. Que país é esse? Como é que esse homem vai lá, potencialmente contaminando as pessoas, pegando nas mãos, beijando? Ele está brincando? Ele acha que ele pode tudo? As autoridades têm que se unir e pedir para ele se afastar. Nós não temos tempo para um processo de impeachment. Nós estamos sendo invadidos por um inimigo invisível."
Em 2016, Janaina Paschoal foi uma das autoras do impeachment de Dilma Rousseff (PT).
Grupos de simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ignoraram o cancelamento oficial dos atos pelo país por causa da pandemia de coronavírus e saíram às ruas para protestar neste domingo (15).
Houve manifestações em cidades de todas as regiões do país, com gritos de guerra e faixas em defesa do governo federal e com uma série de ataques ao Congresso e ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Na semana passada, Bolsonaro chegou a pedir para que as manifestações fossem adiadas, mas apoiadores seguiram insistido em promover os protestos e iniciaram um movimento nas redes sociais: #DesculpeJairMasEuVou.
Apesar de inicialmente ter pedido a seus apoiadores que não fossem aos atos pró-governo deste domingo (15) por causa da crise do coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro estimulou os protestos, com postagens desde cedo nas redes sociais, e ainda participou das manifestações em Brasília.
Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada por volta do meio-dia e seguiu para a Esplanada dos Ministérios, onde um grupo de apoiadores realiza o ato. O presidente não desceu do comboio presidencial e, de carro, passou a ser seguido por veículos com simpatizantes.
Mônica Bergamo
Jornalista e colunista.

Bolsonaro vê 'luta pelo poder', rebate Maia e diz que isolar o presidente seria golpe, OESP

Matheus Lara, Daniel Weterman e Emilly Behnke, O Estado de S.Paulo
16 de março de 2020 | 11h32

O presidente Jair Bolsonaro disse nesta segunda-feira, 16, que há uma "luta pelo poder" no combate à pandemia do coronavírus no Brasil. Ele reclamou dos ataques dos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), respectivamente, e afirmou que, depois de 15 meses "levando pancada", agora vai começar a revidar.  Questionado sobre a possibilidade de ser alvo de um pedido de impeachment, Bolsonaro respondeu que "seria um golpe se isolar chefe do Executivo por interesses que não sejam republicanos".
"Está em jogo uma disputa política por parte desses caras (Maia e Alcolumbre)", afirmou Bolsonaro em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, na Rádio Bandeirantes. "Grande parte da mídia, chefes do Legislativos e alguns governadores estão batendo o tempo todo. Estou há 15 meses calado, apanhando, agora vou falar."
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Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores em Brasília
Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores em Brasília Foto: Dida Sampaio/Estadão
Bolsonaro disse que não se arrepende de, no domingo, 15, ter ido ao encontro de apoiadores em Brasília apesar de estar orientado a ficar em isolamento até refazer exames para o coronavírus. O presidente voltou a chamar de "histeria" o tema no País. 
"Eu não convoquei o movimento (de domingo, 15). Tenho obrigação de saudar o povo. Se eu me contaminei, ninguém tem nada a ver com isso", afirmou o presidente. "Não faço demagogia. Não faço populismo. Podemos ter problemas sim (por causa do coronavírus), pessoas com deficiência e idosos podem vir a óbito, mas responsabilizar o presidente por tudo isso pelo suposto péssimo exemplo é irresponsabilidade. É luta pelo poder"
Ao falar de sua relação com o Congresso, Bolsonaro reclamou de Maia e ironizou que ele, assim como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), participaram de evento no Parque do Ibirapuera com mais de mil pessoas, a inauguração da CNN Brasil, na última segunda-feira, 9. "Estou pronto para conversar com o Congresso, mas há uma luta pelo poder."
"Maia me chamou de irresponsável, fez um ataque frontal. Nunca tratei ele dessa maneira. É um jogo. Desgastar, desgastar, desgastar. Tem gente que está em campanha até hoje para 2022 dando pancada em mim o tempo todo. O (ministro da Saúde, Luiz Henrique) Mandetta esteve em São Paulo com o governador Doria e depois que terminou a entrevista o Doria começa a descer o cacete no governo. A elite política se reuniu em 1,3 mil pessoas na oca do Parque Ibirapuera e eu não posso chegar perto das pessoas na rua"
Bolsonaro disse que não se sente responsável pelas bandeiras levantadas pelos manifestantes que o apoiam nas ruas. Atos do domingo tiveram o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) como alvos principais. "Não fiz movimento nenhum contra o Legislativo ou o Judiciário. Não bota isso na minha conta. O que está em jogo? O Brasil está dando certo porque tudo mudou. Se eu estivesse entregando ministérios, dando dinheiro para a grande mídia, não estaria sendo questionado."

Novo exame

Bolsonaro afirmou que fará um novo exame para coronavírus nesta terça-feira, 17. Conforme antecipou o Estado, o chefe do Planalto terá de fazer um novo teste e a orientação era ficar em isolamento até lá. Na entrevista, o presidente declarou estar se sentindo "muitíssimo bem."

Orçamento

Bolsonaro disse que o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) foi colocado contra a "parede" pelo Congresso nas negociações sobre o Orçamento. Ramos participou de conversas para envio de projetos de lei que garantem ao Congresso o controle sobre uma fatia de R$ 15 bilhões neste ano, período de eleições municipais. Bolsonaro se manifestou contra a tentativa de entregar aos parlamentares a definição sobre a destinação desse dinheiro.
Os projetos estão pautados em sessão do Congresso nesta terça-feira, 17. Bolsonaro negou que haja um acordo para aprovação das propostas. De acordo com ele, o defeito do ministro Ramos, que conversou com lideranças da Câmara e do Senado sobre o tema, é ser "bastante inexperiente ainda". 
"O pessoal te bota na parede, botou o Ramos na parede para conversar (sobre) projetos para andar lá, compromissos futuros. Talvez o Ramos tenha se perdido um pouco pela sua imaturidade, inocência e honestidade", disse Bolsonaro na entrevista. 
Medida provisória editada no sábado, 14, transfere R$ 5 bilhões que seriam controlados pelo Congresso para o guarda-chuva do Executivo em ações de combate ao novo coronavírus. Bolsonaro manifestou interesse em recuperar os R$ 10 bilhões restantes indicados como emendas do relator do Orçamento.
"Se afundar a economia, acaba o meu governo, acaba qualquer governo. É uma luta de poder. Há por parte de alguns, não estou dizendo todos, irresponsabilidade nisso aí."

Coragem ou irresponsabilidade?, FSP

Não será surpresa se Bolsonaro for visto, de propósito, chupando o dedo

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Ao ver sua claque em frente ao Alvorada, Jair Bolsonaro saiu tocando mãos, deixando-se apalpar e tirando selfies com celulares de apoiadores que ele não sabe se estavam com o nariz escorrendo. Coragem ou irresponsabilidade? Se Bolsonaro está convicto de que o coronavírus é uma invenção da mídia e não liga para sua saúde, ótimo —os brasileiros de bem agradecem.
O problema é que ele não é dono apenas de seu nariz. Sua atitude de ontem gerou um péssimo exemplo. Para desespero das autoridades sanitárias, inclusive as de seu governo, ele deu sinal verde para que ninguém tome as precauções para evitar contágio. Com seu populismo de coronel da roça, Bolsonaro contrariou a maciça recomendação médica de que, em nome da saúde pública, as pessoas lavem constantemente as mãos, policiem-se para não levá-las ao rosto e evitem contatos em aglomerações.
Para fazer jus à alcunha de “mito” que os papalvos insistem em lhe pespegar, não será surpresa se, nos próximos dias, Bolsonaro for visto removendo ramela do olho, chupando o dedo, roendo as unhas, tirando meleca do nariz, arrancando um fiapo de manga do dente ou dando palmadinhas nas bochechas de alguma apoiadora —fazendo, de propósito, tudo que não se deve fazer. Como passou dias ao lado de auxiliares já diagnosticados com o vírus, Bolsonaro tornou-se uma ameaça ambulante de contágio. Mas nem isso o impede de arriscar-se a empestear seus veneradores.
Em seu raciocínio patafísico, ele parece não ver por que tantas instituições, em escala mundial, estão se dispondo a perder bilhões ao paralisar suas atividades. Mas, se e quando a calamidade se instalar aqui por causa do coronavírus, talvez esses veneradores se lembrem de que ela poderia ter sido evitada se o chefe da nação fosse um estadista, que visasse o bem da população.
E não alguém que, no fundo, dá uma banana para essa população.
O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta manifestante em frente ao Palácio do Planalto - Sergio Lima/AFP