domingo, 8 de março de 2020

Cavalão, cavalariços e alguns corajosos, FSP

Convocação com fotos de generais da cúpula está vista como um sintoma do golpismo

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Se é Cavalão, escoiceia. É da sua natureza, identificada e batizada pelos colegas. Mas as duas afirmações mais recentes da peculiaridade natural causaram danos severos.
Ao próprio Jair Bolsonaro, com seus ataques à repórter Patrícia Campos Mello e depreciação anatômica de todas as mulheres; e danos vários com seu chamado a uma manifestação contra o Congresso e o Supremo.
Essa convocação, com fotos de generais da cúpula do governo, está vista como um sintoma do golpismo não mais latente, já em pregação ostensiva. A gravidade maior e mais sugestiva nesse passo de Bolsonaro não está, porém, na convocação em si. E nem mesmo nas fotos dos generais. É esta: se o uso não foi autorizado, generais indicaram aceitá-lo, à falta de providência, qualquer uma, para mostrar-se contrários à convocação e ao pretendido ataque a dois dos Poderes.
Ex-integrante da caserna presidencial, de demissão mal esclarecida, o general Santos Cruz propôs-se a desanuviar o ônus, para o Exército, das fotos e daquele silêncio comprometedores. “Militares não são políticos”, “militares são profissionais”, “são guardiães da Constituição”. Sim, militar que é militar é isso mesmo. Mas não é assim, aqui, do Império à convocação feita por Bolsonaro com as fotos de generais que o acompanham no governo. E isso é História, é um correr de fatos documentados, não é opinião.
Coube a paisanos-políticos —acúmulo de condições condenadas pelo bolsonarismo civil e militar— lembrar as noções de responsabilidade governamental e de lealdade cívica que se esvaem por aí.
Passadas décadas de complacência ou covardia diante de desacatos à Constituição, ao Supremo e aos governos, por reivindicações salariais, afinal a Polícia Militar encontra quem tenha desprendimento para enfrentá-la. Foi no Ceará. O governador Camilo Santana propôs em emenda à Constituição estadual e 34 deputados aprovaram, contra votos e fugas de 12: fica proibida a anistia a policiais militares envolvidos em paralisação ilegal. O que também significa processo e julgamento. Já para os recentes amotinados, Camilo Santana não admitira a inclusão de anistia na negociação de PMs e governo.
Foram três paralisações por mês de serviços de segurança, em média no país de 1997 a 2017, como se deduz do total apurado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Todos os serviços de segurança têm o que reivindicar, é certo, seja em salários, em compensações como seguro e em condições da sua atividade. Mas por negociação, por conquista de apoio social. A Constituição proíbe greve de militares, o que inclui Polícia Militar, e o Supremo definiu que a proibição se aplica também a todos os outros serviços de segurança, por ser a sua ação indispensável à ordem pública.
A falta de compostura de Sergio Moro não deveria surpreender mais, ao menos desde que recebeu um ministério como retribuição do seu beneficiado Bolsonaro. Mas o cinismo inescrupuloso é sempre chocante. Ministro da Justiça e da Segurança Pública, Moro não viu excesso na greve armada, na ocupação à força de prédio público, nos danos a equipamentos para impedir a atividade de não grevistas, nem, ele sequer mencionou, nas 241 pessoas assassinadas no estado em nove dias de greve amotinada.
A falta de atitude de Moro e o apoio pouco velado de Bolsonaro aos grevistas são indissociáveis da convocação do protesto contra o Congresso e Supremo. Têm a mesma finalidade.
Janio de Freitas
Jornalista

Barcos viram opção para se hospedar no litoral norte de SP, FSP

Há diárias de R$ 160 em Ubatuba e R$ 200 em Paraty; piloto deve ter licença

Reginaldo Pupo
UBATUBA (SP)
Hospedar-se em um hotel de luxo na praia, com café da manhã e vista para o mar, é para poucos. Pacotes para os cinco dias de Carnaval nas cidades do litoral norte de São Paulo variavam de R$ 2.500 a R$ 12 mil, dependendo da categoria do hotel.
Turistas na região, porém, agora têm a alternativa de alugar barcos para se hospedarem com conforto semelhante ao de hotéis de luxo. Há opções com suítes espaçosas, camas de casal e de solteiro, salas de estar, banheiros e, dependendo do porte da embarcação, piscina e tobogãs.
De olho nesse nicho, empresas e donos de barcos oferecem veleiros, catamarãs, lanchas e iates como forma de amenizar o alto custo de manutenção —apenas para deixar um barco parado em uma marina pode ser necessário pagar até R$ 30 mil mensais.
A procura vem aumentando desde o final de 2019, afirmam empresas que realizam esse tipo de locação. 
O serviço de barco-hotel aparece em anúncios de sites de locações de casas. A oferta pode ser atrativa em um país de 7.367 km e costa e 35 mil km de vias internas navegáveis, segundo o Ministério do Turismo.
De acordo com a empresa Angatu, de Ubatuba, é possível alugar um veleiro de médio porte por valores entre R$ 160 a R$ 190 a diária, por casal, sem incluir passeio. 
Nesse caso, a embarcação fica ancorada na enseada da praia do Itaguá, na região central. A vantagem é a privacidade, já que apenas os hóspedes permanecem no barco. Caso os turistas queiram sair para terra, basta acionar o serviço de táxi-boat disponibilizado pela embarcação.
“Se os hóspedes optarem pela hospedagem com passeio e pernoite, um comandante é acionado para conduzir os turistas a algumas praias e ilhas da região”, diz Pamela Jaque, da Angatu, responsável pelo veleiro Keewi, de 9,44 metros de comprimento.
A diária, porém, salta para R$ 900. A quantidade de hóspedes depende do tamanho da embarcação, mas, no caso do veleiro da Angatu, o máximo permitido são seis.
Veleiro Keewi
Veleiro Keewi, enseada da praia do Itaguá, Ubatuba, - Divulgação
Segundo Jaque, os veleiros desse porte costumam ter até duas cabines fechadas, mais as camas de solteiro que ficam no salão e o banheiro. Algumas dessas embarcações possuem suítes.
Os hóspedes também podem fazer aulas de iatismo e conhecer a parte técnica para colocar o veleiro em movimento. Os valores variam entre R$ 1.050 a R$ 1.500 por pessoa com pernoite.
“É necessário ter um conhecimento bem mais amplo sobre a estrutura do veleiro, principalmente para quem navega no mar, como motor, baterias e equipamentos de navegação, como GPS, bússola, carta náutica, rádio, entre outros, além de noções de meteorologia”, afirma Jaque.
O advogado Haroldo Lorena, do Rio de Janeiro, alugou um barco para passar o Réveillon com sua família. Ele disse que investiu R$ 11 mil na experiência de cinco dias. Velejador há 35 anos —desde os 12—, afirma que já foi dono de barcos de oceano, mas, hoje, prefere apenas alugar.
“Alugando, o barco sempre está limpo, com tudo funcionando, e não tem aqueles custos fixos e aborrecimentos de ter uma embarcação onde você tem que pagar marina, pagar marinheiro, e toda hora quebra uma coisa —por mais novo que o barco seja, sempre tem alguma manutenção pra fazer.”
O engenheiro deixou o Rio e foi velejando até Angra dos Reis, onde passou todo o período na Ilha Grande, dormindo em lugares diferentes, e retornou à capital fluminense velejando. “Outra vantagem é que eu pude alugar o barco ‘bear boat’ (pelado), ou seja, sem ‘skipper’ (capitão), porque sou habilitado, tenho currículo náutico. Então foi uma experiência hiperpositiva.” 
O advogado alugou o barco de uma startup espanhola que possui 430 embarcações para locação na costa brasileira, sendo 65 delas localizadas no litoral norte paulista.
Segundo a Nautal, suas diárias em qualquer lugar do Brasil podem variar de R$ 900, para duas pessoas, a R$ 25 mil, para 50 hóspedes, conforme o tamanho da embarcação.
“O destino de um barco não deve ser ficar parado em um porto ou marina, e sim proporcionar experiências únicas. Além disso, os proprietários encontram uma alternativa aos altos custos relacionados à manutenção das embarcações”, diz Octavi Uyá, CEO da Nautal.
Se o turista não for habilitado para pilotar a embarcação, um piloto precisará estar a bordo tanto para conduzir o barco como para auxiliar com dicas de navegação e cuidar da parte técnica.
Erramos: o texto foi alterado
O Brasil tem 7.367 km de costa e não 7 km. O texto foi corrigido.