quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Receita do Uber cresce e anima investidores, apesar de prejuízo, OESP

Nos últimos meses, a empresa de transporte por aplicativo Uber vive um desafio: mostrar aos investidores que pode dar lucro. Nesta quinta-feira, 6, a companhia comandada por Dara Khosrowshahi mostrou que não conseguiu completar a tarefa no quatro trimestre de 2019, registrando prejuízo de US$ 1,1 bilhão entre outubro e dezembro de 2019. Apesar disso, o mercado financeiro não perdeu as expectativas na empresa, que registrou aumento de 37% em sua receita no período, na comparação com o mesmo trimestre de 2018. Para analistas, os números mostram que a empresa está em um caminho interessante – o que levou as ações da companhia a subirem 4% após o fechamento do mercado. 
Outro fator que ajudou a companhia foi a redução das perdas. Nos dois trimestres anteriores, a empresa havia registrado prejuízo de US$ 5 bilhões e US$ 1,2 bilhão. Além disso, é importante considerar que a divisão de viagens urbanas do Uber já é lucrativa por si só – o que afeta o desempenho da empresa hoje são os gastos com o serviço de entrega de refeições (UberEats), custos administrativos e também pesquisa e desenvolvimento. Só o Uber Eats, por exemplo, teve perda de US$ 461 milhões no período. 
“Reconhecemos que a era do crescimento a todo custo acabou” disse Dara Khosrowshahi, presidente executivo do Uber, em comunicado. “Estou satisfeito com nosso progresso, cumprindo firmemente os compromissos que assumimos com nossos acionistas em nosso caminho para a lucratividade”. Em novembro do ano passado, Khosrowshahi disse que a meta da empresa era registrar lucro em 2021. 
"Finalmente, o Uber demonstrou um grande passo rumo à lucratividade", disse Dan Ives, analista da corretora Wedbush Securities, em nota a investidores. "Dara e seus funcionários mostram que o lucro e a redução das perdas com o Uber Eats serão o foco em 2020 e além." 
O aplicativo de transporte registrou receita de US$ 4,07 bilhões no quarto trimestre, superior à estimativa de analistas, que era de US$ 4,06 bilhões – no mesmo período do ano anterior, a empresa arrecadou US$ 2,9 bilhões. A maior parte da receita do Uber no trimestre veio dos Estados Unidos e do Canadá: a empresa arrecadou US$ 2,5 bilhões na região. A América Latina é o segundo mercado mais importante do Uber, com US$ 553 milhões em receita. 

Viagens

O relatório mostra que a receita da empresa vem principalmente do serviço de caronas, que está disponível hoje em 700 cidades ao redor do mundo: o número de viagens pelo aplicativo cresceu 28% no trimestre, para mais de 1,9 bilhão, e a receita cresceu 27%, para mais de US$ 3 bilhões. 
A companhia também disse que tem hoje cerca de 111 milhões de usuários ativos mensais no mundo. 
O Uber fez parte de um grupo de startups do Vale do Silício que abriu capital do ano passado, colocando seus negócios à prova do mercado. Além das dificuldades financeiras, a empresa enfrenta problemas de regulação em vários países, devido ao tipo de parceria que mantém com seus motoristas. 

"Fora, China!" Gilles Lapouge, O Estado de S.Paulo


É preciso ser muito estúpido para hostilizar um chinês porque em uma das províncias da China (cuja existência a maioria ignorava até ontem) havia um vírus perigoso adormecido


05 de fevereiro de 2020 | 13h00
Um dos efeitos colaterais desse coronavírus que apareceu na província chinesa de Hubei é a confirmação de que o racismo está latente em todos os cantos do mundo, vindo à tona por qualquer motivo.
Nos primeiros dias do surto, o Ocidente reagiu com admiração aos esforços da China. Elogiávamos a seriedade e a energia com as quais Pequim combatia os minúsculos invasores invisíveis. Para o surto não se propagar, dezenas de milhões de chineses foram confinados em seus campos e cidades.
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Diversos países adotaram medidas para evitar surto de coronavírus
Diversos países adotaram medidas para evitar surto de coronavírus Foto: Kin Cheung/AP Photo
Dizíamos que as massas chinesas davam prova de um sangue-frio e de uma disciplina notáveis. E nos embasbacávamos com esse povo capaz de construir, quando se tornou necessário, um hospital completo em apenas dez dias, com equipamentos sofisticados, 2 mil leitos e um batalhão de enfermeiros prontos para utilizar esse material.
Mas tanta dedicação e competência não desarmou o medo e as críticas de outros países. Mesmo a província chinesa de Hong Kong, cujo status, é verdade, é singular, em vez de mandar ajuda à China continental viu, ao contrário, seus médicos entrarem em greve para exigir das autoridades locais que fechassem a fronteira com o continente chinês.
O Le Monde informou na edição desta terça-feira que o Cazaquistão e as Filipinas, dois parceiros essenciais na “nova Rota da Seda” lançada em 2013 por Xi Jinping, fecharam todos os seus acessos. Na Europa, um país que deverá ser destaque na Rota da Seda é a Itália. Mas Roma também está fechada para os turistas chineses. Ora, é preciso ser muito estúpido para hostilizar um chinês porque em uma das províncias da China (cuja existência a maioria ignorava até ontem) havia um vírus perigoso adormecido.  A Rússia, igualmente, cerrou as cortinas.       
Assim, ao longo da futura Rota da Seda está constituído um arquipélago de territórios confinados, como a província chinesa de Hubei. Do lado da China, no início Xi Jinping dedicou ao flagelo apenas um dos discursos curtos e óbvios que faz de quando em quando. Em seguida, voltou a se fechar em seu silêncio.
Quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) por fim decretou estado de urgência internacional frente à epidemia, a única reação oficial de Pequim também foi sucinta: o ministro do Exterior chinês declarou brevemente que a China continuará trabalhando com a OMS e outros países. E na imprensa e TV voltaram as críticas à “histeria da mídia ocidental” que ouvimos após os primeiros avanços do coronavírus. Onde, pois, colocar o cursor? /TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

PEDRO DORIA O emprego e o Uber, Link OESP

Já perguntou para um motorista de Uber quantas horas ele tem de trabalhar para fazer R$ 3 mil por mês? É um salário que, numa grande cidade brasileira, deixa a família na Classe B. Mas um casal com filho teria dificuldades para bancar aluguel, escola particular e plano de saúde com esta renda. Na quarta-feira, o Tribunal Superior do Trabalho definiu que dirigir Uber não cria vínculo empregatício. Pode ser — e a questão não tem nada de trivial. Mas este problema não está sequer próximo de terminar.
O caso analisado foi o de um motorista paulistano que havia trabalhado com o aplicativo durante quase um ano, entre 2015 e 2016. Ele perdeu na primeira instância mas ganhou no Tribunal Regional da 2ª Região. Lá, os desembargadores argumentaram que havia indícios que poderiam caracterizar vínculo empregatício: habitualidade e subordinação, por exemplo. No TST foi diferente. O ministro relator, Breno Medeiros, sugeriu que como o motorista pode desligar o app e não trabalhar sempre que desejar, então não é a mesma coisa que um emprego formal. Ainda cabe recurso ao STF, e pode demorar.
Esta não é a questão. O problema, de fato, é outro. E não do Uber, do iFood, da Cabify, do 99, da Loggi ou da Rappi. O problema não é culpa de ninguém e, no entanto, existe. Não foi à toa que o parlamento da Califórnia, onde fica o Vale do Silício, decidiu tornar lei o vínculo empregatício entre apps e quem presta serviços através dele. É uma solução de curto prazo.
O problema, afinal, está no mundo.
A Era Industrial está acabando. É por isso que inúmeras empresas estão sofrendo crises internas pelo processo de transformação digital. Automatizam processo, cortam funcionários a rodo, e tentam sobreviver enquanto reinventam seus modelos de negócio. Muitas destas empresas vão quebrar. Outras sobreviverão menores.
A Era Digital está nascendo. Muita gente tem por volta dos 40, 50, e um conjunto de habilidades que se tornou desnecessária. Inclusive gente que vive solidamente na classe média. Suas profissões ou deixarão de existir ou exigirão um conjunto completamente distinto de habilidades. Vários vão se reciclar e começar novas carreiras. É duro, mas é o jeito. Outros não vão conseguir. Os próximos dez a vinte anos serão duros.
O resultado é que muita gente está perdendo o emprego por causa do digital e encontrar um novo, com as condições às quais nos acostumamos na última era, será cada vez mais difícil. 
Trabalhar com os apps é um quebra galho. No sufoco, quando o salário desaparece, resolve o problema imediato. Só que é precário. Dificílimo manter uma vida de classe média sem trabalhar muito mais do que as oito horas da legislação. A CLT caminha a passos largos de se tornar obsoleta e não por maldade da direita, como gostaria a esquerda. Mas porque é um registro dos anos 1930 e 40 e responde a problemas e circunstâncias que não existem mais.
O grande drama social não é mais garantir direito a greve, evitar que crianças trabalhem no chão de fábrica ou garantir ao empregado férias, carga horária digna ou licença maternidade. O grande drama social é que aqueles empregos em grandes empresas tenderão a acabar. Ainda vão existir empresas muito grandes. É só que precisarão de pouca gente.
Exigir que os apps deem algo mais a quem trabalha é tentador, e talvez até necessário por um tempo. Mas não custa lembrar. Em grande parte, estas empresas são startups que operam no vermelho, queimando o dinheiro de investidores na expectativa de montar um negócio de sucesso. Sim — até a Uber. E a solução é paliativa. Em alguns anos, tudo vai funcionar como carro robô.
Quem resolve a precariedade da vida dos que não terão emprego formal? Este é o problema.