quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

CAUÊ MACRIS - 2020, o ano do diálogo, FSP

Platão, filósofo grego nascido entre 427-428 a.C., recorreu ao diálogo para expressar e transmitir a sua filosofia. Até os 40 anos de idade percorreu, naquela época, países europeus, africanos e asiáticos em busca de aperfeiçoamento e conhecimento sobre política e democracia.
Já na atualidade, apesar de toda tecnologia, o diálogo —uma condição única e exclusiva do ser humano— ainda é uma dificuldade entre os homens. O simples ato de trocar argumentos com duas ou mais pessoas para alcançar um acordo está cada vez mais difícil na sociedade.
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O deputado estadual Cauê Macris (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo - Bruno Santos - 28.fev.19/Folhapress
Exemplo disso ocorreu na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) no ano passado. Por diversas vezes, o diálogo foi abandonado e deu espaço a ofensasviolênciaextremismo e defesa cega de ideologias. Episódios que não eram comuns passaram a acontecer com frequência.
Valores éticos e morais foram deixados de lado, o que resultou em um número recorde de denúncias ao Conselho de Ética por quebra de decoro: 22 casos. Parlamentares foram advertidos e por diversas vezes tiveram a palavra suspensa por uso inapropriado do discurso, conforme previsto no regimento interno da Assembleia Legislativa.
Um dos motivos para o acirramento dos ânimos pode ser a inexperiência. Dos 94 deputados eleitos em 2018, mais da metade encara pela primeira vez um mandato na Casa sem saber exatamente as regras. Outro grupo sequer tinha ocupado um cargo público. Diante de atitudes tão diversas, os conflitos foram inevitáveis no Parlamento.
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Outro motivo pode ser a polarização. A política, no sentido de governar, dirigir, administrar, não deve ser feita sob gritos ou medição de força. Deve-se discutir as propostas, implantar melhorias, sempre visando os anseios sociais e a eficiência na aplicação dos recursos públicos.
Porém, passado todo o ano de 2019, o que se espera agora é que os deputados possam compreender seu papel e identificar a melhor forma de agir. As sessões legislativas foram retomadas e os projetos estão em pauta para serem analisados, discutidos e votados. 
Por isso, neste ano de 2020, meus esforços serão para que o diálogo seja uma premissa na Alesp. A conversa, o entendimento das ideias e a busca por acordo são condições inerentes aos deputados e ao Parlamento, e é isso que deve ser colocado em prática —nada parecido com o que vimos no ano passado. 
O verdadeiro diálogo considera o clima de boa vontade e compreensão recíproca. O que a sociedade espera de todos nós é uma política de alto nível, de transformações e de melhorias. Antes de qualquer ato, é preciso refletir, pensar e analisar. Como diz Platão: “O pensamento é o diálogo da alma consigo mesma”.
Apesar de um combate real, o diálogo deve ser amistoso, para troca de ideias e informações. Junto ao respeito, ele pavimenta o acordo, a tolerância às ideias e a todas as formas de pensamento. Só assim conseguiremos avançar e atender a necessidades e pleitos da população para uma vida melhor a todos.
Cauê Macris
Deputado estadual (PSDB) e presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo
TENDÊNCIAS / DEBATES

Antonio Delfim Netto - Prioridade no Senado, FSP

Na semana passada, tivemos dois eventos interessantes: a Latin America Investment Conference 2020 e a reunião do Centro de Lideranças Públicas, oportunamente promovidos em São Paulo.
Do primeiro, participaram, com críticas repetitivas e excessivamente ácidas ao governo (que não combinam com suas inteligências), vários “policy makers” que tiveram nas suas mãos o comando da economia brasileira na octaetéride fernandista. Produziram uma pequena joia —o Plano Real—, o que os honrará para sempre. O duro fato, entretanto, é que o plano nunca terminou, porque não conseguiram superar as dificuldades políticas (internas e externas) do governo para corrigir o desequilíbrio fiscal.
Esse pequeno incidente não teve consequências, porque é conhecido o estímulo que lhe deu origem: uma tentativa de inventar —“ex nihilo”— uma candidatura alternativa para enfrentar Bolsonaro em 2022. É legítima e nada há contra ela. Jogo jogado, e bem! Por quê? Eles sabem, de experiência vivida, que o eventual sucesso de Guedes reduzirá a probabilidade de sucesso do ectoplasma que estão a criar. O mote do movimento é “delenda Guedes”, ainda que isso possa impor mais atraso à economia brasileira.
O fato importante do primeiro evento foi a fala e a postura do hábil líder, presidente da Câmara dos Deputados, o ilustre Rodrigo Maia, que revelou as prioridades do Legislativo. No segundo evento, o não menos ilustre ministro Paulo Guedes expôs as prioridades do Executivo. Elas são diferentes, o que é absolutamente natural no Estado democrático de Direito em que estamos vivendo. Nele, respeita-se a independência dos Poderes, mas se impõe que têm que trabalhar em harmonia. O “todo poder emana do povo”, da Constituição, é bifronte.
O presidente é o único eleito por uma maioria relativa dos eleitores, o que o obriga a respeitar a vontade das minorias, mas o Congresso é a soma de todos. Acima deles, está a vontade da Constituição. Foi o que demonstraram claramente Maia e Guedes, expondo diferentes prioridades, todas respeitáveis.
Ocorre que 2020 é um ano eleitoral curto. Diante da dramática situação fiscal que nos ameaça (as despesas continuam a crescer sem controle), parece fundamental trazer à discussão a figura política competente e pacificadora, o ilustre presidente do Senado (e do Congresso), Davi Alcolumbre.
A hora é de somar forças para aprovar, pelo menos, a PEC emergencial 186/2019 (que está no Senado) e criar condições para o controle da expansão endógena das despesas, capaz de garantir a continuidade das políticas em curso, a prioridade das prioridades.
 
Antonio Delfim Netto