segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Com ‘penduricalhos’, 65% dos juízes ganham acima do teto de R$ 39,3 mil, OESP

Levantamento mostra que, apesar do aperto fiscal, teto é rompido pelos magistrados mesmo depois do fim do pagamento indiscriminado do auxílio-moradia; nova benesse aprovada pelo CNJ garante auxílio-saúde de até 10% dos seus salários

Camila Turtelli e Idiana Tomazelli, O Estado de S.Paulo
22 de setembro de 2019 | 23h30
Foi na semana de sexta-feira 13, neste mês de setembro, que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu que o melhor era não dar chance ao azar. Apesar de a situação das contas públicas do País não ir bem, o órgão que controla o Poder Judiciário decidiu que era preciso cuidar melhor da saúde de seus magistrados e servidores e aprovou um auxílio que pode chegar a 10% do salário – um juiz no Brasil ficará muito próximo de ganhar o teto, que é de R$ 39,3 mil mensais. É mais do que o salário do presidente da República, de R$ 30.900,00.
Antes de sair criando novas despesas, o CNJ fez uma consulta a tribunais estaduais, federais e associações de juízes. Ouviu deles que o novo gasto era justificado. Uma das justificativas veio da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), que havia feito pesquisa mostrando que mais de 90% dos magistrados se dizem mais estressados do que no passado.
O CNJ operou em um dos poucos vácuos deixados pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2019. Essa lei dá as bases para os gastos do governo e, por causa da crise fiscal, proibiu reajustes aos auxílios alimentação, moradia e assistência pré-escolar. O auxílio-saúde ficou de fora da vedação.
O dinheiro poderá ser usado para pagar médicos, hospitais, planos de saúde, dentista, psicólogo e até os remédios comprados na farmácia. Livre do teto remuneratório, o auxílio será mais um “penduricalho” a turbinar salários dos servidores e magistrados. Uma despesa criada pelo Judiciário para beneficiar o próprio Judiciário.
Pesquisa feita pela liderança do partido Novo na Câmara mostra que, mesmo após o fim do pagamento indiscriminado de auxílio-moradia, 65% dos magistrados no País estão recebendo acima do teto do funcionalismo em 2019. O porcentual já considera uma margem de R$ 1 mil, para excluir aqueles que passam do limite por auxílios menores, como o de alimentação. Na advocacia pública, que inclui advogados da União e procuradores federais, o porcentual é bem menor, de 15%.

Liminar para garantir benefício

O auxílio-moradia para todos os juízes foi obra de uma liminar concedida pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), em 2014. Seu fim só foi decretado após uma negociação dura que obrigou o governo Michel Temer a avalizar um reajuste de 16,38% para os magistrados, que gerou efeito cascata nos Estados, por elevar o teto de salários para todos os servidores.
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Ministro Fux deu liminar por auxílio-moradia em 2014 Foto: Fabio Motta
O levantamento do Novo analisou mais de 200 mil contracheques, inclusive de juízes estaduais. O Poder Judiciário nos Estados é blindado de qualquer crise e não recebe um centavo a menos que o previsto no Orçamento, mesmo quando as receitas caem. Por lá, o porcentual de quem extrapola o teto estadual (R$ 35,5 mil) chega a 77%.
A pesquisa exclui os meses de janeiro e julho deste ano para evitar um resultado inflado por quem “furou” o teto com o terço de férias.
O economista Daniel Couri, diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, diz que o problema dos “penduricalhos” é que, embora seja preciso uma lei para criá-los, o valor é decidido de forma administrativa. Ou seja, os próprios poderes podem escolher se merecem ou não um aumento.
“A LDO seria o lugar em que se poderia limitar de alguma forma essa autonomia”, diz Couri. Para ele, o impacto do novo auxílio-saúde aprovado pelo CNJ deve ser significativo e levará aos órgãos do Judiciário federal a ter de cortar gastos em outras áreas, já que a emenda do teto fixa um limite total para as despesas. Caberá a cada tribunal regulamentar o pagamento do benefício.
A reportagem questionou o CNJ sobre o impacto da medida e as razões que levaram à decisão, mas não obteve resposta.
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O medo de morrer também vota, Vinicius Mota, FSP


Programa de pesquisas acha conexões entre temor da morte e radicalização




O presidente dos EUA, Donald Trump, e a primeira-dama, Melania, prestam homenagem aos mortos nos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001
O presidente dos EUA, Donald Trump, e a primeira-dama, Melania, prestam homenagem aos mortos nos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 - Nicholas Kamm - 11.set.2019/AFP
O medo de morrer tem profunda implicação no modo como nos comportamos. A ideia parece banal, mas inspira ramo interessante da pesquisa em psicologia, que deu segmento experimental a cogitações do antropólogo cultural americano Ernest Becker (1924-1974).
Juízes do Arizona foram lembrados por entrevistadores de que iriam cedo ou tarde para a cova e depois foram questionados sobre qual seria a fiança que fixariam para um caso comum de prostituição. A quantia estipulada foi nove vezes a arbitrada pelo grupo de magistrados que não fora estimulado sobre mortalidade.
Segundo a teoria, chamada de “gerenciamento do terror”, sempre que somos lembrados da finitude, reagimos reforçando os liames com as crenças da comunidade. Os artefatos culturais desenvolvidos pelos grupos humanos seriam, assim, respostas ao medo do indivíduo de acabar.
Um eficiente resumo desse debate, em inglês, está disponível num episódio do ótimo podcast Hidden Brain, da rede pública de rádio dos EUA.
A despeito de estarem corretos ou não os seus ambiciosos pressupostos teóricos, os patronos desse longo programa de pesquisas, como Sheldon Solomon, encontraram conexões que deveriam interessar aos estudiosos da política contemporânea.
O medo de morrer, ostensivamente estimulado em episódios como ataques terroristas e diligentemente explorado em campanhas eleitorais, alimenta nacionalismos e populismos em voga. Lembradas em experimento de que vão para o bico do corvo, as pessoas valorizam líderes carismáticos como Donald Trump.
A crer na propositura, as lideranças que no Brasil e no mundo se ocupam da costura de um novo centro político deveriam estar atentas a indicadores menos usuais, como os níveis de ansiedade sobre a morte.
Mantê-los sob controle, evitar o endosso às vezes inadvertido à agenda e à linguagem dos radicais, pode ajudar a empurrar o jogo da política para longe do terreno onde imperam os nossos piores instintos tribais.
Vinicius Mota
Secretário de Redação da Folha, foi editor de Opinião. É mestre em sociologia pela USP.

domingo, 22 de setembro de 2019

Brasileiro consome, em média, 25 kg de banana ao ano, FSP

Produção mundial anual bateu recorde em 2018, com 19,2 milhões de toneladas

Ricardo Ampudia
SÃO PAULO
A melhor representante dos Trópicos está de aniversário. Neste domingo (22) é comemorado no país o Dia Nacional da Banana.
Do turbante de Carmen Miranda à representação pejorativa de países caribenhos com pouco apreço à democracia, a fruta é uma das mais populares no mundo. 
A produção mundial anual bateu recorde em 2018, com 19,2 milhões de toneladas, estimados pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). 
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O Brasil é o quarto maior produtor do mundo, atrás de Índia, China e Indonésia. Em 2017, o país produziu 6,6 milhões de toneladas do fruto, mas exportou cerca de 60 mil. Isso porque o brasileiro é um ávido consumidor. 
Brasileiro consome, em média, 25 kg de banana ao ano - Gabriel Cabral/Folhapress
Segundo a Embrapa, o consumo médio per capita é de cerca de 25 kg por ano. As variedades mais plantadas são a prata (70%), nanica (20%) e maçã (4%).
A banana-da-terra, por sua vez, é um caso à parte, já que não é uma banana, mas um plátano, fruto de uma planta de gênero diferente.
O plátano, diferentemente de suas “primas”, não converte seu amido em açúcar durante o amadurecimento, por isso tem sabor mais amarrado.
No começo de 2019, a expressão “da terra” ganhou ainda mais força. O Brasil registrou duas variedades nacionais, D’Angola e Terra Maranhão, no Registro Nacional de Cultivares.
Mas a produção de banana no mundo encontra-se ameaçada. Uma nova variedade do fungo que causa o Mal-do-Panamá, uma doença destrutiva para os bananais, tem se alastrado pelo mundo.