sábado, 30 de março de 2019

36 livros sobre o golpe de 1964 e a ditadura militar brasileira, OESP

Guilherme Sobota e Maria Fernanda Rodrigues, O Estado de S. Paulo
27 de março de 2019 | 14h44


Livros Golpe Militar 1964
Capas de alguns dos livros citados abaixo
Prestes a completar 55 anos, o golpe de militar de 1964 no Brasil está em evidência novamente no País depois que o presidente Jair Bolsonaro ordenou que os militares comemorassem a data esta semana. Além de causar uma forte reação da sociedade civil (órgãos como a OAB já repudiaram a decisão), o comando causou mal-estar mesmo entre os militares.
A seguir, selecionamos 36 livros, de ficção e não-ficção, sobre a ditadura militar brasileira (1964-1985) ou que têm o período como pano de fundo.

BIOGRAFIAS

Ernesto Geisel

Autores: Maria Celina D'Araújo e Celso Castro
Editora: Fundação Getúlio Vargas (1997, 494 págs., R$ 29 usado)
Resultado de muitas horas de entrevista ao CPDOC, Geisel narra sua história. O livro fala do projeto nacional dos governantes brasileiros, civis e militares, desde a década de 1930. É nas páginas deste livro que está registrado quando Geisel chamou Jair Bolsonaro de "mau militar", em 1993.

Castello — A Marcha para a Ditadura

Autor: Lira Neto
Editora: Contexto (2004, 432 págs., a partir de R$ 75, fora de catálogo)
Biógrafo consagrado com quatro prêmios Jabuti, Lira Neto explora aqui a vida do primeiro presidente brasileiro da ditadura militar, Humberto de Alencar Castello Branco.

Marighella

Autor: Mário Magalhães
Editora: Companhia das Letras (2012, 784 págs., R$ 79,90)
Biografia do guerrilheiro Carlos Marighella (1911-69), militante comunista, deputado constituinte e fundador do maior grupo armado de oposição à ditadura militar brasileira, a Ação Libertadora Nacional.

NÃO FICÇÃO

A Casa da Vovó

Autor: Marcelo Godoy
Editora: Alameda (2014, 612 págs., R$96)
O jornalista do Estado Marcelo Godoy ouviu alguns dos mais ativos agentes da repressão da ditadura militar para contar a história do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) de São Paulo, o centro de "sequestro, tortura e morte" do regime.

1964 — O Golpe

Autor: Flávio Tavares
Editora: L&PM (2014, 320 págs., R$ 49,90)
Flávio Tavares narra o que testemunhou do movimento militar e da derrubada de João Goulart quando era repórter de política em Brasília.

Ditadura: O Que Resta da Transição

Autor: Milton Pinheiro (org.)
Editora: Boitempo (2014, 350 págs., R$39)
Com organização de Milton Pinheiro, livro tem 12 ensaios sobre temas variados relacionados aos 50 anos do Golpe de 64, com contribuições de Anita Prestes, Marco Aurélio Santana, Adriano Codato, Décio Saes, João Quartim de Moraes, Lincoln Secco, entre outros.

Almanaque 1964

Autora: Ana Maria Bahiana
Editora: Companhia das Letras (2014, 256 págs., R$62,90)
A obra conta, com textos e muitas fotos, elementos típicos de almanaques, contar o que aconteceu no ano em que o Brasil iniciava a vida sob ditadura militar.

Livros Contra a Ditadura: Editoras de Oposição no Brasil, 1974-1984

Autor: Flamarion Maués
Editora: Publisher (2013, 288 págs., R$ 30)
Pesquisador apresenta um quadro geral do surgimento e da atuação das editoras de oposição no Brasil nesse período, analisando o papel político e cultural que tiveram. Além disso, analisa o caso de três pequenas editoras de oposição: a Ciências Humanas, a Kairós e a Brasil Debates.

1964: O golpe que Derrubou um Presidente e Instituiu a Ditadura no Brasil

Autores: Jorge Ferreira e Angela de Castro Gomes
Editora: Civilização Brasileira (2014, 420 págs., R$ 40)
Historiadores e professores da Universidade Federal Brasileira, os autores traçam um panorama do regime civil-militar, destacam personagens e momentos que marcaram o período, reconstituem a história do governo Goulart e mostram que o golpe não era o único desfecho para o País.

Ditadura e Democracia no Brasil: Do Golpe de 1964 à Constituição de 1988

Autor: Daniel Aarão Reis
Editor: Zahar (2014, 196 págs., R$ 44,90; R$ 29,90)
Historiador e professor da Universidade Federal Fluminense mostra como a ditadura se instalou, evoluiu, alcançou o apogeu e chegou ao fim. A obra, uma versão ampliada e atualizada de Ditadura Militar, Esquerdas e Sociedades, publicada em 2000, trata, também, da relação entre a sociedade civil e militares.

A Ditadura Militar e Os Golpes Dentro do Golpe – 1964-1969

Autor: Carlos Chagas
Editora: Record (2015, 490 págs., R$ 60)
Jornalista se valeu das notícias publicadas pela imprensa para resgatar as histórias de bastidores do período do golpe militar. 

A Ditadura que Mudou o Brasil – 50 Anos do Golpe de 64

Organização: Daniel Aarão Reis, Marcelo Ridenti e Rodrigo Patto Sá Motta
Editora: Zahar (2014, 196 págs., R$ 44,90; R$ 29,90 o e-book)
Especialistas avaliam o processo acelerado de modernização imposto pela ditadura militar. Em discussão, urbanização, industrialização, costumes, instituições políticas e cultura.

1964: História do Regime Militar Brasileiro

Autor: Marcos Napolitano
Editora: Contexto (2014, 368 págs., R$ 49,90; R$ 39,90 o e-book)
Historiador da USP tenta responder questões como ‘A ditadura durou muito graças ao apoio da sociedade civil, anestesiada pelo ‘milagre’ econômico?’ e ‘Foi Geisel, com a ajuda de Golbery, o pai da abertura, ou foi a sociedade quem derrubou o regime militar?’, entre outras.

1964 – Golpe ou Contragolpe?

Autor: Hélio Silva
Editora: L&PM (2014, 360 págs, R$ 48,90; R$ 34,90 o e-book)
Autor de Ciclo de Vargas, que conta em 16 volumes a história republicana brasileira, da proclamação ao suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, aborda, nesta obra, o golpe militar. O autor recupera a preparação, a eclosão e os primeiros movimentos da ditadura.

Coleção Elio Gaspari

Série escrita pelo jornalista Elio Gaspari ganha nova edição revista e atualizada. Os e-books trazem fac-símiles de documentos pesquisados e citados, fotos, vídeos e áudios. Os volumes são: A Ditadura Envergonhada (464 págs., R$ 39,90; R$ 14,90 o e-book), A Ditadura Escancarada (560 págs., R$ 39,90; R$ 14,90 o e-book), A Ditadura Derrotada (580 págs., R$ 39,90; R$ 14,90 o e-book) e A Ditadura Encurralada (560 págs., R$ 39,90; R$ 14,90 o e-book).

O Passado que Não Passa – As Sombras das Ditaduras na Europa do Sul e na América Latina

Org.: António Costa Pinto e Francisco Carlos Palomanes Martinho
Editora: Civilização Brasileira (2013, 336 págs., R$ 40)
A experiência brasileira com os regimes ditatoriais é contada em dois dos dez artigos deste livro. Daniel Aarão Reis Filho, professor da Universidade Federal Fluminense, assina o texto O Governo Lula e a Construção da Memória do Regime Civil-Militar. Já Alexandra Barahona de Brito, professora do Instituto Universitário de Lisboa, é autora do artigo “Justiça Transicional” em Câmara Lenta: O Caso Brasil, sobre o processo de redemocratização.

O Verão do Golpe

Autor: Roberto Sander
Editora: Maquinária (2013, 272 págs., R$ 39,90)
Jornalista recupera o cenário social e cultural da temporada que antecedeu a derrubada do presidente João Goulart.

O Golpe de 1964 e o Regime Militar

Organização: João Roberto Martins Filho
Editora: EdUFSCar (2014, 223 págs., R$ 29)
Publicada originalmente em 2006, obra com artigos escritos por acadêmicos volta às livrarias no momento em que se completam 50 anos do golpe militar.

Ditadura à Brasileira

Autor: Marco Antônio Villa
Editora: Leya (2014, 432 págs., R$ 49,90; R$ 33,90 o e-book)
Historiador apresenta as peculiaridades do regime e os aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais dos cinco governos militares e defende que não é possível chamar o período de 1964-1968, até o AI-5, de ditadura já que havia movimentação político-cultural. O autor pretende, assim, desmistificar a ditadura brasileira.

Não Passarás o Jordão – Tortura, Terror e Morte na Ditadura Militar Brasileira

Autor: Luiz Fernando Emediato
Editora: Geração (2013, 216 págs., R$ 34; R$ 19,90 o e-book)
Publicada em 1977, obra mistura personagens reais e fictícios para contar sobre o clima da época da ditadura.

O Espaço da Dor: O Regime de 64 no Romance Brasileiro

Autora: Regina Dalcastagné
Editora: UNB (1996, 155 págs., R$22)
A autora discute os romances brasileiros que tiveram a ditadura militar como pano de fundo.

Ainda Estou Aqui

Autor: Marcelo Rubens Paiva
Editora: Alfaguara (2015, 296 págs., R$44,90, R$27,90 o digital)
Por meio da história de sua mãe, Eunice Paiva, o jornalista e escritor Marcelo Rubens Paiva tenta entender o que de fato ocorreu com seu pai, o deputado Rubens Paiva, sequestrado e morto pela ditadura em 1971.

FICÇÃO

Zero

Autor: Ignácio de Loyola Brandão
Editora: Global (1975, editora Brasília)
Proibido pela ditadura militar, o romance que consagrou o nome do escritor, recém eleito para a Academia Brasileira de Letras, trata de repressão e desejos.

A Festa

Autor: Ivan Ângelo
Editora: (1976, esgotado)
Vencedor do Prêmio Jabuti de Literatura, o romance conta a história do nordestino Marcionílio, migrante que começa escorraçado numa estação de trem numa capital brasileira com outros companheiros, durante a época da ditadura.

Tropical Sol da Liberdade

Autora: Ana Maria Machado
Editora: Alfaguara (1988, 376 págs., R$59,90)
Maria Helena, a protagonista do livro, é uma jornalista que, após um longo período de exílio em função da ditadura militar no Brasil, volta para recuperar sua vida anterior e reencontrar a família.

Amores Exilados

Autor: Godofredo de Oliveira Neto
Editora: Record (1997, 240 págs., R$52,90)
Dois brasileiros de regiões diferentes, forçados a deixar o país nos anos de chumbo do governo militar, convivem com a francesa Muriel, ela própria espécie de autoexilada de seu passado em seu país.

Não Falei

Autora: Beatriz Bracher
Editora: 34 (2004, 152 págs., R$26 o digital)
Quarenta anos depois, um professor, que tinha 24 em 1964, se vê às voltas com a visita de um irmão, o convite para uma entrevista e a necessidade de organizar seus papéis.

Azul Corvo

Autora: Adriana Lisboa
Editora: Alfaguara (2010, 204 págs., R$29,90 o digital)
Após a morte da mãe, Evangelina, uma menina de apenas treze anos, troca Copacabana pelo Colorado, nos Estados Unidos, onde vai morar com seu padrasto Fernando. Aos poucos, por meio dessa nova amizade, ela descobre detalhes obscuros do passado recente do Brasil. Ex-guerrilheiro no Araguaia, ele viveu na pele a violência da ditadura.

K. – Relato de Uma Busca

Autor: Bernardo Kucinski
Editora: Companhia das Letras (2012, 176 págs., R$ 42,90)
Romance, um dos raros da literatura brasileira situado na ditadura militar narra a busca de um pai pela filha desparecida. Lançado pela independente Expressão Popular em 2011, obra que ganhou menção honrosa no Prêmio Portugal Telecom de 2012 passa para o católogo da Cosac Naify.

Você Vai Voltar para Mim

Autor: Bernardo Kucinski
Editora: Cosac Naify (2015, 192 págs., R$ 29,90)
Depois de publicar K. seu romance de estreia, jornalista lança volume de contos. As histórias dão voz a pessoas que sofreram durante o período de repressão militar, detalha métodos de tortura, retrata a reação das gerações seguintes.

A Resistência

Autor: Julián Fuks
Editora: Companhia das Letras (2015, 
Vencedor do Prêmio Jabuti, o livro conta a história de uma família argentina que foge da ditadura de seu país em 1976 e vai buscar exílio no Brasil.

Cabo de Guerra

Autora: Ivone Benedetti
Editora: Boitempo (2015, 304 págs., R$54, R$29 o digital)
Finalista do Prêmio São Paulo, Benedetti conta aqui, em chave de ficção, a história dos delatores da militância de esquerda durante o período da ditadura militar.

Qualquer Maneira de Amar: Um Romance à Sombra da Ditadura

Autor: Marcus Veras
Editora: Ponteio (2014, 237 págs., R$ 49)
O romance conta a história de Mauro, advogado aposentado, sessentão e retirado nas cercanias de Petrópolis, que faz um balanço de sua vida. A obra procura dar um lugar na história para aqueles que não foram guerrilheiros heroicos, mas simpatizantes da militância e que também sofreram as consequências da ditadura.

Que Mistérios Tem Clarice?

Autor: Sérgio Abranches
Editora: Biblioteca Azul (2014, 242 págs., R$49,90)
Romance é a história de uma mulher que decide contar aos filhos uma parte de sua história nunca revelada: sua participação na luta armada.

Rio-Paris-Rio

Autora: Luciana Hidalgo
Editora: Rocco (2016, 160 págs., R$24,50)
A obra retrata a viagem de ida-volta de um grupo de jovens entre Rio e Paris durante a ditadura. Trata de questões como o exílio e o ser estrangeiro, política e afeto, solidão e juventude.

A Noite da Espera

Autor: Milton Hatoum
Editora: Companhia das Letras (2017, 240 págs., R$39,90)
Nos anos 1960, Martim, um jovem paulista, muda-se para Brasília com o pai após a separação traumática deste e sua mãe. Na figura materna ausente se reflete a face sombria da juventude, marcada pela violência dos anos de chumbo.

Após 2 anos bancando manutenção, prédios desistem de jardim vertical, OESP

Sem manutenção da Prefeitura e ajuda financeira para cuidar da vegetação, quatro edifícios na área do Minhocão solicitaram a retirada dos painéis das fachadas

Isabela Palhares, O Estado de S.Paulo
30 de março de 2019 | 03h00
Jardim Vertical
Edifícios solicitaram retirada de jardim vertical Foto: Felipe Rau/Estadão
SÃO PAULO - Ainda de longe, quem anda pelo Minhocão, no centro de São Paulo, consegue ver a carranca de 50 metros de altura desenhada com plantas em tons verdes e vermelhos na lateral de um prédio que ladeia a via. A imagem, com formas meio humanas e meio animalescas, traz, segundo as lendas ribeirinhas, “proteção e prosperidade”. No entanto, para os moradores do prédio que abriga o jardim vertical, trouxe custos e preocupação.
Sem a manutenção prevista pela Prefeitura e ajuda financeira para os custos do cuidado com a vegetação, quatro edifícios solicitaram a retirada dos painéis de plantas de suas empenas cegas (nome técnico para fachadas sem janelas ou acabamentos). Eles fazem parte dos sete prédios que, entre 2015 e 2016, tiveram jardins verticais instalados, formando um corredor verde de 4 mil m². 
“Acho bonito e gosto de olhar para o jardim, mas eu e muitos outros moradores nos arrependemos de tê-lo instalado no nosso prédio”, diz Marco Antonio Mendo, síndico do Edifício Filomena, que “abriga” a carranca. 
O termo de cooperação assinado entre a Prefeitura e os edifícios prevê que à administração municipal caberá “diretamente ou através de pessoa que com ela celebre termo, arcar com os custos de manutenção do jardim vertical durante o prazo de vigência da cooperação”. Diz ainda que o condomínio está isento de “qualquer obrigação nesse sentido” durante os 36 meses de vigência desse acerto - que seriam prorrogáveis por mais 24. 
Os sete jardins foram instalados depois que a Prefeitura regulamentou um decreto permitindo a construtoras, que retiraram áreas verdes na cidade, fazer a compensação ambiental patrocinando a instalação de jardins. Os termos assinados estabeleciam que a manutenção seria paga pelas incorporadoras durante os seis primeiros meses, depois ficaria a cargo da Prefeitura até o fim do contrato. “Nunca apareceu ninguém da Prefeitura aqui para fazer a manutenção. Procuramos a secretaria (do Verde e do Meio Ambiente) e disseram não ter como ajudar financeiramente”, conta Wendel Cardoso da Silva, síndico do Edifício Bonfim, que tem o maior jardim vertical, com 1.500 m² de vegetação.

Depois da instalação do painel de vegetação, o prédio de Silva teve um aumento de quase R$ 700 por mês na conta de água e de R$ 300 na de energia elétrica. O valor foi acrescentado ao condomínio dos 40 apartamentos. “Não é um valor tão alto para cada morador, mas fomos enganados, houve falta de planejamento. A gente ficou com o ônus.” 
Cada um dos edifício estima gastar cerca de R$ 1 mil ao mês com a manutenção da vegetação - o que custaria R$ 84 mil ao ano para a Prefeitura. “É um valor pequeno para manter uma política ambiental importante para a cidade. Não entendo porque não se responsabilizam e arcam com os custos. O centro tem tão poucas árvores e, agora, vai ter ainda menos”, diz Vera Lucia Jesus, síndica de um prédio que decidiu manter o jardim mesmo sem a manutenção da prefeitura.
Para muitos moradores, a decisão de retirar o jardim foi reforçada após o anúncio da construção do Parque Minhocão pelo prefeito Bruno Covas, com um investimento previsto de R$ 38 milhões. “Se não há dinheiro para manter os jardins que já estão instalados, como vão manter os novos? Vai ficar tudo abandonado”, diz Mendo.

Parceria

O Movimento 90º foi contratado pelas incorporadoras para fazer a instalação dos jardins e ficou com a responsabilidade de fazer a manutenção no primeiro semestre de funcionamento. “Como a Prefeitura não estava cumprindo com o contrato, os moradores nos procuravam e nós atendíamos da forma como podíamos. Fizemos a manutenção nos últimos meses, mas juridicamente não é nossa responsabilidade”, garante Guil Blanche, fundador da entidade. 
O contrato previa que nós não teríamos custo nenhum, só iríamos ceder a parede. A Prefeitura faria a manutenção ou entregaria essa responsabilidade para outra pessoa
Marco Antonio Mendo, síndico do Edifício Filomena
Questionada, a Secretaria do Verde e Meio Ambiente (SVMA) não disse se fez ou não a manutenção dos jardins. Informou apenas que realizou um chamamento público em setembro de 2016, com o objetivo de conseguir parceiros para os cuidados dos painéis verdes, e que o vencedor, o Movimento 90º, desistiu da parceria. Guil afirma que os termos da documentação foram considerados abusivos por exigir um valor alto de investimento, não apenas a manutenção. 
A secretaria informou que em outubro do ano passado fez novo processo de chamamento público, em que o Movimento 90º acabou novamente vencedor, mas até esta sexta-feira, 29, o contrato não havia sido assinado.

A rede pública de ensino deve priorizar o método fônico de alfabetização? Sim/não


Alfabetizar com método



Crianças em escola paulistana construtivista que utiliza o método fônico em sala de aula - Fernando Donasci - mar.17/Folhapress
João Batista Oliveira
A maioria das escolas brasileiras não consegue alfabetizar seus alunos. Alguns se alfabetizam, enquanto a maioria fica à margem.

Os entendidos concordam que o problema da alfabetização —como os problemas do ensino— não se limita a um fator específico, como salários, professores, materiais ou métodos.

No caso da alfabetização, a questão do método é importante e tem sido alvo de intensos arroubos e destemperos verbais. Três grupos divergem em aspectos importantes da questão.

O primeiro é formado por pesquisadores e profissionais que trabalham com base em evidências acumuladas sob o guarda-chuva da “Ciência Cognitiva da Leitura”.

Esse grupo reconhece que o ensino da alfabetização deve ser feito de forma sistemática e explícita, com sequência, materiais e métodos próprios; e, portanto, em paralelo, mas não ao mesmo tempo que o ensino de outros componentes linguísticos —como a redação, o estudo do vocabulário ou a compreensão de textos.

A razão para isso se encontra nas limitações do cérebro em processar informações e na importância do uso consistente de regras para identificar as palavras —se o aluno aprende a ler ora usando as regras de decodificação, ora adivinhando a palavra pela forma ou pelo contexto, ele nunca será um bom leitor.
Isso já foi bem estabelecido por pesquisas rigorosas desde 1981. Esse grupo apoia suas convicções em evidências e resultados consolidados há mais de 20 anos.

Trata-se de uma tese vencedora em todo o mundo. A proposta é adotada em todos os países desenvolvidos que utilizam o Sistema Alfabético de Escrita —todos, sem exceção, além de Cuba.
O segundo grupo é formado sobretudo por educadores e especialistas em estudos da língua, que advogam o ensino contextualizado da alfabetização: o ponto de partida é o texto, não a palavra ou o sistema alfabético.

Esse grupo reconhece a importância dos métodos fônicos, mas não reconhece a necessidade de seu ensino sistemático e explícito. Apoia suas convicções em princípios teóricos e não se preocupa em apresentar evidências. É a tese vencedora no Brasil há mais de 40 anos, patrocinada pelo MEC e pelas faculdades de educação em todo o país —e os resultados estão aí.

O terceiro grupo é formado por pessoas e instituições que compartilham a visão teórica do segundo grupo, mas ignoram as evidências científicas sobre a importância do método fônico, minimizam a relevância de métodos, advogam o uso de métodos mistos e não apresentam resultados de seu trabalho. Com essas pessoas e instituições é impossível dialogar.

Um simples exemplo ajuda a entender a diferença prática entre essas visões sobre o lugar da alfabetização no ensino escolar. Quando ensinamos os fundamentos básicos do balé, as crianças não começam dançando “O Lago dos Cisnes”.

Elas aprendem primeiro os fundamentos, de forma linear, sem ambiguidades. Ninguém aprende a se equilibrar “do seu jeito”.

É treino pesado na barra, com foco na técnica. Aos poucos, vão se tornando capazes de articular movimentos e adquirir um repertório de habilidades fundamentais para participar de atividades mais integradas —fazendo “pontas” em apresentações escolares, ainda sem muita ideia do todo, mas absorvendo o contexto. Tudo a seu tempo e em seu devido lugar.

É isso que propõe a Ciência Cognitiva da Leitura. É a isso que resistem nossos educadores. Para eles importa a teoria, não as evidências.
João Batista Oliveira
Psicólogo e doutor em educação, preside o Instituto Alfa e Beto, que desenvolveu o Programa Alfa e Beto de Alfabetização

Além de um método

O professor de Ciências Ivonilton Fonseca dá aula na rede pública do Rio de Janeiro; ele concilia aulas em laboratório com curiosidades históricas de alimentos usados nos experimentos - Raquel Cunha - 23.mai.17/Folhapress
Alessio Costa Lima
Depois de quatro anos de discussões sobre a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), estados e municípios chegaram à fase de revisão, construção e aprovação de currículos. Com a homologação desses documentos, as escolas deverão discutir seus projetos de política pedagógica com as comunidades.

O currículo deve adequar as proposições da base à realidade local, respeitando o contexto, a diversidade e as características dos estudantes, segundo o artigo 8º da resolução 2/2017 CP/CNE, que instituiu a BNCC. 

Quanto às metodologias e estratégias didático-pedagógicas, o inciso 3 do artigo 8º explica que elas devem ser diversificadas e aplicadas com conteúdos complementares de maneira a respeitar os ritmos de cada conjunto de alunos, sua cultura, suas famílias e seus grupos sociais. 

Tal premissa vale da educação infantil ao último ano do ensino fundamental, o que inclui, também, a questão de definição dos métodos de alfabetização.

Em 2018, 5.763.169 crianças estavam matriculadas nos 1º e 2º anos do ensino fundamental. Dessas, 3.839.514 estavam sob a responsabilidade das redes municipais de ensino. Imaginem decretar que, a partir de agora, todas essas crianças, das 5.568 redes municipais de ensino do país, deverão ser alfabetizadas apenas por um determinado método, ou “prioritariamente” por um método de alfabetização, independentemente de seus méritos e/ou limitações.

É sempre importante relembrar que a Constituição Federal determina que o ensino será ministrado com base no pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas.

Compreendemos que a definição de um método de alfabetização representa uma série de escolhas referentes a didáticas; organização do tempo e espaço escolar; conhecimentos, habilidades, atitudes, valores, aprendizagens essenciais a serem desenvolvidas; seleção de materiais pedagógicos; processo de avaliação; entre outras. Tal definição se dá, de maneira coletiva, considerando o currículo da rede e o projeto político-pedagógico da escola, mas, principalmente, por meio do conhecimento e da vivência do professor sobre a aprendizagem de seus alunos. 

O importante para o professor e para o gestor é garantir o direito à educação, à alfabetização e à aprendizagem das crianças. E não cumprir à risca a exigência legal por um determinado método, ou sua imposição por meio de uma política pública nacional, desrespeitando e ferindo a autonomia pedagógica do professor, resguardada pelos princípios da educação.

A alfabetização, em toda a sua complexidade, é constituída por um conjunto de saberes. Assim, o conflito entre concepções e métodos não pode deixar que o objetivo maior não seja alcançado: garantir a aprendizagem e alfabetizar as crianças. 

Entendemos que o melhor método de alfabetização é aquele utilizado com segurança pelo professor e que leve os seus alunos à aprendizagem.

 A nossa experiência aponta que não é o método específico isolado que garante o sucesso de aprendizagem, mas, sim, o conjunto de fatores que circunscreve o processo de alfabetização, tais como: as condições de trabalho ofertadas; materiais didáticos e pedagógicos adequados e suficientes; professores devidamente habilitados e qualificados; acompanhamento pedagógico e processos de avaliação. 

Por isso, é preciso pensar em políticas de Estado democráticas, dialogadas, participativas, integradas e de maneira continuada, buscando avançar sempre.
Alessio Costa Lima
Presidente da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação)