sábado, 16 de março de 2019

O profissional, Alvaro Costa e Silva, FSP

Cuidado com seu vizinho: ele pode ser miliciano

RIO DE JANEIRO
Nos últimos anos o Rio tem ampliado o alcance da frase atribuída a Tom Jobim: “O Brasil não é para principiantes”. Aqui, só dá profissional. Pegue o exemplo de um personagem desconhecido mas cujas atuação e trajetória deixariam envergonhado o mais delirante roteirista de Hollywood: o ex-sargento da PM Ronnie Lessa, acusado de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes.
O PM reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz
O PM reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz - Reprodução
Até então, aos olhos da sociedade, ele era um cidadão de bem, acima de qualquer suspeita, homenageado na Assembleia Legislativa. Aos 48 anos, tinha a ficha limpa, descontando as 124 multas aplicadas ao seu carro importado. O Infiniti, blindado e avaliado em cerca de 120 mil, ficava na garagem da mansão com cinco suítes onde morava, num condomínio de luxo da Barra da Tijuca, o mesmo onde o presidente Bolsonaro tem uma residência —um imóvel ali pode custar R$ 4 milhões.
Egresso do Exército, exímio atirador, o “caveira” Lessa foi promovido por atos de bravura. Em 2009, já ligado ao jogo do bicho, perdeu a perna num atentado a bomba. Reformado por invalidez, bandeou-se para uma quadrilha de matadores de aluguel, conhecida como Escritório do Crime. Sua conta recebia depósitos de até R$ 100 mil, em dinheiro, na boca do caixa. Em abril de 2018 —mês seguinte aoshomicídios de Marielle e Anderson— sofreu novo atentado. Um homem de moto atirou contra ele no Quebra-Mar da Barra, indicando a tentativa de queimar o arquivo vivo.
Profissional era o arsenal de Lessa: 117 fuzis M-16 desmontados, cujo valor de venda supera R$ 4 milhões. Algumas das peças eram falsificadas, o que não prejudica sua letalidade. Montados, os fuzis atiram e matam; distribuídos entre as facções criminosas que dominam as favelas, seriam capazes de provocar uma pequena guerra civil na cidade.
Armas e munições apreendidas na casa de Alexandre Motta, amigo de Ronnie Lessa
Armas e munições apreendidas na casa de Alexandre Motta, amigo de Ronnie Lessa - Divulgação
A força do crime organizado é tão grande que hoje é impossível mapeá-lo. O miliciano mora ao lado. 
Alvaro Costa e Silva
Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

    A força de Maia, OESP

    João Domingos, O Estado de S.Paulo
    16 de março de 2019 | 03h00

    O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é o maior beneficiário da incapacidade demonstrada pelo governo até aqui na construção de uma base de apoio parlamentar. Sem um negociador político do governo capaz de fazer a ponte entre o Congresso e o Palácio do Planalto, Maia acabou por herdar essa função. Dela está tirando todo o proveito político que pode.
    Hoje é possível perceber o quanto o governo passou a ser dependente do deputado. Quando o ministro da Economia, Paulo Guedes, se refere à possibilidade de aprovação da reforma da Previdência pelo Congresso, ele sempre cita “a visão de futuro” de Maia. Essa visão de futuro levou o presidente da Câmara a negociar com o presidente Jair Bolsonaro o adiamento para o segundo semestre da tramitação do pacote de combate ao crime organizado, à corrupção e aos crimes violentos, pacote este feito pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro. 
    O próprio Moro, ao perceber que suas propostas vão ficar para trás, anunciou que vai procurar Maia para tentar um acordo que leve à tramitação dos projetos. Ele acha que uma coisa não atrapalha a outra. Maia acha que atrapalha. Por enquanto, o pacote anticorrupção e anticrime está parado na Câmara, anexado a outros preparados por uma comissão chefiada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. 
    É costume dizer que em política não existe vácuo. Todos os espaços são preenchidos o mais rapidamente possível. Hoje não se sabe se Bolsonaro tentará a reeleição. Nem dá para dizer que, se disputar, é favorito, tantas são as crises em que se envolveu. 
    Nesse momento, Rodrigo Maia começa a despontar como um possível candidato a presidente da República em 2022, à frente de Sérgio Moro que, embora tenha dito várias vezes não ter pretensão de chegar ao Palácio do Planalto, sempre foi visto como um nome muito forte para disputar a sucessão de Jair Bolsonaro. 
    Rodrigo Maia tem a confiança do mercado quanto à sua capacidade de liderar a aprovação da reforma da Previdência e de outras reformas também muito importantes, como a tributária, além de ser a favor da privatização de estatais. Caso consiga levar à frente tais reformas, não restam dúvidas de que terá consolidado seu nome para disputar a Presidência. Se vai fazê-lo, aí é outra questão. Dependerá de sua própria vontade e de sondagens sobre a capacidade de atrair votos do eleitor. Mas a construção de candidaturas começa assim, pavimentada centímetro a centímetro. 
    O governador João Doria, que não esconde a vontade de também se candidatar a presidente pelo campo da centro-direita, terá de trabalhar muito duro em São Paulo para depois mostrar o resultado ao eleitor. Maia, pelo contrário, até pela posição que ocupa, e pela falta de concorrência no setor que opera, já está com a mão na massa. 
    O jornalista e cientista político Antonio Augusto de Queiroz, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), acompanha o poder desde antes da Constituinte. Ele lembra que, quando o ex-presidente Michel Temer esteve para cair do governo, o mercado começou a fazer sondagens sobre um nome que pudesse substituí-lo. Exigia cinco requisitos: manter a política econômica, manter a equipe econômica, não ter problemas com a Lava Jato, ter votos para se eleger na eleição indireta no Congresso e ter equilíbrio emocional. O primeiro da lista era Fernando Henrique Cardoso. O segundo, Rodrigo Maia. Depois vinham Nelson Jobim e Tasso Jereissati. Fernando Henrique rejeitou as sondagens. Houve desconfianças quanto ao controle emocional de Maia. De lá para cá, o presidente da Câmara trabalhou o lado emocional. Consegue hoje conviver friamente com as idas e vindas do governo Bolsonaro e com a pressão da centro-esquerda.

    Lojas na Champs Elysées são saqueadas durante protestos dos 'Coletes Amarelos', OESP


    O movimento, que tinha perdido força nas últimas semanas, voltou a reunir uma grande manifestação

    Agências Internacionais, O Estado de S.Paulo
    16 de março de 2019 | 11h23
    Um grupo de agitadores invadiu lojas na Avenue Champs Elysees, no coração de Paris, durante o 18º dia de mobilização dos chamados "Coletes Amarelos", marcado por mais uma onda de violência.
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    Protesto nas ruas de Paris teve confronto entre polícia e manifestantes. Foto: ZAKARIA ABDELKAFI/AFP
    Os vândalos, muitos usando a cor preta e capuzes ou capacetes, também jogaram pedras contra a política, que respondeu com gás lacrimogêneo.
    "Profissionais da desordem mascarados causaram desordem ao se infiltrar nos protestos", denunciou o ministro do Interior, Christophe Castaner.
    Depois de semanas de declínio, o movimento dos "Coletes Amarelos" conseguiu novamente reunir uma grande manifestação em Paris, que desde cedo registrou incidentes.
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    "Coletes amarelos" fizeram barricadas durante os protestos. Foto: ZAKARIA ABDELKAFI/AFP
    Segundo imagens difundidas durante pelas televisões, algunos manifestantes tentaram atacar um caminhão da polícia enquanto outros erguiam barricadas.
    Segundo um balanço divulgado pela polícia nesta manhã, 31 pessoas foram detidas.
    Apresentado como um "ultimato" ao presidente Emmanuel Macron, essa nova mobilização do movimento apolítico acontece depois de uma série de debates na França com os quais o governo esperava canalizar a ira dos manifestantes e fazer surgir propostas concretas.
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    Macron foi um dos principais alvos do protesto.  Foto: ZAKARIA ABDELKAFI/AFP
    O número de manifestantes diminuiu nas últimas semanas.
    Segundo os dados do Ministério do Interior, eram 28.600 manifestantes em toda a França na semana passada, um décimo dos 282.000 que tomaram as ruas em 17 de novembro, no início do movimento. /AFP
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