João Domingos, O Estado de S.Paulo
16 de março de 2019 | 03h00
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é o maior beneficiário da incapacidade demonstrada pelo governo até aqui na construção de uma base de apoio parlamentar. Sem um negociador político do governo capaz de fazer a ponte entre o Congresso e o Palácio do Planalto, Maia acabou por herdar essa função. Dela está tirando todo o proveito político que pode.
Hoje é possível perceber o quanto o governo passou a ser dependente do deputado. Quando o ministro da Economia, Paulo Guedes, se refere à possibilidade de aprovação da reforma da Previdência pelo Congresso, ele sempre cita “a visão de futuro” de Maia. Essa visão de futuro levou o presidente da Câmara a negociar com o presidente Jair Bolsonaro o adiamento para o segundo semestre da tramitação do pacote de combate ao crime organizado, à corrupção e aos crimes violentos, pacote este feito pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro.
O próprio Moro, ao perceber que suas propostas vão ficar para trás, anunciou que vai procurar Maia para tentar um acordo que leve à tramitação dos projetos. Ele acha que uma coisa não atrapalha a outra. Maia acha que atrapalha. Por enquanto, o pacote anticorrupção e anticrime está parado na Câmara, anexado a outros preparados por uma comissão chefiada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.
É costume dizer que em política não existe vácuo. Todos os espaços são preenchidos o mais rapidamente possível. Hoje não se sabe se Bolsonaro tentará a reeleição. Nem dá para dizer que, se disputar, é favorito, tantas são as crises em que se envolveu.
Nesse momento, Rodrigo Maia começa a despontar como um possível candidato a presidente da República em 2022, à frente de Sérgio Moro que, embora tenha dito várias vezes não ter pretensão de chegar ao Palácio do Planalto, sempre foi visto como um nome muito forte para disputar a sucessão de Jair Bolsonaro.
Rodrigo Maia tem a confiança do mercado quanto à sua capacidade de liderar a aprovação da reforma da Previdência e de outras reformas também muito importantes, como a tributária, além de ser a favor da privatização de estatais. Caso consiga levar à frente tais reformas, não restam dúvidas de que terá consolidado seu nome para disputar a Presidência. Se vai fazê-lo, aí é outra questão. Dependerá de sua própria vontade e de sondagens sobre a capacidade de atrair votos do eleitor. Mas a construção de candidaturas começa assim, pavimentada centímetro a centímetro.
O governador João Doria, que não esconde a vontade de também se candidatar a presidente pelo campo da centro-direita, terá de trabalhar muito duro em São Paulo para depois mostrar o resultado ao eleitor. Maia, pelo contrário, até pela posição que ocupa, e pela falta de concorrência no setor que opera, já está com a mão na massa.
O jornalista e cientista político Antonio Augusto de Queiroz, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), acompanha o poder desde antes da Constituinte. Ele lembra que, quando o ex-presidente Michel Temer esteve para cair do governo, o mercado começou a fazer sondagens sobre um nome que pudesse substituí-lo. Exigia cinco requisitos: manter a política econômica, manter a equipe econômica, não ter problemas com a Lava Jato, ter votos para se eleger na eleição indireta no Congresso e ter equilíbrio emocional. O primeiro da lista era Fernando Henrique Cardoso. O segundo, Rodrigo Maia. Depois vinham Nelson Jobim e Tasso Jereissati. Fernando Henrique rejeitou as sondagens. Houve desconfianças quanto ao controle emocional de Maia. De lá para cá, o presidente da Câmara trabalhou o lado emocional. Consegue hoje conviver friamente com as idas e vindas do governo Bolsonaro e com a pressão da centro-esquerda.
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