sábado, 16 de março de 2019

União entre Ford e Volkswagen teve até briga por papel,FSP


Casamentos entre grandes montadoras globais têm seus episódios pitorescos. No Brasil, na Autolatina, união regional entre Volkswagen e Ford, aconteceu a guerra do papel.
Antigos funcionários contam que os alemães utilizavam folhas A4 em seus documentos, enquanto os americanos adotavam o padrão carta. Foi o suficiente para que comunicados que precisavam da aprovação urgente de altos executivos voltassem sem assinatura, seja por birra, vaidade ou qualquer outra baixeza humana.
O problema foi mais longe. Os furadores de papel da Ford também seguiam o padrão dos Estados Unidos. As marcações não se encaixavam nas pastas da Volkswagen.
Logotipos das montadoras Ford e Volkswagen - AFP
Como cada montadora era responsável por alguns departamentos dentro da gestão compartilhada, era normal que uma ou outra fornecesse suprimentos específicos. Os americanos, por motivo não esclarecido, eram os responsáveis pelos furadores.
Inconformado, um dirigente da Volkswagen pediu ao departamento de engenharia que construísse seu próprio equipamento para resolver aquele problema. E lá foram alguns dos mais gabaritados profissionais da época desenvolver um prosaico furador de acordo com as normas alemãs.
Vale lembrar que eram tempos pré-internet: a guerra do papel ocorreu na virada da década de 1980 para 1990. Havia muito mais papel em circulação dentro das corporações.
Histórias como essa são hoje contadas aos risos, mas revelam o quanto é difícil unir duas culturas muito diferentes ao redor de um negócio bilionário. Os interesses em comum são contaminados por bile e pecados capitais.
O caso recente envolvendo a aliança global entre Renault e Nissan é outro exemplo do choque de nacionalidades, com mais drama do que comédia.
Ford Verona, modelo lançado no início da Autolatina - Divulgação
O ex-executivo Carlos Ghosn, que passou 106 dias preso e foi solto ao pagar fiança equivalente a R$ 33 milhões, é acusado sob suspeita de má conduta financeira. Por trás de questões mundanas que poderiam ter levado o homem ao erro —ele nega qualquer ilícito—, há o desencontro entre Paris e Tóquio.
Ficou evidente o quanto os japoneses se sentem aviltados com o que consideram ser petulância dos franceses, que demonstram pleno interesse em transformar a aliança em fusão. A Nissan quer manter uma certa distância, mesmo que isso signifique perda de dinheiro para ambas as partes.
A queda de Ghosn representa essa insatisfação. Sem ele, o casamento pleno não deverá mais ocorrer, embora haja tantos interesses envolvidos que dificilmente haverá uma separação.
Em uma época de muitas alternativas para mobilidade e necessidade de investir em tecnologias menos poluentes, nenhuma fabricante será capaz de sobreviver sem parcerias. Volks e Ford se uniram novamente, agora em nível mundial. Felizmente, não se usa mais tanto papel quanto nos tempos da Autolatina.
Volkswagen Pointer foi um dos carros produzidos pela Autolatina - Divulgação
Eduardo Sodré
Jornalista especializado no setor automotivo.


    TÓPICOSRELACIONADOS

    A falsa ideia de que `se o crime é uma doença, os caveiras são a cura`, FSP



    Renato Sérgio de Lima
    A foto acima não é de um game violento e/ou do atirador da Escola Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo. Ela foi feita em setembro de 2017, no Rio de Janeiro, na Favela da Rocinha, durante umas das inúmeras operações de garantia da lei e da ordem (GLO) que as Forças Armadas foram chamadas a atuar nos últimos anos. Se uma foto vale por mil palavras, note que nela estão presentes três grandes elementos fundantes do imaginário social brasileiro contemporâneo.
    O primeiro elemento é o mais escancarado, o uso de “balaclavas”, tipo de máscara utilizado por forças de segurança para esconder a identidade de seus agentes em operações táticas e especiais. O uso em si está baseado em doutrina e em estudos de defesa, que indicam que em algumas situações é necessário que o agente público individual precisa ter sua identidade preservada, evitando-se riscos de revides ou vinganças posteriores. Porém, o que se destaca na foto é uma balaclava com a imagem da caveira, que denota que o Poder Público estava ali para “curar” a comunidade do crime e que eles não temiam a morte e que ela seria enfrentada com violência.
    O segundo elemento é, exatamente, o que me fez lembrar desta imagem e associá-la ao massacre em Suzano, ou seja, a convivência de crianças com tal postura de membros das Forças Armadas, que aqui não estavam sendo indivíduos mas representantes do Estado; a ideia de que a caveira protege da morte e purifica vai entrando no imaginário cultural.
    Ou seja, a estética dos “caveiras” foi sendo legitimada como aquela que pode superar as adversidades e vencer a “guerra” da segurança pública estimulada por anos de ineficiência das políticas da área e por políticos oportunistas e populistas. Os caveiras, que ficaram famosos a partir do filme “Tropa de Elite”, vão se transformando em sinônimo de policial de “elite” a ser copiado e transformado em herói, independente da situação e do emprego recomendado.
    Sim, forças especializadas são necessárias em algumas situações e precisam ser regradas com rigor. Não existe carta branca para polícia decidir, sem supervisão e controle, sobre a vida ou a morte em nenhum lugar do mundo democrático. A questão é que tais forças estão sendo chamadas para quase todas as crises na segurança brasileira, já que a prevenção e a investigação não são valorizadas. E, nesse processo, diante do reconhecimento social alcançado, muitos policiais adotaram, oficiosamente, o lema “se o crime é uma doença, os caveiras são a cura”.
    Já o terceiro elemento é ainda mais cruel, já que, uma das crianças, veste a camisa 10 da seleção brasileira de futebol masculino, que durante muitos anos representou a identidade nacional e o sonho de sucesso, mobilidade social e pertencimento a vários jovens do país todo.
    A foto, portanto, é uma síntese cruel do que estamos vivendo no Brasil Ela dá contexto a um ato de insanidade tão violenta como o que ocorreu na escola Raul Brasil e que muitos agora pensam em “culpas” individuais, que por certo existem, mas deixam em segundo plano as opções político-ideológicas que estamos fazendo para fazer frente ao medo, ao crime e à violência que nos assolam.
    Não descarto a influência das redes sociais e dos games, mas chamo atenção para o fato de que, nas políticas públicas, o país está aceitando a estética da violência e da “cura” do crime a qualquer custo, mesmo que o remédio seja mais violência.
    Vejam, se usarmos duas outras imagens, veremos a dificuldade do que estou falando. Nessas outras imagens, uma delas é uma foto de Bruno Kelly, da agência Reuters, durante operações na mesma Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, em 2017. Nela, um integrante das FFAA não só usa a balaclava de caveira como, ainda, usa um brasão com a bandeira do Brasil e a palavra “Predador”, sugerindo que ele ali estava caçando oficialmente criminosos para serem “abatidos”.
    A segunda imagem é a reprodução feita pelo próprio atirador de Suzano (não vou reproduzir seu nome e só reproduzo a foto em razão do contexto justificar, já que temos que pensar que essa visibilidade era um dos objetivos que o levaram a cometer tantos assassinatos em série).
    Em ambas as fotos, a estética é parecida e demonstra prontidão e disposição para o “combate”. Em uma situação de guerra ou conflito tradicional, estes elementos podem ser discutidos como necessários à etapa de guerra psicológica e de construção doutrinária de identidades. Não me cabe discuti-los aqui no que se referem às FFAA e à Defesa Nacional, pois não estudo defesa nacional. Mas, em segurança pública, o que estamos fazendo ao banalizar tal estética? O que estamos fazendo para conquistar a juventude para um projeto civilizatório de país e evitar a construção de carreiras delinquenciais?
    Por tudo isso, será mesmo que o pânico gerado pelo inominável ato do atirador em Suzano é só efeito dos “videogames violentos”, como afirmou o Vice-Presidente Hamilton Mourão?
    Se ampliarmos o debate, veremos que o ato em Suzano está inserido em uma semana particularmente cruel; em um ano que parece que já dura uma década. E, como meu objetivo não é falar do episódio em si, mas contextualizá-lo à luz do que tem ocorrido no país, vale pensarmos em alguns tópicos:
    1) Pesquisa feita em abril de 2017 pelo FBSP revelou que quase 50 milhões de pessoas com 16 anos ou mais tinham parentes ou conhecidos que foram assassinados. Isso significa 1/3 da população adulta do país. A pesquisa também constata que quase 5 milhões de brasileiros já foram feridas por armas de fogo e cerca de 15 milhões de adultos conheciam pessoas mortas pessoas pelas forças policiais e/ou pelas guardas municipais;
    3) Em meio a este cenário de violência disseminada, pesquisas do CRISP/UFMG (Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública), mostram que, em 2004 (antes do Estatuto do Desarmamento), 7,2% dos alunos de escolas públicas e privadas de Belo Horizonte e Região Metropolitana haviam levado ou tentado levar arma de fogo para a Escola. Em 2012, este percentual foi de 2,3%;
    4) Outro estudo do FBSP, de 2017, mostra que 60% da população brasileira com 16 anos de idade ou mais, concorda com a frase “a maioria de nossos problemas sociais estaria resolvida se pudéssemos nos livrar das pessoas imorais, dos marginais e dos pervertidos”. E, se os próprios agentes públicos usam balaclavas de caveira, vale lembrar de outro dado desta pesquisa, que indica que 81% desta mesma população declara que “a obediência e o respeito à autoridade são as principais virtudes que devemos ensinar as nossas crianças’
    5) Os acusados pelo assassinato de Marielle Franco e Anderson Franco, ex-policiais, nutrem profundo ódio por ideias defendidas pela vereadora e, nas buscas e apreensões feitas em seus endereços, também foi constatado que eles possuíam grande arsenal de armas de fogo ilegal, que, como senhores das armas, abasteciam milícias e outras facções no Rio de Janeiro;
    6) Hoje, o ódio, que não é de hoje, tomou conta da política; o ódio venceu. Cada vez mais, ideias de respeito aos direitos civis, humanos e sociais são vistas como “criminosas” ou “inimigas do povo” pelos apoiadores reais ou virtuais do presidente Jair Bolsonaro e de sua família. Clamar por direitos é visto como “defesa de bandido” ou como “prova” de se ser “comunista”, senhas para se desqualificar e justificar a eliminação moral ou física de quem discorda da “verdade”;
    7)Estamos vivenciando o apogeu do pensamento conspiratório que declara guerra cultural contra inimigos ideológicos e clama, de forma chula e grosseira, para que as instituições de Estado eliminem dissensos e divergentes. E, em uma análise histórica, o amálgama entre guerra cultural, defensores de bandidos e projetos de poder político foi feito pelos lobistas e “professores” que deslocaram o debate da segurança pública para a discussão da autotutela. À semelhança do papel na Associação Nacional do Rifle, dos EUA, nossos armamentistas fizeram a ponte entre ideologia, política e religião que hoje sustenta muitos dos que estão no Poder e tentam revogar o Estatuto do Desarmamento mesmo contra todas as evidências de que, na segurança, mais armas, mais mortes.
    Eu poderia trazer vários outros dados, mas, se continuarmos na toada atual talvez estejamos presenciando a aniquilação da política e o fim da nação. E, diante de tudo o que foi exposto, o que estamos ensinando às nossas crianças e jovens é o exemplo ético de Pátria a ser construída?
    ***
    Nota: depois da repercussão sobre o uso de máscaras de caveiras, o Comando Militar do Leste disse que investigaria tal conduta. Ato louvável. O drama é que o estrago simbólico já estava feito.

    sexta-feira, 15 de março de 2019

    Em meio a disputa judicial, deputados de SP tomam posse, OESP


    94 parlamentares da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo assumem seus mandatos a partir desta sexta

    Mateus Fagundes e Fábio Leite, O Estado de S.Paulo
    15 de março de 2019 | 15h47
    Os 94 deputados estaduais eleitos em outubro tomam posse na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) na tarde desta sexta-feira, 15. A cerimônia começou depois das 15h, com 1 minuto de silêncio em homenagem aos mortos no atentado à Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP). O governador do Estado, João Doria(PSDB), está presente na mesa, ao lado do presidente Cauê Macris (PSDB).
    Entre os destaques da nova bancada está o PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro que não tinha representação na Alesp e agora conta com 15 deputados, entre os quais a advogada Janaína Paschoal, candidata ao comando da casa e a mulher mais votada da Casa.
    Janaína fez intensa campanha nos últimos dias tentando sensibilizar os deputados estreantes. Ainda assim, Macris é favorito para se reeleger, em uma aliança que une governistas e o PT. 
    ctv-mcs-alesp plenario
    Plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO
    No entanto, a candidatura de Macris foi alvo de contestação judicial. Aliado de Janaína, o futuro líder do PSL na Alesp, Gil Diniz entrou na Justiça contra o tucano, alegando que a Constituição Estadual veda "a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente".
    O desembargador Antonio Celso Aguilar Cortez, do Órgão Especial do TJ-SP, rejeitou o pedido liminar ontem e Diniz entrou com um recurso no começo da tarde. A ação de Diniz foi alvo de críticas entre aliados de Macris. Um dos principais articuladores da recondução do tucano, o deputado estadual Campos Machado (PTB) disse que o PSL queria vencer a eleição no "tapetão".
    Há outros dois candidatos ao comando da Alesp: Daniel José (Novo) e Mônica da Bancada Ativista (PSOL).

    Manifestações 

    Além da tradicional frase "Assim eu prometo", os deputados estaduais paulistas usaram da fala para fazer manifestações favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a posse do novo mandato. Ao fazer o juramento, os deputados petistas chegavam ao microfone e falavam a frase "Lula Livre". "Em defesa dos trabalhadores da Ford e por Lula Livre, assim o prometo", disse o deputado Barba.
    Do lado de fora, manifestantes pró-Lula cantam músicas contra o presidente Bolsonaro. Por sua vez, os deputados apoiadores de Bolsonaro também fizeram falas favoráveis ao presidente. O deputado de primeiro mandato Tenente Coimbra (PSL) disse parte do grito de guerra da campanha bolsonarista: "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos".
    A deputada Mônica Seixas (PSOL), que representa a bancada ativista, usa uma camisa com os dizeres "Quem mandou matar Marielle Franco?"

    Posse em março

    A posse dos deputados estaduais no dia 15 de março teve início em 1969, durante o regime militar, e o intuito era alinhar o início dos trabalhos legislativos com a posse dos chefes do Executivo, que naquele período também passou a ser no mesmo dia. 
    A data chegou a ser alterada outras vezes nas décadas de 1970 e 1980, até que na Constituição Estadual de 1989 foi estabelecido que a posse ocorreria no dia 1.º de janeiro, como acontece no Poder Executivo atualmente. 
    A mudança causou polêmica e questionamento jurídico à época. Ao julgar uma ação direta de inconstitucionalidade, o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu uma liminar e suspendeu a aplicação da data de posse. Para encerrar a discussão, em 1996, outra emenda constitucional alterou novamente a data para 15 de março, que vigora até hoje.