Raquel LandimJoana Cunha
SÃO PAULO
O governo Jair Bolsonaro pretende vender todas as participações que o BNDES possui em empresas nos próximos quatro anos.
O objetivo é que, no fim desse processo, o BNDESPar, braço de participações do banco de fomento, seja fechado.
A revelação foi feita pelo secretário especial de Desestatização e Desinvestimento do governo federal, Salim Mattar, nesta terça-feira (29), em evento realizado pelo banco Credit Suisse.
Mattar faz parte da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes.
"Não há razão para o governo ter uma carteira de ações de empresas. Vamos vender essas empresas e abater dívidas. São R$ 110 bilhões em participação", disse o secretário, referindo-se a participação do BNDESPar em diferentes companhias, como Petrobras, Vale, Gerdau, JBS, etc.
Conforme as demonstrações financeiras do sistema BNDES, a carteira de participações societárias do banco chegava a R$ 99,7 bilhões em setembro do ano passado --um pouco abaixo, portanto, do número citado pelo secretário.
O resultado do banco consolidado de 2018 ainda não foi divulgado.
Técnicos do BNDES consultados pela Folha confirmaram, sob o anonimato, a intenção do banco de continuar se desfazendo de participações acionárias e reduzindo a carteira de ações, mas classificaram como desafiador o prazo de concluir o processo em quatro anos.
Segundo explicam essas fontes, o BNDES está preparado para avançar com as vendas de ações, atendendo os requisitos de prestação de contas dos órgãos de controle, mas a decisão de vender ou não dependem das condições de preço e liquidez no mercado.
Mattar ressaltou que a missão do BNDES será financiar infraestrutura e o médio empresário brasileiro que tem dificuldade de buscar recursos. E aproveitou para dizer que a instituição foi "assaltada nos últimos anos", em referência aos governos petistas.
"No último governo vocês viram o que foi o BNDES. Essa farra acabou. O BNDES agora é uma instituição de credibilidade que vai financiar as obras necessárias para o país mas de forma mais cuidadosa, profissional e ética", reforçou Mattar.
Com a missão de investir em empresas e fomentar o mercado de capitais brasileiro, a BNDESPar surgiu em 1982, resultado de uma fusão de três subsidiárias do BNDES existentes desde a década de 1970.
Nos governos Lula e Dilma, a carteira de ações do banco deu um salto graças a uma política de apoio à internacionalização das empresas brasileiras e à criação de "multinacionais verde amarelas".
Em 2008, ano em que a política dos "campeões nacionais" começou a ganhar tração, a carteira de ações do BNDESPar estava em R$ 59 bilhões. Em 2010, já havia atingido R$ 125,2 bilhões --valor recorde para o sistema.
Investigações da Polícia Federal apuram se parte desse dinheiro foi injetado nas companhias mediante suborno. Em delação premiada, Joesley Batista, dono da JBS, admitiu pagar propina ao ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, para liberação de aportes do BNDES, mas eximiu os funcionários do banco de participação no esquema.
A partir de 2015, ainda no governo Dilma Rousseff, a estratégia para a BNDESPar começou a mudar com a entrada do economista Joaquim Levy no extinto Ministério da Fazenda.
A ordem passou a ser reduzir o tamanho da participação do banco mercado de capitais. Apesar de ter feito parte da equipe da petista, Levy foi escolhido por Guedes para comandar o BNDES no governo Bolsonaro.
Desde 2015 até setembro de 2018, a BNDESPar já vendeu R$ 16,42 bilhões em ações, com destaque para a alienação de papeis da Vale, Petrobras, Eletrobras e Eletropaulo.
Esse valor ainda deve subir significativamente ao longo deste ano.
Apenas na compra da fabricante de celulose Fibria pela Suzano, o banco de fomento deve levantar R$ 8,5 bilhões. O BNDES é um sócio relevante da Fibria.
A operação, anunciada em março de 2018, só foi totalmente concluída em janeiro deste ano, após a aprovação dos órgãos reguladores.
Mattar reforçou ainda que o governo Bolsonaro pretende deixar apenas Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Petrobras fora do rol de privatizações. Mesmo assim, essas estatais teriam tamanho reduzido.
"Eu tenho um panorama geral. As estatais brasileiras, Petrobras, Banco do Brasil e Caixa, deverão ao longo desses quatro anos se desfazer dos seus ativos e ficar um pouco mais magras e mais enxutas", disse.
O secretário afirmou também que pretende superar a meta de arrecadação com privatizações fixada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
TÓPICOS