terça-feira, 30 de outubro de 2018

Doria promete Secretaria do Interior para descentralizar Governo de SP, FSP

Tucano afirma também que vai diminuir número de pastas; ele não adianta nomes

    Artur RodriguesGabriela Sá Pessoa
    SÃO PAULO
    O governador eleito de São Paulo João Doria (PSDB) promete uma gestão descentralizada e a criação de uma Secretaria do Interior para articular políticas junto a prefeituras. 
    Nesta segunda-feira (29), Doria reservou o dia para dar entrevistas. A criação da nova pasta foi um dos principais eixos do discurso do tucano, que se define um "municipalista". 
    "Vamos criar a secretaria do interior, enxuta, pequena, mas bem estruturada. Para que os recursos do pacto federativo anunciado pelo Paulo Guedes, futuro ministro da Fazenda, possam chegar rapidamente aos seus destinatários", disse Doria em uma das entrevistas, esta à Rádio Bandeirantes. 
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    Doria diz que não faz sentido que os prefeitos tenham de se deslocar até o Palácio dos Bandeirantes para tratar de temas de interesse dos municípios.
    "Não tem necessidade de o prefeito pegar uma estrada, ficar rodando 500 km ida e volta para assinar convênios e contratos", disse à rádio Jovem Pan. "Vamos fazer tudo digitalmente. Todos os processos serão digitais, não vai precisar mais ficar assinando contrato, fazer cerimônia no Palácio dos Bandeirantes".
    As cerimônias no Palácio eram uma tradição do governo de Geraldo Alckmin (PSDB), nas quais o ex-governador costumava tratar de política e tomar café com prefeitos do interior. Doria tem batido na tecla de que busca um jeito mais moderno de se fazer política.  
    Além de descentralizar a gestão, a criação desta secretaria garante um contato político mais próximo da futura gestão Doria com os prefeitos —hoje, muitos são fiéis ao atual governador Márcio França (PSB). 
    ​Doria promete ainda reduzir o número de secretarias do governo estadual, a exemplo do que fez na prefeitura. Hoje, de acordo com o site do governo, há 25 secretarias. 
    O tucano tem dito que não pensou ainda nos nomes. No entanto, em seu primeiro discurso, deixou claro que o vice Rodrigo Garcia (DEM) deve ter um papel ativo no governo, além do cargo para o qual foi eleito. 
    Um possível nome para a nova Secretaria do Interior é o do ministro do ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab (PSD). O cacique do PSD foi o primeiro apoiador de Doria e esteve bastante presente ao longo da campanha. 
    Além disso, Kassab tem um perfil político e bom relacionamento com políticos do interior paulista.
    Doria tem dito que suas prioridades serão segurança, saúde e emprego, mas, nas entrevistas recentes, não adiantou nenhuma novidade em relação às propostas que fez na campanha.
    Outro cotado para participar do governo de Doria é o deputado estadual Coronel Camilo (PSD), do partido de Kassab, para a Segurança Pública. Camilo é o fiador da proposta de criação de 17 batalhões “padrão Rota” pelo interior, ideia que Doria comprou, apesar de não ter sido bem recebida por outros conselheiros do tucano na área de segurança. 
    Doria já afirmou que o secretário da Segurança será policial, não promotor como ocorre tradicionalmente no estado. Além disso, levou Camilo para agenda de campanha com a imprensa sobre segurança. 

    O azarão que era barbada Eleição de Witzel reflete a transformação do Rio, FSP

    Eleição de Witzel reflete a transformação do Rio

    Em setembro, quando teve início a campanha eleitoral, ninguém reconheceria Wilson Witzel na rua. Grande parte dos eleitores não conseguia (e ainda não consegue) pronunciar seu nome. Ele tinha 1% das intenções de voto. Nada disso atrapalhou: foi eleito governador nadando de braçada.
    O comprometimento evangélico —Witzel concorreu pelo PSC, partido do pastor Everaldo, da Assembleia de Deus— e sobretudo a onda bolsonarista tornaram o candidato imbatível. Só era um azarão para aqueles que não entenderam no que o Rio se transformou depois de 20 anos sob a quadrilha do antigo PMDB: uma espécie de província neopentecostal cujo poder é compartilhado por milicianos e traficantes. A eleição do prefeito Marcelo Crivella, dois anos atrás, era um sinal inequívoco.
    ​​Bolsonaro alcançou no estado 67,95% dos votos válidos; Witzel, 59,87%. Ambos usaram discursos iguais: rejeição à política considerada tradicional, combate à corrupção e maior punição à criminalidade. O futuro governador pretende autorizar que a polícia abata criminosos que portem armas de uso exclusivo das Forças Armadas. Aliás, deve-se a Bolsonaro Witzel a moda do verbo abater, antes mais utilizado em relação ao gado.
    Witzel gosta de espetáculo. Numa reunião com integrantes das forças de segurança, foi aplaudido ao dizer que não faltará lugar para pôr bandido: “Cova a gente cava, e presídio, se precisar, a gente bota navio em alto mar”. Será que ele sabe quanto custa a construção de um navio-presídio? E que a previsão para o déficit é de R$ 8 bilhões? Que há 1,3 milhão de desempregados no estado?

    Na véspera do segundo turno, o Copacabana Palace abriu os salões para uma festa de Halloween. Prova documentada nas revistas de famosos de que nossas instituições estão funcionando.     
    Alvaro Costa e Silva
    Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".