terça-feira, 23 de outubro de 2018

O pai, o filho, o cabo e o soldado, FSP

Em mais uma demonstração do grande despreparo do núcleo bolsonarista para governar o país, Eduardo Bolsonaro, filho do capitão e deputado federal reeleito, declarou que bastavam um soldado e um cabo para fechar o STF.
É verdade que o desatino verbal é de julho, de modo que não configura uma resposta direta à investigação sobre financiamento ilegal na campanha bolsonarista aberta na semana passada pelo Judiciário, mas é revelador do desprezo do filho pelas instituições basais da democracia liberal. Não tenho provas, mas arriscaria afirmar que foi em casa que o jovem Bolsonaro aprendeu essas coisas.
Tudo indica que Jair Bolsonaro vencerá a corrida presidencial no próximo domingo, o que significa que precisará encontrar um modus vivendi com Judiciário, Legislativo e outras instituições. Ele, afinal, será eleito presidente e não ditador plenipotenciário, e, diferentemente do que pensa Eduardo Bolsonaro, acórdãos do Supremo podem muito mesmo contra presidentes.
Nesse contexto, é positivo que o pai tenha tentado desvincular-se das declarações do filho. Ainda está várias unidades astronômicas distante do necessário para uma convivência harmônica entre os Poderes, mas não deixa de ser um primeiro passo. Ele tem um longo aprendizado pela frente.
O episódio é revelador do que nos aguarda. Embora os mais apavorados já antecipem milícias bolsonaristas patrulhando as ruas e a volta do pau de arara, o mais provável é que enfrentemos uma Presidência que procura, através do discurso truculento, deslegitimar instituições e, em seguida, ampliar seus poderes.
Podemos esperar retrocessos em várias áreas, mas dificilmente veremos a reedição de uma ditadura. Nosso sistema de freios e contrapesos está longe do ideal, mas é mais do que uma peça de ficção constitucional. Embora difícil, não é impossível que Bolsonaro e a família saiam mais civilizados dos quatro anos de mandato.
Hélio Schwartsman
Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Qual o risco de Bolsonaro presidente, FSP

Num momento de sentimentos radicalizados, em que um candidato tem a faixa presidencial praticamente na mão, a conduta esperada de alguém com um mínimo de apreço pela República seria adotar o discurso da conciliação. O governo é para todos, o opositor não é inimigo, as instituições vêm antes do projeto de poder. A família Bolsonaro fez o exato oposto: reforçou o radicalismodesmoralizou as instituições, atacou a imprensa e insuflou o ódio político. Para uma multidão em êxtase, gritou pelo banimento dos "vermelhos" e ameaçou prender Fernando Haddad.

Isso casa bem com as declarações de Eduardo Bolsonaro feitas antes do primeiro turno, mas que vieram à tona só agora: se por algum motivo a Justiça cassar a chapa (ato que ele não considera improvável), tomariam o poder pela força. Disse inclusive que mandaria prender ministros do Supremo. O que pode a pena de um ministro contra a força da população e do Exército? Nada.

Ele está certo. É a força que determina a ordem social, não importa o que digam as leis, os costumes ou os cargos. O Estado democrático de Direito não altera essa realidade elementar: ele busca uma engenharia que consiga contrabalancear diferentes forças e regrar a alternância de poder, de forma a permitir algum nível de liberdade individual e participação dos cidadãos na política. 

Nada disso, contudo, é natural ou automático. Se um número suficientemente grande de pessoas --e mais, pessoas armadas-- decidir não seguir o que diz a lei, ela deixa de valer. O equilíbrio é sempre precário, e por isso a cultura e o senso de decoro das autoridades --que a família joga no lixo --são tão importantes. 

A campanha de Bolsonaro, tanto por seus meios oficiais quanto por agregados e apoiadores, fomenta uma atmosfera de fanatismo e paranoia. Em seu discurso, as instituições conspiram contra eles. As pesquisas mentem, as urnas estão fraudadas, a mídia é vendida e veicula fake news e a Justiça está em busca dos menores pretextos para condená-los.

Todos estariam sob a influência do Foro de São Paulo a serviço do comunismo e, de forma mais ampla, do globalismo e do marxismo cultural. PT, petismo, comunismo, corrupção e crime viraram conceitos intercambiáveis, contra os quais não há mentira ou barbaridade que não seja tolerável.

Pessoalmente, acredito que a eleição já esteja definida. Bolsonaro poderia até mesmo vir em rede nacional dizer que defende a ditadura sim, que vai prender petistas e ministros do Supremo, fechar o Congresso, reinstituir a tortura; seus números pouco se alterariam. "Está fora de contexto"; "é uma piada"; "e a Venezuela?". Outros celebrariam. Os relatos de violência política cometida por eleitores do Bolsonaro não param de crescer. No Exército, o apoio entre os soldados é grande. O risco está dado. 

Apesar disso, não acredito que que a Presidência Bolsonaro significará o fim da democracia. As exigências da negociação e da moderação do discurso para acomodar interesses terão seu efeito. O Judiciário, o Congresso, as Forças Armadas, a mídia e a sociedade civil não se prostrarão. Teremos que ficar vigilantes e prontos para defender a lei contra a força bruta. Apesar da piora, nada de novo no front.
Joel Pinheiro da Fonseca
Economista, mestre em filosofia pela USP.

A nova política brasileira e seus efeitos no Rio de Janeiro, FSP

É chegada a hora de mudar gestão da coisa pública

O candidato ao governo do Rio, Wilson Witzel, em entrevista à Folha - Ricardo Borges - 22.out.18/Folhapress
O processo político da Nova República foi caracterizado pelo pacto de grupos políticos ideológicos de esquerda, que pautaram suas narrativas políticas sem oposição institucional, com grupos políticos desideologizados, que tinham como finalidade o enriquecimento ilícito próprio.

Desse arranjo nasceu uma governabilidade nacional frágil, baseada em corrupção e em uma relação servil com o alto empresariado nacional, ávido por contratos bilionários, a sustentar todo esse esquema.

No epicentro dessa trama, os dois partidos que melhor representavam esses dois grupos: o PT, como baluarte da esquerda ideológica; e o (P)MDB, bastião do corrupto pragmatismo adesista. Destruição dos valores tradicionais de um lado, destruição da gestão pública e propagação do capitalismo de compadrio do outro. Dois lados de uma mesma moeda, resumidos na face de seus líderes: Lula e Temer.

Refletindo esse arranjo torpe, nenhum estado foi maior vítima do que o Rio de Janeiro. O grupo político do (P)MDB, liderado por Cabral, Picciani, Pezão e Eduardo Paes, apoiado em nível nacional por Lula e Dilma, promoveu eventos internacionais grandiosos sem que o Rio de Janeiro tivesse a menor condição de sediá-los.

Com vultosos empréstimos e desprezo pela responsabilidade fiscal, gastaram-se bilhões de reais em projetos que em nada beneficiaram a população fluminense, "oxigenando" toda uma cadeia de corrupção.

A conta chegou e, agora, não temos como bancar a farra de dinheiro público promovida por esse bando, às custas do sofrimento da população.

No mesmo compasso, sendo o Rio de Janeiro a referência de produção cultural do país, a esquerda ideológica instrumentalizou a estrutura estatal para promover a total deturpação dos valores tradicionais da nossa sociedade. Particularmente absurda foi a promoção da ideia de que a culpa da violência não seria do criminoso, mas das vítimas, que estariam sendo cúmplices de um sistema opressor.

Uma total inversão de valores, que retira do meliante a responsabilidade por seus atos maléficos e criminaliza a conduta do policial que bravamente defende a nossa liberdade, em muitos momentos sob o pesado custo da própria vida.

As manifestações populares de 2015, que nasceram a partir da revolta popular com a revelação desse esquema criminoso pelos heróis da Operação Lava Jato, em conjunto com o embasamento intelectual de um ascendente grupo de ideólogos liberais e conservadores, criaram as condições políticas para a destruição do processo político da Nova República e implantação de uma nova ideia de democracia.

Esta se baseia no resgate da cultura tradicional, da valorização da vida, da família, da propriedade e da liberdade econômica, da segurança jurídica e da responsabilidade individual do criminoso pelos atos que comete, e de um Estado desburocratizado, enxuto e focado em serviços públicos essenciais, além de uma política baseada não mais em troca de dinheiro e favores, mas sim em união de sentimentos e valores cristãos.

Essa nova ideia de fazer política está presente em vários estados, nas eleições para governador, e também no país, em que o candidato Jair Bolsonaro (PSL) está prestes a derrubar a velha política.

No Rio de Janeiro, coloquei humildemente a minha candidatura para encarnar essa nova ideia de fazer política, com ética, responsabilidade e respeito à população e ao dinheiro público.

A disputa deste segundo turno no estado do Rio coloca frente a frente esses modelos antagônicos de gerir a coisa pública. É chegada a hora da mudança no Rio, e a população já percebeu que é possível, sim, ter um novo jeito de fazer política.
Wilson Witzel
Candidato a governador do Rio (PSC); juiz federal por 17 anos, doutorando em ciência política pela UFF, professor, mestre em processo civil e ex-fuzileiro naval