sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Bolsonaro, Haddad e a força da gravidade no 2º turno, FSP

Adesões aos candidatos moldam programas e alianças de futuros governos

Os candidatos à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT)
Os candidatos à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) - Fotos Miguel Schincariol e Daniel Ramalho/AFP
A movimentação dos atores políticos neste início de segundo turno permite medir a intensidade dos campos gravitacionais dos dois nomes da disputa. As adesões às chapas de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) nas próximas semanas dará uma pista das alianças que podem moldar seus governos.
Quanto mais forte está um candidato, menor a necessidade de fazer concessões, ajustar discursos e moderar plataformas. Ao abrir vantagem sobre seu principal adversário, Bolsonaro atraiu o apoio de políticos interessados em se beneficiar de sua imagem ou derrotar o PT.
João Doria, candidato do PSDB ao governo de São Paulo, apostou nos dois prêmios. No próprio domingo do primeiro turno, declarou voto no presidenciável. O tucano até afirmou que não concorda com todas as posições de Bolsonaro, mas depois se orgulhou em dizer que deu seu apoio sem pedir “contrapartida”.
A onda que empurra o candidato do PSL nesta eleição colocou sua campanha em posição confortável. Políticos de diversos partidos decidiram se colar a sua candidatura sem a exigência de qualquer mudança em seu programa, por exemplo.
Haddad está em situação menos favorável. A adesão de Ciro Gomes (PDT) ao petista era tratada como um movimento óbvio, mas o ex-governador cearense fez jogo duro. Declarou apoio crítico ao PT e pegou um avião para a Europa.
A três semanas do segundo turno, os petistas decidiram apagar trechos do programa de governo e mudar alguns hábitos. Haddad interrompeu suas visitas a Lula na carceragem da Polícia Federal e desautorizou José Dirceu no horário nobre da TV.
A moderação era um aceno a políticos de centro e de direita para derrotar Bolsonaro. Ainda não funcionou.

O maior sinal de que as urnas eletrônicas são confiáveis é a derrota deRomero Jucá. O homem mais poderoso de Roraima, símbolo do establishment político, perdeu sua cadeira no Senado por apenas 426 votos.
Bruno Boghossian
Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

Corrupção e violência, Vladimir Safatle , FSP

O que esperar de alguém cujo símbolo de campanha é uma arma apontada?

Ilustracão de Marcelo Cipis para Vladimir Safatle de 12.out.2018
Marcelo Cipis
"Não importa o que Bolsonaro fale, desde que ele garanta segurança e o fim da roubalheira." Essa afirmação de um de seu eleitores talvez expresse com clareza o que move muitos dos brasileiros e brasileiras a optarem por sua candidatura. No entanto, a crença de que Bolsonaro seria alguma espécie de resposta milagrosa à violência da sociedade brasileira e à corrupção de seu Estado é baseada em equívoco tão evidente quanto aquele que levou vários eleitores a verem em Fernando Collor um caçador de marajás.
Bolsonaro gosta de se vender como um homem incorruptível e incansável no combate à corrupção. Mas Bolsonaro é aquele mesmo político que passou 20 dos 27 anos de sua vida pública em um partido notoriamente corrupto (PP), comandado por ninguém menos do quePaulo Maluf.
Em momento algum, alguém ouviu declaração indignada a respeito da corrupção de seu partido e suas figuras de proa. Nada disto o incomodou durante 20 anos. Ao contrário, quando questionado sobre a propina que seu partido recebeu da JBS e direcionada a ele, apenas afirmou: "Que partido não recebe propina?".
Hoje, sua campanha é comandada por Onyx Lorenzoni, que deve ser seu chefe da Casa Civil. O mesmo que admitiu ter recebido R$ 100 mil de caixa dois da mesma JBS para sua campanha. Sua campanha é entusiasticamente apoiada por pilares da moralidade como o pastor e ex-presidiário Edir Macedo, que terá certamente influência e ascendência em seu governo.
Enquanto isto, o senhor Bolsonaro louva um regime corrupto, como a ditadura militar brasileira. Ninguém nunca ouviu o deputado indignado com casos de corrupção que fizeram a história da ditadura, como Coroa Brastel, Capemi, Jari, Brasilinvest e Paulipetro, entre tantos outros. Não é por acaso. O que incomoda Bolsonaro não é a corrupção, mas simplesmente a corrupção feita por aqueles que não são seus amigos, aliados ou ídolos, como sempre foi em terras pátrias.
Agora, aparecem histórias sobre omissão de patrimônio, uso indevido de verbas e estruturas funcionais, funcionários fantasmas e enriquecimento vertiginoso que o deputado responde com sua contumaz violência. Isso além de sua campanha ser marcada por uma circulação inacreditável de fake news, o nome contemporâneo para a pura e simples mentira. Imaginar que alguém dessa natureza será o destinado a "varrer a corrupção" do país é da ordem do simples delírio.
Sobre o pretenso combate à violência, o país viu o que significará seu governo nos últimos dias. Um de seus apoiadores matou o capoerista Moa do Katendê em uma discussão política. Outros espancaram um estudante na frente da UFPR por usar um boné do MST. Mulheres têm medo atualmente de serem importunadas por seus seguidores em bando na rua.
Diante da morte hedionda do capoeirista não ouvimos Bolsonaro sequer se solidarizar honestamente, dizendo, como era de se esperar, que estava profundamente indignado com o fato, que prestava seu apoio à família em momento difícil, que isso era algo que ele nunca poderia aceitar. Falando um protocolar "eu lamento", ele logo afirmou, "quem levou a facada fui eu", preferindo agir como um chefe de gangue em vez de agir como um possível presidente.
Mas o que esperar de alguém cujo símbolo de campanha é uma arma apontada? Que volte a colocar esquadrões da morte na periferia, como em sua amada ditadura? Que permaneça igualmente indiferente quando seus seguidores organizarem grupos para "caçar comunistas" e "corrigir homossexuais"? É esse o homem que age em nome da ordem e do progresso?
Seus seguidores dizem que a violência é direcionada apenas a bandidos. O problema é que "bandido" para o senhor Bolsonaro é, no final das contas, todos aqueles que não pensam como ele e recusam os pretensos valores que esse senhor defende. Ou seja, sua "união do país" será feita sob os cadáveres dos oponentes e sob a violência contra os descontentes como, não podia deixar de ser, em sua amada ditadura.
Vladimir Safatle
Professor de filosofia da USP, autor de “O Circuito dos Afetos: Corpos Políticos, Desamparo e o Fim do Indivíduo”.

Tabela como as democracias morrem

tabela . Os quatro principais indicadores de comportamento autoritário 1. Rejeição das regras democráticas do jogo (ou compromisso débil com elas) Os candidatos rejeitam a Constituição ou expressam disposição de violá-la? Sugerem a necessidade de medidas antidemocráticas, como cancelar eleições, violar ou suspender a Constituição, proibir certas organizações ou restringir direitos civis ou políticos básicos? Buscam lançar mão (ou endossar o uso) de meios extraconstitucionais para mudar o governo, tais como golpes militares, insurreições violentas ou protestos de massa destinados a forçar mudanças no governo? Tentam minar a legitimidade das eleições, recusando-se, por exemplo, a aceitar resultados eleitorais dignos de crédito? 2. Negação da legitimidade dos oponentes políticos Descrevem seus rivais como subversivos ou opostos à ordem constitucional existente? Afirmam que seus rivais constituem uma ameaça, seja à segurança nacional ou ao modo de vida predominante? Sem fundamentação, descrevem seus rivais partidários como criminosos cuja suposta violação da lei (ou potencial de fazê-lo) desqualificaria sua participação plena na arena política? Sem fundamentação, sugerem que seus rivais sejam agentes estrangeiros, pois estariam trabalhando secretamente em aliança com (ou usando) um governo estrangeiro – com frequência um governo inimigo? 3. Tolerância ou encorajamento à violência Têm quaisquer laços com gangues armadas, forças paramilitares, milícias, guerrilhas ou outras organizações envolvidas em violência ilícita? Patrocinaram ou estimularam eles próprios ou seus partidários ataques de multidões contra oponentes? Endossaram tacitamente a violência de seus apoiadores, recusando-se a condená-los e puni-los de maneira categórica? Elogiaram (ou se recusaram a condenar) outros atos significativos de violência política no passado ou em outros lugares do mundo? Alianças fatídicas 25 4. Propensão a restringir liberdades civis de oponentes, inclusive a mídia Apoiaram leis ou políticas que restrinjam liberdades civis, como expansões de leis de calúnia e difamação ou leis que restrinjam protestos e críticas ao governo ou certas organizações cívicas ou políticas? Ameaçaram tomar medidas legais ou outras ações punitivas contra seus críticos em partidos rivais, na sociedade civil ou na mídia? Elogiaram medidas repressivas tomadas por outros governos, tanto no passado quanto em outros lugares do mundo?