domingo, 12 de outubro de 2014

Luz perpétua


DIEGO MOURA - ESPECIAL PARA O ALIÁS
11 Outubro 2014 | 16h 00

Lâmpada veterana brilha há 113 anos e garante aos novinhos eletrônicos que não para tão cedo

DICK JONES
Resistência. No teto do quartel dos bombeiros, ela já ‘enterrou’ três webcams
Nove metros separam do chão a lâmpada mais antiga ainda em funcionamento no mundo. Pendurada no teto do Quartel Número 6 dos bombeiros da ensolarada Livermore, Califórnia, ela começou a brilhar em 1901 - e não parou mais. Está até no Guinness: já são mais de 890 mil horas de vida, devendo superar 1 milhão em junho de 2015. Para os pouco mais de 80 mil habitantes da cidade, trata-se, como diriam por aqui, de coisa da providência divina. “Essa lâmpada representa a esperança, a luz, tudo de positivo que você puder imaginar”, pontifica o gráfico Steve Bunn, de 59 anos, dono do site Centennial Bulb (Lâmpada Centenária), desde o ano 2000 dedicado à vida da lâmpada teimosa. “Tem padres aqui que a usam em sermões. Dizem que, assim como Jesus é a luz do mundo, essa é a luz de Deus, que brilhará para sempre”, ele exemplifica. 
Contra força tão poderosa, não há Nobel de Física capaz de competir. Essa semana os japoneses Isamu Akasaki, Hiroshi Amano e Shuji Nakamura foram agraciados com o prêmio da academia sueca pelo desenvolvimento do LED, em 1990. Uma revolução em termos alumiantes: o LED é 25 vezes mais durável e até 80% mais econômico do que uma lâmpada incandescente comum e a Prefeitura de São Paulo acaba de anunciar planos de usá-lo em todos os postes da cidade, numa substituição estimada em R$ 1,8 bilhão. Mas, em termos simbólicos, a luzinha japonesa não passa de uma sombra perto da lâmpada eterna de Livermore.
Ela foi fabricada em 1898 pelo francês Adolphe Chaillet, em Shelby, Ohio. Propagandeada como a "melhor de toda a Terra", sucumbiu tempos depois diante de rivais menos duráveis, porém mais econômicas. O produto desperdiçava mais de 90% de sua energia em calor. Em 1900, um exemplar foi entregue à companhia de eletricidade e abastecimento de água de Livermore e, um ano depois, doado ao corpo de bombeiros local. Desde então, a lâmpada mudou de lugar quatro vezes: duas em 1901, uma em 1906 e a última em 1976, quando a desligaram por 22 minutos. Na ocasião houve até um cortejo de moradores, com escolta policial, até o quartel dos bombeiros, onde ela permanece hoje, acanhada ao lado de duas daquelas lampadonas compridas e frias de escritório. 
O lugar, bem alto e distante das mãos humanas, é estratégico. Ali ela já enfrentou até terremoto, sempre acesa, como contou Tom Bramell, de 66 anos, ex-chefe dos bombeiros e atual guardião da lâmpada. Mas, até ser posta em segurança, jazia perto demais do chão, bem no meio do caminho. Quando os bombeiros saíam correndo para atender a emergências, esbarravam perigosamente nela - que, apesar dos trancos, não quebrou. Nem apagou. 
Sua longevidade, aliás, ainda carece de explicações. Estudos realizados em 2008 e 2009 por pesquisadores americanos apontaram como causa a qualidade do filamento. Enquanto as lâmpadas mais modernas usam o tungstênio, Chaillet apostou numa substância derivada da celulose que, quando aquecida, se tornava carbono puro. “Era tão compacto e forte que se aproximava da dureza de um diamante”, disse Bramell.
Em 2001, os livermorenses comemoraram o centenário da lâmpada com uma festa de parar a cidade. Famílias às pencas saíram às ruas para ver os desfiles dos veteranos luminosos e exposições multitemáticas sobre a peça de Chaillet. Mas 12 anos depois um novo susto abalou a tranquilidade dos aficionados pela lâmpada. Em 20 de maio de 2013 a luz centenária emitiu o que parecia ser seu último brilho. Nove horas e meia depois, encontraram o problema, e não era com ela: o gerador de eletricidade que a mantinha viva dera chabu. “Então veio o medo”, recorda Steve Bunn. “Porque, normalmente, quando uma lâmpada fica acesa por muito tempo, apaga e volta a acender, queima. Mas não foi o que aconteceu.” Quando morreu, a pequena notável de Livermore emita luz correspondente a 4 watts, praticamente uma vela de cemitério. Na ressurreição, brilhou com potência 15 vezes maior. Com o tempo, voltou a minguar e minguante continua. Hoje, não ilumina um palmo à frente do nariz.
Da vez em que escureceu pela falha no gerador, uma porção de mensagens de lamento entupiu a caixa de e-mails do gráfico Bunn. Uma delas vinha de um militar americano em missão no Ártico. “Ele estava muito chateado. Contou que passaria os próximos três meses no escuro por causa do inverno. Nossa lâmpada era a única luz que lembrava sua casa”, disse Bunn, orgulhoso. É que, em 2001, os bombeiros passaram a transmitir imagens da lâmpada em tempo real, por uma webcam. Desde então, a lâmpada centenária já enterrou três câmeras. A quarta que se cuide.
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Diego Moura é aluno do Curso Estado de Jornalismo

O gargalo das patentes


Coluna do Renato Cruz: O gargalo das patentes
Empresas brasileiras têm ampliado seu esforço de inovação nos últimos anos. Criar produtos, serviços e processos novos é essencial para que o País consiga competir pelo mercado internacional. Mas existem gargalos importantes, que se tornam ainda mais críticos diante desse esforço de inovação.
Um dos principais é o sistema de registro de patentes. A espera por aqui está em 10,8 anos em média, podendo, em alguns casos, ultrapassar 14 anos. Nos Estados Unidos, o prazo médio é de 2,6 anos; na Europa, de 3 anos; na Coreia do Sul, de 1,8 ano; e, na China, de 1,9 ano.
O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) precisa de um reforço urgente, com contratação de funcionários e investimento em tecnologia. Apesar de ser superavitário, gastando menos do que arrecada com os pedidos de patente e registro de marcas, o instituto padece de falta de investimento.
Na sexta-feira, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) promoveu em São Paulo um encontro com o tema Propriedade intelectual: acordos internacionais de cooperação para exame de patentes. Além de lideranças empresariais, o evento contou com a presença do presidente do INPI, Otávio Brandelli, e de representantes de escritórios internacionais de patentes.
“O Brasil ainda participa de pouquíssimos acordos multilaterais”, disse Rafael Lucchesi, diretor de Educação e Tecnologia da CNI. Um dos principais assuntos discutidos durante o encontro foram benefícios que o País poderia ter se participasse do Procedimento Acelerado de Patentes (PPH, na sigla em inglês). Os signatários desse acordo compartilham informações, o que pode acelerar o processo de avaliação dos pedidos.
O PPH pode ser bilateral ou multilateral. Se o Brasil tivesse, por exemplo, um acordo com a China, e a empresa entrasse com um pedido no escritório chinês, requerendo também o registro por aqui, o INPI já receberia todo o levantamento de informações feito por lá, tendo somente que complementar a pesquisa para tomar sua decisão.
Não existiria perda de soberania, como alguns críticos desse tipo de acordo dizem. A Europa tem acordos com os EUA, Japão, China e Coreia do Sul, formando o chamado IP5 (IP é a sigla em inglês de propriedade intelectual). “Acontece de cada escritório tomar decisões diferentes sobre o mesmo pedido, pois as legislações são diferentes e a interpretação das regras também é diferente”, afirmou Nelson das Neves, coordenador de Projetos do Escritório Europeu de Patentes (EPO, na sigla em inglês).
A resolução do gargalo das patentes é urgente no Brasil, pois dificilmente o País conquistará um lugar de destaque no mercado internacional de produtos de maior valor adicionado sem que se dê a atenção devida à proteção da propriedade intelectual.
Mão de obra
O INPI tem cerca de 250 examinadores, comparados a 8 mil nos EUA e a 4 mil na Europa. Essa é uma das explicações para a demora na avaliação dos pedidos de patentes. A quantidade de processos a espera de uma decisão é de 960 por examinador no Brasil, comparada a 77 nos EUA e a 91 na Europa.
Importância
Apesar dessa situação, ocupamos um lugar importante no cenário internacional. “O Brasil está entre os 10 principais países em patentes e marcas”, afirmou José Graça Aranha, diretor regional da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (Ompi). A Ompi administra 26 tratados internacionais, entre eles o PPH, que começou como um acordo entre EUA e Japão e hoje inclui 33 países. A Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), liderada pela CNI, defende a adesão do Brasil ao PPH.

Minhas irritações com a presidente - IVES GANDRA DA SILVA MARTINS


FOLHA DE SP - 12/10


O mais curioso é que o Plano Real, que tanto foi combatido por Lula e pelo PT, é o que ainda dá alguma sustentação à Presidência de Dilma


Em 16 de março de 2011, publiquei nesta Folha um artigo em que apoiava a presidente Dilma e seu vice, Michel Temer --meu confrade em duas Academias e companheiro de conferências universitárias--, pelas ideias apresentadas para o combate à corrupção e a promoção do desenvolvimento nacional.

Como mero cidadão, não ligado a qualquer partido ou governo, tenho, quase quatro anos depois, o direito de expressar minha irritação com o fracasso de seu governo e com as afirmações não verdadeiras de que o Brasil economicamente é uma maravilha e que seu governo é o paladino da luta contra a corrupção.

Começo pela corrupção. Não é verdade que, graças a ela, os oito anos de assalto à maior empresa do Brasil, estão sendo rigorosamente investigados. Se quisesse mesmo fazê-lo, teria apoiado a CPI para apurar os fantásticos desvios, no Congresso Nacional.

A investigação se deve à independência e à qualidade da Polícia e do Ministério Público federais que agem com autonomia e não prestam vênia aos detentores do poder. Nem é verdade que demitiu o principal diretor envolvido. Este, ao pedir demissão, recebeu alcandorados elogios pelos serviços prestados!

Por outro lado, não é verdade que a economia vai bem. Vai muito mal. Os recordes sucessivos de baixo crescimento, culminando, em 2014, com um PIB previsto em 0,3% pelo FMI, demonstram que seu ministro da Fazenda especializou-se em nunca acertar prognósticos.

Acrescente-se que também não é verdade que controla a inflação, pois, se o PIB baixo decorresse de austeridade fiscal, estaria ela sob controle. O teto das metas, arranhado permanentemente, demonstra que a presidente gerou um baixo PIB e alta inflação.

Adotando a pior das formas de seu controle, que é o congelamento de tarifas, afetou a Petrobras e a Eletrobras, fragilizando o setor energético, além de destruir a indústria de etanol, sem perceber que desde Hamurabi (em torno de 1700 a.C.) e Diocleciano (301 d.C.) o controle de preços, que fere as leis da economia de mercado, fracassou, como se vê nas economias argentina e venezuelana, que estão em frangalhos.

O mais curioso é que o Plano Real, que tanto foi combatido por Lula e pelo PT, é o que ainda dá alguma sustentação à Presidência.

Em matéria de comércio internacional, os governos anteriores aos atuais conseguiram expressivos saldos na balança comercial, que foram eliminados pela presidente Dilma. Apenas com artimanhas de falsas exportações é que conseguiu obter inexpressivos saldos. O "superavit primário" nem vale a pena falar, pois os truques contábeis são tantos, que, se qualquer empresa privada os fizesse, teria autos de infração elevadíssimos.

Seu principal eleitor (o programa Bolsa Família) consome apenas 3% da receita tributária. Os 97% restantes são desperdiçados entre 22 mil cargos comissionados, 39 ministérios, obras superfaturadas, na visão do Tribunal de Contas da União, e incompletas.

Tenho, pois, como cidadão que elogiou Sua Senhoria, no início --para mim Sua Excelência é o cidadão, a quem a presidente deve servir--, o direito de, no fim de seu governo, mostrar a minha profunda decepção com o desastre econômico que gerou e que me preocupa ainda mais, por culpar os que criam riqueza e empregos em discurso que pretende, no estilo marxista, promover o conflito entre ricos e pobres.

Gostaria, neste artigo --ao lembrar as palavras de apoio daquele que escrevi neste mesmo jornal quase quatro anos atrás--, dizer que, infelizmente, o fracasso de seu projeto reduziu o país a um mero exportador de produtos primários, tornando este governo um desastre econômico.