segunda-feira, 12 de maio de 2014

Safatle contra os pobres - LEANDRO NARLOCH


FOLHA DE SP - 12/05

Os interesses de classes nem sempre divergem. PIB em alta faz bem para pobres, remediados e magnatas. O Brasil é exemplo disso


Por que intelectuais como Vladimir Safatle desprezam a receita mais eficaz, testada e aprovada para a redução de pobreza? Falo do crescimento econômico. Qualquer país que vive uma ou duas décadas de altas consecutivas do PIB vê massas humanas deixarem a miséria.

China: 680 milhões de miseráveis a menos desde que as fábricas capitalistas apareceram, há 35 anos. Indonésia: redução de pobreza de 54% para 16% em 18 anos. Coreia do Sul: tão pobre quanto a Índia em 1940, virou um dos países mais ricos do mundo depois de crescer em média 8% ao ano entre 1960 e 1980.

Essa receita deu tão certo que levou o mundo a superar, cinco anos antes do previsto, a meta estabelecida pela ONU, em 2000, de cortar pela metade o número de pessoas que viviam com menos de US$ 1,25 por dia. Quase tudo isso aconteceu sem cotas sociais, sem Bolsa Família, sem alta de impostos. Só com geração de riqueza.

É uma excelente notícia, que deveríamos comemorar --mas por que Safatle não participaria da festa conosco? No artigo "Demagogia" (29/4), na Folha, ele reclama de quem prefere discutir o crescimento econômico em vez de se concentrar no "caráter insuportável" dos arcaísmos brasileiros (mas a expansão da economia é melhor arma contra esses arcaísmos!). Noutro artigo, diz que a atividade econômica só faz produzir desigualdade.

Dá pra entender o desprezo. Admitir a importância da alta do PIB na redução da pobreza implica em reconhecer verdades dolorosas. A primeira é que quem atrapalha o crescimento da economia atrapalha os pobres. Afugentar investidores resulta em menos negócios, menos vagas, menores salários.

Outra é que os interesses das classes nem sempre divergem. PIB em alta faz bem para pobres, remediados e magnatas. Os anos recentes do Brasil são um exemplo disso. Entre 2007 e 2012, vivemos uma impressionante redução da miséria. Enquanto isso, o número de milionários subiu de 120 mil para 165 mil. Não há motivo para fomentar conflito entre motoboys e donos de jatinhos.

Mas o fato mais difícil de reconhecer é que os filósofos de palanque e os bons mocinhos tiveram um papel irrelevante na redução da pobreza. Se crescimento da economia ajuda os pobres, isso se deve a seus protagonistas, ou seja, os homens de negócio, alguns deles ricos, quase todos interessados somente em botar dinheiro no bolso.

Pior ainda, Safatle teria que admitir que os negociantes aliviaram a condição dos pobres fazendo justamente aquilo que mais incomoda os intelectuais ressentidos: lucrar explorando mão de obra barata. Capitalistas costumam atrair competidores, criando uma concorrência por empregados, elevando salários.

Intelectuais costumam reservar para si um lugar mais elevado que o de comerciantes na sociedade. É difícil terem generosidade para admitir que uma de suas causas mais nobres depende de negociantes mundanos. Por isso, o filósofo prefere ficar do lado da ideologia, e não do lado dos pobres, o que me faz acreditar que ele é movido por um ressentimento contra os ricos, talvez um desejo puritano de conter seus excessos. E não uma vontade genuína de reduzir a pobreza.

Crise do Cantareira faz indústria reduzir consumo de água e ameaça produção

Para enfrentar a emergência, fábricas pretendem contratar caminhões-pipa para resfriar equipamentos; para empresas como a GM, custo torna alternativa inviável

11 de maio de 2014 | 21h 18

Cleide Silva - O Estado de S. Paulo
A escassez de água e a possibilidade de racionamento, ainda que negada pelo governo de São Paulo, mobiliza os setores da indústria e da agricultura das regiões abastecidas direta ou indiretamente pelo Sistema Cantareira. A maioria das empresas ampliou medidas para economizar água e espera que a situação melhore em breve. Mas muitas estudam alternativas, como recorrer a caminhões-pipa. O problema já fez uma multinacional parar a produção por duas semanas.
Nível mais baixo no Cantareira já afeta indústrias - Nilton Fukuda/Estadão
Nilton Fukuda/Estadão
Nível mais baixo no Cantareira já afeta indústrias
A fabricante de motores Cummins, instalada em Guarulhos, na Grande São Paulo, fez acordo com uma empresa para, em caso de emergência, recorrer a caminhões-pipa que buscarão água em outras regiões. "O impacto que vemos é o financeiro, pois as alternativas sempre geram custos adicionais não planejados", diz Eric Leister, supervisor de engenharia da fábrica.
A Cummins calcula em R$ 12,55 o valor de cada m³ dessa água alternativa, o que geraria um custo de R$ 63 mil mensais. Ela usa em média 5 mil m³ de água por mês, a maior parte para refrigerar equipamentos e máquinas. "Sem isso não temos como operar", informa Leister.
Nas últimas semanas, a Cummins observou dias de desabastecimento e redução na pressão da água entregue. O grupo tem um reservatório abastecido pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) e, para evitar desperdícios, instalou torneiras com regulagens de pressão e controla as lavagens na fábrica.
O presidente da General Motors América do Sul, Jaime Ardila, diz que a empresa tem adotado medidas adicionais para economizar água, além das normais, que incluem tratamento e reaproveitamento. "Não é possível ter um plano B, como fizemos quando houve racionamento de energia", afirma o executivo. No caso da energia, lembra ele, é possível usar geradores, mas "com a água é diferente, não tem como gerar mais".
A opção dos caminhões-pipa, diz Ardila, é inviável por causa do custo. A fábrica em São Caetano do Sul, no ABC paulista, usa em média 80 mil a 100 mil m³ de água por ano. "Por enquanto temos recebido confirmação das autoridades que não há previsão de racionamento."
A Rhodia, multinacional do setor químico, parou a produção por duas semanas na fábrica de Paulínia em fevereiro, quando a vazão do Rio Atibaia, que recebe as águas excedentes do Sistema Cantareira, chegou a menos de 4 m³ por segundo.
"Paramos a produção da unidade de intermediários e poliamida, produtos integrantes da cadeia do nylon, porque não era possível captar o volume de água necessário para resfriar as torres de destilação", diz Carlos Silveira, diretor da unidade.
"Não tínhamos registros de escassez desse porte nos 72 anos de existência do complexo industrial." Segundo Silveira, a Rhodia faz uso racional dos recursos naturais, mas "o que ocorreu foi um fenômeno além do alcance das medidas preventivas". A Rhodia reclama ações mais amplas do Estado para aumentar a vazão./ COLABORARAM LAURA DE PAULA SILVA e LEDA SAMARA, ESPECIAIS PARA O ESTADO

Compare bairros paulistanos com outras cidades do mundo


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Há uma guerra contra os prédios em São Paulo. Se multiplicam os movimentos para impedir a chegada de espigões e a demolição de casinhas em bairros valorizados como Pinheiros, Vila Madalena e Vila Mariana.
Agora, com o texto do novo Plano Diretor em fase final de tramitação na Câmara Municipal, a discussão sobre a altura dos edifícios está mais acirrada do que nunca.
O documento, aprovado em primeira votação em 30 de abril (falta a segunda votação), incentiva prédios altos perto de estações de trem, metrô e ônibus. Embora limite a oito andares a altura dentro dos bairros, associações de moradores tentam barrar a tramitação sob o argumento de que as medidas cedem demais ao mercado imobiliário.
Editoria de Arte/Revista sãopaulo
Por trás do plano está uma ideia que virou mantra nas escolas de arquitetura e urbanismo ao redor do mundo: a da cidade compacta, pensada para prevenir e reverter o processo de crescimento rumo à periferia. Na cidade densa as pessoas não precisam pegar o carro para fazer compras, trabalhar ou se divertir.
Mas alta densidade não é sinônimo de prédio alto, como pode parecer à primeira vista. Edifícios, além de altura, têm largura, profundidade e distância das outras construções.

Prédio alto não é sinônimo de densidade urbana

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Reprodução/GoogleMaps
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Horizontal e superdenso. O bairro Eixample, em Barcelona (Espanha), combina prédios baixos, de até cinco andares, com uma população de 34 mil habitantes por km².
O megadenso bairro Eixample, em Barcelona, com seus 34,5 mil habitantes por km² e prédios de apenas cinco andares (com lojinhas embaixo) é prova disso, assim como grande parte das cidades pré-industriais.
No século 19, a migração de camponeses para trabalhar nas fábricas gerou uma grande concentração de pessoas, e com isso, várias epidemias. Num mundo sem antibióticos, a higiene das habitações virou prioridade máxima. Casas e prédios ficaram mais espaçados, com mais janelas para a entrada de sol e ar.
Décadas depois veio o modernismo e a cidade pensada para o carro, dividida em setores, como Brasília. Ideais que moldaram e continuam a moldar os centros urbanos.
São Paulo e lugares como Los Angeles, por exemplo, tiveram uma explosão em direção à periferia a partir dos anos 1950. Mas a cidade de fato, com toda sua infraestrutura e empregos, não chega às bordas.
O resultado são pessoas indo de um lado da cidade ao outro todos os dias. E esse movimento pendular tem resultados bem conhecido: superlotação das vias, trens e ônibus.