terça-feira, 25 de dezembro de 2012

etanol deverá dobrar movimento na hidrovia Tietê- Paraná até 2016


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Etanol deverá dobrar movimento na hidrovia Tietê-Paraná até 2016

Estaleiro Rio Tietê iniciou produção de cem embarcações para transporte de etanol, fruto de contrato de R$ 432 mi com a Transpetro

06 de dezembro de 2012 | 2h 09
FERNANDO SCHELLER , ENVIADO ESPECIAL / ARAÇATUBA - O Estado de S.Paulo
Um contrato de R$ 432 milhões da Transpetro é um passo concreto para um objetivo do governo: tirar o transporte hidroviário da inércia. A empresa da Petrobrás encomendou cem embarcações para reduzir o uso de caminhões no transporte de etanol. Quando os 20 comboios - compostos por um empurrador e quatro balsas cada - estiverem prontos, em 2016, o aproveitamento da Hidrovia Tietê-Paraná deverá dobrar, passando de 15% para 30%.
O Estaleiro Rio Tietê, contratado para a empreitada, montou a estrutura de produção para a Transpetro em Araçatuba, no Oeste de São Paulo. As primeiras chapas de aço começaram a ser cortadas em outubro e hoje a empresa já contabiliza 210 funcionários em sua unidade produtiva, instalada às margens do Tietê. À medida que os trabalhos avançarem, o número de empregados chegará a 400. A primeira embarcação será lançada ao rio em junho de 2013.
Embora a Transpetro sustente as condições atuais permitam que os 20 comboios entrem em operação sem nenhuma obra, o novo estaleiro espera que investimentos prometidos para a Hidrovia Tietê-Paraná saiam do papel. Uma parceria entre os governos federal e paulista promete R$ 1,5 bilhão para a melhoria de barragens, construção de eclusas e trabalho de calado (profundidade) em 800 quilômetros total de 2,4 mil km da hidrovia.
As obras podem ser um incentivo para que outros segmentos se animem a usar o trecho Tietê-Paraná para transportar mercadorias. Segundo o gerente de relacionamento do estaleiro, Alexandre Bruno, a empresa já recebeu contatos de outros clientes interessados em encomendar comboios parecidos com o da Transpetro. Sociedade entre o empresário Wilson Quintela Filho e o estaleiro paraense Rio Maguari, o projeto conta com isso para não desaparecer do mercado após a conclusão do contrato.
Potencial. As oportunidades de expansão das hidrovias no País são grandes, segundo especialistas em logística. Hoje, só 13% da produção brasileira são transportados por rios, índice equivalente à metade do americano (veja quadro ao lado). O País ainda é bastante dependente das rodovias, consideradas justamente a opção mais cara. A meta do governo é pelo menos dobrar a participação das hidrovias na matriz logística até 2025.
Essas ambições esbarram, no entanto, em erros estratégicos do passado. Segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), boa parte das hidrelétricas brasileiras foi construída sem eclusas. Para fomentar o transporte hidroviário, aponta estudo da Antaq, a construção de 27 eclusas é considerada prioritária pela agência reguladora. Essas obras exigiram um desembolso de R$ 11,6 bilhões dos cofres públicos.
A ausência de eclusas é mais um símbolo da falta de planejamento estratégico da infraestrutura brasileira, na opinião de Paulo Resende, coordenador do núcleo de logística da Fundação Dom Cabral. "O Ministério de Minas e Energia e o de Transportes não se comunicam. Se incorporadas ao projeto das hidrelétricas, as eclusas custariam entre 30% e 40% do valor agora projetado", diz o especialista. Para Resende, com todas as necessidades do Brasil, é difícil justificar um gasto de R$ 11 bilhões em projetos hidroviários.
A necessidade de investimentos nas hidrovias brasileiras motivou a Transpetro a não contar com outros projetos, como a melhoria da navegabilidade do Tietê ou a conclusão do etanolduto da Logum, empreendimento do qual a Petrobrás é sócia, para tornar viável o uso dos comboios.
As cem embarcações que sairão do estaleiro de Araçatuba poderão ser usadas mesmo que nenhuma outra obra estrutural se torne realidade, afirma o presidente da Transpetro, Sérgio Machado. "Será possível navegar com o rio do jeito que está", diz. O executivo lembra que o projeto de R$ 1,5 bilhão para melhoria do trecho paulista da hidrovia foi anunciado após a decisão da Transpetro sobre os comboios.
As cem embarcações que sairão do estaleiro de Araçatuba poderão ser usadas mesmo que nenhuma outra obra estrutural se torne realidade, afirma o presidente da Transpetro, Sérgio Machado. ?Será possível navegar com o rio do jeito que está?, diz. O executivo lembra que o projeto de R$ 1,5 bilhão para melhoria do trecho paulista da hidrovia foi anunciado após a decisão da Transpetro sobre os comboios. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

Número de varejistas que fatura mais de R$ 1 bi no Brasil cresce 32%



Em 2011, foram 58 empresas com receita superior a R$ 1 bilhão, ante 44 no ano anterior; previsão para este ano é chegar a 70 

05 de dezembro de 2012 | 23h 00
Márcia De Chiara, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O clube de empresas bilionárias do varejo brasileiro cresce em ritmo acelerado. Em 2011, 58 companhias tiveram faturamento anual igual ou maior que R$ 1 bilhão, ante 44 em 2010, revela o ranking das 100 maiores empresas varejistas nacionais feito pelo Instituto Brasileiro dos Executivos do Varejo (Ibevar).
A consolidação de empresas regionais, somada à taxa de crescimento das varejistas na casa de dois dígitos e à formalização de muitas companhias, explica esse aumento do número de empresas bilionárias, afirma Eduardo Terra, vice-presidente do Ibevar. Para este ano, a perspectiva é que 70 companhias façam parte desse grupo, prevê Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Ibevar.
"Faturar o primeiro bilhão de reais é como atingir a maioridade", compara Jorge Inafuco, gerente de empresas de varejo da PricewaterhouseCoopers (PWC), que apoiou a pesquisa. Ele explica que muitas indústrias não vendem diretamente para varejistas com vendas abaixo de R$ 1 bilhão. Para essas empresas, os fabricantes comercializam seus produtos por meio de atacadistas. Por isso, galgar essa posição representa uma grande mudança para a varejista, até em termos de custos.
Felisoni pondera, no entanto, que fazer parte desse grupo que vende mais de R$ 1 bilhão por ano não significa que a empresa seja rentável. "Sinais de mercado nem sempre são coisas racionais que refletem a rentabilidade", adverte o especialista. Ele compara essa chancela à informação sobre por qual escola o médico foi diplomado quando se vai a uma consulta. Uma escola de renome é uma referência positiva, mas não é tudo.
Na análise de Felisoni, esse movimento de consolidação entre empresas varejistas deve avançar, e não se trata de uma anomalia em relação ao que ocorre no resto do mundo. "Hoje, há uma queda dramática nos custos de informação sobre os produtos e isso reduz as margens de ganho." Por isso, explica o presidente do Ibevar, os varejistas têm de ampliar a extensão de vendas ou territorialmente, comprando concorrentes e abrindo lojas, ou buscando novos canais, como a internet.
No ano passado, o varejo de bens, excluindo veículos e combustíveis, movimentou R$ 1,049 trilhão e o faturamento das 100 maiores companhias respondeu por 25% desse total. Esse resultado é um ponto porcentual acima da participação registrada em 2010 (24%). O dado confirma o processo de consolidação do varejo que está em curso.
Ranking. O Grupo Pão de Açúcar continua no topo do ranking das empresas varejistas, com faturamento de R$ 46,5 bilhões, muito superior ao do Carrefour, Walmart e Lojas Americanas, que vêm na sequência. De 2010 para 2011, não houve alterações dos quatro primeiros colocados. As mudanças começam a partir do 5.º lugar, com a Máquina de Vendas, que subiu duas posições em relação à lista de 2010.
A chilena Cencosud ascendeu do 8.º para o 6.º lugar. E O Boticário ficou em 8.º lugar, porque o ranking começou a considerar franquias. O Magazine Luiza caiu da 6.ª para 9.ª posição entre as dez maiores, e a Raia Drogasil ficou estacionada no 10.º lugar.

Desemprego e produtividade, por José Marcio Camargo


JOSÉ MÁRCIO , CAMARGO , PROFESSOR DO DEPARTAMENTO DE , ECONOMIA DA PUC/RIO, É ECONOMISTA DA OPUS INVESTIMENTOS, JOSÉ MÁRCIO , CAMARGO , PROFESSOR DO DEPARTAMENTO DE , ECONOMIA DA PUC/RIO, É ECONOMISTA DA OPUS INVESTIMENTOS - O Estado de S.Paulo
Opinião
Com a taxa de desemprego nos menores níveis desde 2003, o aumento dos gastos com seguro-desemprego chamou a atenção para uma antiga disfunção do mercado de trabalho brasileiro: a demanda por seguro-desemprego cresce com a queda da taxa de desemprego.
Esse comportamento é totalmente inesperado. Primeiro, porque uma redução da taxa de desemprego significa menos trabalhadores desempregados. Portanto, deveria reduzir a demanda por seguro-desemprego. Segundo, porque uma taxa de desemprego menor diminui o incentivo para que as empresas demitam trabalhadores, por três razões.
Primeiro, porque menor é o número de trabalhadores disponíveis no mercado e, logo, menos opções têm as empresas para substituir o trabalhador demitido. Segundo, porque os trabalhadores mais produtivos tendem a ser empregados antes dos trabalhadores menos produtivos - assim, quanto menor a taxa de desemprego mais difícil é encontrar trabalhadores com produtividade igual à dos que são demitidos. E, finalmente, porque a relação entre o salário de contratação e o salário de demissão aumenta quando a taxa de desemprego diminui, aumentando o custo de substituir o trabalhador demitido.
Os indícios são de que, por alguma razão, quando a taxa de desemprego diminui as empresas se veem na contingência de demitir com maior frequência, mesmo não querendo fazê-lo. Mas como isso pode ser possível se a empresa tem, em geral, mais poder de mercado que o trabalhador?
Felizmente, os trabalhadores sabem fazer conta e estão sempre pensando em formas de aumentar sua renda e seu bem-estar. Como, ao ser demitido, o trabalhador brasileiro ganha um "prêmio" em dinheiro, quanto menor a taxa de desemprego menor a relação custo/benefício do trabalhador ao ser dispensado.
Primeiro, o trabalhador tem acesso ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Como o rendimento do FGTS é menor do que o da poupança e, muitas vezes, negativo em termos reais, acesso antecipado significa um bom ganho para o trabalhador. Segundo, recebe uma multa de 40% sobre o valor de seu FGTS. Terceiro, tem direito a aviso prévio proporcional ao tempo de serviço - em geral, com dispensa do trabalho. Quarto, o trabalhador, muitas vezes, busca um emprego sem carteira assinada enquanto recebe seguro-desemprego, o que significa alguns meses de complementação salarial. Por fim, o trabalhador pode entrar na Justiça do Trabalho e demandar o pagamento de direitos que o empregador não tenha honrado durante a relação de trabalho.
Como quanto menor a taxa de desemprego mais fácil é conseguir um novo emprego, menor é o custo de ficar desempregado e melhor a relação custo/benefício entre o "prêmio" e o custo por ser demitido. Com isso, o trabalhador pede para ser demitido (fazendo acordo com o empregador e devolvendo a multa de 40% sobre o FGTS) ou força sua demissão. Daí a bizarra relação entre taxa de desemprego e evolução do seguro-desemprego.
As consequências de longo prazo desse comportamento vão além do custo fiscal de pagar mais seguro-desemprego. Como os empresários antecipam esse comportamento, não investem em treinamento e qualificação dos trabalhadores. Esse investimento é automaticamente apropriado pelo trabalhador. É uma das razões pelas quais as empresas brasileiras investem tão pouco em seus trabalhadores. O resultado é baixo crescimento (ou queda) da produtividade do trabalho.
Por outro lado, quanto mais qualificado o trabalhador maior é a elevação da renda à medida que ele envelhece, pois maior é o investimento em capital humano nele incorporado. Portanto, para trabalhadores qualificados, o ganho de renda no longo prazo - caso ele permaneça na mesma empresa - é maior do que o "prêmio" por ser demitido, diminuindo ou, até mesmo, eliminando o incentivo descrito acima. Como resultado, as empresas, quando decidem investir em seus trabalhadores, concentram esses investimentos nos trabalhadores mais qualificados, acentuando a desigualdade salarial.
Este é apenas um exemplo de como a legislação trabalhista brasileira é prejudicial a ganhos de produtividade. Sem inverter esses incentivos, é difícil ter uma indústria competitiva.
O colunista Celso Ming está em férias