terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Número de varejistas que fatura mais de R$ 1 bi no Brasil cresce 32%



Em 2011, foram 58 empresas com receita superior a R$ 1 bilhão, ante 44 no ano anterior; previsão para este ano é chegar a 70 

05 de dezembro de 2012 | 23h 00
Márcia De Chiara, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O clube de empresas bilionárias do varejo brasileiro cresce em ritmo acelerado. Em 2011, 58 companhias tiveram faturamento anual igual ou maior que R$ 1 bilhão, ante 44 em 2010, revela o ranking das 100 maiores empresas varejistas nacionais feito pelo Instituto Brasileiro dos Executivos do Varejo (Ibevar).
A consolidação de empresas regionais, somada à taxa de crescimento das varejistas na casa de dois dígitos e à formalização de muitas companhias, explica esse aumento do número de empresas bilionárias, afirma Eduardo Terra, vice-presidente do Ibevar. Para este ano, a perspectiva é que 70 companhias façam parte desse grupo, prevê Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Ibevar.
"Faturar o primeiro bilhão de reais é como atingir a maioridade", compara Jorge Inafuco, gerente de empresas de varejo da PricewaterhouseCoopers (PWC), que apoiou a pesquisa. Ele explica que muitas indústrias não vendem diretamente para varejistas com vendas abaixo de R$ 1 bilhão. Para essas empresas, os fabricantes comercializam seus produtos por meio de atacadistas. Por isso, galgar essa posição representa uma grande mudança para a varejista, até em termos de custos.
Felisoni pondera, no entanto, que fazer parte desse grupo que vende mais de R$ 1 bilhão por ano não significa que a empresa seja rentável. "Sinais de mercado nem sempre são coisas racionais que refletem a rentabilidade", adverte o especialista. Ele compara essa chancela à informação sobre por qual escola o médico foi diplomado quando se vai a uma consulta. Uma escola de renome é uma referência positiva, mas não é tudo.
Na análise de Felisoni, esse movimento de consolidação entre empresas varejistas deve avançar, e não se trata de uma anomalia em relação ao que ocorre no resto do mundo. "Hoje, há uma queda dramática nos custos de informação sobre os produtos e isso reduz as margens de ganho." Por isso, explica o presidente do Ibevar, os varejistas têm de ampliar a extensão de vendas ou territorialmente, comprando concorrentes e abrindo lojas, ou buscando novos canais, como a internet.
No ano passado, o varejo de bens, excluindo veículos e combustíveis, movimentou R$ 1,049 trilhão e o faturamento das 100 maiores companhias respondeu por 25% desse total. Esse resultado é um ponto porcentual acima da participação registrada em 2010 (24%). O dado confirma o processo de consolidação do varejo que está em curso.
Ranking. O Grupo Pão de Açúcar continua no topo do ranking das empresas varejistas, com faturamento de R$ 46,5 bilhões, muito superior ao do Carrefour, Walmart e Lojas Americanas, que vêm na sequência. De 2010 para 2011, não houve alterações dos quatro primeiros colocados. As mudanças começam a partir do 5.º lugar, com a Máquina de Vendas, que subiu duas posições em relação à lista de 2010.
A chilena Cencosud ascendeu do 8.º para o 6.º lugar. E O Boticário ficou em 8.º lugar, porque o ranking começou a considerar franquias. O Magazine Luiza caiu da 6.ª para 9.ª posição entre as dez maiores, e a Raia Drogasil ficou estacionada no 10.º lugar.

Desemprego e produtividade, por José Marcio Camargo


JOSÉ MÁRCIO , CAMARGO , PROFESSOR DO DEPARTAMENTO DE , ECONOMIA DA PUC/RIO, É ECONOMISTA DA OPUS INVESTIMENTOS, JOSÉ MÁRCIO , CAMARGO , PROFESSOR DO DEPARTAMENTO DE , ECONOMIA DA PUC/RIO, É ECONOMISTA DA OPUS INVESTIMENTOS - O Estado de S.Paulo
Opinião
Com a taxa de desemprego nos menores níveis desde 2003, o aumento dos gastos com seguro-desemprego chamou a atenção para uma antiga disfunção do mercado de trabalho brasileiro: a demanda por seguro-desemprego cresce com a queda da taxa de desemprego.
Esse comportamento é totalmente inesperado. Primeiro, porque uma redução da taxa de desemprego significa menos trabalhadores desempregados. Portanto, deveria reduzir a demanda por seguro-desemprego. Segundo, porque uma taxa de desemprego menor diminui o incentivo para que as empresas demitam trabalhadores, por três razões.
Primeiro, porque menor é o número de trabalhadores disponíveis no mercado e, logo, menos opções têm as empresas para substituir o trabalhador demitido. Segundo, porque os trabalhadores mais produtivos tendem a ser empregados antes dos trabalhadores menos produtivos - assim, quanto menor a taxa de desemprego mais difícil é encontrar trabalhadores com produtividade igual à dos que são demitidos. E, finalmente, porque a relação entre o salário de contratação e o salário de demissão aumenta quando a taxa de desemprego diminui, aumentando o custo de substituir o trabalhador demitido.
Os indícios são de que, por alguma razão, quando a taxa de desemprego diminui as empresas se veem na contingência de demitir com maior frequência, mesmo não querendo fazê-lo. Mas como isso pode ser possível se a empresa tem, em geral, mais poder de mercado que o trabalhador?
Felizmente, os trabalhadores sabem fazer conta e estão sempre pensando em formas de aumentar sua renda e seu bem-estar. Como, ao ser demitido, o trabalhador brasileiro ganha um "prêmio" em dinheiro, quanto menor a taxa de desemprego menor a relação custo/benefício do trabalhador ao ser dispensado.
Primeiro, o trabalhador tem acesso ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Como o rendimento do FGTS é menor do que o da poupança e, muitas vezes, negativo em termos reais, acesso antecipado significa um bom ganho para o trabalhador. Segundo, recebe uma multa de 40% sobre o valor de seu FGTS. Terceiro, tem direito a aviso prévio proporcional ao tempo de serviço - em geral, com dispensa do trabalho. Quarto, o trabalhador, muitas vezes, busca um emprego sem carteira assinada enquanto recebe seguro-desemprego, o que significa alguns meses de complementação salarial. Por fim, o trabalhador pode entrar na Justiça do Trabalho e demandar o pagamento de direitos que o empregador não tenha honrado durante a relação de trabalho.
Como quanto menor a taxa de desemprego mais fácil é conseguir um novo emprego, menor é o custo de ficar desempregado e melhor a relação custo/benefício entre o "prêmio" e o custo por ser demitido. Com isso, o trabalhador pede para ser demitido (fazendo acordo com o empregador e devolvendo a multa de 40% sobre o FGTS) ou força sua demissão. Daí a bizarra relação entre taxa de desemprego e evolução do seguro-desemprego.
As consequências de longo prazo desse comportamento vão além do custo fiscal de pagar mais seguro-desemprego. Como os empresários antecipam esse comportamento, não investem em treinamento e qualificação dos trabalhadores. Esse investimento é automaticamente apropriado pelo trabalhador. É uma das razões pelas quais as empresas brasileiras investem tão pouco em seus trabalhadores. O resultado é baixo crescimento (ou queda) da produtividade do trabalho.
Por outro lado, quanto mais qualificado o trabalhador maior é a elevação da renda à medida que ele envelhece, pois maior é o investimento em capital humano nele incorporado. Portanto, para trabalhadores qualificados, o ganho de renda no longo prazo - caso ele permaneça na mesma empresa - é maior do que o "prêmio" por ser demitido, diminuindo ou, até mesmo, eliminando o incentivo descrito acima. Como resultado, as empresas, quando decidem investir em seus trabalhadores, concentram esses investimentos nos trabalhadores mais qualificados, acentuando a desigualdade salarial.
Este é apenas um exemplo de como a legislação trabalhista brasileira é prejudicial a ganhos de produtividade. Sem inverter esses incentivos, é difícil ter uma indústria competitiva.
O colunista Celso Ming está em férias

Emprego_ é hora de agir por José Pastore


Estou antevendo dias difíceis no campo do emprego. Parece absurdo escrever isso num país que tem uma das mais baixas taxas de desemprego do mundo (5,3%). Mas a preocupação se justifica quando se analisam o fraco desempenho do PIB em 2012 (menos de 1%), a crise internacional e a perversidade da regulação no campo do trabalho.
A ameaça ao emprego é particularmente grave na indústria e na construção civil. O leitor deve estar intrigado. Afinal, a indústria gerou 17 mil postos de trabalho em outubro - bem superior aos 5 mil que foram criados no mesmo mês em 2011. Ocorre que, no período dos últimos 12 meses (novembro de 2011 a outubro de 2012), a geração de emprego nesse setor foi 82% menor do que nos 12 meses anteriores (novembro de 2010 a outubro de 2011). Na construção civil, a redução foi de 36%, e no mês de outubro houve uma perda líquida de 8.300 postos de trabalho. Analisado no conjunto, o crescimento do emprego industrial está derretendo.
O governo está parcialmente atento ao problema. No âmbito do Ministério da Fazenda, a decisão de desonerar a folha de salários e de reduzir o IPI e o preço da energia é indicativa de uma tempestiva tomada de consciência. Mas, no âmbito dos Ministérios do Trabalho e da Previdência Social e da Justiça do Trabalho, o quadro é outro. Além de se manterem insensíveis ao problema, esses órgãos vêm emitindo uma avalanche de regras de má qualidade e decisões impensadas que criam despesas adicionais, aumentam a insegurança jurídica e conspiram contra a contratação do trabalho. Nesse campo, o emprego está sendo minado por uma "regulamentite aguda".
Chegamos ao mês de dezembro, quando tradicionalmente ocorre o fechamento de muitos postos de trabalho. Este ano não será diferente. Mas e daí para a frente? Será que os inibidores do emprego industrial vão desaparecer no próximo ano? Penso que não. A crise externa continuará prejudicando as exportações de manufaturados. As incertezas da regulação continuarão inibindo os investimentos e os novos negócios. O intervencionismo estatal nas relações do trabalho continuará assustando os empregadores. É isso que me faz perder o sono.
Na crise de 2008, os problemas vieram de modo abrupto. Mas, como vieram, se foram. Em dezembro daquele ano, o Brasil destruiu 650 mil empregos e, em julho de 2009, tudo havia sido recomposto.
Para atenuar o impacto da crise, empresas e sindicatos procuraram se valer dos mecanismos existentes para preservar os empregos - redução de jornada com redução de salários, banco de horas e suspensão temporária do contrato de trabalho (lay off). Mas o uso dessas medidas foi limitado em razão da insegurança jurídica que as cerca e, em muitos casos, por causa da resistência das entidades sindicais para aceitar negociá-las. O Brasil não tinha, como ainda não tem, um mecanismo simples que, na hora da crise, seja capaz de segurar os trabalhadores empregados e de aliviar os gastos das empresas com a folha de pagamento e do governo com seguro-desemprego.
O Brasil precisa de um seguro-emprego. Em artigo anterior, descrevi o mecanismo da Kurzarbeit, da Alemanha, segundo o qual, perante uma queda de demanda, as empresas reduzem a jornada de trabalho e o salário dos empregados e o governo complementa a sua renda. O mecanismo é de interesse de todos. A empresa mantém seus quadros, evitando despesas de descontratação e recontratação. Os trabalhadores preservam seus empregos. O governo evita gastar com o seguro-desemprego. Passada a crise, tudo está no seu devido lugar e o país economizou recursos.
Penso que a hora de aprovar esse mecanismo é agora, antes que o problema se agrave em 2013. De nada adiantará pôr a tranca na porta depois de arrombada. A adoção de uma medida desse tipo não é complicada, se for atrelada ao seguro-desemprego e aos programas de qualificação hoje existentes. Quem se habilita para essa iniciativa?